Sinopse: Três primos herdaram um dom que irá transformar as suas vidas…
As lendas e a sabedoria da Irlanda correm no sangue de Connor O’Dwyer e ele sente-se orgulhoso por chamar lar a County Mayo.
É aqui que a sua irmã Branna vive e onde os seus amigos de infância formam um círculo que não pode ser quebrado. Meara é a melhor amiga de Branna, uma irmã em tudo exceto no sangue. Acredita que o amor é para os outros e certamente não irá cair de amores por Connor — lindo de morrer, com um bom coração e um sorriso perverso.
É mais seguro para eles permanecerem amigos pois amar Connor seria entrar em território perigoso.
Mas quando o mal que atravessa gerações reaparece para o assombrar, Connor terá de recorrer à família e aos amigos para o apoiar numa luta contra algo que ameaça tudo o que ama…
Opinião: Estou a tentar conciliar a minha apreciação do livro com o facto de ter cumprido exactamente as minhas expectativas. Isto é: eu procurava a Irlanda, o conforto familiar, um amor terno e sem grandes sobressaltos. Estarei a ficar mais velha e a fugir de grandes odisseias? Não esperava nada mais, e o livro também não me deu nada mais. Nem medo, nem desejo de ver estas pessoas triunfarem sobre o mal que lhes assombra os antepassados desde 1200 e qualquer coisa.
O segundo livro desta trilogia é sobre Connor O'Dwyer. Há uma coisa que a Nora Roberts faz em todos os livros: o homem é quase sempre apresentado como um mulherengo, sem que haja alguma prova disso. Como se houvesse um tabu que não podemos atravessar nos romances, uma espécie de politicamente correcto, que impede as personagens principais de se envolverem com terceiros neste género de literatura light. Neste livro, a Meara parece sofrer com receio desse passado do seu grande amigo, e isso enrola ali o romance durante um bom bocado, somado aos seus daddy issues, mas nunca se vê de facto motivo para alarme.
Há um tell fortíssimo, em que a personagem é apresentada como forte mas passa o livro a choramingar. Ou como pouco confiável mas passa o livro a provar que podem confiar nela.
É outra característica da escritora: não há grande conflito interno. É só o tempo que demora até se aperceberem que o amor lhes germina no peito, e a partir daí o conflito prende-se com o tempo que cada um demora a aceitar e a agir em função disso.
Mas, para mim, o que falha neste segundo volume, tal como em Caminhos do Amor, é a repetição do padrão, da fórmula, dos altos e baixos. É uma cena dar-se e ser narrada da perspectiva de uma das personagens, depois ser-nos impingida de novo pela perspectiva de outra personagem. Às vezes reúnem-se todos em torno dos maravilhosos guisados de Guinness da Branna, e esmiúçam de novo o acontecimento. Por último, uma das personagens secundárias vira-se para o par e diz:
- Reparaste no que aconteceu? Ele saltou mesmo em sua defesa, não foi? [inventado].
E ouvimos, uma vez mais, a perspectiva de mais duas personagens sobre o evento de há cinquenta páginas. E assim de evento em evento, até ao enjoo.
Estava cansada. Pulei páginas.
O problema maior, contudo, é continuar sem entender os motivos que explicam a personagem má. Quem é Cabhan? Foi humano e vendeu a alma ao diabo? Foi feiticeiro e tentou a imortalidade? Porquê fixar-se em Sorcha? Porquê persegui-los? Porque não constitui um perigo para mais ninguém em County Mayo? E as cenas de confronto são muito previsíveis - o homem, o lobo, a sombra, o nevoeiro - decorrem em trechos pequenos, só para originar mais três cenas em torno do guisado. Neste livro repetiu-se (do anterior) até a cena em que, todos juntos, se propõem irritá-lo com a sua cantoria em gaélico e com o seu calor e as suas danças. Foi copy/paste, lazy writting. Detesto ler romances com fórmulas, sobretudo quando se trata de uma trilogia.
Sendo masoquista, e, sobretudo, curiosa quanto à história de Branna e de Fin - sendo também estes dois os que fazem antever um maior conflito em termos de relacionamento e complexidade de carácter - hei-de ler o último. Porém, pergunto-me se haverá explicação quanto à origem da marca em Fin. Pergunto-me se haverá resposta para o facto de Cabhan ter conseguido criar uma espécie de apêndice, e para a questão de este apêndice ter vontade própria e se ter, inclusive, voltado contra o criador.
Mas porque é que desconfio que o terceiro livro será em torno do jeito da Branna para a cozinha, e da perseguição que Fin lhe fará, com diálogos do género:
F: Temos de pôr o passado para trás, Branna.
B: Isso é fácil de dizer.
F: Não achas que é hora de sermos felizes?
B: Outra vez essa conversa, Fin?
F: Eu amo-te, Branna. Sempre te amei. Não podes confiar em mim?
Sinopse:Iona Sheehan sempre ansiou por devoção e aceitação dos pais, mas foi só na terra da avó que recebeu os dois: Irlanda, país de florestas exuberantes, lagos deslumbrantes e lendas centenárias, onde o sangue e a magia dos antepassados fluem há gerações. Iona chega à Irlanda apenas com as indicações da avó, uma atitude otimista perante a vida e um talento inato com cavalos. Perto do castelo luxuoso onde está hospedada, encontra os seus primos, Branna e Connor O’Dwyer. E como família é família, eles convidam-na para a sua casa e para as suas vidas.
Quando Iona arranja emprego nos estábulos locais e conhece o dono, Boyle McGrath, todas as suas fantasias se reúnem num só homem. Será que com ele vai conseguir viver a vida com que sempre sonhou? Infelizmente nada é o que parece. Um mal antigo espalhou-se na sua família e tem de ser combatido. E quando família e amigos lutam entre si, será possível encontrar os caminhos do amor?
Opinião: A REVIEW CONTÉM ALGUNS SPOILERS Li o meu primeiro livro da Nora Roberts em 2011. Comprei-o num quiosque à saída da estação do Cais do Sodré, numa altura em que ia lá todos os dias ver as novidades a preços simpáticos. Herança de Vergonha era o terceiro volume de uma trilogia passada na Irlanda, e comprei-o precisamente porque a Irlanda era o meu sonho de terra-prometida. No ano seguinte, em Novembro, haveria de pisá-la pela primeira vez, e, a cada nova aterragem em Dublin, entendo que este modo de retratar o Éire é muito estereotipado.
Nora Roberts é norte-americana, de ascendência irlandesa, e isso fica muito evidente nos enredos que ela revisita a cada novo livro: o sangue irlandês está muito diluído em Coca-cola. Gostei dessa trilogia da Herança, que explorava o reencontro de três irmãs, sendo Maggie a irascível, Shannon a sonhadora e Brianna a tímida que cozinhava para todos. Depois embrenhei-me noutra trilogia; a das flores (dália isto, rosa aquilo, lírio acolá), e entendi que a fórmula era a mesma. Na realidade, a N.R. pega num número limitado de ingredientes, sacode bem e volta a deitar as cartas. Este livro não é exceção, e recordou-me porque é que deixei de gastar dinheiro e tempo com os seus livros. Sem falar no quão aborrecido e repetitivo o livro se torna. Aí a partir da página 250 fui lendo apenas para chegar ao fim, porque o livro é leve sem doer, mas as páginas sucedem-se sem emoção. Talvez com alguma expectativa do final, também um tanto gorada pela superficialidade do confronto final.
Esta trilogia explora três casais, que ficam muito claros à partida: Iona e Boyle, Meara e Connor, Branna e Finn. O pano de fundo é uma feiticeiro feroz que os persegue através dos séculos, porque, por algum motivo que N.R. não se dá ao trabalho de explicar, tomou-os de ponta. Três deles são descendentes da Bruxa das Trevas (soa a conto para crianças), e têm-se debatido, de geração em geração, para aniquilar Cabhan. Problemas evidentes: não há uma contextualização. Há uma bruxa, há um feiticeiro que a deseja e a amaldiçoa, há a passagem do testemunho às gerações vindouras, mas não se entende de onde nasceu esta inimizade, porque é que os O’Dwyer possuem esse dom e outros não. Porque é que o vilão apenas protagoniza uma ameaça contra os “nossos heróis”, e não contra toda a comunidade? Enfim, parece-me infantil e atabalhoado, e não chego a sentir medo genuíno ao ler (como sinto do Voldemort ou de Mordor), nem o arrepiar da descoberta de um mundo mágico, que era o que me mantinha pregada a cada página do Harry Potter. Mesmo as cenas de acção parecem muito cinematografadas. Não vejo aqui nenhuma originalidade, apenas um reciclar de ideias gerais que, quiçá, já povoem outros livros seus, mas decerto já povoam o imaginário de quem vive, nesta era, o revivalismo do fantástico e da feitiçaria na literatura.
Mas eu não comprei este livro por causa da bruxa, comprei-o por causa do cenário irlandês e pela promessa de romance light e, neste campo, encontro os mesmos homens sedentos de música, de porrada e de álcool de todos os livros da Nora.
Encontro as mesmas mulheres de barriga no fogão, a preparar petiscos que toda a família admira, porque mais ninguém sabe cozinhar à sua altura. E encontro os mesmos homens ditos rudes, que depois acendem velas quando fazem amor, lhes oferecem flores (mais ou menos voluntariamente), e lhes abrem a porta do carro. São retratos muito superficiais de histórias perfeitas, com o final feliz a cumprir-se sem excepção. Neste livro houve até o absurdo de um conflito forçado, o típico truque de se ouvir algo a meio, que não se entende mas do qual se tira conclusões precipitadas, e a separação que se segue.
Enfim, foi uma leitura leve que não aqueceu nem arrefeceu. A Iona e o Boyle hão-de esfumar-se da minha cabeça em pouco tempo. Fiquei, contudo, cheia de curiosidade de ler o livro da Meara e da Branna. Em parte porque sou um bocado masoquista, em parte porque estas personagens foram tão meh que as outras têm (não têm?) de ser melhores. Vamos lá prosseguir para mais duas desilusões só porque, por esta altura, já não consigo evitar o acidente de comboio.