#32 LARSSON, Stieg - A Rainha No Palácio das Correntes de Ar
1891 páginas depois, acabei de ler a Trilogia Milénio, dofalecido jornalista Stieg Larsson. Com esta “viagem” atribulada de quase cincomeses, tirei várias conclusões sobre mim como leitora, sobre o meu género delivro e, sobretudo, sobre o não me meter em Trilogias/Sagas porque é umdesgaste enorme de tempo e cabeça. Muitas vezes avançamos frustrados, na ânsiade resolver todas as pontas soltas de uma vez, de chegar à realização dosheróis e à punição dos bandidos. Esta Trilogia é, média de pontuações, 5*****.No entanto, devo dizer que o segundo livro é, de longe, o meu favorito. E oterceiro o mais “fraco” em termos de ritmo e entusiasmo.
Como leitora dei por mim a pensar, várias em vezes, emcomo o Larsson conseguiu hipnotizar-me. Quando algo me é difícil demais,desisto. No entanto sorvo 1891 páginas de uma cultura que desconheço - a sueca- de pessoas que me são estranhas e com as quais não é suposto ter ponto algumde concordância - o jornalista mulherengo Blomkvist e a excêntrica hackerda Salander, de um governo e um sistema judicial ao qual nunca tinha dedicadodois minutos, à própria Europa do Norte e às suas questões financeiras - indústria,investimentos, equipamentos, e social - imigração, comunicação social,problemas sociais. E política, claro. Primeiros-ministros, monarquia, etc.,etc., etc.. Fiquei orgulhosa de mim por ter mergulhado tão fundo em questõestão complexas. Os livros são o raio de uns tabuleiros de xadrez avançadíssimo.Por vezes dei por mim totalmente às aranhas e só esforçando-me à séria chegueilá... Mas são simultaneamente acessíveis, e por isso consegui!
Adorei o surrealismo das situações que o Larsson teceu emteia ao longo de três longos livros, adorei o modo quase científico comoalinhavou as explicações. Convenceu-me do princípio ao fim, pôs-me a rir - afranguela da Salander avia dois motoqueiros machões com um taser e umapistola que consegue remover das mãos dum deles - e fez-me amar de coração umaautêntica heroína massacrada dos tempos modernos, que não se fica e éfrancamente mais inteligente do que todos ao seu redor. Oh Lisbeth...vou ter saudades tuas!
Esta personagem [Lisbeth Salander] é épica, ao lado daScarlett O’Hara do “E Tudo o Vento Levou”, é a minha favorita de tudo o que liaté agora. Com a sua extrema magreza, olhos pintados de negro, tachas ecorrentes, saias curtas de couro, botas de biqueira de aço e cabelo tingido depreto e escortanhado, com piercings nos mamilos e tatuagens por todo o lado...Adorei o seu passado, admiro-a, admiro o seu instinto esmagador desobrevivência. Amo o facto de ter sido, ao longo dos três livros e sobdescrição do próprio Mickael Blomkvist “Uma rapariga cheia de recursos”. Acaboua trilogia com uma pistola de pregos eléctrica na mão, a lutar por se safar àsmanápulas implacáveis dum gigante sem sensibilidade à dor.
O Larsson habituou-me à sua escrita quase jornalística.Por vezes áspera, por vezes comparável à de uma menina inocente. “Fazer amor”,aplicado a um mulherengo. “F**er”, quando é a Lisbeth Salander a dizê-lo.
Sinopse: Lisbeth Salandersobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: oseu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas nohospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusaçõesque recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbethsente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada comoutro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se nomesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas…
Entretanto, mantêm-se asmovimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurançasueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra estádeterminada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho.
Mas nem tudo podia ser mau: Lisbethpode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre aconspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também nãoestá sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, AnikaGianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger?Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a serameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?
Também revi este da Trilogia Milénio:
Opinião: Sabe-se, praticamente desde o início, que aLisbeth Salander vai ser julgada. Acontece que ela foi quase mortalmente feridapelo Zalachenko, pelo que passa metade do livro a restabelecer-se no Hospital,sob vigia médica e policial. O julgamento só sucede praticamente nas últimasduzentas páginas de um livro de 731. É no mínimo frustrante. Todo o livro é umjogo de estratégia avançada. É por isso que fiquei estupefacta com a mentebrilhante do Larsson. Temos, em várias frentes e sob diversos propósitos, todosem conjunto para conduzirem a absolição/condenação/internamento da Lisbethconforme os favorece, a polícia sueca, a Säpo (polícia especial de segurança doestado), a Secção dentro da Säpo (um banco de rufiões a manipular os assuntosde estado), a revista Milénio (com Mickael Blomkvist na frente e os seuscolaboradores na sua peugada), a Milton Security, o psiquiatra de Lisbeth desdeos seus doze anos, Peter Teleborian, e o tutor de Lisbeth desde os dezasseis. Éum combate épico em que o estado se contorce para esconder espiões estrangeirosdo tempo da Guerra Fria, questões de violência doméstica abafadas,prostituição, escutas e atentados ilegais, pervertidos a perseguir o objectodas suas obsessões, imigrantes a tentar entrar no país em busca de uma vidamelhor e a serem inseridas violentamente em redes de prostituiçãointernacional, exploração infantil, desfalques, deturpação de provas, etc.,etc.. E a Salander no centro disto tudo, somente munida de um computador debolso (ela, uma hacker brilhante) estendida numa cama com um colarcervical e a cicatriz recente de uma bala que lhe foi extraída do cérebro...
Classificação: 5*****