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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

#72 KEATING, Barbara & Stephanie, Luz Efémera


Sinopse: Em crianças, Hannah, Sarah eCamilla tornaram-se irmãs de sangue. Com o passar dos anos, conseguirá estaaliança manter-se inquebrável? 
 Hannahe o marido são donos da fazenda Langani e do Safari Lodge. Juntos, lutam parapreservar a vida selvagem e as suas terras, ameaçadas por caçadores furtivos efuncionários governamentais corruptos. Contudo, vai ser a relação entre a filhade ambos e um rapaz africano a constituir o verdadeiro teste à união familiar.Por seu lado, Sarah é uma reputada fotógrafa e investigadora da vida animal. Amorte do seu amor de infância marcou com violência a sua entrada na idadeadulta; tantos anos depois, procura ainda recuperar a inocência perdida.Camilla conseguiu vingar no exigente mundo da moda e parece estar prestes aviver plenamente o seu grande amor ao lado do carismático guia de safárisAnthony Chapman. Mas uma triste reviravolta ensombra a vida de ambos e ameaçaagora estilhaçar os sonhos que em tempos partilharam.
 Passadonas regiões selvagens e imprevisíveis do Quénia, LuzEfémera é umahistória de coragem, amizade, traição e sacrifício redentor.
  
Opinião: Comprei o Irmãs de Sangue em 2009, na Feira do Livro. Li as primeiras 600páginas deste primeiro volume num sopro, desconcertada com tanta beleza. O Quénia- Nairobi, os safaris, a fazenda Langani - são cenários de cortar a respiraçãoe, mesmo "lido", causa impacto se soltarmos a imaginação e estivermosreceptivos. Nesse ponto algo horrívelaconteceu e magoou-me tanto que fechei o livro, emocionalmente exausta. Doisanos depois peguei-lhe e sorvi as últimas 60 páginas. Chorei e sorri. Sim, olivro ainda tinha esse poder sobre mim. Li o segundo o ano passado, tendoinvestido nos outros dois volumes ao descobrir que se tratava de uma trilogia. Fuiao ponto de vender o meu 1º volume e re-comprá-lonovo para que a capa fizesse "pandan" com os irmãos na prateleira. Sim,isto expressa o quanto esta trilogia mexeu comigo. Os cenários em África, a História de África, um pouco também detodo o Império Britânico na segunda metade do século XX (em que sucumbiu)encantou-me desde o primeiro parágrafo.

Este discurso continuaria assim se, a cada novo parágrafo que lia deste último livro o meu encantonão fosse esmorecendo. Pôs-me, inclusive, a pensar no rumo e no ritmo dosvolumes anteriores. Apesar de todas as "falhas" que lhe apontareiabaixo, porque no final elas sobrepuseram-se ao enredo que tanto me haviaapaixonado, são livros para ser lidos evividos. Esqueçam tudo e foquem-se na beleza de África, e eles valerão apena.

Neste terceiro volume resolveram-se crises e problemasque se arrastaram desde o segundo. Infelizmente, as personagens principaisdecepcionaram-me todas, sem excepção.As três irmãs de sangue estão acrescer e a emburrecer. Mais intolerantes, mais histéricas, mais dramáticas,menos práticas, mais emotivas, mais briguentas, mimadas e por vezes atéridículas. Os alvos principais dos seus rancores e mal humores são, como nãopoderia deixar de ser, primeiro os maridos e depois, quando a comunicação comeles já está quebrada - porque de súbito tanto a Sarah como a Hannah parecemter a idade mental de 12 anos - viram-se para os filhos (caso da Hannah) eoutras amigas (caso da Sarah, que se mete numa briga enorme com a Camilla). Foipara mim incomodativo observar pessoas que haviam passado por tanto e quesupostamente tinham crescido a comportarem-se como a minha irmã adolescente(felizmente as crises já lhe passaram) e a dizer atrocidades que magoavam osmaridos que, quanto mais as aturavam, mais eu gostava deles. O Lars e oRabrindrah merecem um altar.
A Suniva foi a minha personagem favorita neste livro,juntamente com o James. Ambos personificam um amor sólido e inabalável e amboslutam e abdicam do que for preciso em nome dessa ligação. São o espelho inversoda relação dos pais da Suniva, que parece degradada ao ponto de um deles quasese suicidar. O James também foi muito benéfico para o enredo deste últimolivro, pena que ambos não tivessem tido mais protagonismo.
A Camilla cresce finalmente. Por muito que tenha sidosempre a "irmã" que me aborrecia mais, neste livro é um sopro deequilíbrio e ar fresco. É abnegada e confiante (sem grandes crisesexistenciais, como as outras), prática e assertiva. Finalmente concretiza o seugrande amor com o Anthony (como a própria sinopse revela) e dedica-se-lhe a cempor cento. Fora um acto que lhe condeno, mas que ela própria também se condena,só precisava de mais sal para ter roubado a cena por completo.
A Hannah irritou-me sobremaneira no livro anterior. Quisesbofeteá-la umas quantas vezes. Neste livro detestei-a ainda mais, tornou-se,a meus olhos, uma vilã. Tiraniza o marido, negligencia a Suniva em prol doPiet, é amarga para com o James e hostiliza os sogros que são pessoas amorosas.Sem mencionar que é a sombra principal sobre o amor da Suniva e do James, sópor aí bastaria.
A Sarah enojou-me. Sempre foi, para mim, a personagemmais fiel a si mesma e mais sentimental. Mas neste livro tem uma fraqueza que,noutra personagem, associaria à natureza humana. Nela soa-me a inconsistênciado autor. Pareceu-me a Hannah em demasiados pontos, e acreditem que a Hannah é detestável. É inflexível para com ummarido admirável, está obcecada com ter um filho e neurótica. Mas há algo queela faz que me fez perder toda a fé nela, bem como parar de lhe desejar umfinal feliz.
O livro tem c. 750 páginas. Na página 690 as cenascomeçam a atropelar-se. Cinco anos passam, depois dez. Pessoas morrem, aparecemcom filhos, mudam de país, entregam casas, fogem de casa, pedem outras emcasamento. Num livro tão grande onde se enrolou tanto - houve momentos em que aobservações das chitas me fazia pensar num domingo de manhã a ver osdocumentários da BBC - e onde se deu tanta importância a insignificâncias, nãopodiam ter caprichado um bocadinho mais nestes desenvolvimentos finais?
A trilogia não foi encerrada com chave de ouro. Aspersonagens estavam, por vezes, irreconhecíveis. Há diálogos - personagens, até- situações e crises pointless, quevêm do nada e desaparecem no nada, sem nada acrescentarem ao romance. Confessoque pulei muitos parágrafos na leitura, já estava francamente exausta.

Vale a pena lerem porque o enredo, o fio condutor dahistória, é flawless. É aconsistência das personagens, o ritmo e o conteúdo, o modo como a história nosvai sendo estendida, ora numa lentidão agonizante ora tão rápida que ficamos"what the hell?", que nãofuncionou.
Classificação: 3***/*