#58 RODI, Sara - D. Estefânia; Um Trágico Amor
Sinopse: Quando D. Estefânia saiu da igreja de São Domingos, pela mão do seu marido D. Pedro V, rei de Portugal, as vozes dos portugueses ditaram-lhe o destino: a rainha vai morta! Vai de capela! Três gotas de sangue haviam-lhe manchado o vestido branco imaculado. A jovem princesa alemã não teve forças para aguentar o peso do magnífico diadema que D. Pedro lhe oferecera como prova do seu amor. Um amor cúmplice, puro e apaixonado, entre duas almas gémeas unidas em propósito, durante 14 meses. Apenas 14 meses…. Escrito na primeira pessoa, num tom confessional e recheado de emoção, a autora Sara Rodi revela-nos a apaixonante história de D. Estefânia Hohenzollern-Sigmaringen. Uma rainha que muitos portugueses viram como um anjo que lhes trouxe a esperança que tanto lhes faltava, sempre disposta a ajudar os mais pobres e desfavorecidos. Não fez mais porque morreu jovem aos 22 anos. Sem ter deixado um herdeiro para o trono de Portugal. Mas deixando um último pedido: a construção de um novo e moderno hospital que prestasse assistências às crianças pobres e desvalidas. O Hospital D. Estefânia. D. Pedro cumpriu o último desejo da sua mulher, mas o reiMuito Amado de Portugal não resistiu à morte de Estefânia e dois anos depois partiu para junto dela.
Opinião: Há algo que sucederecorrentemente quando tento ler um livro português, e que é a incapacidade de desassociaro autor ao livro. No caso da Sara Rodi, o nome deixou-me na dúvida. Seriaportuguesa? Ou seria um livro traduzido a respeito de uma rainha de Portugal?Não investiguei até terminar a leitura, mas pareceu-me bastante óbvio que aautora era lusa. De facto é-o e começou a sua carreira com as Letras cedo,tendo também trabalhado como guionista nalgumas novelas da TVI.
Em relação ao livro,agradeço-lhe o primeiro verdadeiro contacto que me permitiu com a Rainha D.Estefânia. Embora o Palácio da Ajuda raramente – ou nunca – tenha sidomencionado no livro, é ao visitá-lo que me sinto mais próxima dela e do rei D.Pedro V que, depois desta obra, não voltarei a confundir com o seu irmão D. Luís.Também não sabia que a D. Estefânia tinha tido um reinado tão curto – 14 meses –nem tampouco que tinha falecido aos 22 anos que são, por acaso, a minha idade nestemomento. Por aí senti-me bastante próxima do relato… mas houve outras coisas a interporem-seno caminho. Começo por elogiar a pesquisa e o modo inteligente como asinformações foram sendo passadas no diálogo – ao contrário do No Coração doImpério, que foi um atropelo de factos. Elogio também o momento escolhido paraa narração desses catorze meses: o leito de morte da rainha. Sem dúvida queisso confere uma perspectiva única dos factos, elogiando ainda o seu tamanhodiminuto (a narração cessa às 185 páginas)… Ainda assim, achei o romancedemasiado fatalista, dramático, quase a resvalar o misticismo. Adivinhação dofuturo e indícios de desgraças, contraposto à “angelicalidade” da rainha,aborreceram-me seriamente.
O meu interesse pelasmonarquias, impérios, etc., prende-se com as pessoas que estiveram à sua frente. Neste romance, narrado naprimeira pessoa por D. Estefânia, a mesma autoproclama-se um anjo. Uma Santa.Ocasionalmente surge a insinuação de que tem algumas semelhanças a Maria, vistonunca se ter consumado a união. Esta Estefânia de 22 anos retratada por SaraRodi não tem problemas de auto-estima. Diz que é inegável que é bonita (quando,na minha opinião, existe um quê de grosseiro no semblante desta rainha que nemos vestidos e as jóias conseguem disfarçar), que toda a vida teve uma missão, que vive para ajudar os outros, que é o anjo de D. Pedro, que sabe que ele a ama como ninguém – a sério? Um homemque se recusa a consumar uma união na flor da idade? – e que tece outros tantoselogios a si própria (é diferente de todas, diferente de todos, diz) e chega aser vaidosa e nada humilde. É esta criatura aqui descrita que depois, no final,é descrita numa carta verdadeira de D. Pedro como bondosa sem igual. Só meresta considerar que os elogios caem melhor quando não saem da nossa própriaboca, pelo que esta abordagem da Sara não me parece muito inteligente, sepretendia santificar a rainha. A nível de escrita não me queixo muito – tem algumadesenvoltura e o livro é francamente melhor do que outros do género que tenholido. Mas ainda assim encontrei algo como “desassossego impossível de sossegar”e “estranheza por demais estranha”. Não estou a ser literal, mas erabasicamente isto. A palavra “esperança” surge de um modo que me irritou… possoestar a ser picuinhas mas “levar uma esperança” às crianças ou “trouxeste-lhesuma esperança” não me soa muito bem.
Se a autora voltar apublicar algo histórico acompanharei. A escrita é razoável, o tamanho idem e asinformações são para mim, apaixonada por História, preciosas.
Classificação: 3***