Sinopse: Um livro que não olha a meios para mostrar o que somos, que nos culpa por isso, ao mesmo tempo que nos alimenta a esperança de podermos ser melhor do que aquilo que mostramos. É, nesse sentido, um livro redentor. Para quem o escreve, ao ver-se capaz de tamanha sensibilidade no meio dos monstros, e para quem o lê, quando, ao fim de um dia vulgar e baço, lhe dedicar a atenção e se concentrar nos melhores valores que um homem pode ter.
Opinião:Os livros do Ivan vão valer sempre pela viagem. Não é quando chegamos que importa, mas sim onde e como o autor nos leva até às catacumbas da sua consciência. A sua escrita será sempre visceral - como não, quando se vive e se sente? Nem todos os autores vivem de peito aberto e em ferida, por isso não esperem floreados nem eufemismos deste. O autor escreve como fala, as suas palavras saem impregnadas do seu ambiente, da sua infância, do seu círculo socio-económico, das suas vivências, amores e ódios. Não busquem eloquência a cada parágrafo, mas no todo ela está lá: os desabafos de um louco que desfruta ainda de alguns instantes de lucidez. Um homem em busca de si próprio nos meandros da noite, que ora se encontra ora de perde neste desfile de conhecidos, amigos do peito, amantes e amores impossíveis.
Opinião: Este livro é um achado. Não foi escrito com a cabeça nem com o coração, mas antes com as vísceras. Cruel, desconcertante, impiedoso: são os adjectivos que melhor o descrevem. A frustração de um homem que procura encontrar-se, situar-se num mundo tão vasto, enquanto se esforça por se fazer valer perante os outros. O seu círculo de amizades, a sua família… A cada linha uma nova reflexão, o sentimento de solidão, de angústia, de estarmos rodeados mas de sermos apenas um, tantas vezes menos que isso. Cada página uma miríade de sublinhados: As confissões intimistas do autor a propósito da vida, da morte, dos propósitos de uma e doutra. A mãe, o pai, a guitarra e o irmão, a vida que começa e outra que se finda. Os amigos: o diálogo eterno, os abraços infinitos que trocamos com os amigos. As coisas que não dizemos nem aos amigos e que tardamos a admitir perante nós mesmos. O amor desfeito e o sentimento que perpetua. Deus, que só “está em todo o lado para não perder o sofrimento de ninguém”. Deus, o tipo que não dá nada a ninguém. Deus, que o autor vê como uma criança, “é mais fácil perdoá-lo”. E a ideia de que “a maior viagem do homem é aquela que interfere com os seus planos”. A ideia de que somos os únicos culpados da nossa própria velhice. E a verdade incontornável de que “Quase ninguém nos vai buscar ao fundo”. Um livro com cabeça, tronca e membros. Não consigo considera-lo crónicas, mas antes um romance. Não se dá o caso de a crónica número 1 despeitar o amarelo enquanto a 15ª o idolatra. O autor é coeso no seu pensar, não fabricou um livro: deu-o à luz de parto natural. O livro saiu-lhe, é parte dele e da sua essência, é autêntico em todo o seu linguajar. Romântico, também, na medida em que um homem quebrado consegue sê-lo. E as emoções surgem com uma tangibilidade que me pôs em lágrimas em mais do que uma parte. Mas também me ri bastante noutras, no modo como é retratado o arrumador-de-carros que conhecem num parque de estacionamento e que, simplesmente, está de bem com a vida. Ou finge estar: tão hilariante que nos cega de comoção. Um livro de uma sensibilidade transcendente, vindo de um punho que não pode parar de escrever. O melhor que já li de um autor português – eu, que nunca terminei um livro de Lobo Antunes e que tropeço nas vírgulas do grande Saramago. O choque absoluto de considerar que um livro assim merece uma visibilidade e uma distribuição muito melhores àquelas que se dispõem a dar-lhe, porque é alguém novo – mas alguém que mais cedo ou mais tarde terá o seu trono no universo literário deste pequeno jardim. Alguém que venha e descubra esta jóia por entre os castelos de pirite que para aí andam. Aconselho a quem procure amor, ódio, angústia e desespero (bem como amizade), em estado bruto.
Sinopse:Uma viagem desassossegada pela angústia das relações humanas, uma reflexão acerca da morte sempre iminente e uma introspecção pelo amor ao eu que passa sempre pelo amor ao outro. A história de uma consciência profundamente sensível e lúcida. Um livro terrível, de frases e situações impactantes.