A referência a Tolkien salvou-o... esperava originalidade e encontrei apenas uma receita com smiles pelo meio :(
Biscoitos da Vida Eterna - Carina Portugal - 5
É isto que um conto deve ter: o poder de nos causar emoção! Ri-me com diversas partes e fiquei siderada com a imaginação da autora, que vai do grotesco ao humor adorável (ainda assim negro) com uma mestria invejável. Adorei.
Estufado de Miolos - Ana Ferreira - 4
Embora não tão elaborado quanto "Biscoitos da Vida", gostei muito, sobretudo da conclusão, e ri-me bastante. O facto de ser uma receita para zombies pareceu-me bem original.
Túbaros de Troll Estufados - Sara Farinha - 4,5
Igualmente divertida, gostei muito da receita e do elemento fantástico envolvido. Também foi engraçado ler a respeito das propriedades nutricionais da iguaria.
Bolo de Chocolate - Carlos Silva - 4,5
Adorei a ideia de se subscrever uma máquina que faz tudo por nós, que têm aplicações infindáveis, um serviço Premium para panelas! Foi muito divertido, como toda a antologia
Como li há pouco o "Gula", pareceu-me que de certo modo os dois se relacionam. O que acho mais rico na Carina é o vocabulário, que é a grande jóia da narrativa, e o imaginário, que apesar de narrar o mesmo tipo de auto-consumo do outro conto, contém laivos de originalidade e beleza.
O Que Não Cura, Satisfaz - Ana Ferreira - 3
Faltou uma revisão. Mais parágrafos seria bom, sobretudo na primeira parte. Gostei do conceito, embora não tenha entendido se o contexto (véu, jejum, preceitos) é inventado. O mais aproximado que cheguei em termos culturais foi ao islamismo... O modo como termina parece-me um tanto abrupto. Penso que seria melhor fechar o conto atrás da paciente ao deixar o consultório.
O Paciente é o Mais Forte - Pedro Pereira - 3,5
Pequenos desacordos de número, alguma influência do Senhor dos Anéis, ou talvez de GOT. Excesso de advérbios de modo. Final um tanto abrupto, gostei da ideia mas achei-a simplista (o que, de certo modo, joga com a essência do conto).
Castidade - Sara Farinha - 3,5
Conto pequeno, com pontuação por vezes em falta, onde "decadência" surge demasiadas vezes. Luxo e opulência marcam a 2ª parte do setting, que considerei exagerada em termos descritivos. A primeira parte é muito interessante, bem como o contexto do voto. Terminou de forma abrupta, reli várias vezes as frases sem entender. No geral dava um bom livro de fantasia.
Diligência - Carlos Silva - 4,5
Má articulação de algumas frases, mas um vocabulário interessante. Gostei muito do modo como o autor conduziu a mensagem. "Último folgo" será fôlego? Adorei o nome, Semião e, apesar de não chegar a ser descrito, o setting que o mesmo sugere cativou-me. Gostei.
O Documento - Ana Ferreira - 3,8
Desacordo de género e falta de parágrafos. Ai ai, Ana! Bons diálogos, gostei do antagonismo escritor/editora e da relação de ambos. Não estou certa de ter visto "fantasia" no conto, mas não me importo. A autora poderia ter continuado para uma história maior... só tem de se preocupar menos com o chocolate quente e os chás!
O Protótipo - Pedro Cipriano - 4
A ideia (e a própria conclusão) é tão semelhante à de "Nada e Tudo" que me recordei de imediato do autor. Acabei por apreciar os trejeitos técnicos, significa que sabe do que fala. E gosto do modo como conduz a alma humana, que acaba por deixar ir... Se tiver algum livro publicado, penso que gostaria de lê-lo em busca deste espírito com o qual, de certo modo, me identifico.
Nunca tinha lido nada da Carina, foi a primeira vez. Gostei muito da linguagem, limpa e não demasiado floreada. Achei o imaginário admirável, um simples "capítulo" que faz sentido por si só e que, ainda assim, poderia fazer parte de algo maior.
Um Conto Acerca do Orgulho - Liliana Novais - 1,5
A pontuação surge mal colocada (vírgulas onde deveria estar dois pontos; sujeito e acção apartados), sucede o típico erro em que o condicional "poderia" surge como imperfeito "podia". "Planos do palácio" suspeito que seja "planta do palácio". Os diálogos pecam por construções como "Eu vim roubar" quando bastaria "Vim roubar". Muitos lugares-comuns, pouco original.
Ira - Pedro Pereira - 1,5
"Altos arranha-céus"/"Alguns dias atrás". Tempo verbal oscila do presente para o pretérito perfeito, deixando o leitor deslocado. Má colocação de vírgulas. "Alienígena" é a palavra de ordem. Pouco original e mal executado.
Luxúria - Sara Farinha - 2,5
Achei original na medida em que o final foi imprevisto. Porém, todo o resto são lugares-comuns, decotes generosos, sapatos de salto agulha, lábios vermelhos, homem musculoso e carro desportivo. O próprio cenário é do mais banal: um clube nocturno e uma dança sensual. Este "pecado" poderia ter rendido muito mais...
Nada e Tudo - Pedro Cipriano - 3,8
Tinha-me esquecido de cotar este conto, mas depois de ler "Generosidade", noutra antologia, recordei-me de imediato do estilo (e imaginário) do autor. Achei muito técnico, não é fácil seguir números. Achei o conceito interessante: o de alguém se apoderar de um bem na totalidade, causando o seu desgaste e fazendo com que deixe de ter qualquer importância para os outros, que aprendem a virar-se sem ele.
Preguiça - Carlos Silva - 4
Ainda estou a tentar entender quem é que, no discurso directo, diz "eu fui ter com Maria". Não falta ali um "a"? A meio do texto passou a haver artigo antes de Roberto. Porém gostei da inspiração, achei as descrições gráficas e muito interessantes. Com uma pequena correcção da construção frásica e seria muito bom. Acabou cedo demais!(Deve cortar nos advérbios de modo).
Desejos - Vítor Frazão - 3
Vírgulas sistematicamente mal aplicadas. Acho que a última frase encerra mal o pequeno conto. Senti que já tinha visto aquele final, mas o início poderia dar azo a um conto popular, fez-me sorrir e lembrar-me das historietas da terra da avó.