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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#50 ENRIGHT, Anne - A Valsa Esquecida


Sinopse: Gina recorda a senda de desejo e de acaso que a levoua apaixonar-se por Seán, «o amor da sua vida». Enquanto a cidade lá fora ficaparalisada pela neve, Gina recorda os tempos que passaram em diversos quartosde hotel: longas tardes que a felicidade e a negação tornaram indistintas.Agora, enquanto as ruas silenciosas e a quietude e a vertigem da neve que caitornam o dia luminoso e pleno de possibilidades, Gina enfrenta a intempériepara se ir encontrar com uma rapariga a quem chama o «belo erro» de Seán: Evie,a sua frágil filha de doze anos. Neste romance extraordinário, uma espécie decaixa de segredos, deparamo-nos com o relato de acontecimentos súbitos edecisivos da vida quotidiana, com as relações voláteis entre as pessoas, com afrescura do olhar para cada estremecimento e gesto, com a captação irónica eexata das famílias, do casamento e da fragilidade da meia idade. São evidentestoda a verve, o humor e o extraordinário controlo característicos da autora,bem como a capacidade de fundir o banal e o miraculoso. Em ValsaEsquecida, toda a atenção é voltada para o amor e acompanhamos a viagemsentimental de uma heroína prevaricadora e inesquecível. Uma obra-prima deinteligência, paixão e originalidade.

Opinião: Sou umbocadinho snobe no que diz respeito a literatura. Bom, é verdade, admito. Euprópria me envergonho disso por dois motivos que considero válidos; primeiroporque a leitura é extraída da escrita, e a escrita, como arte que é, ésubjectiva. Toca uns e passa ao lado de outros. Que direito tenho de torcer onariz a quem lê livros que considero de qualidade inferior? Depende do quantodescermos... humpf. Depois, porque nem eu li jamais Tolstoi, ou Dostoievsky, oumesmo Shakespeare, e isso é que seria a boa literatura, não?

Mas este "A ValsaEsquecida" intrigou-me. Ganhou um Orange Prize, tem uma capa que apela àmelancolia, à reflexão e aos valores morais e enraizados... não? A mim foi essaideia que passou. Agora adivinhem? Eu não entendo porque é queo livro tem este título - nem valsas, nem convenções, nem um passado paraesquecer, nada que se lhe associe. E a capa? Bom a ideia que tenho daprotagonista é uma trintona de ganga e cabedal, cabelos curtos, álcool emaquilhagem a mais. Onde é que isto combina com a saia plissada e os sapatinhos clássicosda senhora na capa?

Ponto positivo: aescritora e o cenário são irlandeses e vou à Irlanda em Setembro, teve, paramim, um interesse particular
Ponto negativo: fiqueina mesma quanto à Irlanda, a escritora não aproveitou a visibilidade para falarde nada que não da crise e do sector imobiliário

Personagens: mas queazar é este que tenho com as personagens? Perguntei-me, ao terminar o livro, sesou eu que embirro. Senti-me ligeiramente decepcionada por ter a certeza deque ia gostar do 2º livro da Balogh publicado em Portugal. Perguntei-me seseria o género: será por amar tanto os romances históricos que me aborreci demorte com este da Enright? Mas tive a minha resposta: na segunda página do"Um Verão Inesquecível", já eu estava a rir. Já o personagemmasculino foi apresentado, com toda a margem que há-de haver para as suasinconstâncias e imprevisibilidades. Já os homens na multidão tinham mais alma,mais profundidade, mais dimensões, do que a cabecinha oca da Gina e o canalhado Seán d"A Valsa Esquecida".

A dado momento o romanceresvalou do foco do romance extraconjugal para a filha do adúltero, que temepilepsia. Ora bem... quando o casal morreu - alguma vez houve chama? Aí pelapágina 160 de 225 (aprox.) a autora lembrou-se de remexer na filha. De"inventar" uma relação entre a adúltera e a filha do adúltero.Relação cliché, mal explorada, vazia, até porque a Gina não tem nada de terno,vulnerável ou maternal. A cabeça do Seán? Nunca entendemos. O porquê daquelaatracção mútua? Idem.

O que salva [escapa n]o romance -muito repetitivo em cenários, muitos quartos de hotel, muitas festas com os mesmos convidados, álcool,pseudo-dramas e rotina doméstica aborrecida - são os trechos, as associaçõesespirituosas ocasionais que sugerem que a Anne, de facto, tem talento. Este sónão é um livro que eleve o seu potencial.
PS - Voei sobre asúltimas cinquenta páginas. Precious time, this one of mine...
Classificação: 2**