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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#43 FERREIRA, Andreia - Soberba Tentação


Sinopse: Depois de descobrir que o sobrenatural nãorepresenta um medo irracional e que as criaturas caminham lado a lado com oshumanos, Carla tem de enfrentar as consequências do seu envolvimento com oCaael. Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carlacomeça a sentir algumas dificuldades em encontrar-se. Entre lacunas namemória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada doavesso com a linha da vida mais ténue do que nunca. Com a ausência doCaael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entreiguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com arainha a jogar contra ela


Opinião: Acabei agora de ler o “Soberba Tentação”, osegundo volume da Trilogia Soberba da Andreia. E o que poderei dizer sem soarsuspeita? Sim, suspeita porque admiro a Andreia, o seu trabalho com estes doislivros e, ainda por cima, partilhamos a mesma editora. Já houve, inclusive,insinuações sobre as nossas opiniões serem influenciadas por esse facto. Bom,sugiro a quem o insinuou que entre no meio e depois se pronuncie. Há-de haversempre quem não se venda, e também haverá sempre honestidade para não se procurarcomprar quem quer que seja. E é livre de todas estas suposições que me expressoem relação ao II volume desta trilogia, com o despreendimento de uma leitoraque, por acaso, se apresentou em Braga (infelizmente tarde e a más horas) parao lançamento da obra, e que deu um beijo de duplos parabéns à feliz escritora,que trouxe assim à luz um segundo rebento promissor. 
O “Soberba Escuridão” foi o meu primeiro contacto comeste género de livros sobrenaturais. Gostei do facto de ter um pé na realidadee de a Carla ir absorvendo o que acontecia com a estranheza que eu própria,como leitora, também absorvia. Abriu-me o apetite para este mundo e que medeixou com sede de mais. Agora que terminei de ler o Soberba Tentação? Sinto-metão ansiosa quanto ao próximo volume quanto me sinto em relação a Abril de2013, para quando está prevista a nova temporada do Game of Thrones. Já viram omuito que tem de se esperar?
Ora bem,o que explicar desta obra a quem não leu o primeiro volume? Em “SoberbaEscuridão”, a Carla toma conhecimento da existência de um mundo que subsisteparalelamente à consciência humana – tantas vezes voluntariamente ignorado porela. Curiosamente, ela não vai à procura desse mundo – é ele que vem ter comela. Levanta-se um pouco do véu sobre estas coincidências, que o “SoberbaTentação” começa a explicar a um ritmo ainda mais fluido, ainda maisinteressante. A autora amadureceu a olhos vistos, foi estonteante essa mudançade uma primeira obra para esta segunda, tão bem consolidada, tão mais sólida, pormuito que o talento já fosse transbordante no primeiro volume. As respostas àsdúvidas que o primeiro livro suscitou vão surgindo de modo a manter o leitorinteressado, vidrado nas páginas, que parecem voar! Quis tanto acabá-lo e agorafoi-se-me.. que hei-de eu ler cujo entusiasmo se compare?

Aspersonagens – a Raquel, fragilizada pelos acontecimentos do primeiro volume, aAna, que “renasceu” para o mundo sob outro prisma, a Carla, que finalmentecomeça a questionar o chão que pisa, as nuvens por onde caminha… não foram esquecidas. E, para meu deleite, surge, commais destaque, um vampiro descontraído e sedutor que me pôs de faróis atentosdurante toda a leitura.

O que vosposso prometer? Novas explicações sobre este mundo sobrenatural que saiu dacabeça da nossa querida Andreia Ferreira. Romance – um novo, inesperado earrebatador romance, cujo futuro quero desesperadamente conhecer no III volumeda trilogia! Revelações – a maior delas todas, inesperada, que me deixouboquiaberta quando a autora fechou a obra com chave de ouro… Oh, o meu apetitepelo “Soberba Ilusão”, é assim que se chamará, não é? Está tão aguçado…!

A Andreiaé tão jovem e, no entanto, vê-se o dedo de uma mulher do Norte aqui! Ela não secoíbe de ser cruel, explícita, maliciosa, irónica, divertida. Aprecio o humornegro de algumas personagens, todas elas tão bem delineadas e distinguidasneste livro que é, quase todo ele, um mergulho a fundo na consciência do que éreal e no que é ilusão e, garanto-vos… de facto é soberba esta tentação que lheempresta o nome…

Fico-mepor aqui, com novos parabéns à autora. É maravilhoso que tenha sido a AndreiaFerreira, com um género que estava longe de entrar no meu campo de interesseliterário, a reconciliar-me com os autores portugueses?

Recomendovivamente.
Classificação: 5*****

#31 FERREIRA, Andreia - Soberba Escuridão

Sinopse: Quando o relógio pisca as doze horas intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada.A partir daí, todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender.Cega de paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir das profundezas do inferno.

Opinião: Tenho imensa coisa paradizer a respeito desta primeira obra da Andreia Ferreira. Antes de mais,permitam-me clarificar um ponto: eu e a autora partilhamos a mesma editora, masnão temos contrato algum de bajulação mútua. Que isso fique claro, até porqueela é uma mulher do norte sem papas-na-língua e eu também tenho costela doNorte. Enfrentámo-nos ao vivo e a cores na Feira do Livro de Lisboa, no passadodia 6 de Maio, e o compromisso foi de que lhe daria a minha opinião sincera.Ela estava com receio de que não fosse favorável – porque o sobrenatural não éo meu género, nem nunca li nada se não agora A Guerra dos Tronos – e eu estavaaterrorizada com a possibilidade de não gostar do livro e não saber comodizer-lho. “Er…, dou-lhe um três e depois digo que está muito bem escrito masnão gosto destas coisas”, era esse o meu plano b), se não tivesse gostado daobra. O que, como vêm pelas cinco estrelinhas a cintilar a vermelho, não foi ocaso.

Esta classificaçãoespelha a minha redenção face ao cepticismo e também a minha estupefacçãoquando fechei o livro, há minutos. É uma lição de humildade e de mente aberta.Quando, por volta de Junho do ano passado, tomei conhecimento da existênciadeste livro no catálogo de obras da Alfarroba pensei: que péssimo, a febre dosvampiros chegou a Portugal. E que sabia eu dos vampiros ou deste géneroliterário? Exactamente, nada. Fiz logo o quadro todo em mente: a autora deviaser uma adolescente que vivia na lua (e, se vive na lua agora sei que é no bomsentido!) e que era maluca pelo Crepúsculo e tinha copiado a história, maiscoisa menos coisa. Os preconceitos - pré-conceito - surgem em relação aos assuntos mais inesperados, e assim me apercebi de como estava a julgar erradamente alguém pelo seu gosto de leitura/escrita. Mas isso passou-se há um ano atrás, e entretanto a Andreia tem-me vindo a dobrar. Primeiro com a sua simpatia e prontidão, depois e definitivamente com a sua obra.

Qual foi o meu banho decair no real quando comecei a falar com a Andreia e descobri que é uma adulta responsável– jovial, divertida e tagarela – que, de facto, vive na lua e sorve daí a suainspiração e daí lhe advém o talento. Vou roubar as palavras da própria emrelação a mim: Quando há talento, há! E encontrei-o logo desde o princípio dolivro. Às primeiras palavras tornou-se óbvio que ela não tem necessidade de seesforçar – é-lhe inato, vêm-se trechos que só podem advir de uma espontaneidadefluída que é o que consolida os bons escritores, os escritores de gema. A primeiraparte do livro (aí até à página cem) é, de facto, um pouco difícil dedesbastar. Isto porque a narração é fluída, com laivos de bom humor, e espelhamuito bem – melhor do que bem, através de expressões idiomáticas – a essênciado povo português. Da família portuguesa – sobretudo da mãe portuguesa, quequase “aterroriza” esta adolescente, a Carla, como as nossas mães e avós nosaterrorizam a nós com a hora do deitar e a pressa do levantar e os “ó filhaisto” e “ó filha aquilo”. Foi muito português de Portugal, e adorei essa faceta da história. Li, nalguns comentários, que as referências daAndreia lhe eram demasiado familiares. Bom, para mim foi tudo um terreno novo.Exceptuando o Harry Potter, os meus livros favoritos retratam realidadesinvulgares e enriquecedoras – mas realidades. Ia convencida de que ia ler um “montede clichés” sobre vampiros, mas levei outra bofetada quando me dei conta de queo livro aborda toda esta temática de um modo muito mais original. Embora sesaiba que o livro é do género sobrenatural, houve ali algumas explicações, emcertas alturas, sobre a existência e realidades paralelas, que fizeram umsentido estrondoso. Não digo que rocem uma possibilidade real, mas sãoextensões complexas demasiado amplas, raciocínios bem estruturados. Não sei setoda aquela arrumação das criaturas e dos seus mundos/realidades, misticismos eetc., encontra par em outras obras do género, mas se for esse o caso foram bemaplicadas. Se não for, muitos parabéns, Andreia, por teres inventado um mundocom contornos palpáveis.
Apesar de já conhecer aautora, consegui desligar-me dela ao ler o livro, o que espelha o quão bom eleé, o quão bem ele flui nas minhas mãos. Quando conheço o autor e leio a suaobra é como se bebesse as palavras dos seus lábios, como se o visse sentado acriar a história. Mas a Andreia não – não estava em lado nenhum. A Carla é aCarla e o livro é o livro, e ela é somente a criadora. Conseguiu criar algo deque gosta tanto completamente desprendido de si. As palavras são acessíveis, hámomentos que me puseram de nervos em franja, outros que me enterneceram (oromance está super bem explorado embora a Carla o viva com alguma imaturidade,gostaria de tê-la visto resistir ao jeitosão com mais afinco, de início, talvezser um pouco mais desconfiada), e houve momentos em que me segurei para não mepôr às gargalhadas. A Ana é, sem dúvida, a minha favorita. Gostei muito dapanóplia geral de personagens e, sobretudo, da coesão que lhes deste.
Como digo, um livro éum exercício de arquitectura e a Andreia soltou pontas ali e uniu-as aqui e aindadeixou margem para muito andamento no “Soberba Tentação”, que sai para Julho.Vou ter que penar muito até ler o segundo e, mais ainda, até ler o terceiro!
Para terminar gostavade dizer algo que acho que também já li algures em relação a esta autora e àsua obra, e que não pensei vir a concordar mas que de facto concordo comsinceridade: se fosse no estrangeiro teria inúmeras portas abertas e seria umsucesso enorme instantâneo. Criar-se-iam clubes de fãs com números enormes e,quem sabe, far-se-iam filmes e franchisings. Além de um bom enredo tens boaspalavras, bem escolhidas, e às vezes isso é o mais difícil. Dar substância auma história sem se ser pretensioso, nem aborrecido, nem maçador.
Cá fico, entristecida,com dois meses pela frente à espera da continuação…!
Classificação: 5*****