#1 LINCOLN
Título oficial: Lincoln @2012
Realizador: Steven Spielberg
Banda sonora: JohnWilliams
Actores principais: Daniel Day-Lewis, SallyField, Joseph Gordon-Levitt, Tommy Lee Jones
Classificação IMDb: 7,9
Minha classificação: 6
Classificação IMDb: 7,9
Minha classificação: 6
Sinopse: Conforme a Guerra de Secessão decorre, o Presidente da Américaluta continuamente, inclusive contra os homens da sua própria facção, arespeito da 13ª Emenda que conferiria a liberdade aos escravos.
Opinião: Meus queridos eu sou absolutamente doida pela Guerra da Secessão.Na minha opinião é o período mais importante da História Americana e carregamuitas repercussões consigo. Para quem não sabe, trata-se de um conflito decariz civil decorrido entre 1861 e 1865 entre os Estados da América mais aNorte, a "União", e os Estados Confederados a Sul, a"Confederação". A guerra despoletou porque o Sul, ruralizado, cujosistema económico assentava totalmente na produção de algodão suportada pelotrabalho escravo, pretendia desligar-se do Norte industrializado, baseado noproteccionismo económico e anti esclavagista (este ponto é controverso).Criando uma Confederação independente dos Estados a Norte, causou uma fricçãoque, já com Abraham Lincoln no poder, se estendeu em combates sangrentos durantequatro longos anos.
O meu filme favorito de sempre é o E Tudo o Vento Levou. Para quem pensaque é a história de amor de uma rapariga bonita e de mau feitio e um cretinoarrogante, fique a saber que é a História do Sul, onde os valores aristocratase o liberalismo económico imperava. A arrogância do Sul elevada a um poema,apesar de todos os erros humanitários... A Margaret Mitchell, com o seumaravilhoso romance, criticou e exaltou uma "nação" à parte darestante América. Os negros são bem tratados, mas não são livres. A economia doSul, embora liberalista, irá colapsar porque está dependente do preço doalgodão. O que se vê no maravilhoso filme do David O. Selznick e do Victor Flemingde 1939 é a queda de um modo de vida,impulsionada pela guerra. O Norte pretende absorvê-los, por muito que não oscompreenda nem os valorize, e o Sul, orgulhoso, rebela-se. Durante a guerraambas as facções sobrem atrozmente as baixas e os horrores do conflito. Muitosangue é derramado e, na perspectiva do Sul, a estratégia do Norte paraangariar mais braços para a sua causa e sufocar de vez a sua economia é libertaros escravos. Deste modo perderiam os braços dos negros que combatiam(obrigados) pelo Sul e, quando a guerra terminasse, não teriam mão de obra paralevar a produção algodoeira a bom porto.De facto, há uma reflexão sobre o facto de os negros não estarem, sequer,preparados para a alforria. Não têm outra estrutura social que não pertencer auma casa, trabalhar a sua terra, dormir nas camas providenciadas pelos amos ecuidar dos seus filhos. Livres tornam-se velhacos, vingativos (como écompreensível), causam mortes, abusam de mulheres, estabelecem-se emacampamentos e embebedam-se nos botequins. Eu faria o mesmo depois de trêsséculos de escravatura, mas torna-se também compreensível a perspectiva do Sul,que não conhece outro modo de sustentabilidade.
Vendo o filme do Spielberg, aliás nomeado para os Óscares, adormeci naprimeira parte. I did, pela primeiravez no cinema. O filme começa com diálogos (francamente forçados) que expõem - tell - as estratégias da União e osreceios dos civis, das esposas, dos filhos. Lincoln surge com um sorrisobenevolente e postura exausta. Penso que o Daniel Day-Lewis conseguiu recriar aaura em torno deste Presidente, até porque é bem mais jovem do que Lincoln eramas, por vezes, a caracterização pareceu-me um pouco caricata. A moda não era muitoamiga da estética à época e surgem um pouco exageradas aquelas patilhas,difícil é fazer a personagem parecer credível. Creio que a representação doDay-Lewis é irrepreensível, mas o envolvimento tornou o filme, para mim, umbocado teatral. Bom bocado dessa primeira parte (antes de adormecer) foramsequências de homens a disparar leis e a discutir o papel estratégico da 13ªEmenda (a que libertaria os escravos) para o fim da guerra, que é tudo o que seambiciona.
Pareceu-me, a dado momento, que a 13ª Emenda era algo de abstracto, umaferramenta mais política do que humanitária. Aliás, isto resume o livro. É bemmais político do que humanitário, e era o lado humanitário que eu procurava nofilme - se tivesse alguma expectativano filme, que aliás não tinha.
Todo o filme é muito sóbrio, muito formal, tirando uma piadinha ou outra,bem como a personagem do Tommy Lee Jones, que quando actua rouba a cena, teriadormido ao longo de toda a segunda parte também.
Os cortes de cenas causam quase anticlímaxes, eu procurava, sendo oSpielberg, alguma arte intrínseca, maspareceu tudo muito técnico, muito sóbrio, muito frio.A banda sonora, que poderia ter ajudado a salvar o filme - John Williams!Por amor de Deus (Memoirs of a Geisha)- é monótona, ajudou a embalar-me. Não há um clímax, uma composição que fiquena memória... e logo eu, sempre tão atenta à soundtrack.
Enfim... 6*/10* e só porque é a Guerra de Secessão.
Quase oiço a ScarlettO'Hara a dizer "Tonight I wouldn't mind dancing with Abe Lincolnhimself!".