Sinopse: Para Stella a lógica é a única constante do universo. Inteligente e bem-sucedida, a jovem cria algoritmos para prever as compras dos consumidores – um emprego muito bem pago mas que não a ajuda a perceber os homens. Para piorar, Stella tem síndrome de Asperger e é-lhe mais fácil analisar números complexos do que iniciar um simples relacionamento amoroso. Perante a pressão da mãe para começar uma família, a jovem elabora um plano pouco convencional: CONTRATAR UM ACOMPANHANTE PARA A ENSINAR A SER A NAMORADA PERFEITA.
Michael Phan usa o charme e a aparência para conseguir algum dinheiro extra que lhe permita pagar as contas que se acumulam. E é com profissionalismo que o acompanhante de luxo aceita ajudar Stella em todos os pontos do seu detalhado plano de trabalho, DOS PRELIMINARES ÀS SITUAÇÕES MAIS ÍNTIMAS.
Mas quanto mais tempo passam juntos, mais Michael fica encantado com a mente brilhante de Stella. E ela, pela primeira vez, sente-se impelida a sair da sua zona de conforto e a descobrir uma nova constante do universo: O AMOR.
Opinião: Não aqueceu nem arrefeceu. Repesca aquele enredo em que completos opostos se apaixonam quase instantaneamente, sendo que aqui os ingredientes originais, conforme avança a sinopse, é que a jovem tem Asperger e o jovem é prostituto. Cria-se aquela bolha em torno dos dois, desenvolve-se um pouquinho as vidas privadas de ambos, mas vários parágrafos são completamente dispensáveis, meros interregnos entre uma cena sensual e a próxima. Detesto livros baseados em mal-entendidos, em "achei que x significava y", acho que é um truque fácil que pode resultar em enredos secundários, mas não pode ser o fuel de uma boa história. Não me pareceu sequer bem escrito no original. Dei por mim a rasurar coisas que me pareceram parvas, adjetivação desnecessária, tipo a avó pegar no comando "preto". Talvez isso venha da mente da própria autora, que tem Asperger, mas este livro, tal como A Educação de Eleanor, tornou-se demasiado confuso para o seguir. O modo de pensar das protagonistas nem sempre faz sentido, faltava um bom enredo a sustentar a coisa. Apesar de tudo, o segundo é melhor porque não cai nos clichés de que este está pejado, e o sexo não é o assunto principal. O livro, nesta edição, está cheio de gralhas e a linguagem em si, sobretudo das conversas, é porcalhota. Não gosto de ver tantos "Foda-se" a propósito de nada.
A parte sexual é OK, mas é mais uma história em que a mulher tímida e sem prática se revela uma deusa na cama, e em que há coincidências a torto e a direito (quando ela esbarra com ele no local de trabalho dele, numa cidade da dimensão de Palo Alto, ou quando ele vai a um restaurante coreano onde, por acaso, ela está num date com um imbecil. Não faltam os ciúmes, os murros, as lágrimas e os Mas tu disseste que..., rematado por Eu não disse nada disso, entendeste mal...
Para terminar, tem algo que odeio na literatura moderna, ainda por cima feminina, que tenho lido nos últimos tempos... Tanta conversa de feminismo e depois os protagonistas masculinos são paternalistas. Como neste caso, cruzam-se com uma mulher de 30 anos bem-sucedida e autossuficiente e começam a segui-la na rua para garantirem que chega bem a casa, a obrigá-la a alimentar-se, a aconselhá-la a manter-se longe deste e daquele, e um sentimento de posse, uma posse nociva que cria uma nova noção de romance. Um "só eu é que posso tocá-la", um "Ela é minha" que me soa a alarme, mais do que a amor. Ridículo, porque em nada contribui para que as mulheres se sintam seguras, capazes, livres para raciocinar e para tomar decisões.
Opinião: Tenho de atribuir duas estrelas, porque significa it's ok enquanto 3 já significa I liked it
Foi a minha estreia com Valter Hugo Mãe, um autor que encontro muito pelo mundo dos livros, mas que até agora não me despertou grande curiosidade. Li algumas reviews de utilizadores com gostos semelhantes aos meus, folheei "A Desumanização", não consigo estar desinformada sobre títulos e às vezes até sinopses de livros que saem, e sempre me pareceu que não era para mim. Mas um amigo insistiu que devia lê-lo, e decidi ir até à biblioteca conseguir um exemplar de qualquer uma das suas obras e assim poder opinar com conhecimento de causa.
Uma das surpresas é que a capa da edição da Alfaguara (o homem em chamas) sugeria uma história poderosa, adulta, séria. Eu gosto muito de austeridade na escrita, mesmo o humor que surge num ambiente soturno tem outro gosto. A história não é nada disto, embora tenha rasgos de crueldade e outros de ingenuidade, e o contraste dos dois - promovido por um narrador que se expressa de modo peculiar - resulta nesta voz única em que mal se distinguem as personagens por si sós. Crianças, adultos e velhos, todos pensam do mesmo jeito, e com níveis de maturidade por vezes desadequados da sua faixa etária.
Que dizer desta história sem tempo nem espaço? As personagens têm nomes esquisitos, coisa a que começo a habituar-me no caso de alguns criadores portugueses. Temos o Crisóstomo, o Gemúndio, o Antonino e a Mininha (não me importava que os nomes esquisitos se tivessem ficado pelo imaginário do Saramago, e do seu Baltazar e Blimunda). A somar aos nomes, a personalidade das personagens: todos apanhados de uma certa loucura que procura elevar os rasgos de clarividência que lhes assista os pensamentos ou os diálogos. Depois é essa falta de tempo que me incomoda: que tempo é este em que a mentalidade é tão fechada, em que as pessoas atravessam montes a pé para chegar ao mar, mas há carros, hospitais e outras inovações que tais? E que espaço é este, que se estende da terra ao mar, e na terra naturalmente que o povo é lavrador, e no mar é pescador, e são todos remediados? É Portugal, julgo que seja Portugal. Diria um Portugal meio dos anos 30, ainda que nem o tempo nem o espaço cumpram nenhum propósito na narrativa. Tenho imensa pena, porque o tempo é um dos fatores que me leva até aos livros, e o espaço é outro logo a seguir.
Apesar de em jeito de romance, senti a história como uma espécie de compêndio de contos entrelaçados. Há homens tristes por não terem filhos e que enganam a tristeza com bonecos que se sentam no sofá, há anãs, há galinhas gigantes, há humanização de objetos (travessas e flores que se espantam) e há uma aura de surrealismo que nunca se cumpre, porque a força do surrealismo é a profundidade das raízes no real. Como num quadro de Magritte, a propósito meu pintor favorito, em que a composição é perfeita mas a imagem é desfasada do mundo físico. Perfeita, mas irreal. De contornos reais, mas a flutuar num céu azul de nuvens brancas. Surrealismo regado a mais surrealismo não me prende. As personagens acabam por não ser palpáveis - embora surja uma Isaura que é mais nítida do que as restantes -, as ações parecem-me dúbias e os encontros forçados. Fez-me especialmente impressão o modo como os menores são trocados de mão em mão, porque neste recanto do mundo sem tempo a lei também não existe. E temos de aceitar que tudo poderia passar-se assim, ou ficamos incapazes de produzir uma emoção quanto ao texto.
Parece que é um livro sobre a paternidade, mas não o senti assim. Achei que era um livro sobre superarem-se diferenças. A temática da aceitação do diferente - a mulher estranha, o velho solitário e desesperado, o maricas - é muito mais forte do que as relações interpessoais no livro. Ou melhor, as relações desenvolvem-se sobre essa superação da diferença, o que é algo positivo. O livro acaba por estar bem organizado - ainda que padeça de uma inesperada simplicidade -, e o português vem enrolado e desenrolado em floreados em certos trechos, por vezes sacrificando o significado à forma.
Destaco esta afirmação como o único momento em que o livro me agarrou realmente:
«Quando se conhece alguém, procuram-se as exuberâncias dos gestos (...) como para fazer exuberar o amor, mas o amor é uma pacificação com as nossas naturezas e deve conduzir ao sossego.»
Não me alongo mais, termino esclarecendo que o livro é, para mim, uma obra de art naïf, um quadro de figuras simplificadas e muito coloridas, num cenário primitivo de terra e animais. O meu gosto pessoal revê-se mais na intriga por detrás do surrealismo de Magritte.
Sinopse: Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra. As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar. Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe
Sinopse:Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, um ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do Rei D. José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis.
De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casa caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o terreiro do Paço e durante vários dias incêndios colossais vão atemorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros.
Opinião:E é o que se passa com este livro, está ok. É um tema fascinante, desafiante, que com certeza exige uma pesquisa minuciosa. É à pesquisa que atribuo as 2 estrelas. Estou envolvida no mesmo caminho, li inúmeras fontes, muitas delas contraditórias. Creio que os testemunhos em primeira mão são o que de que mais fidedigno julgo poder encontrar-se sobre a época. Ainda assim, nem todos os sobreviventes da tragédia tinham conhecimento de tudo o que se passava ao seu redor, e muitas vezes avançam com informação incorreta ou imprecisa sobre o rei, o governo, os trâmites que estão a ser postos em marcha para reconstruir a cidade.
Reconheci vários pontos da pesquisa que tenho levado a cabo neste livro, mas não me lancei a ele para aprender sobre o terramoto. Procurei empreender a viagem que um romance promete até ao tempo e ao local que explora, e é aí que surgem os problemas.
As personagens são ocas, superficiais, personagens-tipo. A freira bonita é boa, a freira velha e ignorante é má. O pirata alto e bonito é charmoso, o espanhol é abestalhado, o inglês só pensa em negócios e tem um linguajar sem qualquer critério, que aleija bastante o leitor, a escrava é espertalhona e fogosa, Sebastião de Carvalho e Melo é implacável, a rainha é dada a achaques e o rei é um fraco.
Este ramalhete pode ilustrar, muito à superfície, a sociedade portuguesa do século XVIII, mas falha na sua compreensão, na sua humanização; não lhe acrescenta nada. Malagrida diz algo como "as mulheres são aparentadas com o diabo". Pergunto-me se haverá fundamento aqui, porque pelas missões que o jesuíta terá empreendido na América do Sul, e a fama de santo que tinha, duvido que andasse pelas ruas, e muito menos junto da corte, a proferir esse tipo de opinião. Pelo que sei da rainha D. Mariana Vitória, era uma mulher de fibra, espírito forte, robusta e saudável, que caçava e montava melhor do que muitos fidalgos da sua corte (sendo inclusive elogiada por isso) e, por muito horrível que o terramoto fosse, até agora nenhum testemunho próximo da corte (o do Monsenhor Acciaioli por exemplo, núncio apostólico), dá a entender que esta tenha fraquejado.
Assumir-se que o rei dormia em barracas de pano e madeira porque tinha medo que o tecto lhe desabasse na cabeça é só pueril. Os livros de História perpetuam-no à primeira vista, porque há que resumir. Mas e se nos permitirmos reflectir mais além? O que significava a família real? Significava a soberania de todo um império, significava independência face a Espanha (que ainda no tempo do seu pai lutava por nos dominar), e significava assegurar que Portugal mantinha as suas possessões, a sua história, a sua língua, os seus tratados e compromissos, a sua dignidade e a sua paz e interesses, bem como os dos súbditos. D. José não pretendia apenas salvar a cabeça das pedras, mas um universo de possivelmente milhões de pessoas de cair em mãos hostis. Assim sendo, também D. Mariana Vitória, lado a lado com a Princesa do Brasil, D. Maria Francisca, herdeira do trono, não dorme em carruagens "apenas" porque tem medo de novos abalos, ou porque ficou traumatizada e era fraca de nervos.
O romance é inverosímel em muitas frentes... Antes de mais, a quantidade de gente que "corre" em fuga. É-me difícil imaginar tanta destreza para escapar a obstáculos ou perseguidores quando as fachadas se tinham derramado para o meio da rua, e o entulho cobria as vias estreitas. Segundo, o retrato psicológico das personagens falha a todos os níveis. Custa-me a crer que num cenário de horror inimaginável, de Apocalipse, de fim do mundo, em que os cadáveres decepados de entes queridos fariam os lisboetas recear um desfecho semelhante para si mesmos, surgisse qualquer tipo de luxúria, de "divertimento", de brejeirice nas horas subsequentes ao primeiro abalo. Também não apreciei a sugestão de que as mulheres seriam todas promíscuas, à excepção do nosso anjo, Irmã Margarida, que por algum motivo nunca teve direito a um artigo definido até meio da narração.
A linguagem é quase atual, e estou convencida de que muitos vocábulos não existiriam ainda, ou não eram usados, tais como "sismo", pelo menos tendo em conta de que nem havia uma palavra em português para "maremoto", à época. Os diálogos preocupam-se mais em soar espirituosos do que em retratar o século XVIII, as hierarquias sociais, os estratos de uma sociedade profundamente desigual.
Como informa a sinopse, esta é a história entrecruzada de várias personagens aquando do abalo sísmico de 1755. O pirata, as freiras, o comerciante inglês, a escrava, "o rapaz", com laivos de aparições do ministro dos Negócios Estrangeiros (Sebastiã de Carvalho e Melo), de Malagrida, da Casa Real, etc. Mas até meio (altura em que abandonei a leitura), não tinha acontecido coisa alguma. Tudo bem, a terra tremeu, há poeira e toda a gente tem imensa sede. Mas num cenário tão caótico, estas personagens andam para cima e para baixo, Terreiro do Paço, Rossio, Rua da Madalena, Alfândega, Patriarcal, Paço da Ribeira, Bairro Alto. A sério? A sério que com a cidade em chamas, as ruas intransitáveis, um maremoto, as paredes a desabarem a cada novo abalo, porque foram vários, estas pessoas conseguiram encontrar-se no meio de milhares, tantas vezes, em situações tão caricatas, trocar três palavras, ver-se de novo daí a nada? Forjar alianças, amizades, criar rivalidades, inimigos em comum, etc.?
E a escrita pobre, gráfica e cinematográfica, de vocábulos sem sal, que jamais entra pelas personagens adentro e lhes expõe a alma ou lhes empresta espírito...
Não gosto. Ressalvo que a classificação é pelo trabalhão que com certeza deu ao autor, mas falta-lhe o cunho de um romancista e a substância mágica que permite a um autor moldar personagens credíveis, com as quais nos importamos de facto. Aqui, tudo é vento...
Opinião:Mais uma das minhas desilusões literárias. A Irlanda convulsa dos anos 20 prometia um enredo intenso, com a complexidade quase indecifrável que a cultura (música, cinema) tanto tem tentado simplificar. A somar a essa expectativa, há uma desvantagem: eu acompanhei duas temporadas de Outlander, cuja publicação original é de 1991, por isso dei por mim a ter déjà-vus da história da Claire, a enfermeira de guerra do século XX, de caracóis negros, e do Jamie, o guerreiro escocês do século XVIII. Destaco, como pontos positivos, a viagem do tempo. Aconteceu de modo subtil, com alguma inteligência. Pareceu-me credível (para quem tem a mente minimamente aberta ao surrealismo), que houvesse um portal do tempo no centro de um lago Irlandês, que afinal é a terra da magia e das fadas. Também a pesquisa me parece exaustiva e bem conseguida, embora depois falhe no encaixe no enredo. O problema principal, em contra-partida, é a superficialidade das personagens e a ligeireza com que encaram situações inimagináveis. À excepção, talvez, do Dr. Thomas Smith, que tem ideais, uma história sólida, várias dimensões. Várias coisas me causaram estranheza durante a leitura, e me impediram de vivê-la. Em primeiro lugar, estive na Irlanda por três vezes, e da primeira visitei o condado de Leitrim e de Sligo, entre os quais se estende o Lago Lough Gill, tantas vezes mencionado no romance. Também visitei Parke’s Castle, que se situa no lago e que surge mencionado por alto na narrativa. Conheço um pouco da história irlandesa, e gosto de pensar que compreendo a alma do Éire, por muito complexa que seja (e é). O que dizer da Irlanda de 2019? É vasta, com povoações isoladas, com uma humildade próxima da terra e da lareira, simpática, acolhedora, tradicional. O que sei da Irlanda do século XX? Sofria de carência, de opressão, de miséria generalizada, de convulsões políticas. A Irlanda rural de 1916 e 1921, em que a autora se foca, tem casas de banho modernas, pronto-a-vestir, e ninguém passa fome. Vivem de idealismos, de honra, e falhou no retrato da opressão, do tratamento desumano que o Império Britânico lhes impôs. As informações estão lá, mas não se sentem. Pelo menos achei que não se sentiam. Os acontecimentos são desfiados quase como eventos alinhados numa cronologia, e o impacto direto nas personagens é amenizado pelo eixo central romântico da história. Para mim tudo falhou logo de início, quando a vida da Anne se apresentou como unidimensional. Nada existia para esta mulher de 30 anos além do avô, o que começa por ser pouco credível. Segue-se a partida abrupta para a Irlanda, uma vez mais sem que se evidenciem laços à sua vida em Nova Iorque, quase como se não tivesse qualquer amarra (à exceção da agente literária). Na Irlanda as coincidências sucedem-se. Tudo muito conveniente. O pior é a reação à viagem no tempo. Pânico? Intriga? Busca de respostas? Tentativa de regressar imediatamente a casa, como creio que seria humano fazer assim que se recuperasse do tiro? Nah, vai comprar um guarda-roupa novo na loja de pronto-a-vestir (cerca de 30 anos antes da invenção do pronto-a-vestir). Pareceu-me de uma futilidade atroz tendo em conta tudo o que se estava a passar, e páginas desperdiçadas com coisas sem importância. O amor surge do nada, tipo wow?. Não se entende. Nada mais a acrescentar aqui. A dada altura, o fio condutor do romance, que é o amor do Thomas e da nossa protagonista, perde-se no meio dos acontecimentos. E os acontecimentos, como mencionei antes, são difíceis de acompanhar. Significa que na última parte me desliguei tanto do casalinho quanto dos eventos políticos, e tudo se precipitou com muita rapidez. Duas coisas de grande significância acontecem a velocidade de foguetão, o que mais contribuiu para que revirasse os olhos. A naturalidade da reação das personagens a esses revezes é exasperante. Não há consistência, lógica. As acções e decisões acabam por cimentar o caminho (mal pavimentado) para o fim almejado pela autora, tudo muito bam! In your face. Não gostei, só a Irlanda me impediu de desistir.
Sinopse: Numa Irlanda dividida, uma história de amor épica quebra as barreiras do tempo. «Só o vento sabe o que verdadeiramente vem primeiro.» Anne Gallagher cresceu encantada pelas histórias do avô acerca da Irlanda. Destroçada pela morte dele, viaja até à sua casa de infância para espalhar as cinzas do avô no lago Lough Gill. Aí, invadida pelas lembranças do homem que adorava e consumida pela história que nunca conheceu, vê-se levada para uma outra época. A Irlanda de 1921, à beira de uma guerra civil, é um sítio turbulento e instável… Mas é lá que Anne inesperadamente desperta, desorientada, ferida e ao cuidado do Dr. Thomas Smith, o homem que a resgatou do invulgar acidente que sofreu e que é tutor de um rapazinho que lhe é estranhamente familiar. Confundida por todos como a mãe perdida do rapaz, Anne adota a sua identidade, convencida de que o desaparecimento dessa mulher está ligado ao seu. Com a tensão a escalar no país, levando Thomas a juntar-se à luta pela independência da Irlanda, Anne vê-se arrastada para o conflito e percebe que vai ter de decidir se estará disposta a desistir da vida que conhecia por um amor que nunca pensou vir a encontrar. Mas será mesmo dela a escolha? Numa inesquecível história de amor, a viagem impossível de uma mulher através de décadas pode mudar tudo…
Opinião:Há sempre algo de irresistível que me leva a comprar os livros da Julia Quinn. Acho que vem de 2012, quando comecei a ler a série Bridgerton com o primeiro volume Crónica de Paixões e Caprichos. Li a série de enfiada, conforme os livros iam saindo. Deixei-me envolver pela família barulhenta e divertida, e pela ternura dos afetos entre eles. Volvidos 7 anos, talvez não sejam os livros da Julia Quinn que mudaram, mas eu.
Estamos no final do século XVIII e a revolução Americana ainda não está decidida. Os britânicos batiam-se por manter o precioso território ultramarino. A saga da familia Rokesby começou com A Indomável Miss Bridgerton, sendo que Billie Bridgerton estaria de casamento apalavrado com o vizinho, Edward, mas acaba por se apaixonar é pelo irmão dele, George. Edward estava longe, a combater pelo Império Britânico no Novo Mundo, e estava, inclusive, desaparecido em combate.
Neste segundo volume da série, Edward Rokesby acorda num hospital de campanha em Nova Iorque após uma aparente missão falhada no Connecticut, e sofre de amnésia quanto aos últimos meses da sua vida. A irmã do seu melhor amigo e companheiro de combate, Cecilia Hartcourt, desembarca na outrora Nova Amesterdão para procurar o irmão, e acaba à cabeceira de Edward enquanto ele recupera. Uma vez que a época não permitia uma convivência tão próxima entre uma mulher e um homem fora do seu círculo familiar, Cecilia mente e diz ser casada com Rokesby.
Pronto. É uma premissa já muito vista. Deve haver pelo menos uns cinco romances destas autoras referência em torno disto. Matou o livro para mim, porque o pontapé de saída é esse cliché gigantesco. Acho que não há um motivo no mundo para uma pessoa mentir a outra, muito menos para a "manter por perto".
De qualquer modo, as referências históricas aos conflitos, a Nova Amesterdão, aos holandeses e às suas spekulaas, aos jornais que precisavam de ser passados a ferro para a tinta se fixar, etc., foram-me interessantes, mas não aqueceram um livro que senti como ameno.
É fofinho, mas não passa disso.
Comfort literature.
Sinopse:Enquanto dormias...
Órfã e com o irmão ferido nos campos de batalha da América, Cecilia Harcourt vê-se perante duas opções aterradoras: ir viver com uma tia solteirona ou casar com um primo maquiavélico. A jovem escolhe a opção... três: atravessar o Atlântico e ajudar o irmão a recuperar. Mas após uma semana de buscas, Cecilia não encontra o irmão e sim o melhor amigo dele, Edward Rokesby. O galante soldado está inconsciente e a precisar desesperadamente de cuidados. Para lhe salvar a vida, Cecilia recorre a uma pequena mentira...
Eu disse a todos que era tua mulher.
Ao recuperar a consciência, Edward constata que não recorda nada dos últimos três meses. Mas... decerto que se recordaria de ter casado... ou não? Mas se todos dizem que assim é…
Se ao menos fosse verdade...
A mentira que Cecilia contou pode pôr em risco todo o seu futuro, mas ela fê-lo por amor... pois quanto mais tempo passa com o jovem, mais intensos (e verdadeiros!) são os sentimentos que nutre por ele. E quando a verdade vier ao de cima, quem sabe o que irá acontecer? O próprio Edward poderá ter também algumas surpresas por revelar...
Não me orgulho de desistir, mas a verdade é que, daqui em diante, iria sempre gostar menos do livro. O nosso casamento já tinha azedado. Tentei ficar por aqui e guardar os pontos positivos:
- Estreia arrasadora, para uma primeira viagem nas letras o discurso é muito bom, bem articulado, com momentos de reflexão que oferecem um vislumbre do que o autor é capaz;
- A parte na Polónia é muito interessante, a pesquisa admirável e bem conjurada nos diálogos e trechos passados antes da II Guerra (onde fiquei) cimentou-o com primor. Esses capítulos do passado eram o sítio do livro onde eu gostava de estar. Eram o seu palco mais agradável, melhor composto, mais enriquecedor e exemplificador do potencial do escritor, e a solenidade em torno do núcleo de judeus e das suas tradições e ancestralidade é muito sólido e acolhedor;
- O retrato de St. Oswald's é bastante nítido e pormenorizado, as descrições não são maçadoras e parece-me que, em geral, o cenário é sólido e implanta-se com facilidade na mente do leitor.
A partir daqui, explico porque o livro não me arrebatou, ou porque não consegui ser mera leitora :
Perguntem a Sarah Gross é o romance de estreia de João Pinto Coelho, e acho que o autor tem muito de que se orgulhar por ter inaugurado a sua contribuição para a literatura com esta obra.
A nível pessoal, não li tantos livros assim sobre a Segunda Guerra Mundial, e o principal motivo é o achar que o assunto está muito explorado numa série de plataformas diferentes, sobretudo no cinema e na literatura, e a cada nova estação literária sai um novo livro sobre a sapateira de Auschwitz, ou a costureira, ou o carteiro, etc. São poucas as abordagens a esse período negro da História da Humanidade (70 milhões de vidas perdidas directa e indirectamente do início ao fim do conflito, por todo o globo) que trazem algo de novo, por muito que o horror e as suas muitas frentes sejam uma fonte quase inesgotável de histórias (de amor, de ódio, de discriminação, de vingança, de redenção, de superação, de resistência, etc... de tudo o que nas nuances do ser humano e das suas emoções há). Arriscaria dizer que é do conhecimento geral o que eram as SS, a Gestapo, as particularidades da cultura judaica que denunciavam o judeu, o que é um ghetto, o holocausto, mais ou menos quando tudo isto se passou, etc. Mais difícil, para alguns, seria entender o que foi a Batalha de Aljubarrota, quais os envolvidos e porque se deu tal conflito. Enfim, não deixa de ser um assunto interessante, mas tento manter-me longe dele e focar-me nas pequenas desgraças nacionais e/ou menos reportadas, noutro contexto menos complexo e mais pessoal. Por aqui já fica claro que não é dos meus temas favoritos, pelo menos do prisma Polónia/EUA, que é o que mais nos chega.
Lista de romances que li a respeito do tema: Expiação, O Grande Amor da Minha Vida (foi inovador espreitar a guerra da janela de uma Leninegrado cercada), O Rouxinol, A Rapariga Que Roubava Livros, O Fim da Aventura, etc …
Não me consegui abstrair de algumas coisas que acredito que o autor venha a limar de futuro, valendo-se da sua evidente destreza expressiva:
1) Se tanto o setting quanto os intervenientes no cenário são estrangeiros, acho que não faz sentido recorrer a expressões idiomáticas portuguesas, como “c’o a breca”, ou “genica”, ou “essa encomenda” referente a uma pessoa difícil. Por vezes, quando surgem, pergunto-me como se traduziria isto para o inglês/polaco/iídiche/alemão que as personagens falam, sem chegar a uma conclusão satisfatória, o que me arranca ao diálogo e me recorda de que é uma obra, e não acontecimentos reais, quebrando o feitiço do livro;
2) Um pouco menos de tell, sobretudo quanto ao carácter das personagens: é preferível deixar-nos tirar as nossas conclusões. Até à página 115, a jovem Sarah Gross, nas analepses dos anos 20, esteve praticamente estática. Isto é, víamo-la através da preocupação dos pais e das pessoas às quais era apresentada, sem que chegasse a dirigir qualquer situação, a tomar uma iniciativa, ou sequer a tecer um comentário. Nunca "ouvimos" a sua voz. E surge descrita como complexa, muito inteligente, sentia-se o espectro da palavra “especial” a pairar muito próxima da personagem mística que o autor procura elevar, como alicerce-mor da sua primeira obra. Porém, do que nos é oferecido na acção, nada leva a crer que assim seja. Não se vê uma decisão, uma birra, uma palavra, um pensamento exposto que nos permita entender o porquê do aparente fascínio das pessoas pela jovem Sarah, à excepção da sua grandiosa beleza.
3) As personagens Justin (negro) e Dylan (filho de um senador racista), parecem-me decalques. Têm pouca profundidade, surgem como acessórios e, a eles, juntam-se Therese, também acessório, apenas para vocalizar o horror da descriminação e provar que nem todos os brancos são maus, e que a Sarah e a Kim não estão assim tão sozinhas no mundo.
Quando abandonei o livro, fi-lo com a sensação de que a parte de 1968/69 passada em St. Oswald's era quase dispensável. É evidente que algo haveria de vir daí, julguei que fosse a discriminação, o confronto do tradicionalismo patriota americano com a abertura dos tempos aos diferentes mas, por essa altura, os eixos desse núcleo estavam desagregados, e o assunto "racismo" esfriara. Porém, algo aconteceu, ou a sugestão de algo insinuou-se, a culminar num tema muito delicado, que me fez pôr o livro de lado para evitar mais amarguras em torno dele.
E desisti sem que conseguisse evitá-lo, porque senti que se agigantava um livro dentro de outro, e que me estava a dispersar. As parecenças entre as duas personagens principais faziam com que, na minha cabeça, as duas se misturassem a uma mesma voz.
Talvez um dia o termine, o marcador está lá. O romance é um colosso para livro de estreia, mas tem muitas falhas que não consegui ultrapassar.
Estou sedenta por um livro do Maugham, ou por retomar Steinbeck, ou, mais exigente ainda, chama-me aquele sítio que Lobo Antunes apelidou de Os Cus de Judas, e por isso ponho-o de lado por hora.
Sinopse:Em 1968, Kimberly Parker, uma jovem professora de Literatura, atravessa os Estados Unidos para ir ensinar no colégio mais elitista da Nova Inglaterra, dirigido por uma mulher carismática e misteriosa chamada Sarah Gross. Foge de um segredo terrível e procura em St. Oswald’s a paz possível com a companhia da exuberante Miranda, o encanto e a sensibilidade de Clement e sobretudo a cumplicidade de Sarah. Mas a verdade persegue Kimberly até ali e, no dia em que toma a decisão que a poderia salvar, uma tragédia abala inesperadamente a instituição centenária, abrindo as portas a um passado avassalador.
Nos corredores da universidade ou no apertado gueto de Cracóvia; à sombra dos choupos de Birkenau ou pelas ruas de Auschwitz quando ainda era uma cidade feliz, Kimberly mergulha numa história brutal de dor e sobrevivência para a qual ninguém a preparou.
Rigoroso, imaginativo e profundamente cinematográfico, com diálogos magistrais e personagens inesquecíveis, Perguntem a Sarah Gross é um romance trepidante que nos dá a conhecer a cidade que se tornou o mais famoso campo de extermínio da História. A obra foi finalista do prémio LeYa em 2014.
Sinopse: Três primos herdaram um dom que irá transformar as suas vidas…
As lendas e a sabedoria da Irlanda correm no sangue de Connor O’Dwyer e ele sente-se orgulhoso por chamar lar a County Mayo.
É aqui que a sua irmã Branna vive e onde os seus amigos de infância formam um círculo que não pode ser quebrado. Meara é a melhor amiga de Branna, uma irmã em tudo exceto no sangue. Acredita que o amor é para os outros e certamente não irá cair de amores por Connor — lindo de morrer, com um bom coração e um sorriso perverso.
É mais seguro para eles permanecerem amigos pois amar Connor seria entrar em território perigoso.
Mas quando o mal que atravessa gerações reaparece para o assombrar, Connor terá de recorrer à família e aos amigos para o apoiar numa luta contra algo que ameaça tudo o que ama…
Opinião: Estou a tentar conciliar a minha apreciação do livro com o facto de ter cumprido exactamente as minhas expectativas. Isto é: eu procurava a Irlanda, o conforto familiar, um amor terno e sem grandes sobressaltos. Estarei a ficar mais velha e a fugir de grandes odisseias? Não esperava nada mais, e o livro também não me deu nada mais. Nem medo, nem desejo de ver estas pessoas triunfarem sobre o mal que lhes assombra os antepassados desde 1200 e qualquer coisa.
O segundo livro desta trilogia é sobre Connor O'Dwyer. Há uma coisa que a Nora Roberts faz em todos os livros: o homem é quase sempre apresentado como um mulherengo, sem que haja alguma prova disso. Como se houvesse um tabu que não podemos atravessar nos romances, uma espécie de politicamente correcto, que impede as personagens principais de se envolverem com terceiros neste género de literatura light. Neste livro, a Meara parece sofrer com receio desse passado do seu grande amigo, e isso enrola ali o romance durante um bom bocado, somado aos seus daddy issues, mas nunca se vê de facto motivo para alarme.
Há um tell fortíssimo, em que a personagem é apresentada como forte mas passa o livro a choramingar. Ou como pouco confiável mas passa o livro a provar que podem confiar nela.
É outra característica da escritora: não há grande conflito interno. É só o tempo que demora até se aperceberem que o amor lhes germina no peito, e a partir daí o conflito prende-se com o tempo que cada um demora a aceitar e a agir em função disso.
Mas, para mim, o que falha neste segundo volume, tal como em Caminhos do Amor, é a repetição do padrão, da fórmula, dos altos e baixos. É uma cena dar-se e ser narrada da perspectiva de uma das personagens, depois ser-nos impingida de novo pela perspectiva de outra personagem. Às vezes reúnem-se todos em torno dos maravilhosos guisados de Guinness da Branna, e esmiúçam de novo o acontecimento. Por último, uma das personagens secundárias vira-se para o par e diz:
- Reparaste no que aconteceu? Ele saltou mesmo em sua defesa, não foi? [inventado].
E ouvimos, uma vez mais, a perspectiva de mais duas personagens sobre o evento de há cinquenta páginas. E assim de evento em evento, até ao enjoo.
Estava cansada. Pulei páginas.
O problema maior, contudo, é continuar sem entender os motivos que explicam a personagem má. Quem é Cabhan? Foi humano e vendeu a alma ao diabo? Foi feiticeiro e tentou a imortalidade? Porquê fixar-se em Sorcha? Porquê persegui-los? Porque não constitui um perigo para mais ninguém em County Mayo? E as cenas de confronto são muito previsíveis - o homem, o lobo, a sombra, o nevoeiro - decorrem em trechos pequenos, só para originar mais três cenas em torno do guisado. Neste livro repetiu-se (do anterior) até a cena em que, todos juntos, se propõem irritá-lo com a sua cantoria em gaélico e com o seu calor e as suas danças. Foi copy/paste, lazy writting. Detesto ler romances com fórmulas, sobretudo quando se trata de uma trilogia.
Sendo masoquista, e, sobretudo, curiosa quanto à história de Branna e de Fin - sendo também estes dois os que fazem antever um maior conflito em termos de relacionamento e complexidade de carácter - hei-de ler o último. Porém, pergunto-me se haverá explicação quanto à origem da marca em Fin. Pergunto-me se haverá resposta para o facto de Cabhan ter conseguido criar uma espécie de apêndice, e para a questão de este apêndice ter vontade própria e se ter, inclusive, voltado contra o criador.
Mas porque é que desconfio que o terceiro livro será em torno do jeito da Branna para a cozinha, e da perseguição que Fin lhe fará, com diálogos do género:
F: Temos de pôr o passado para trás, Branna.
B: Isso é fácil de dizer.
F: Não achas que é hora de sermos felizes?
B: Outra vez essa conversa, Fin?
F: Eu amo-te, Branna. Sempre te amei. Não podes confiar em mim?
Sinopse: Se Phaedra Blair não possuísse tanta beleza e estilo, a alta sociedade achá-la-ia apenas estranha. Mas como a Mãe Natureza a dotou de ambas as coisas, consideram-na interessante e excêntrica. Ela é uma mulher à frente do seu tempo. Deseja liberdade e persegue um sonho. Apaixonar-se não está nos seus planos imediatos. Aliás, o seu primeiro encontro com Lorde Elliot não é auspicioso. Injustamente presa, será graças ao poder e charme do jovem que consegue escapar. Mas Phaedra depressa descobre que o preço da sua "liberdade" é ficar virtualmente ligada ao seu "herói". Pois Elliot Rothman não agiu apenas numa missão de boa vontade. O seu objectivo é garantir que Phaedra não publicará um manuscrito que ameaça destruir o bom nome da sua família, e para tal, ele está disposto a tudo. Não contava, porém, encontrar uma adversária à sua altura. Os dois jovens vão debater-se com as convenções de uma sociedade rígida e, acima de tudo, com sentimentos tão intensos quanto contraditórios.
Opinião:É de mim ou é da Madeline Hunter? É mais provável que seja dela. Já li uma série de livros escritos por ela e nem todos são bons. “Casamento de Conveniência”, por exemplo… fez-me estremcer às vezes. “Os Pecados de Lorde Easterbrook?” Fez-me bocejar o tempo todo. E quanto a este “Lições de Desejo?” Portanto, já conhecemos a Phaedra Blair dos livros anteriores em torno da família Rothwell. A Phaedra é uma feminista que acredita no amor livre – o que significa que não quer ligar-se e abomina o casamento. O Elliot não é bem um libertino – ao menos isso, os livros dela não são só sobre desavergonhados que precisam de se redimir. Ele é um homem adequado, bem-parecido e charmoso. Mas então, desde o início… Ele está muito mais interessado nela do que ela nele. O que acho é que o que a Madeline escreveu nestas 300 páginas teria sido facilmente comprimido em 100. As personagens são apresentadas e o enredo nunca sai do mesmo. Poucas surpresas, pouca emoção. Uns quantos clichés atirados para o final. Espero que o próximo romance saia melhor, ou vou considerar que ela despejou todo o talento que tinha em “As Regras da Sedução” e “Casamento de Conveniência” que são, de longe, bem melhores.
Sinopse:Christian é excêntrico, enigmático, o mais famoso recluso da aristocracia inglesa. Vive isolado, não tem amigos e o seu coração nunca foi tomado por ninguém... com excepção de Leona, uma mulher determinada, exótica, belíssima. Mas isso aconteceu em Macau, naquela que parece ter sido uma outra vida. As notícias da chegada de Leona a Londres deixam-no aturdido. Christian decide então que nada o impedirá de finalmente a possuir. Não podia saber que entre as famílias de ambos pulsam segredos impossíveis de ignorar... e que o grande amor da sua vida acalenta um mortal desejo de vingança! Uma viagem no tempo até uma era marcada por escândalos, intriga e desejos secretos, no novo e sensual romance de Madeline Hunter: a história de um homem capaz de arriscar tudo pela mulher que ama... até a revelação do seu mais secreto pecado.
Opinião:Detestei este livro... Depois de tantas expectativas, de tanto dar a entender que o Christian era tão misterioso... ficou muito aquém dos irmãos Hayden e Elliot. O Hayden será sempre o meu favorito - e o Elliot e a Phaedra andei a enrolar até mais não. Agora este Christian e a Leona? Não me senti nada apegada à história, a Madeline não conseguiu cumprir aquilo para o que se propôs com todas as expectativas que nos passou através dos volumes anteriores...
Sinopse: No século XVII, durante a Guerra da Restauração da independência de Portugal, soror Mariana Alcoforado apaixounou-se por um oficial francês. As cartas de amor que lhe escreveu transformaram-se num símbolo da literatura romântica universal. Trezentos anos depois, Alice, uma jornalista, revisita esta história e aprende com Mariana a vencer a tristeza de um amor perdido. Mariana, meu amor é um romance dentro de um romance, uma narrativa a duas vozes de duas mulheres corajosas que, através de vivências quase opostas, conseguiram desafiar o seu destino e alcançar a paz, sem negar os seus sentimentos mais profundos.
Opinião: Vou tentar ser concisa nesta review, e portanto vou separar as águas por pontos.
Motivação: Voltei a pegar num livro da Margarida Rebelo Pinto, após o trauma anterior, sem sombra de dúvida por causa do chamariz da história da Mariana Alcoforado. Para quem não sabe (e que pelo livro dificilmente entenderá, pelo que aconselho antes a leitura de “Mariana”, da Katherine Vaz), trata-se de uma fidalga encarcerada pelo pai no Convento da Conceição de Beja, na segunda metade do século XVII. Mariana escreveu cinco cartas inflamadas ao seu apaixonado, o Marquês de Chamilly, que andava por cá a combater os castelhanos. O sucesso de vendas foi imediato e duradouro em França, e acabou por ser traduzido noutras línguas. “Cartas de uma Religiosa Portuguesa”. Como já previa, o engodo saiu gorado. A acção nem sequer decorre nessa época, mas sim na actualidade. Uma jornalista anda a registar a história da Soror Mariana. A história de amor disfuncional da jornalista Alice, bem ao estilo de todas as que a Margarida conta desde que aprendeu a escrever, é o fio condutor da história.
Revisão: O livro parece carecer de uma revisão séria. Surgem frases como “O coração, a quem…”, estrangeirismos metidos pelo meio do livro e sem itálico, tipo “out of the blue”, etc., etc. Por várias vezes tive de reler uma frase na tentativa de entender o seu sentido, posto que as vírgulas andavam desencontradas.
Romance contemporâneo: Como escritora, antiga estudante de literatura, não entendo como a Margarida pode ter adoptado este estilo. Não é “leve”, é “pena”. Profundidade nem vê-la. A escrita é acessível à minha irmã de 9 anos, com algumas deixas a respeito de tecnologias que me deixaram de sobrancelha erguida. “O Pedro mandou-me um Whatsapp”. Eu pensava que o Whatsapp era uma aplicação, e que se diria algo como “O Pedro mandou-me uma mensagem no Whatsapp”. Afinal, parece que podemos mandar a aplicação uns aos outros e com texto incorporado. O Pedro é o “vilão” deste livro. Com a Guida há sempre um tipo que lixou a vida da principal, que a ama mas é um cobarde, que a deixou e não responde às mensagens. E há a miríade de frases que começam com a filosofia barata "Os homens isto", "As mulheres aquilo". Nesta “obra” não é excepção. A Alice meteu-se com um homem casado, que não deixa a mulher e os filhos por ela. Surpreendeu-me ter gostado q.b. deste enredo até à página cem. Foi a descrição do Rio de Janeiro e dos brasileiros, e também das pessoas com quem a Alice se ia cruzando, as águas de coco, o paredão e algum conhecimento evidente da cidade sobre a qual se escrevia e dos hábitos culturais dos cariocas. Havia a certeza da Alice de que o Pedro gostava dela, mas era demasiado cobarde para arriscar mudar de vida. Pronto, até à página cem funciona. Depois torna-se maçador, é sempre mais do mesmo. Todos lhe dizem que é linda e deveria seguir em frente. Basicamente, o romance contemporâneo são duzentas e cinquenta páginas de uma Alice a lamuriar-se, enquanto se diz forte e independente, e enquanto os outros lhe elogiam a liberdade. São duzentas páginas de “ele não me liga nenhuma”, e de “não consigo esquecê-lo”, e da história da Mariana enfiada pelo meio, a ultrapassar o Nöel à força, à laia de lição de vida amorosa. Incongruências? Os pais da Alice são toxicodependentes, mas nunca bateram à porta dos pais a pedir dinheiro, nunca procuraram a filha com esse fim. Quando o pai morre, deixa mil e setecentos euros e o hospital pago em antecipado. Que rico drogado este, que em três décadas manteve sempre o controlo sobre o vício e ainda morre num hospital privado, ainda que sozinho, com quase dois mil euros no bolso. Minha gente… Uma pessoa agarrada ao “cavalo”, como a Margarida se refere à heroína, anda sempre no limiar da miséria. Garanto que não teria um euro no bolso. Enfim, um livro com este enredo, em 120 páginas, até seria minimamente tolerável. De 300 é impensável, repetitivo, aborrecido. Também não gosto da maneira como ela conduz a narrativa. “Acordei às dez, tomei um duche, comi uma maçã e fui às compras. Bebi um café, voltei para casa e escrevi dez páginas do livro novo”. E da futilidade das relações, dos melhores amigos que se fazem após uma conversa, das mil e uma personagens cuja história é resumida em dois parágrafos, do homem que amamos por causa do cheiro, da elegância e do desprezo a que nos vota, do tipo com quem dormimos porque está na hora de seguir em frente e ele estava ali, naquele bar, naquela noite, e nos disse que éramos bonitas. Mas o pior está para vir… Ah, e já vos disse que a alcunha da personagem principal é Açúcar? "Oh Açúcar, tens de o esquecer!".
Mariana Alcoforado: Completamente assassinada. Para quem leu e releu as cartas, como eu, a Mariana não é nada daquilo que a Margarida descreve. E há visões que terei de apagar da memória, para poder preservar a ideia daquela que é, para mim, a mais notável história de amor do nosso país. Maior do que a de Pedro e Inês, que julgo baseada sobretudo em luxúria, e na traição da pobre Constança. A felicidade desses dois constrói-se sobre a desgraça da princesa e a possível perda de independência do reino. No caso da Mariana, falamos da vida pessoal de uma jovem de boas famílias, cuja contrariedade por ter sido fechada num convento transparece a cada palavra das suas cartas. Uma mulher confinada cujas palavras escapam às paredes do convento e chegam aos confins da Europa para confidenciar a sua solidão e o seu amor desmesurado pelo Marquês de Chamilly. É evidente que ele a conspurcou, que ela se deixou ir por acreditar nas suas promessas de amor eterno e de que voltaria para a resgatar do Convento. Porém, e sem me alongar, a abordagem da Margarida é a seguinte: sempre na primeira pessoa, a Mariana narra, ao longo de 4 dias, a sua história de amor a uma noviça muda. Teria então 75 anos e analisa tudo em retrospectiva. Porém, a falta de sensibilidade da Margarida neste ponto do romance é constrangedora. A voz que empresta a Mariana jamais pode pertencer-lhe: esta mulher conformada, entregue à vida religiosa e que se queixa do amor da sua vida, a quem chama “crápula” e outras coisas que agora não me recordo e que me soavam igualmente abrasileiradas. A linguagem está desfasada da época, parece-me. “Devo cuidar da higiene do convento”, ou algo semelhante. Higiene? Este conceito não me parece muito seiscentista. Enfim, o pior mesmo foi o modo como, quase no fim do livro, ela continua a repetir “Benedita, vou contar-te a história deste amor, regista tudo o que digo”. E depois divaga sobre o amor e o sexo – muito entendida, esta freira que só teve um amante, e que foi enclausurada num convento aos dezasseis anos. Mas pior é mesmo o modo como há sempre descrições de sexo nas lições desta Abadessa à sua pupila, de modo vulgar e incomodativo. Toda eu me encolhia ao ler a minha “suposta” Mariana a dizer que o Marquês de Chamilly “a penetrava” assim, a “possuía” assado, mas pior ainda… Que tinha um “membro muito grande”, e que ela lho dizia, ou que uma mulher deve dar prazer ao homem de todos os modos que souber, por exemplo “montando-o”, e que o faziam todas as noites, despachando depois os lençóis para uma noviça lavar. O que me matou (fechei o livro, apaguei a luz e enrolei-me em posição fetal de olhos muito abertos no escuro), foi ler que o Marquês se vinha no ventre ou na boca dela. Lamento assombrar-vos com o mesmo espectro, mas isto revolveu-me o estômago. Morte ao amor, viva às lições sexuais da freira enclausurada. Não acredito que uma velha abadessa de 75 anos tenha necessidade de contar tais coisas, pensei que falariam do amor, das conversas, dos detalhes do enamoramento, mas não. Aqui fala-se do modo como fornicavam, e basta. Também adorei ler a Mariana a avisar a freirinha dos homens maus, do modo como abandonam as mulheres, como “se não nos respondem às cartas é porque já não têm nada a dizer”, e como há por aí “violadores”. Espantoso o acesso à informação que uma freira enclausurada tinha, e sobretudo o quão progressistas eram estes termos e visões da sociedade. Ah e a HISTÓRIA? Enxurradas de números e datas sobre guerras, e está feito. É mentira, a Mariana é só um engodo para fingir que a MRP é capaz de escrever um romance histórico (nem de época, quanto mais histórico!!!). Se é pela Mariana que vêm, fujam!
Apreciação geral: Tirando partes do romance da tal Alice, a que até achei alguma graça, a mulher não sai do mesmo. A criatura arrasta-se, queixa-se a todos, todos lhe perguntam se está bem, se já o esqueceu… Bem, dá a ideia de que o amor é isto: na gaveta, à espera que ele precise de nós como que a um par de cuecas limpas. E já me estou a repetir, pareço ela.
Duas estrelas: 1 pelo Brasil, 1 porque reservo o 1* somente para livros que nem podem ser apelidados de tal.