Ler os Clássicos, Prós e Contras
A minha página no Goodreads permite-me consultar os livros que tenho lido desde que criei a conta, corria o ano do Senhor de 2011. Consultei os desafios literários de anos anteriores numa ótica de compreender se tenho lido mais ou menos volumes com os anos, mas foi outra conclusão que saltou à vista: leio diferente. Leio muito diferente, e isso tem evidentes prós e contras.
Em 2011, li 3 livros. 3 livros!!!... tentei ler "As Vinhas da Ira", achei aborrecido de morte. Tentei ler "A Filha da Minha Melhor Amiga", não consegui. O ano ficou marcado por um único livro, daqueles que ficam para sempre e que por isso chamo de clássico: "Carta da Uma Desconhecida", do incontornável Stefan Zweig.
Em 2012 li 58 livros. Bem, fantástico! Porém, li uma série de romances eróticos ditos de época, de autores como Madeleine Hunter, Lisa Kleypas, Julia Quinn, li ainda uma série de best-sellers do momento que não ficaram, como "A Valsa Esquecida" da vencedora do Orange Prize. O que me ficou desses 59 livros? Jane Eyre. Os Maias. Frankenstein, O Monte dos Vendavais.
E porque ficaram, quando os outros foram esquecidos ou não são lembrados pelos melhores motivos? Porque são livros que levaram a que fosse ler mais. Ler mais sobre a época, sobre o autor, sobre os significados ocultos e as inúmeras interpretações e adaptações do seu enredo. São livros que inspiraram outros livros igualmente grandiosos e intrigantes, e referências culturais que atravessaram os séculos e continuam atuais.
Resumindo, desde 2018 que os clássicos vêm a crescer na minha prateleira, e viraram tudo do avesso.
---> PROS
São livros que ficam, realmente. Livros que marcam o ano literário, que me tornam mais exigente como leitora e mais informada sobre o mundo como pessoa. Como bónus, os próprios autores dos ditos clássicos têm vidas fascinantes, filosofias próprias, inspiraram a arte em todas as suas vertentes, inquietaram a sua época, a que se lhe seguiu e as vindouras. Imortalizaram personagens, momentos, nações. Em Portugal já identifiquei a Relógio d'Água e a Cavalo de Ferro, bem como a Livros do Brasil, a Saída de Emergência e a Editorial Presença como boas editoras de clássicos. São, regra geral, edições primorosas e obras de arte per se. Outro pro é que andam por toda a parte: olx, feirinhas de rua, livrarias apaixonantes e cheias de poeira, e até na Feira da Ladra! Resultado: conseguimos adquirir alguns por uma pechincha.
---> CONTRAS
Causam muito transtorno. Tiram o sono. São mais do que as mães. Tenho medo de morrer sem ler uns quantos que me tentam continuamente. Fizeram com que os livros do momento deixem de ter qualquer sabor, obrigaram-me a vender livros cujo valor me apercebi ser nulo, e remodelar as minhas prateleiras à sua medida. Para o escritor atual, são uma desgraça... Significa que as newsletters de "novidades" e "pré-vendas" me dizem pouco ou nada. Que praticamente não sigo nenhum autor contemporâneo. Fiquei esquisitinha, mal-habituada a este caviar e filet mignon, de tal modo que me custa cada fez mais engolir fast food. Por outro lado, sendo eu própria uma escritora contemporânea (e nem que quisesse conseguiria ser uma escritora "clássica", porque o clássico só se consolida no teste do tempo), significa que se todos os leitores fossem como eu, ninguém conseguiria fazer vida na escrita hoje em dia. Em suma, seria uma alegria para o desenvolvimento pessoal, mas um cataclismo para a indústria. Outro contra é que o autor está, geralmente, morto. É chato porque dava tudo para escrever ao Steinbeck ou ao Maugham, quase tanto quanto gostaria de ir a um concerto de Queen... se não mais. O último contra é que corro o risco de me tornar uma snob de primeira, porque estou sozinha com o meu Voltaire e o meu Dostoievski nos transportes públicos, num mar de YAs, de Afters, de vampirada e de thrillers nórdicos nos transportes. Também corro o risco de levar com aquela resposta da praxe: "são gostos". Pois é... depende sobretudo se lemos para nos entretermos ou para nos inquietarmos. Entreter-me já não me basta.
A minha wishlist transformou-se nos últimos tempos. Dou mais valor a livros de não-ficção (algo a que os clássicos também conduziram, porque nos fazem querer saber mais, entender melhor), e a tudo o que tiver sido escrito há mais de 50 anos. Ando mais inquieta, pois, mas também maravilhada por toda a beleza que estes livros me têm trazido, e por todos os sobressaltos e banhos de humanidade.
Deixo-vos com o meu livro favorito de cada ano no Goodreads o que se traduz, por outras palavras, no "clássico de cada ano".
Boas leituras!
SE CLICAREM NO LIVRO/FOTO ACEDEM À MINHA REVIEW
2011:
2012:
2013:
2014:
Ora cá estamos... Sem um favorito.
2015:
2016:
2017:
Não tenho realmente um livro favorito, tudo o que li foi meh (consultar gráfico acima para entender porquê)
2018:
Num ano em que se leu "As Vinhas da Ira", "Mataram a Cotovia" e "O Som e a Fúria", não é fácil escolher um, mas cá vai:
2019: