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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#79 HIRST, John, Breve História da Europa


Classificação: 4****

Uma perspectiva única daEuropa pelos olhos de um Professor Universitário de Melbourne. A História é,tantas vezes, uma questão de prisma. Com isto em mente, deixei-me maravilhaspelo modo singular como um cidadão de outro continente analisou o percursohistórico da Europa, um continente que tanto contribuiu (tantas vezes atravésdos meios errados) para o pé em que o mundo se encontra actualmente.
Este pequeno “resumo” da nossahistória conjunta foca-se no raiar de uma civilização, evidenciando a importânciada sabedoria grega e da organização romana para a construção da nossaidentidade civilizacional. Da democracia grega ao Direito romano, acompanhamoso modo como estes elementos chave foram tendo mais e menos destaque nodesenvolvimento da Europa, que, segundo John Hirst assenta sobre três pedrasfundadoras: a Cristandade, a Cultura Greco-Romana e os Guerreiros Germânicos. A intersecçãodestes três elementos permitiu que o Velho Continente nascesse sob o signo emque se tem aperfeiçoado nos últimos milénios.

[A Igreja teve um papelsignificativo neste nascimento. Eu confesso que o meu grande inimigo ideológicoé, mais do que o Hitler, a Igreja Católica. Se me falarem das obras de caridadee do ensino, etc., eu sou obrigada a dizer que o próprio Hitler (porquê ir tãolonge?) Salazar, também terá certamente dado alguns contributos à sociedade, outeria sido imediatamente desprovido da sua influência. Mas a Igreja agiu semprecom o intuito de explorar a ignorância do povo a fim de sobreviver a todos ostempos, posicionando-se do lado dos fortes, incitando-os a guerras religiosas,pilhagens, massacres, juramentos infames, queimando quem se atrevia a tentarlançar luz sobre o seu oportunismo – religionis darkness – e torturando os hereges. A interpretação que a Igreja fez dabíblia tem invenções de autoria desconhecida, que durante séculos se manteve nosilêncio do desconhecimento. Foi preciso que viesse Lutero traduzir a bíbliapara uma língua acessível aos europeus para que esta interpretação se revelassemanipulada, enganosa, durante pelo menos quinze séculos. Vendia salvações,funcionava como uma multinacional onde haveria sempre oportunidades para os ambiciososrejeitados pela restante organização social. O paraíso dos segundos filhos, dehomens corrompidos e hipócritas, com sede de poder e sem lugar noutro lado.Jesus era Judeu. Os Judeus traíram Jesus, conluiados com os Romanos. ACristandade vira as costas à religião de Jesus. Abre guerras abertas contraeles (ama o próximo) e estende-se atodo o território Europeu. Para sobreviver, vale-se da conversão do ImperadorConstantino (313 A.D.) para galvanizar simpatizantes e, pouco depois, torna-seIgreja Católica Romana. Posiciona-se assim do lado dos traidores de Cristo. Emseguida, para sobreviver à queda do Império Romano do Ocidente, à mão dosgermânicos invasores, convence-os a dirigirem a sua ânsia por conflitos aosinimigos da Igreja, os infiéis. Isto é, a Igreja administra o que os germânicosnão querem administrar, porque só o saque e a violência os tenta. E estes lutamas suas guerras num pacto duplamente vantajoso. Já em 325, no Concílio deNiceia, a Igreja votara a natureza divina de Cristo a seu favor, escolhendo a “abordagem”a tomar daí por diante. Posteriormente é-lhe descoberta a carapuça quando, noRenascimento, a sabedoria grega (mencionei que as escolas cristãs se baseiamnos ensinamentos pagãos para exercer influência sobre o povo?) começa a serquestionada e, nalgumas ocasiões, é desacreditada. A Reforma revela váriasincongruências desta entidade tão poderosa – à custa de algum sangue. Maistarde surge a Inquisição no âmbito de uma campanha de marketing agressivaapelidada de Contra Reforma. Compras o meu peixe? Não? Vou-te queimar.]

Enfim, vou pular o capítulo daIgreja, é para mim um mistério saber como sobreviveu este monstro durantetantos séculos, à custa de mentiras.
A Europa vale-se do facto dedividirem o espaço com outros países tantas vezes rivais, o que a mantém alertae em constante competição por progresso e desenvolvimento – social, militar,económico. É para mim um prazer pertencer a este cantinho civilizacional, esobretudo a Portugal, a partir de onde se deu a Expansão Marítima Europeia, queaproximou o mundo e desbloqueou os seus limites, aumentando assim o nossoconhecimento do planeta e do universo.

Lamento que o autor não tenha mencionado o Humanismo um pouco mais a fundo, mencionado Montesquieu, Jean-Jaques Rousseau ou mesmo o advento da imprensa um pouco mais aprogundado. Também termina abruptamente no alvor da Revolução Agrícola e Industrial, não se aventurando a partir de 1800. É uma pena porque as próprias campanhas de Napoleão e as reacções dos diferentes Estados a esta tentativa de unificação - ou a levada a cabo pela União Europeia - seria interessante de analisar. Também não foram abordadas as disputas de territórios estrangeiros, levando aos conflitos internacionais do séc. XX. A escravatura teria sido outro ponto a abordar, porque fomos, durante séculos, originários de sistemas esclavagistas cruéis. A luta contra esta brutalidade é um ponto social demasiado importante para ser assim ignorado em prol dos adventos agrícolas do séc. XVIII. 
A conclusão não foi satisfatória. A "colonização" do restante mundo teria sido pertinente. Se tudo isto fosse incluído, contudo, não estariamos a ler o "Breve História da Europa". Gabo-lhe, assim, o carácter de "História da Europa explicada a quem não a estuda há anos, mas se interessa e ainda se recorda de qualquer coisa". Abriu-me o apetite para leituras sobre o Classicismo e outras, como a Divina Comédia (Dante), A República (Platão), o Príncipe (Maquiavel).

O livro tem também bastantes gralhas o que, num livrinho de um académico de 200 páginas, de uma editora como a D. Quixote (grupo Leya) me reafirma a certeza de que é tudo publicado sobre o joelho e às pressas, ao sabor do interesse do mercado.