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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#65 CAMPIÃO, Jorge & CALDEIRA, Elisabete - Sob o Céu de Paris

Sinopse: Raquel é uma mulher que nunca tomou o destino da sua vida nas próprias mãos, e tem consciência disso. Carlos é um pintor cujo reconhecimento artístico poderia ser maior se alguma vez tivesse sido metódico, mas não o sabe. Raquel vai organizar a exposição de pintura de Carlos em Paris, no Centro George Pompidou. Mas não vai apenas ordenar a exposição de Carlos, vai estruturar a sua obra, o seu talento, ao mesmo tempo que terá de recompor a sua própria vida pessoal. Pelos cafés, restaurantes e ruas de Paris por onde passam, Raquel ressuscitará um Picasso - cuja crueldade corporiza bem os seus medos - e uma Dora Maar - a talentosa, enigmática e inspiradora do genial artista -, que lhe serve de alter-ego, mas cujo destino não quer imitar.

Opinião: Quem já visitou Paris sabe que “cidade do amor” não é um exagero. Nem uma hora depois de ter aterrado em Paris já tinha visto uma moldura enternecedora de dois namorados a beijar-se com a Torre Eiffel como fundo iluminado, bem como dois amantes a sair de um hotel e a entrar cada um no seu carro. Gostando muito do Jorge Campião - com quem compartilho o gosto pelo Julio Cortázar - e da Elizabete, muito simpática e acessível, esperei que o livro que lançaram com tanta paixão se debruçasse sobre o amor da Torre Eiffel e não sobre o amor do Hotel. Infelizmente (para o meu gosto pessoal), foi ao contrário. As personagens são amantes na cidade mais bonita e romântica do mundo, e mergulham longamente na exploração corporal uma da outra. O facto de trairem outras pessoas não é o que me impediu de apaixonar pela obra... Ontem mesmo vi um documentário sobre o E Tudo o Vento Levou onde se confessou que ninguém dava nada pelo filme, visto ser protagonizado por uma “bitch” e um “bastard”, quem se importaria com esse género de pessoas? Mas a verdade é que toda a gente se identifica com eles, mas não me identifiquei nem com a Raquel nem com o Carlos. Não entendi porque se amam, se se amam. O Picasso e a Dora Maar, que poderiam resgatar o livro do mergulho na intimidade do quarto de hotel dos outros dois personagens, foram meia dúzia de pitadas diluídas no romance. Tive pena porque sei que houve muita pesquisa e muito cuidado envolvido na criação da obra e lamentei a importância atribuída a esses momentos. Pareceu-me que o interesse mútuo das personagens existia apenas a nível carnal e a ida a Paris é um mero pretexto para se envolverem.

A escrita, contudo, é irrepreensível. Apenas achei que exageraram um pouco no uso do ponto de exclamação, mas de resto superam perfeitamente um Tiago Rebelo, uma Margarida Rebelo Pinto, uma Margarida Pedrosa, uma Alexandra Vidal, etc. Sem dúvida são muito mais talentosos no uso da palavra e não tenho dúvidas de que vai agradar muito aos românticos. Infelizmente li-o, a partir da página 100, na diagonal. Não vi muitos vestígios do cubista e da Dora Maar por onde sobrevoeei e não me agradou a conclusão final do livro...

Lamento não ter conseguido apaixonar-me pelas personagens nem pelo enredo. É um livro de qualidade inegável que, simplesmente, não me falou.

Classificação: 2**/*