Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

#306 FUEGO, Andréa del, A Pediatra

a-pediatra.jpg

Opinião: Não sei que feitiço me tomou, mas espero que não se fique por aqui. Comecei a ler A Pediatra há dois dias, no Kobo. Todas as minhas leituras têm sido no Kobo. Gostava muito da premissa, mas receei que o facto de a obra ser em PT-BR pudesse desmotivar-me - porque poderia exigir um esforço extra a uma leitora já muito preguiçosa.

No entanto, a premissa tem outra complexidade para além da anunciada, a narrativa é rápida, vertiginosa. Percebemos que estamos perante uma mulher inteligente e altamente qualificada mas com problemas de relacionamento e um certo desiquilíbrio emocional - segundo Cecília, não precisar de ninguém é força, mas creio que se sente a sua carência e a sua solidão nas entrelinhas da sua voz.

Esta pediatra que «não gosta de crianças» é divorciada, vive para o trabalho e a pessoa que tem de mais próxima é a empregada, Deise, que também instrumentaliza a seu bel prazer. No emprego, Cecília é competente, mas não se entrega às crianças, não se enternece com o laço mãe-filho. Simplesmente observa tudo com cinismo, distanciamento, frieza profissional. Achei-a uma personagem muito complexa, irascível, de mau feitio e bastante amargurada com a vida.

O amante, a empregada, o pai que trabalha no mesmo edifício mas que, ainda assim, é sempre mantido à distância, o filho do amante, por quem esta pediatra que «não gosta de crianças» se encanta, sem que o leitor compreenda, sem que ela compreenda.

Acho que Andréa del Fuego criou aqui uma narrativa pujante sobre a atualidade: as lutas interiores e a exaustão de uma vida cheia de exigências em que as mulheres têm de ser exímias em tudo, em que têm de ansiar por ser mães, por uma família, por sucesso profissional e por estarem sempre lindas, perfumadas, frescas. Gostei muito da Cecília, uma mulher claramente à beira do abismo.

 

Sinopse: Com humor mordaz, o novo romance de Andréa del Fuego apresenta a história de uma personagem muito peculiar: Cecília, uma pediatra nada afeita a crianças.

Cecília é o oposto do que se imagina de uma pediatra – uma mulher sem espírito maternal, pouco apreço por crianças e zero paciência para os pais e mães que as acompanham. Porém a medicina era um caminho natural para ela, que seguiu os passos do pai. Apesar de sua frieza com os pacientes, ela tem um consultório bem-sucedido, mas aos poucos se vê perdendo lugar para um pediatra humanista, que trabalha com doulas, parteiras e acompanha até partos domiciliares. Mesmo a obstetra cesarista com quem Cecília sempre colaborou agora parece preferi-lo.
Ela fará, então, um mergulho investigativo na vida das mulheres que seguem o caminho do parto natural e da medicina alternativa, práticas que despreza profundamente. Em paralelo, vive uma relação com um homem casado, de cujo filho ela acompanhou o nascimento como neonatologista. E é esse menino que irá despertar sentimentos nunca antes experimentados pela pediatra.