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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#289 VELHO, Amaro, Susana, O Bairro das Cruzes

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Opinião: "Afinal as pessoas morriam mesmo. (...) É assim que as pessoas acabam. Em reticências."


Há muitos anos tropecei ocasionalmente em As Últimas Linhas Destas Mãos, e apaixonei-me pela história. Creio que reconheci naquelas linhas parte daquilo que é a minha visão do mundo. Uma perspetiva que reconheço como feminina, mas atenta e que vai muito além dos dilemas do amor.

Em O Bairro das Cruzes, a querida Susana voltou a conquistar-me desde as primeiras páginas. É uma escrita com ritmo, fluidez e sem pretensões, mas, acima de tudo, é um livro com história. É assim que gosto de ler sobre história: os eventos que marcaram todo um povo intercalados com os eventos pessoais que marcaram as personagens que acompanhamos ao longo destas 240 páginas.

Senti, uma vez mais, uma identificação quase imediata com a relação principal, a das primas Luísa - a nossa personagem principal - e Rosa, a sua co-protagonista. A relação destas duas mulheres ao longo de mais de duas décadas, bem como a das pessoas do bairro - o avô democrata, o amigo homossexual, a burguesia bolorenta e em declínio, mas que ainda vive na casa da colina e ainda interfere no quotidiano das pessoas do bairro, e tantas outras personagens inesquecíveis. A jóia do livro é, para mim, a relação de amor-ódio (e muita interdependência) das duas mulheres principais. Mas este livro é muito mais do que isso. Nas últimas dezenas de páginas, torna-se num conto familiar intrincado, com muitas reviravoltas, que de repente encaixa todas as pontas soltas da narrativa. Nunca desconfiei da verdade que a Susana insinuou diante do leitor ao longo de toda a história; caiu-me o queixo de surpresa e, ao mesmo tempo, claro que sim. Claro que a cruz era aquela.

Aconselho muito a que o leiam e se encantem com esta viagem aos anos 60 e 70 do nosso país, contados a partir de um bairro em Mafra. Uma autora a acompanhar de perto.
 
Classificação: 5/5*****
 
Sinopse: «Esta não é uma história de amor. Não uma história de amor convencional, por assim dizer. Não tem um casal que se apaixona e tem filhos. Que troca juras de amor até que se unam na sepultura partilhada, com dizeres e fotografias a sépia. Esta não é, de todo, uma história desse tipo de amor, mas realça o elo indelével entre uma criança, a sua origem e os seus laços familiares.»

O Bairro das Cruzes conta a história da Luísa. E da Rosa. Conta a história das cruzes que carregamos desde a infância e que condicionam escolhas futuras. Caminhos que se seguem e outros que se evitam. O Bairro das Cruzes atravessa o tempo. O espaço. Mistura comunistas e PIDE e sobrevive às cheias de Lisboa. Carrega um fardo pesado e agarra à terra quem lá nasceu. Quem de lá quis sair, mas regressou. Porque o sangue pode pesar tanto quanto a pedra. E pode ser mais pesado que uma cruz
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