#288 NÉMIROSVKY, Irène, O Baile
Opinião: Há, na natureza humana, uma espécie de competição passiva entre mãe e filha, em certos núcleos. Muito se tem falado de crianças criadas por mães narcisistas, creio que Irene Nemirovsky, inspirada na sua própria relação com a mãe, nos ofereça um conto sublime em torno do assunto. É simples, curto, contém apenas o essencial. Ainda assim é intenso, com personagens cheias de nuances e de motivações. Antoinette tem 14 anos e é quase uma mulher. Os pais, um judeu convertido e uma ex funcionária de banco, são novos ricos graças a uma jogada na bolsa. Desesperados por impressionar a classe a que tanto desejaram pertencer, negligenciam a filha única. Vivem de aparências, e procuram moldar Antoinette a um estilo de vida em que, acima de tudo, importa impressionar.
Antoinette vinga-se dos pais da melhor forma, em especial da mãe que lhe é abertamente hostil. Lembrou-me, com melancolia, a intensidade das novelas de Stefan Zweig. Gostei muito.
Sinopse: Os Kampf, acabados de transpor o limiar da opulência devido a uma miraculosa jogada de Bolsa, decidem dar um baile para se lançarem na sociedade. Antoinette Kampf tem catorze anos e sonha estar presente na grande ocasião, mesmo que por breves instantes. No entanto, Mme. Kampf toma a irrevogável decisão de não permitir a presença da filha, já suficientemente crescida para atrair sobre si olhares de eventuais admiradores.
Antoinette, revoltada e em desespero, vai vingar-se com naturalidade e sem premeditação.
Os temores trágico-cómicos de arrivistas que recebem pela primeira vez pessoas que desprezam e que nutrem por eles o mesmo tipo de sentimento, a rivalidade mãe-filha que finalmente se manifesta a pretexto de uma frivolidade, a amarga solidão de uma criança que já deixou de o ser, tudo isto nos é oferecido por este livro fascinante e perturbador.
O Baile foi adaptado ao cinema, com Danielle Darrieux no principal papel.