Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

#280 RUFINO, Lénia, O Lugar das Árvores Tristes

image-1_eb80463e-b2c6-46c1-98bc-60b5483fb41b_grand

Sinopse: Isabel não tinha medo dos mortos. Gostava de passear por entre as campas do cemitério, a recuperar as histórias da morte daquelas pessoas. Quando a falta de alguma informação lhe acicatava a curiosidade, perguntava à mãe...
Quando esta se recusa a dar-lhe uma resposta sobre uma mulher chamada Eulália, Isabel inicia uma busca por esclarecimentos. Só que ninguém quer falar sobre o assunto e, inesperadamente, Isabel vê-se confrontada com uma teia de mentiras, maldade, enganos e crimes que a levam a compreender o passado misterioso da mãe e a forma quase anestesiada da sua existência.
Um romance de estreia profundamente sagaz e envolvente que faz um retrato do interior português preso na tradição religiosa da década de 1970.

Opinião: 

"Porque nas aldeias tudo se sabe, mesmo aquilo que ninguém diz."

No calor do momento, tenho a elogiar muito a escrita desta autora em plena estreia. A escrita é muito equilibrada e, melhor, é aplicada na medida certa: sem ser superficial nem desnecessariamente floreada. O embalo da escrita é algo que deixa claro que estamos perante uma nova voz na literatura nacional, outro caso de uma estreia bem-sucedida.

Gosto muito da premissa do livro, da relação mãe e filhos, do mundo rural, das hierarquias que ainda hoje em dia imperam nesses lugarejos do interior. Gosto de como a Lénia põe o dedo na ferida e expõe os podres da autoridade nesses recantos de impunidade.

Por outro lado, houve algumas coisas que deveriam ter sido claras, mas que não consegui compreender (quiçá, por culpa minha):
- Descobrindo-se a possível verdade sobre a morte da D. Eulália, mistério que move a personagem principal, não percebi o porquê do silêncio.
- Estando a Isabel diante do diário da mãe, como pode ter conhecimento de coisas que tiveram lugar fora da vista e do conhecimento da mãe?

"Não se escolhe a hora a que se morre, a não ser que alguém a escolha por nós"

Por último, senti que algumas partes do livro me foram um pouco repetitivas: há uma sequência em que três personagens têm o mesmo tipo de abordagem para com o vilão, e os diálogos entregam as mesmas acusações. Por outro lado, grande parte da história é vista à lente de 1972, o que relega a nossa personagem principal para uma espécie de introdução e epílogo da história, não chegando realmente a dar-se a conhecer ao leitor.

Termino renovando a minha fé em como a Lénia regressará com outros livros e que, a julgar por este, o seu percurso será muito promisssor!