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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#267 HORTA, Maria Teresa, Ema

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Sinopse: A mulher vagueia no universo repressivo da casa. Poderia ser a mesma onde a avó fora morta pelo avô, ou de onde a mãe saíra, louca, para o hospital psiquiátrico. Ema é o nome de todas elas. Como o da antepassada tomada pelo terror após ter parido uma menina, sem dar ao homem com quem casara um filho varão.
É esse espaço de violência que vai alimentando o ódio na paixão que a última das Emas tem pelo marido. Um ódio crescente que a impele, implacável, para a vingança, para o assassínio dele. Uma morte desfrutada, dir-se-ia gozada, por um olhar onde, apesar de tudo, a paixão perdura...

Opinião: 

"Naquela noite, quando ele acabou, ela soube, teve a certeza que ficara grávida. Sentou-se na borda da cama alta e vomitou para o bacio que mal teve tempo de puxar para si."


Ema é a minha estreia com Maria Teresa Horta (N. 1937), e é um aquecimento antes de me atrever a ler As Luzes de Leonor. Trata-se de uma novela (apesar de ser listado como romance, mas tem apenas 134 páginas e pouquíssimas personagens) publicada em 1985, e a temática é-me muito familiar: a mulher maltratada, abusada, violentada, magoada e de rastos às mãos do marido, e com a conivência da família.

Trata-te de um livro ao qual atribuo os adjetivos cru e visceral, e identifico alguns motivos pelos quais não mexeu mais comigo, tratando-se de uma das minhas bandeiras de vida (a denúncia da violência contra as mulheres).

Em primeiro lugar, trata-se de uma história muito curta, torna-se difícil afeiçoarmo-nos realmente às personagens (três Emas: avó, filha e neta, todas infelizes no casamento), mesmo porque a história é contada em avanços e arrecuas, com algumas repetições, alguma confusão (não há tell, trata-se sobretudo de show, coisa que aprecio bastante mas que levanta muitas dúvidas). Por outro lado, é muito interessante o modo como a autora distinguiu as vozes e o tempo das três Emas (a maçaneta de loiça que depois é metálica, o cabelo loiro e os bandós, o fato casaco-calça da neta, o cabelo curto e ruivo, os objetos oferecidos a uma Ema que depois se tornam relíquias para as outras Emas), e também o modo como a infelicidade de uma parece a infelicidade de todas, entrelaçadas numa mesma desdita conjugal que atravessa o tempo e as gerações.

Outra coisa que me impediu de me entregar mais ao romance é o facto de que, em 1985, esta obra poder constituir um tratado feminista, uma denúncia social, uma obra essencial que deu voz às mulheres. Em 2020 trata-se de um romance ainda atual (infelizmente), mas em torno de um tema muito discutido e explorado nesta época. Não deixa de ser trágico que assim seja, que ainda hoje seja pertinente falar-se de violência doméstica, de abusos psicológicos e de patriarcado... Mas a verdade é que, posto isto, o romance não me trouxe nenhuma novidade, nem chegou a comover-me embora esteja magistralmente escrito.

Classificação: 3,5***/**

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