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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#264 HOANG, Helen, A Fórmula do Amor

Sinopse: Para Stella a lógica é a única constante do universo. Inteligente e bem-sucedida, a jovem cria algoritmos para prever as compras dos consumidores – um emprego muito bem pago mas que não a ajuda a perceber os homens. Para piorar, Stella tem síndrome de Asperger e é-lhe mais fácil analisar números complexos do que iniciar um simples relacionamento amoroso. Perante a pressão da mãe para começar uma família, a jovem elabora um plano pouco convencional: CONTRATAR UM ACOMPANHANTE PARA A ENSINAR A SER A NAMORADA PERFEITA.

Michael Phan usa o charme e a aparência para conseguir algum dinheiro extra que lhe permita pagar as contas que se acumulam. E é com profissionalismo que o acompanhante de luxo aceita ajudar Stella em todos os pontos do seu detalhado plano de trabalho, DOS PRELIMINARES ÀS SITUAÇÕES MAIS ÍNTIMAS.

Mas quanto mais tempo passam juntos, mais Michael fica encantado com a mente brilhante de Stella. E ela, pela primeira vez, sente-se impelida a sair da sua zona de conforto e a descobrir uma nova constante do universo: O AMOR.

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Opinião: Não aqueceu nem arrefeceu. Repesca aquele enredo em que completos opostos se apaixonam quase instantaneamente, sendo que aqui os ingredientes originais, conforme avança a sinopse, é que a jovem tem Asperger e o jovem é prostituto. Cria-se aquela bolha em torno dos dois, desenvolve-se um pouquinho as vidas privadas de ambos, mas vários parágrafos são completamente dispensáveis, meros interregnos entre uma cena sensual e a próxima. Detesto livros baseados em mal-entendidos, em "achei que x significava y", acho que é um truque fácil que pode resultar em enredos secundários, mas não pode ser o fuel de uma boa história. Não me pareceu sequer bem escrito no original. Dei por mim a rasurar coisas que me pareceram parvas, adjetivação desnecessária, tipo a avó pegar no comando "preto". Talvez isso venha da mente da própria autora, que tem Asperger, mas este livro, tal como A Educação de Eleanor, tornou-se demasiado confuso para o seguir. O modo de pensar das protagonistas nem sempre faz sentido, faltava um bom enredo a sustentar a coisa. Apesar de tudo, o segundo é melhor porque não cai nos clichés de que este está pejado, e o sexo não é o assunto principal. O livro, nesta edição, está cheio de gralhas e a linguagem em si, sobretudo das conversas, é porcalhota. Não gosto de ver tantos "Foda-se" a propósito de nada.

A parte sexual é OK, mas é mais uma história em que a mulher tímida e sem prática se revela uma deusa na cama, e em que há coincidências a torto e a direito (quando ela esbarra com ele no local de trabalho dele, numa cidade da dimensão de Palo Alto, ou quando ele vai a um restaurante coreano onde, por acaso, ela está num date com um imbecil. Não faltam os ciúmes, os murros, as lágrimas e os Mas tu disseste que..., rematado por Eu não disse nada disso, entendeste mal...

Para terminar, tem algo que odeio na literatura moderna, ainda por cima feminina, que tenho lido nos últimos tempos... Tanta conversa de feminismo e depois os protagonistas masculinos são paternalistas. Como neste caso, cruzam-se com uma mulher de 30 anos bem-sucedida e autossuficiente e começam a segui-la na rua para garantirem que chega bem a casa, a obrigá-la a alimentar-se, a aconselhá-la a manter-se longe deste e daquele, e um sentimento de posse, uma posse nociva que cria uma nova noção de romance. Um "só eu é que posso tocá-la", um "Ela é minha" que me soa a alarme, mais do que a amor. Ridículo, porque em nada contribui para que as mulheres se sintam seguras, capazes, livres para raciocinar e para tomar decisões.

Classificação: 2**/***