#259 BRAVO, Iris, A Terceira Índia
Sinopse: Sofia tem 32 anos, é professora num colégio em Lisboa e casada com um arquiteto de uma família nobre ribatejana. Ele conservador e ela liberal, não tinham nada em comum quando se apaixonaram numas férias de verão dez anos antes. Viveram um namoro feliz seguido de um casamento de sonho, desgastado pela sua obsessão por uma gravidez.
Quando descobre que foi traída, Sofia aceita uma proposta para substituir a sua mentora e viaja para o interior de Moçambique.
Disposta a viver aventuras, envolve-se com Alex, um homem que a atrai, apesar dos seus modos secos e do pressentimento de que lhe esconde algo.
Corajosa e determinada, Sofia irá descobrir tudo aquilo de que é capaz, incluindo arriscar a sua vida.
Opinião: Pronto, e é isto. Quando adoro um livro, dou-lhe cinco estrelas. Neste caso, cinco inesperadas estrelas e muita admiração pela autora, que se estreia assim na ficção nacional com uma promessa de talento inegável!
Uma palavra para o facto de só ter comprado o livro porque a capa é lindíssima e piscou-me o olho várias vezes na Feira do Livro. Eu ando numa fase de clássicos, mas decidi dar uma oportunidade ao livro, que ademais prometia misturar dois temas muito interessantes: infertilidade e as complexidades sociais de Moçambique.
Li algumas opiniões de outros leitores e parece-me consensual que a segunda parte do romance é muito mais cativante do que a primeira. De facto, no início senti-me um bocadinho aborrecida com aquele enredo do boy meets girl, ainda por cima a escrita é leve (e fluída), o que me fez sentir dentro de um YA, género que não me cativa de todo, por ser muito difícil introduzir algo de novo nesse segmento. Alguns ocasionais clichés, ou variantes deles, baixaram-me as expectativas de modo que a segunda parte pôde arrebatar-me por completo.
No entanto, sempre que a narração regressava ao presente, a escrita cativava-me. Elogio a escrita em si, o ritmo irrepreensível do romance - algo muito difícil quando se escreve -, e sobretudo os diálogos. Não é fácil escreverem-se diálogos com naturalidade, a Iris soma muitos pontos nessa área. Fez-me rir, comoveu-me. Fez-me torcer realmente pelas personagens, e é sempre ótimo quando um autor manipula os nossos sentimentos. Também de louvar o retrato psicológico de todas as suas personagens; fiéis a si próprias, com atitudes e até maneirismos no falar muito distintos. Parece uma coisa mínima, mas quantos livros li de autores ditos consagrados, portugueses, em que não há distinção de vozes e em que as personagens são unidimensionais?
Gostei muito mais da segunda parte porque mexe com temas na ordem do dia que me parecem muito pertinentes: ecologia, alimentação, exploração infantil, tráfico humano, corrupção, e por aí fora.
Trata-se de uma estreia de arromba, conto estar muito atenta a outros trabalhos da Iris, e precipitar-me para as bancas caso venha a haver uma continuação deste romance. Apesar de a história subsistir por si própria, parece-me que temos material de sobra para uma continuação igualmente emocionante.
Que orgulho neste tipo de descoberta!
Classificação: 5/5*****