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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#250 TORDO, João, A Noite em Que o Verão Acabou

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Opinião: “A Noite em que o Verão Acabou” é a minha estreia com João Tordo. Terminei o romance com a sensação de que não devia ter começado a lê-lo por este. Julgo entender que este é um livro “fora da sua praia”, em que se aventurou num novo género. Eu não percebo muito do género thriller, mas creio que o thriller é aquele género de filme/livro em que há um bandido à solta e os bons têm de o parar. Aqui, e segundo a sinopse anuncia, houve um crime, há um suspeito e procura-se a verdade. Nesse sentido, diria que é mais um… mistério? Ou um romance no qual acontece um assassinato. Acho mais corretoa ssim: é um romance no qual, por acaso, uma pessoa é assassinada.

“Aquele caso era, na verdade, uma história de amor. Ou mais de uma.”

Tirei várias conclusões a respeito do livro, e também senti que fiquei um bocadinho por dentro daquilo que é o trabalho do autor.
Vou ensanduichar a minha opinião, porque há coisas boas e más à mistura.

Começando pelas coisas boas :
- A escrita, que é clara e flui;
- Os diálogos, que acabam por ser espirituosos;
- As personagens, que mais ou menos interessantes se mantém fiéis à sua personalidade;
- O trabalho gigantesco que é evidente que o autor levou a cabo para pôr de pé uma obra deste tipo, com várias pontas soltas – que, aliás, vai unindo a seu tempo, o que expõe o planeamento por detrás do livro;
- Na sequência do ponto anterior, as analepses encaixam bem umas nas outras;
Por tudo isto, penso que voltarei a ler João Tordo, mas no registo que é “dele”, e num livro mais pequeno.
Agora vou alongar-me nas más, porque foram o que minou a leitura: :
- O livro é enorme, com mil e um subenredos, e nem todos acrescentam grande coisa à história – por exemplo, há demasiadas páginas em torno da carreira frustrada da personagem principal, da sua tentativa de se formar na New York University. Também há muita insignificância em torno de rotinas diárias, coisas que podiam ser abreviadas até para não nos afastar do cerne do livro. E também há o facto de, a cada revelação a respeito do caso, se recapitular grande parte deste, o que a dada altura torna aquilo que seria a parte interessante da história – o assassinato e a investigação – um pouco aborrecidos;
- Há muitos anacronismos históricos que me tiraram da ação, dos quais destaco alguns: o Hospital de Portimão referenciado em 1987, quando apenas foi inaugurado em 1999, Havaianas no Algarve em 1987, quando também só chegaram ao país em 1999, “televisores gigantescos” no Algarve de 1987, jogos em rede com utilizadores de todo o mundo em 1998, câmaras de televisão por cabo em 2008 ainda a utilizar cassete (aqui é o contrário, já havia câmaras digitais com memória digital);
- Outros problemas com o enredo prendem-se com incongruências, isto é, com circunstâncias que não me convenceram – um rapaz de 13 anos que fala Inglês perfeito, e que só se atrapalha com uma expressão: Pen pal, mas depois se sai com outras que até eu desconhecia (digo “eu” que vejo filmes e séries há 30 anos, que leio em Inglês (não mais porque sou preguiçosa) que fui professora voluntária de Inglês por dois anos, e que trabalho em Inglês há 10: housebroken, para “domesticado” – é que estamos no Portugal de 1987, e embora o Pedro diga que aprendeu Inglês a ler e a ver filmes, parece-me altamente conveniente que assim seja para o enredo, e nada verossímil;
- Também me debati com o modo como a personagem se dirigia aos membros da família – isto é, o romance é contado na primeira pessoa por Pedro Taborda, mas dirigia-se a algumas personagens com um distanciamento que me deixou alerta. Sendo o livro um pretenso thriller, e referindo-se sempre à irmã como “Júlia”, e raramente como “a minha irmã”, e ainda à tia-avó como Lucília, e nem sempre “a tia”, perguntei-me se viriam a ser suspeitas de algum crime ao longo do livro;
- Outra dúvida são algumas expressões que surgem em Português, quando supostamente todos os diálogos do livro passados nos Estados Unidos devem ser em Inglês. “Com a breca!”, “Três é a conta que Deus fez”, ditos por personagens americanas, põem-me ali às voltas para tentar perceber o que teriam dito os yankees na realidade;
- Outra coisa que dificultou a leitura foi o facto de muitas personagens serem estereotipadas – perdi a conta a quantos americanos eram “gordos”, ou moviam o rabo assim ou assado; o advogado tinha o perfil de fuinha que se associa a vários advogados, os polícias tinham um quê de idiotas corados que comem donuts, as jovens são muito bonitas, os homens de negócios passam muito tempo fora de casa, e por aí fora;
- Por último, o que mais atrapalhou a leitura foram as inverosimilhanças na história, e neste ponto deixo as coisas com a proteção do spoiler. Quem ainda não leu o livro não abra. Começo por dizer que o que se segue são reflexões de uma pessoa que, desde que o confinamento começou, deve ter assistido a 13 temporadas de Forensic Files, no Youtube. Trata-se de uma espécie de minidocumentários sobre crimes ocorridos na América, ao longo das últimas décadas (e também Canadá e Austrália), e como a polícia os resolveu através da Ciência Forense. Cada episódio tem 20 e poucos minutos e basicamente mostra como a ciência é fulcral ao serviço da justiça. Neste romance, a ciência forense não existe.
(view spoiler) (o link leva-vos para a página do Goodreads, onde podem clicar em spoiler para ver o texto oculto).

Fechando a sanduíche:
É um bom esforço, com partes interessantes e alguns trechos de boa prosa. Porém, torna-se demasiado grande, demasiado inverosímil nalgumas partes, demasiado fantasioso e novelesco noutras. Isso e o facto de no livro subsistirem tantos núcleos, tantas histórias e tempos paralelos… Lembrei-me sempre da máxima “menos é mais”. Se o Taborda (já agora um tipo sem sal nem grande personalidade) está a contar a história como num romance, porque não ser objetivo?
Vou voltar a tentar ler João Tordo, mas da próxima comprometo-me com um livro mais pequeno.

Sinopse: 14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos. No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi – uma criança misteriosa – passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.

Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.

Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.

Porque em Chatlam – e neste thriller imparável – nada é o que parece.

O QUE ESCONDE LEVI WALSH?

Classificação: 3***/**

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