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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#249 HAMSUN, Knut, Pan

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Sinopse: Pan é, desde a sua publicação, um dos livros mais apreciados e amados de Knut Hamsun. Uma obra-prima da literatura, onde «a natureza fala na língua subtil e sonhadora de um breve e idílico Verão nórdico».

Através dos papéis encontrados depois da sua morte, o tenente Glahn relata-nos a sua trágica paixão pela jovem Edwarda, num crescendo de exaltação que invade e se confunde com a paisagem envolvente, tor­nando-se difícil distinguir entre natureza e psique.

Opinião: Ainda no outro dia se falava, algures pelo Instagram, sobre comprar-se livros pela capa. Comprei Victoria (1898) precisamente pela capa, depois ajudada pela sinopse. Gostei tanto que pouco depois me comprometi a adquirir Fome (1890, vejo-o sempre esgotado), e este Pan (1894).

Pan é uma figura da mitologia grega, meio humano meio animalesco (focinheira e chifres), divindade dos bosques, e portanto dos pastores e dos caçadores. Uma breve leitura a seu respeito revela-nos que o seu lado humano lhe conferia sentimentos ternos, bem como a capacidade de se apaixonar. Porém, o seu lado animal levava-o a destruir tudo o que acarinhava.

O título do romance entrelaça-se com perfeição nesta figura mitológica. O enredo decorre numa ilha nórdica que o autor nunca chega a nomear, onde o Tenente Glahn se isola numa cabana de caça com o seu cão, Esopo. É a sua voz que nos guia através das estações e da paisagem, das noites de ferro, do ir e vir das embarcações no cais da ilha. Glahn é um jovem mistério para os habitantes da ilha, que acabam por se sentir atraídos pelo seu modo de vida e pela sua maneira de ser. Vêem algo de romântico no homem solitário que percorre a montanha com a espingarda e o cão, caçando para viver, cozinhando a própria comida, observando a natureza e a aurora boreal sem outra companhia que não os seus próprios pensamentos.

No início do romance, Glahn está em plena harmonia com a natureza ao seu redor. Disserta a respeito da paz e da felicidade que o mundo ao seu redor lhe inspira, com a sua tranquilidade e os seus ciclos. Porém, a dada altura, conhece Edwarda e o seu pensamento afasta-se do campo terreno para o mundo volátil dos sentimentos e das dores amorosas. Passa a experimentar ciúme e despeito, o que o transforma num ser por vezes cruel.

Knut Hamsun é uma figura controversa da literatura internacional. Terá sido uma figura errante que se entregou a períodos de vagabundagem ao longo da sua vida. Viveu na Noruega mas também na América do Norte, e a sua obra literária despreza o progresso e o mundo cosmopolita. Era grande apreciador da natureza, e um grande admirador da Alemanha e da sua visão do mundo, tendo-a apoiado em ambos os conflitos mundiais. Em 1920, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Como defensor do regime nazi, e tendo inclusive apoiado a invasão do seu país natal pelo III Reich, chegou a escrever uma elegia a Hitler após a sua morte, engrandecendo as suas qualidades de guerreiro e pensador. Essas posições valeram-lhe um internamento psiquiátrico no pós-guerra, partindo do princípio de que sofreria de algum tipo de patologia que lhe condicionava as ideias. Ainda assim, em pleno internamento, escreveu a sua última obra, criticando os profissionais que duvidavam das suas capacidades mentais.

"Fome", "Pan" e "Victoria" formam uma espécie de trilogia que ilustra uma fase da escrita do autor, em que se evidencia o pensamento panteísta (o universo e Deus como um só, para simplificar, sendo que Deus se manifesta através do universo e mais concretamente da natureza), um lirismo que me recorda o romantismo de inícios do século XIX, embora com trejeitos de maldade.

"- Podias dar-me o Esopo?
Eu não hesitei. Respondi-lhe:
- Sim.
- Então talvez possas vir amanhã e trazê-lo contigo - pediu ela.
(...)
Porque razão teria ela pedido para aparecer pessoalmente e levar-lhe o cão? Iria ela dizer-me alguma coisa e falar comigo pela última vez? Já não tinha qualquer tipo de esperança. Como iria ela tratar Esopo? Esopo, Esopo! Irá torturar-te! Irá chicotear-te por minha causa, com e sem razão (...).
Chamei Esopo para junto de mim, afaguei-o, juntei as nossas duas cabeças e peguei na minha arma. Ele já gania de prazer, pensando que iríamos sair para caçar. Juntei as nossas cabeças novamente, encostei o cano da arma ao pescoço de Esopo e disparei...
Paguei a um homem para levar o corpo de Esopo a Edwarda."

Espero voltar a lê-lo em breve, embora nem toda a sua obra esteja disponível em português, coisa que entendo porque vejo um fosse ideológico e estilístico entre este tipo de literatura e a que foi vingando na Europa do Sul. 

Classificação: 4,5*****/5