#254 TOLSTÓI, Lev, Guerra e Paz (Vol. III)
"O homem nada pode alcançar enquanto tiver medo da morte.
Dos três volumes de Guerra e Paz que li até ao momento, este é o que me tocou menos. Por um lado, são 440 páginas em torno da guerra. Estamos em 1812 e Napoleão marcha Rússia adentro com o maior exército jamais visto. Os russos não conseguem detê-lo em Smolensk, nem em Borodinó. Travam-se batalhas sangrentas (que por vezes soam até absurdas, porque os homens, na sua individualidade, entendem-se. São os governantes que, por via de tantos intermediários, acabam por ditar o derramamento de sangue).
Continuamos a acompanhar Rostov, Pierre, Andrei, Natacha e tantos outros pelos momentos decisivos da invasão. O abandono de Moscovo, o caos em que a cidade cai - os fogos, os presidiários e os loucos soltos pelas ruas -, foi, até ao momento, inconcebível para todos. Mas eis que Napoleão chega a Moscovo, e a Rússia cai.
Senti-me menos conectada com este volume porque houve muita estratégia militar, muitos figurões políticos - Napoleão como personagem per se, muita discussão em torno de posições, regimentos, acampamentos militares e etc., etc.
Houve situações caricatas e interessantes, como quando os russos deixam de ver a França como o expoente máximo da cultura na Europa, e decidem começar a obrigar-se a falar russo nos salões da alta sociedade. Só que, desabituados que estão, caem recorrentemente nas expressões francesas, cobrando multas uns aos outros por isso. Sem mencionar que chegam a contratar professores de russo para poderem exprimir-se na sua língua natal. Isto é ridículo, e acredito que fosse precisamente isso que Tolstói procurava mostrar.
Quem sabe, na óptica do autor, sem as invasões de Napoleão não haveria Rússia - pelo menos não haveria uma Rússia única e patriótica, orgulhosa das suas particularidades.
Classificação: 4****/*