#236 AMY HARMON, O Que Sabe o Vento
Opinião: Mais uma das minhas desilusões literárias. A Irlanda convulsa dos anos 20 prometia um enredo intenso, com a complexidade quase indecifrável que a cultura (música, cinema) tanto tem tentado simplificar. A somar a essa expectativa, há uma desvantagem: eu acompanhei duas temporadas de Outlander, cuja publicação original é de 1991, por isso dei por mim a ter déjà-vus da história da Claire, a enfermeira de guerra do século XX, de caracóis negros, e do Jamie, o guerreiro escocês do século XVIII.
Destaco, como pontos positivos, a viagem do tempo. Aconteceu de modo subtil, com alguma inteligência. Pareceu-me credível (para quem tem a mente minimamente aberta ao surrealismo), que houvesse um portal do tempo no centro de um lago Irlandês, que afinal é a terra da magia e das fadas. Também a pesquisa me parece exaustiva e bem conseguida, embora depois falhe no encaixe no enredo.
O problema principal, em contra-partida, é a superficialidade das personagens e a ligeireza com que encaram situações inimagináveis. À excepção, talvez, do Dr. Thomas Smith, que tem ideais, uma história sólida, várias dimensões.
Várias coisas me causaram estranheza durante a leitura, e me impediram de vivê-la. Em primeiro lugar, estive na Irlanda por três vezes, e da primeira visitei o condado de Leitrim e de Sligo, entre os quais se estende o Lago Lough Gill, tantas vezes mencionado no romance. Também visitei Parke’s Castle, que se situa no lago e que surge mencionado por alto na narrativa. Conheço um pouco da história irlandesa, e gosto de pensar que compreendo a alma do Éire, por muito complexa que seja (e é).
O que dizer da Irlanda de 2019? É vasta, com povoações isoladas, com uma humildade próxima da terra e da lareira, simpática, acolhedora, tradicional. O que sei da Irlanda do século XX? Sofria de carência, de opressão, de miséria generalizada, de convulsões políticas. A Irlanda rural de 1916 e 1921, em que a autora se foca, tem casas de banho modernas, pronto-a-vestir, e ninguém passa fome. Vivem de idealismos, de honra, e falhou no retrato da opressão, do tratamento desumano que o Império Britânico lhes impôs. As informações estão lá, mas não se sentem. Pelo menos achei que não se sentiam. Os acontecimentos são desfiados quase como eventos alinhados numa cronologia, e o impacto direto nas personagens é amenizado pelo eixo central romântico da história.
Para mim tudo falhou logo de início, quando a vida da Anne se apresentou como unidimensional. Nada existia para esta mulher de 30 anos além do avô, o que começa por ser pouco credível. Segue-se a partida abrupta para a Irlanda, uma vez mais sem que se evidenciem laços à sua vida em Nova Iorque, quase como se não tivesse qualquer amarra (à exceção da agente literária). Na Irlanda as coincidências sucedem-se. Tudo muito conveniente.
O pior é a reação à viagem no tempo. Pânico? Intriga? Busca de respostas? Tentativa de regressar imediatamente a casa, como creio que seria humano fazer assim que se recuperasse do tiro? Nah, vai comprar um guarda-roupa novo na loja de pronto-a-vestir (cerca de 30 anos antes da invenção do pronto-a-vestir). Pareceu-me de uma futilidade atroz tendo em conta tudo o que se estava a passar, e páginas desperdiçadas com coisas sem importância.
O amor surge do nada, tipo wow?. Não se entende. Nada mais a acrescentar aqui.
A dada altura, o fio condutor do romance, que é o amor do Thomas e da nossa protagonista, perde-se no meio dos acontecimentos. E os acontecimentos, como mencionei antes, são difíceis de acompanhar. Significa que na última parte me desliguei tanto do casalinho quanto dos eventos políticos, e tudo se precipitou com muita rapidez.
Duas coisas de grande significância acontecem a velocidade de foguetão, o que mais contribuiu para que revirasse os olhos. A naturalidade da reação das personagens a esses revezes é exasperante. Não há consistência, lógica. As acções e decisões acabam por cimentar o caminho (mal pavimentado) para o fim almejado pela autora, tudo muito bam! In your face.
Não gostei, só a Irlanda me impediu de desistir.
Destaco, como pontos positivos, a viagem do tempo. Aconteceu de modo subtil, com alguma inteligência. Pareceu-me credível (para quem tem a mente minimamente aberta ao surrealismo), que houvesse um portal do tempo no centro de um lago Irlandês, que afinal é a terra da magia e das fadas. Também a pesquisa me parece exaustiva e bem conseguida, embora depois falhe no encaixe no enredo.
O problema principal, em contra-partida, é a superficialidade das personagens e a ligeireza com que encaram situações inimagináveis. À excepção, talvez, do Dr. Thomas Smith, que tem ideais, uma história sólida, várias dimensões.
Várias coisas me causaram estranheza durante a leitura, e me impediram de vivê-la. Em primeiro lugar, estive na Irlanda por três vezes, e da primeira visitei o condado de Leitrim e de Sligo, entre os quais se estende o Lago Lough Gill, tantas vezes mencionado no romance. Também visitei Parke’s Castle, que se situa no lago e que surge mencionado por alto na narrativa. Conheço um pouco da história irlandesa, e gosto de pensar que compreendo a alma do Éire, por muito complexa que seja (e é).
O que dizer da Irlanda de 2019? É vasta, com povoações isoladas, com uma humildade próxima da terra e da lareira, simpática, acolhedora, tradicional. O que sei da Irlanda do século XX? Sofria de carência, de opressão, de miséria generalizada, de convulsões políticas. A Irlanda rural de 1916 e 1921, em que a autora se foca, tem casas de banho modernas, pronto-a-vestir, e ninguém passa fome. Vivem de idealismos, de honra, e falhou no retrato da opressão, do tratamento desumano que o Império Britânico lhes impôs. As informações estão lá, mas não se sentem. Pelo menos achei que não se sentiam. Os acontecimentos são desfiados quase como eventos alinhados numa cronologia, e o impacto direto nas personagens é amenizado pelo eixo central romântico da história.
Para mim tudo falhou logo de início, quando a vida da Anne se apresentou como unidimensional. Nada existia para esta mulher de 30 anos além do avô, o que começa por ser pouco credível. Segue-se a partida abrupta para a Irlanda, uma vez mais sem que se evidenciem laços à sua vida em Nova Iorque, quase como se não tivesse qualquer amarra (à exceção da agente literária). Na Irlanda as coincidências sucedem-se. Tudo muito conveniente.
O pior é a reação à viagem no tempo. Pânico? Intriga? Busca de respostas? Tentativa de regressar imediatamente a casa, como creio que seria humano fazer assim que se recuperasse do tiro? Nah, vai comprar um guarda-roupa novo na loja de pronto-a-vestir (cerca de 30 anos antes da invenção do pronto-a-vestir). Pareceu-me de uma futilidade atroz tendo em conta tudo o que se estava a passar, e páginas desperdiçadas com coisas sem importância.
O amor surge do nada, tipo wow?. Não se entende. Nada mais a acrescentar aqui.
A dada altura, o fio condutor do romance, que é o amor do Thomas e da nossa protagonista, perde-se no meio dos acontecimentos. E os acontecimentos, como mencionei antes, são difíceis de acompanhar. Significa que na última parte me desliguei tanto do casalinho quanto dos eventos políticos, e tudo se precipitou com muita rapidez.
Duas coisas de grande significância acontecem a velocidade de foguetão, o que mais contribuiu para que revirasse os olhos. A naturalidade da reação das personagens a esses revezes é exasperante. Não há consistência, lógica. As acções e decisões acabam por cimentar o caminho (mal pavimentado) para o fim almejado pela autora, tudo muito bam! In your face.
Não gostei, só a Irlanda me impediu de desistir.
Sinopse: Numa Irlanda dividida, uma história de amor épica quebra as barreiras do tempo.
«Só o vento sabe o que verdadeiramente vem primeiro.»
Anne Gallagher cresceu encantada pelas histórias do avô acerca da Irlanda. Destroçada pela morte dele, viaja até à sua casa de infância para espalhar as cinzas do avô no lago Lough Gill. Aí, invadida pelas lembranças do homem que adorava e consumida pela história que nunca conheceu, vê-se levada para uma outra época.
A Irlanda de 1921, à beira de uma guerra civil, é um sítio turbulento e instável… Mas é lá que Anne inesperadamente desperta, desorientada, ferida e ao cuidado do Dr. Thomas Smith, o homem que a resgatou do invulgar acidente que sofreu e que é tutor de um rapazinho que lhe é estranhamente familiar. Confundida por todos como a mãe perdida do rapaz, Anne adota a sua identidade, convencida de que o desaparecimento dessa mulher está ligado ao seu.
Com a tensão a escalar no país, levando Thomas a juntar-se à luta pela independência da Irlanda, Anne vê-se arrastada para o conflito e percebe que vai ter de decidir se estará disposta a desistir da vida que conhecia por um amor que nunca pensou vir a encontrar. Mas será mesmo dela a escolha?
Numa inesquecível história de amor, a viagem impossível de uma mulher através de décadas pode mudar tudo…
Classificação: 2**/5*****