#22 Manchester by the Sea
Realizador: Kenneth Lonergan
Actores principais: Casey Affleck, Michelle Williams,
Classificação IMDb: 8,5
Minha classificação: 9
Opinião: "Manchester by the Sea" é o primeiro filme que vi em 2017 e dificilmente verei melhor, pelo menos durante este ano. A sinopse é simples: o irmão de Lee Chandler (Casey Affleck) morre, e ele é chamado como guardião do sobrinho, Patrick (Lucas Hedges). Mas isto é apenas o aflorar da questão. Lee tem um passo mal-resolvido, se bem que o seu semblante, a todos os instantes, denuncia essa mágoa. A grandiosidade do filme assenta nos diálogos, no modo despretensioso como o filme não procura passar nenhuma lição, e na autenticidade dos sentimentos das personagens. (Por exemplo, o filho que acaba de perder o pai mas que se embrenha o mais possível nos melhores anos da sua adolescência para superar isso, ou o amigo que, sem ter qualquer responsabilidade sobre o assunto, retrocede nas suas intenções para ajudar alguém que lhe é importante). Fica consolidada a ideia de que uma história não precisa de ser épica para se entranhar sob a nossa pele - e também não se celebra aqui o culto da perda no momento (do choque, do grito, das lágrimas e do desespero), explora-se sim a estrada para superá-la. São duas horas em que as perdas moldam cada personagem de um modo diferente, nada fantasioso, e em que cada actor dá o melhor de si para mostrar a miríade de emoções que compõem o seu ângulo na trama. Casey Affleck agiganta-se a cada cena, o modo como os impulsos e a inanimidade lhe dançam no olhar é sublime. Julgo que seja o género de enredo que, quando vivido, nos suga um pouquinho da alma. Como escritora, só tenho pena de não ter escrito algo assim. Mas ficou-me na alma. Ando há dias a repensar o filme, as reacções, os picos de fraqueza e de fúria, e a saborear com isso as muitas nuances da natureza dos homens.