#217 STEINBECK, John, Ratos e Homens
Sinopse: George e Lennie vagueiam de herdade em herdade na Califórnia da Grande Depressão, numa sobrevivência sustentada por trabalhos episódicos. Mas os dois amigos têm um plano: vão juntar o suficiente para comprar um bocado de terra com uma casinha e aí poderão viver tranquilamente e dedicar-se à criação de coelhos.
George é pequeno e vivo, e é ele quem toma as decisões; Lennie é um gigante simpático, mas tem dificuldade em lembrar-se das coisas e em medir a sua força excecional. Quando arranjam trabalho a carregar cevada numa herdade junto ao rio Salinas, George e Lennie veem o seu sonho aproximar-se a passos largos da concretização - até que a mulher do patrão entra em cena.
Considerado um dos mais importantes romances de John Steinbeck, publicado originalmente em 1937 e várias vezes adaptado ao teatro e ao cinema, Ratos e Homens é uma história sobre amizade, sobre dignidade e sacrifício, mas também uma parábola implacável sobre o ruir do sonho americano.
Opinião:
Imagem da adaptação cinematográfica de 1992 |
"(…) Eu estava a falar de mim. Uma pessoa fica aqui sentada de noite, a ler livros, ou a pensar, ou qualquer coisa assim… Às vezes, ficamos a pensar e não temos ninguém que diga sim ou não. Quando vemos alguma coisa, não sabemos se está certo ou errado. Não podemos perguntar a alguém se viu também. Não podemos falar. Não temos com quem discutir. Tenho visto muitas coisas aqui. E eu não estava bêbedo. Não sei se estava a dormir… Se tivesse um companheiro comigo, ele podia dizer se eu estava a dormir, e tudo ficava bem. Mas não sei…"
Ratos e Homens, título que me parece genial neste contexto, é uma novela de John Steinbeck, publicada em 1937. Narra os piores anos da depressão americana, quando o sonho americano fugia ao alcance de todos e os país se ia transformando num terreno lamacento de degenerados e desvalidos (para não dizer falidos e endividados). É o quarto livro que leio de Steinbeck, e a segunda novela depois de A Pérola. Apesar de os temas nos seus escritos me parecerem terem uma consciência comum – que se interessa pelas condições de vida dos desfavorecidos, pelas suas aspirações e dificuldades –, Steinbeck consegue sempre surpreender a cada narrativa.
Esta novela conta a história da amizade improvável entre George, um homem simples habituado a desenvencilhar-se, e Lennie, um grandalhão com um evidente e embaraçoso défice cognitivo. Os dois homens vão fazendo a sua vida de herdade em herdade, nas colheitas e na lavra, ou em qualquer tipo de trabalho braçal que pague. É assim que chegam a uma nova herdade e são introduzidos a outros homens, com outro tipo de problemas, que acarinham sonhos semelhantes de terra e de estabilidade. É angustiante entender como era dura a vida na América dos anos 30, e Steinbeck retrata-o com recurso a uma mulher de moralidade duvidosa, que recorre a exageros de vaidade para colmatar as falhas afetivas, a um negro de costas tortas que se queixa do isolamento a que está votado, e que receia os dias em que não mais será capaz de exercer nenhum tipo de trabalho, e a Candy, um velho que vai fazendo trabalhos domésticos na quinta, e que receia ser posto na rua quando não tiver mais utilidade.
A essência do livro, neste pano de fundo decadente, é a amizade e cooperação entre George e Lennie, que acabei por não entender muito bem como nasceu, mas que Steinbeck talhou para ser inquebrável, mesmo perante a maior das provações.
Lê-se rápido e acrescenta muito.
Livro a livro, J. Steinbeck vai-se consagrando como o meu autor favorito, a par com W. Somerset Maugham.
Classificação: 5*****/5