Opinião:Foi a primeira vez que li um livro da autora Ana Teresa Pereira, uma das favoritas da DGLAB para atribuição de bolsas e prémios. A história é intrigante, bastante interessante - julgo que com laivos de Rebecca, ou daquilo que julgo que será essa obra de Daphne du Maurier.
Trata-se da história de uma pintora que de repente desperta numa casa no interior de Inglaterra, longe de Londres, do seu apartamento e das galerias que costumava frequentar. É-lhe atribuído outro nome e outro passado, e descobre que já não sabe dançar nem consegue pintar, como se fosse outra pessoa apesar de se recordar desse outro passado na capital. Está rodeada de estranhos e é informada de que sofreu um acidente relacionado com uma cascata local.
A linguagem é simples, a escrita fluida, o mistério vai-nos mantendo presos às páginas. Tem passagens realmente belas, tais como:
(...) e as gotas de orvalho de manhã cedo em todas as folhas e todos os ramos de um bosque onde ninguém passa, e o som da água é o som do universo, o som que também está no fundo de nós, misturado com o vazio e a escuridão.
De salientar um ponto de que não gostei e que me parece ser bastante recorrente num certo círculo de autores portugueses: o pedantismo de despejar referências artísticas, musicais e literárias umas atrás das outras, a cada página uma nova exibição da sua formação cultural. É desnecessário e diria até pouco credível escrever-se sobre pessoas comuns que vivem em águas-furtadas com grande simplicidade, mas estão sempre prontas a citar os "grandes".
(...) como as ruazinhas, as pontes, os canais, do filme de Luchino Visconti, como o mosteiro e o vale profundo do filme de Michael Powell e Emeric Pressburger). Uma rapariga casada que vinha a Londres uma vez por semana, ver um filme ou uma peça de teatro, e trocar um livro na biblioteca, livros de Dorothy Whipple, Richmal Crompton, D.E. Stevenson, Winifred Watson. E Francis Burnett.
Não me parece também que o retrato psicológico da personagem principal, esta Karen prestes a completar 25 anos, faça sentido perante estas referências. Uma jovem de 24 anos que vive sozinha em Londres, bebe vinho e ouve música antiga, pinta a óleo e visita galerias e faz caminhadas na natureza e vai ao teatro. Acho que é uma idealização de pessoas de outro tempo, sem raízes na realidade atual.
Sinopse: Le Notti Bianche passava‑se numa ponte: Maria Schell esperava o amante que partira há um ano, Marcello Mastroianni apaixonava‑se por ela, e havia música, não sei de onde vinha a música, talvez de um bar ou de uma esplanada próxima; lembro‑me de um barco no canal, e dos sinos a tocarem, e do momento em que começava a nevar, e da rapariga a deixar cair o casaco que tinha sobre os ombros e a correr para os braços de um dos homens. Black Narcissus: Deborah Kerr vestida de freira, e o inesperado dos seus cabelos ruivos quando recordava, porque aquele lugar fazia recordar coisas; Kathleen Byron a tocar o sino do mosteiro na beira do precipício e a pintar os lábios na sua cela, a voltar de madrugada com um vestido vermelho e o cabelo molhado; e depois a luta final entre a jovem com o hábito branco e a jovem com o vestido vermelho, as nuvens lá em baixo, o mosteiro erguia‑se acima das nuvens. Em tempos pensava que todas as histórias eram uma só, a luta entre o anjo bom e o anjo caído, e sempre à beira de um abismo.
Vencedor do Prémio Orwell na Categoria de Ficção Política
Estamos em 1985, numa pequena cidade irlandesa. A autora narra-nos a vida de Bill Furlong, um comerciante de carvão e pai de família. Uma manhã, ainda muito cedo, quando vai entregar uma encomenda no convento local, Bill faz uma descoberta que o leva a confrontar-se com o passado e os complicados silêncios de uma povoação controlada pela Igreja.
“Cada palavra é uma palavra certa no local exato. O efeito ressoa e é profundamente comovente.” [Hilary Mantel]
“Um livro belíssimo, que nos faz querer descobrir tudo o que a autora já escreveu.” [Douglas Stuart]
“Uma escritora única na sua geração.” [The Times]
”Um livro incrível.” [Sarah Moss]
“Um livro incrivelmente claro e lúcido.” [Colm Tóibín]
“Uma hipnótica e envolvente novela irlandesa que transcende o país e o seu tempo.” [Lily King]
Opinião: Tenho um carinho especial por livros pequenos com histórias fortes. Este livro acaba de repente, virei a página e tinha terminado. Fez imenso sentido, e não há qualquer necessidade de adiantar mais explicações ao leitor.
Furlong é filho de mãe solteira e cresceu à sombra de uma senhora influente numa pequena povoação de Waterford, na Irlanda católica. Nessa povoação existe um convento que acolhe jovens caídas em circunstâncias misteriosas. São jovens de fora que, na prática, nada têm que ver com a pequena povoação onde se situa a congregação.
Ao longo das suas poucas (mas intensas) páginas, acompanhamos uma espécie de despertar que vai tomando este homem casado e pai de quatro filhas nos dias que antecedem o Natal. Durante quarenta anos, a grande mágoa de Furlong tem sido não saber quem é o seu pai. Agora, diante da possível realidade que se passa para lá dos portões do convento de St. Margaret's, a angústia de Furlong é pensar que a sua mãe poderia ter sido uma daquelas mulheres - e que nenhum dos autoproclamados cristãos da povoação lhe teria estendido a mão. Perante essa reflexão, Furlong deve decidir se as coisas devem permanecer como sempre foram ou se um simples distribuidor de lenha e carvão pode fazer algo de útil por alguém numa disputa contra uma instituição aparentemente invencível.
Um despertar moral de um homem multidimensional descrito por Keegan na paisagem inóspita de uma Irlanda onde sempre houve fricções religiosas, e onde a Igreja Católica teve um efeito tantas vezes mais nefasto do que conciliador.
Sinopse:Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer. Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual. Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.
Opinião:
"Sendo a primeira a realizar estudos superiores numa família de comerciantes, tinha escapado à fábrica e ao balcão. Mas nem o liceu nem a licenciatura em letras haviam conseguido contornar a fatalidade da transmissão de uma pobreza da qual a rapariga grávida, tal como o alcoólico, eram símbolos. Tinha sido apanhada na curva, e aquilo que crescia em mim era, de certo modo, o fracasso social."
Foi a minha estreia com Annie Ernaux, e compreendi o elogio de como a sua obra conta a história de um século através de relatos com travo a autobiografia. Ao longo da leitura, senti várias vezes que estava a ouvir a confissão da própria autora. É a sensação que tive ao ler, mesmo porque a personagem está a contar "o acontecimento" a partir de 1999, volvidos 35 anos sobre o seu aborto ilegal, e o tipo de detalhes que recorda parecem fruto de uma imaginação sensível e progidiosa, ou de uma experiência traumática pessoal.
A relevância do livro é tanto social quanto política. É um ensaio relativamente simples - e, no entanto, de uma complexidade angustiante - sobre o significado de uma gravidez indesejada. Neste caso, o regresso à pobreza, hesito em dizer "estatuto", mas "estatuto" não significa apenas privilégio, tantas vezes significa segurança económica, aceitação social, respeito, reconhecimento. Também nos recorda das trevas que as mulheres tiveram de desbravar - ainda há 50 anos - para poderem interromper voluntariamente uma gravidez em segurança. A brutalidade dos métodos, a clandestinidade, a dor e o trauma que inflingiam a uma mulher, de resto, saudável. O risco, a sujeição. O julgamento social, a crítica direta, o crime.
Por outro lado, o pai da criança, e o facto de lavar completamente as mãos do assunto. De não estar obrigado a prestar nenhum apoio àquela mulher, de não fazer nenhum esforço para a ajudar num momento de desespero, porque não é nada com ele. Um retrato nítido do que significa o machismo e a sociedade patriarcal. O homem isento de culpa e responsabilidade, a mulher atormentada pelo julgamento moral e a pôr a própria vida em risco para manter o que conquistou e as perspetivas de futuro.
Ainda bem que o mundo evoluiu, desde aí. Era necessário. Uma pequena obra com muito pano para reflexão. Fiquei com vontade de ler mais livros da autora.
Opinião: A grande protagonista da tetralogia de Elena Ferrante é Nápoles. Nápoles e a sua microsociedade, o intrincado das suas ruas, os jogos de poder entre as personagens. A par de Nápoles, a história do século XX, aqui representada numa Itália que se debate entre os saudosistas do fascismo e a novidade do comunismo de rua, ativo e revindicativo, é o outro grande protagonista desta saga.
O fio condutor continua a ser a amizade de Raffaela e Elena, a primeira ficou no bairro, a segunda bateu as asas, experimentou um breve instante de reconhecimento pelos muitos anos de estudo e pelo livro publicado, e vive em Florença. A primeira separada, a segunda casada. A primeira com um filho crescido, a segunda a experimentar a maternidade. Como se a vida corresse mais depressa, mais intensa e impiedosa, para quem fica para trás. Como se Lila, de alguma forma, abrisse sempre o caminho, estivesse sempre mais adiante, soubesse mais da vida, e Elena simplesmente a seguisse, procurando, a todo o instante, validar a sua própria experiência à sombra da que foi de Lila.
As duas são cativantes mas, para mim, o romance ganha fôlego sempre que temos um vislumbre da vida e da mente de Lila. Para mim, a anti-heroína mais fascinante da literatura recente. É admirável que a autora tenha cimentado a inteligência e as capacidades destas duas mulheres para as conduzir por um século conturbado, com grandes mudanças, em que a mulher pela primeira vez pode usar a própria voz para fazer valer os seus direitos.
Profundamente feminista - o feminismo que considero genuíno, porque saído do suor de adversidades reais, por vezes de aspeto intransponível -, mas também realista, a história que continua a ser-nos contada chama cosntantemente o leitor a identificar-se com estas pessoas - não apenas com as mulheres principais, mas com as outras gerações também, com as suas falhas e conquistas. E, em simultâneo, não nos pede nada. Não tem pretensões de ser nada. Avançamos pelas páginas movidos pela curiosidade de saber o que é feito de fulano e beltrano, e acabamos a sentir que a nossa vida se assemelha bastante à deles e que, ao mesmo tempo, não tem nada em comum com a deles. Mas sentimos igual, ou sentiríamos igual.
Vou avançar para o quarto e último volume enquanto tenho estas personagens frescas na ideia. São muitas e todas me parecem relevantes. Não convém esquecê-las.
Sinopse: Elena e Lila, as duas amigas que os leitores já conhecem de A Amiga Genial e História do Novo Nome, tornaram-se mulheres. E isso aconteceu muito depressa.
Navegam agora ao ritmo agitado a que Elena Ferrante nos habituou, no mar alto dos anos 70, num cenário de esperança e incerteza, tensões e desafios até então impensáveis, unidas sempre com um vínculo fortíssimo, ambivalente, umas vezes subterrâneo, outras visível, com episódios violentos e reencontros que abrem perspetivas inesperadas.
Railway magnate Tom Severin is wealthy and powerful enough to satisfy any desire as soon as it arises. Anything—or anyone—is his for the asking. It should be simple to find the perfect wife—and from his first glimpse of Lady Cassandra Ravenel, he’s determined to have her. But the beautiful and quick-witted Cassandra is equally determined to marry for love—the one thing he can’t give.
Everything except her.
Severin is the most compelling and attractive man Cassandra has ever met, even if his heart is frozen. But she has no interest in living in the fast-paced world of a ruthless man who always plays to win. When a newfound enemy nearly destroys Cassandra’s reputation, Severin seizes the opportunity he’s been waiting for. As always, he gets what he wants—or does he? There’s one lesson Tom Severin has yet to learn from his new bride: never underestimate a Ravenel.
Opinion: I have this habit of listening to audiobooks while I work. The perks of working from home!
I always start these books never knowing if I have already read it before, but this one didn't ring a bell at all. I think I would've remembered Tom Severin. As for Cassandra, she isn't much different from every other "leading lady" in this kind of literature. She's gorgeous, voluptuous - she was a bit overweight, which is interesting - kind, at times naïve, etc.
There wasn't much conflict in this #6 of the series, it was more subtle than that. I particularly enjoyed the subplot regarding Tom's past, the fact that he had been abandoned in the time of the workhouses in England - brutal as they were -, as well as the detail of how Cassandra made him start reading, and they'd talk over those reads. There was this kid that Tom was always reluctant to help who reminded him of himself - since this was an audiobook, I have no clue on how to write it... Basel? - and it was nice seeing him overcome his insecurities and traumas to embrace the mission of raising a child.
It's interesting how this books always revolve around people too afraid to start families. The one depicted in Chasing Cassandra really moved me at times, and the steam was just spot on! Tom was pretty perfect, although he had all the motives in the world to be completely ruined by his upbringing.
But jeez, couldn't Kleypas pick a better name than Cassandra?
Sinopse: No momento em que Rhys vê Joan no mercado a vender as suas delicadas peças de cerâmica, sente-se enfeitiçado. Não podia imaginar que, poucos dias depois, viria a salvar a mesma jovem da tortura de um povo impiedoso, disposto a castigá-la por um crime que não cometeu. Com ternura, cuida das feridas do seu corpo e da sua alma, e vontade não lhe falta de fazer muito mais…
Joan não lhe revela que em tempos viveu uma vida mais próspera. Por força das circunstâncias, trabalha agora às ordens de um amo, mas não desistiu de vingar os crimes que arruinaram a sua família. Quando descobre que Rhys se encontrou com o seu empregador e comprou o seu contrato de aprendiza, Joan fica furiosa, mas está decidida a não sucumbir aos encantos do belo homem. O seu corpo, porém, pede o contrário…made conseguirá ela evitar ser subjugada pelo forte desejo que sente?
Opinião: Há muitos anos li outros livros que agora sei pertencer a esta série "Medieval" - [book:Casamento de Conveniência|7856911], de que gostei bastante, [book:O Protector (Medieval Series|11195030], [book:Mil Noites de Paixão (Medieval Series|13361134], de que não gostei tanto.
Volvidos tantos anos, volto a apreciar este tipo de enredo por parte da autora. Temos conspirações na corte, golpes de Estado, um ambiente muito bem criado e cheio de pormenores históricos. Li algures que a autora é Professa de História, o que me parece bastante compreensível.
Neste romance, temos outra história madura de duas personagens com substância, cujos objetivos e interesses na vida vão muito além da paixão que se desenvolve ao longo das páginas, mas chegam a ser postos em causa pela mesma. Gosto de personagens com várias camadas, complexas, que não se entregam com facilidade e que vão evoluíndo ao longo da narrativa. Destaco o tom quase poético - e espiritual - que o livro alcança quando a autora descreve a dedicação que os dois protagonistas sentem pela sua arte. Ele esculpe em pedra, ela faz figurinhas de barro / argila. Figuras religiosas às quais imprimem a humanidade possível. É a catarse que essa arte lhes oferece que é comovente e palpável - percebe-se que a autora investiu bastante na construção emocional dos protagonistas.
Joan, a Ceramista, e Rhys, o maçon, são duas personagens com uma solidez histórica muito interessante, e o romance (bem como as partes picantes) está bem desenvolvido. É positivo que se crie uma história de amor ambientada na Idade Medieval sem que a mesma grite <i> machismo</i>. Essa contemporaneidade do romance é um feito, nem sempre bem conseguido noutros volumes, inclusive da mesma autora.
Opinião: Gostei muito desta abordagem da Madeline Hunter ao romance histórico-erótico. Por fim, a donzela não é virgem, nem indefesa. Não há mal-entendidos, não há diz-que-disse, não chega sequer a haver mentiras. Transparente, com os dilemas interiores essenciais ao enredo.
Sinopse: Ives, filho de um duque, é um advogado de renome. Dedicado e imperturbável, consta que é apenas na intimidade que satisfaz os seus apetites mais insaciáveis. Quando Padua Belvoir tenta contratá-lo para defender o pai dela, é com espanto que descobre que ele já está a trabalhar no caso… mas como advogado da acusação!
Para Padua trata-se de um golpe terrível. Na sua luta para provar a inocência do pai e salvá-lo da forca, rapidamente percebe que Ives não só não a poderá ajudar, como é o seu mais temido adversário… quanto mais não seja pelo seu olhar arrasador, que a deixa tentada a ceder-lhe… tudo.
Alto, Moreno e Provocador apresenta-nos a mais um irmão prestes a sucumbir à flecha de Cupido… Trata-se de Madeline Hunter no seu melhor!