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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#283 FERRANTE, Elena, História do Novo Nome

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Sinopse: Este romance continua a história de Lila e Elena, tendo como pano de fundo a cidade de Nápoles e a Itália do século XX.
Lila, filha de um sapateiro, escolhe o caminho de ascensão social no próprio bairro e, no final de A Amiga Genial, vemo-la casada com um comerciante. Elena, pelo contrário, dedica-se aos estudos.
Ambas têm agora 17 anos e sentem-se num beco sem saída. Ao assumir o nome do marido, Lila tem a sensação de ter perdido a identidade. Elena, estudante modelo, descobre que não se sente bem nem no bairro nem fora dele.
No início, vemos Elena a abrir um caderno de notas onde Lila fala sobre a vida com o seu marido e as complicadas relações com a Mafia e os grupos neofascistas, que invadem os bairros com as suas proclamações.
Lila e Elena hesitam entre a tendência para a conformidade e a obstinação em tomar nas suas mãos o seu destino, numa relação conflitual, inseparável mistura de dependência e vontade de autoafirmação, em que o amor é um sentimento «molesto» que se alimenta do desequilíbrio até nos momentos mais felizes.

Opinião: Nunca pensei que este segundo volume da tetralogia superasse o primeiro, mas a verdade é que o senti pelo menos tão intenso quanto “A amiga genial”. Senti o livro igualmente profundo, igualmente pertinente. A cada página, Ferrante recorda-nos daquilo que foi o século XX na Europa do Sul, a ascensão de uma pobreza abjeta, de uma miséria obscura, das classes mais vulneráveis para a classe média. O papel dos estudos, do capitalismo, da imagem, no desenvolvimento social e na emancipação das mulheres. Parece-me que a Lila causa aversão a muitos leitores, porém permanece a minha personagem favorita. Ela permite-se ser feliz, permite-se arriscar e não tem medo de nada. Mas a vida, as amarras em torno do seu género, a prisão do bairro e a sua pertença, primeiro ao pai, depois a um marido, impedem-na de exercer o seu direito à liberdade.
Termina com uma reviravolta agradável que me levou aos meus tempos de estudante, à época em que sabia que sem um diploma nunca seria nada, nunca teria nada. E à publicação do meu primeiro livro, e ao sentimento de que, daí, viriam coisas maravilhosas.
Uma obra contemporânea com todos os contornos de um clássico e que conserva o sabor a contemporaneidade. Ferrante recorda-nos da longa estrada até sermos senhoras da nossa voz.
Venceu-se o preconceito de mulheres na escola, de mulheres a tomarem decisões sobre a sua sexualidade. Venceu-se o patriarcado, a ideia de que a mulher pertence aos filhos e à casa. Venceu-se tanto, e tanto há ainda a vencer…

#282 TORDO, João, Manual de Sobrevivência de um Escritor

Ou o pouco que sei sobre aquilo que faço

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Sinopse: O que é um escritor? Como vive? Como cria? Como sente?
Partindo das suas memórias do ofício, João Tordo esboça neste livro uma espécie de manual para todos aqueles que se interessam pelo mundo da escrita sejam escritores a dar os primeiros passos ou leitores curiosos.
Misturando humor e pragmatismo, memórias de vida e conselhos úteis, o autor abre as portas da sua actividade e da sua relação com a literatura e a vida a todos aqueles que experimentam a magia da ficção.

Opinião: 

"A literatura nasce de uma necessidade quase atómica de ordenar aquilo que surge catastrófico, de reunir num volume a fragmentada experiência humana".


João Tordo é escritor de profissão. Em 2004 publicou o seu primeiro romance, O Livro dos Homens sem Luz e em 2020 lançou este "manual de sobrevivência" onde compila o conhecimento que obteve ao longo de 16 anos de ofício.

Penso que qualquer escritor ou aspirante a escritor se vai interessar por este livro. Li-o em ebook, o que me permitiu ir sublinhando os pontos cruciais, citações e curiosidades. Achei que as referências são muito acessíveis, pelo menos tendo em conta as minhas leituras habituais.

Identifiquei-me em muitos pontos com aquilo que o escritor expõe - por ex., que um escritor que tenha experienciado dificuldades na vida será, à partida, um escritor mais capaz. Algumas observações pareceram-me muito elucidativas daquilo com que eu própria concordo...

"O papel da ficção não é pedagógico, sob o risco de deixar de ser ficção."


Fora isto, o livro está bem estruturado em capítulos que exploram as expetativas dos aspirantes a autores, os ganhos com livros - para que se desenganem se pensam que vão enriquecer a escrever literatura -, as viagens e residências literárias em torno do ofício, a inspiração ou falta dela, os livros melhor e pior conseguidos, etc. Também parece compartilhar da minha crença de que a literatura de grandes ganhos é a literatura de fenómenos, e que os fenómenos extinguem-se mais ou menos depressa e às vezes às custas da reputação do pretenso autor, que ficará assim rotulado como pertencente a um género pouco literário - a uma fórmula. Enfim, tudo depende do tipo de autor que queremos ser.
Duas notas negativas:
- Discordei do pressuposto mistério sobre o título do romance de J.D. Salinger, The Catcher in the Rye, porque é dos títulos que fazem mais sentido de sempre, perante o enredo.
- A palavra "putativo" surge demasiadas vezes, e causou-me sempre um esgar.

Conclusão: gosto de João Tordo não literário. Sabendo um pouco mais sobre a origem de alguns dos seus livros, talvez venha a ler Ensina-me a Voar Sobre os Telhados ou A Mulher que Correu Atrás do Vento.

Classificação: 4****/5

#281 QUINN, Julia, O Que Acontece em Londres

Opinião: 3,5

Ai, esta minha capacidade de me iludir...
Li Dez coisas que eu amo em você há uns dias, li de um fôlego e adorei. Há alguns anos (creio eu) que não lia nada deste género e gostei muito do tom light, das risadas e do romance. Porém, neste caso, e tão colado ao anterior, senti que era mais do mesmo. Começou morno, aqueceu um pouco quando as personagens principais se conheceram, ficou melhor quando surgiu um russo com um guarda-costas muito engraçados, e descambou novamente para o fim. Saiu bastante dos eixos, meteu rapto e tiros, e quando se lançam assim tão alto eu tendo a não gostar muito deles, até porque o perigo é geralmente injustificado para tanta acção.

Se não o tivesse lido tão colado ao anterior, teria gostado mais. Penso que precise de mais uns anos de pausa até ler o próximo... Isto se não me vir horrivelmente aborrecida e voltar a pegar num... As gargalhadas estão sempre garantidas.

 

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Sinopse: Quando Olivia Bevelstoke ouve o boato de que Harry Valentine, seu novo vizinho, matou a própria noiva, não acredita nisso nem por um segundo.


Ainda assim, só por via das dúvidas, decide espioná-lo. Arruma um lugar perto da janela do quarto, se esconde atrás da cortina e passa a observá-lo. Logo descobre um homem muito intrigante, que definitivamente está tramando algo.

Sir Harry Valentine trabalha para o gabinete mais sem graça do Departamento de Guerra inglês, traduzindo documentos vitais para a segurança nacional. Apesar de não atuar como espião, passou por todo o treinamento para ser um. Por isso, percebe imediatamente que sua linda vizinha está seguindo seus passos pela janela.

Assim que chega à conclusão de que ela é apenas uma debutante bisbilhoteira, Harry descobre que a jovem está sendo cortejada por um príncipe estrangeiro suspeito de conspirar contra a Inglaterra.

Agora ele precisa espioná-la oficialmente, e logo fica claro que a maior risco que Olivia representa é fazê-lo se apaixonar...

Classificação: 3***/**