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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#274 CHOPIN, Kate, Meias de Seda

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Opinião: 

”Na sua opinião, o amor era sinónimo de degradação, algo que quase tinha vergonha de confessar a si próprio; e sabia que não tinha forças para o reprimir.”


Kate Chopin (1851-1904) foi uma autora norte-americana que viveu toda a vida no Louisiana. Peguei nas suas Meias de Seda convencida de que se tratava de uma novela sobre o dilema de uma mãe entre gastar, ou não, o dinheiro extra que recebeu consigo ou com os filhos. No entanto, esta edição contém sim uma compilação de contos da autora. Em todos é transversal a delicadeza com que aborda a vontade das mulheres, a sua submissão – ou insubmissão – face aos homens da sua época, e também um cuidado em retratar a vida de famílias crioulas e de origens francófonas (portanto marginais) do Louisiana.

Todos os nove contos aqui compilados (Meias de Seda, Azélie, Uma Mulher de Respeito, O Sonho de uma Hora, Um Cavalheiro de Bayon Têche, Uma Noite em Arcadie, o Bebé de Desirée, O Divórcio de Madame Célestin e No Baile Canadiano) evidenciam o espírito crítico da autora, bem como a sua luta pelos direitos (e a voz) das mulheres. Emocionou-me também o modo como mistura brancos e negros, jogando com a dignidade e os sentimentos e expectativas destas personagens de grande carácter.

O bebé de Desirée foi o meu conto favorito, de tal modo que a autora, que já havia conquistado a minha atenção até então, arrebatou de vez a minha admiração.
De salientar também o modo como se aventura por questões de honra e sexualidade, com certeza escandalosas para a época, mas que evidenciam bem a sua pertinência no mundo das letras na viragem do século.

Classificação: 4/5*****

 

Sinopse: Escritas com humor e uma aguda percepção da psicologia feminina, as presentes histórias revelam-nos uma importante escritora norte-americana, Kate Chopin, cuja obra mais relevante e controversa é o romance Despertar. Ultrapassando muitas das convenções do séc. XIX, Kate Chopin consegue pôr em causa a submissão a que as mulheres, nessa época, estavam sujeitas.

#273 CASTRO, Ferreira de, A Missão

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Opinião: Há muitos, muitos anos, tentei ler A Selva, deste mesmo autor. Lembro-me que estava a gostar muito do livro mas, entretanto, a curiosidade esmoreceu e abandonei-o. Era da biblioteca e acabei por devolvê-lo.

“A Missão” é uma novela, e nesta edição é seguida de um conto intitulado “Nossa Senhora dos Navegantes”. Ambos são excelentes, e muito intensos apesar de serem relativamente breves. “A Missão” recordou-me a intensidade das novelas de Steinbeck, em particular A Pérola, que adorei. E sai-se melhor do que essa outra (atrevo-me a dizer) no que ao imprimir realismo e intensidade a uma narrativa, em tão curtas páginas, diz respeito.

"Nessa época, as colónias representavam para os missionários o mesmo que as câmaras de experimentação para certos metais: punham à prova a sua resistência. Todos sabiam que o pecado andava lá, quase nu, entre os coqueiros e que entre pecados e virtude havia apenas os dois ou três milímetros de espessura de uma tanga.


”A Missão” é uma novela publicada em 1954, que se debruça sobre um dilema moral e religioso que teria tido lugar durante a invasão da França pelos alemães, no contexto da II Guerra. Conforme a sinopse indica, a grande questão é se estes monges devem salvaguardar-se dos bombardeamentos aéreos pintando a palavra “Missão” no telhado, ou se devem abster-se de fazê-lo posto que isso dirigiria, sem erro, a Luftwaffe para o único outro edifício de interesse naquela povoação: a fábrica de armamento na qual trabalhavam quase 500 almas.

Ferreira de Castro expõe, com esta premissa tão simples, a verdadeira natureza dos homens, e separa a religiosidade da abnegação e até da ética. Mounier e o superior tornam-se personagens maiores e de grande complexidade, um feito notável numa obra tão pequena. Alguns diálogos mantiveram-me pregada às páginas, sobretudo aqueles em que os monges tentavam, à vez, ser detentores da verdade (e da vontade) divina. O contexto histórico da II Guerra Mundial também está muito bem explorado, a geografia, o tempo e o contexto socio-político da França durante o flagelo dessa ocupação está exposto de modo sublime. Sem se alongar – e recorrendo a metáforas que me pareceram muito esclarecedoras e espirituosas (digo-o porque não sou grande fã de metáforas, sobretudo as de Lobo Antunes), - o autor teceu aqui um enredo credível, profundamente humano e envolvente. Terminei-o com a certeza de ter lido algo que, se tivesse saído da pena de um autor de outra nacionalidade – quem sabe, de alguém fora do isolamento do Estado Novo – teria chegado muito, muito longe.

”Ele pensou que talvez dez homens interpretassem melhor o desejo divino do que dois apenas. Mas, por outro lado, todas as grandes revelações que a Igreja apregoava tinham sido feitas, dizia-se, individualmente. Na religião como nas ideias novas fora sempre uma minoria que iluminara os passos da maioria.”


”Nossa Senhora dos Navegantes” 
é um pequeno conto que lhe segue, também com grande pertinência e desenvoltura narrativa. Um homem senta-se numa ermida agreste, no topo de uma escarpa e vertida sobre o mar, e descobre que não está sozinho. A outra figura presenteia-o com um longo monólogo sobre o que é ser Deus e viver entre os homens desde a criação. Menciona que em todas as vidas, em todas as épocas, foi chacinado, executado, perseguido e silenciado, ou, como nessa mesma, teve de pular um muro para fugir do manicómio. Uma vez mais, tornou-se para mim evidente que Ferreira de Castro separa a religião do mundo interior e espiritual de cada um, porque este Deus – que procura apenas apregoar a verdade, aliviar os homens da sua vileza para com os outros da sua espécie e ajudar os aflitos, despojando estátuas de ouro e entregando-a aos miseráveis – não é aceite pelos humanos.

Grande reflexão. Terminei a leitura absolutamente maravilhada e certa de que Ferreira de Castro foi um dos nossos grandes. Só teve a infelicidade de nascer em Portugal e, por isso, não ter alcançado voos mais altos (apesar de ter algum significado a nível internacional e de até Stefan Zweig o ter elogiado!)… Enfim, não o esqueçamos nós por aqui. Ele pertence-nos e engrandece-nos com a sua obra.

Sinopse: "A Missão Inclui "O Senhor dos Navegantes"França, Segunda Guerra Mundial: o frade Georges Mounier informa o superior da congregação religiosa a que pertence que, ditado por um imperativo de consciência, tomara a iniciativa de suspender a ordem de pintar a palavra Missão no telhado do convento, que permitiria assinalar o edifício pelo ar aos bombardeiros alemães. Porém, tal iniciativa equivaleria igualmente a denunciar o edifício semelhante ao lado, antigo convento de freiras transformado em fábrica que contribuía para o esforço de guerra francês, pondo em risco a vida dos operários e das famílias que viviam nas habitações em torno deste. «As mesmas letras que nos protegerem podem representar uma sentença de morte para os homens que ali trabalham», explica o frade ao superior, desencadeando um aceso debate sobre a decisão mais correcta: a de conservar a neutralidade da Missão ou a de salvando vidas, colocando-se ao serviço de umas das partes do conflito. O desfecho será inesperado. O presente volume inclui ainda a novela O Senhor dos Navegantes, tornando novamente disponível aos leitores portugueses duas grandes obras da literatura nacional. 

Classificação: 5/5*****

#272 HEMINGWAY, Ernest, Paris é Uma Festa

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Sinopse: Em 1921, um jovem Ernest Hemingway chega a Paris decidido a abandonar o jornalismo e a iniciar carreira como escritor. De bolsos vazios e com a cabeça povoada de sonhos, percorre as ruas de uma cidade vibrante nos dias de pós-Primeira Guerra Mundial, senta-se nos seus cafés para escrever, recolhe-se em retiros apaixonados com a sua primeira mulher, Hadley, e partilha aprendizagens e aventuras com algumas das mais fulgurantes figuras do panorama literário da época, como Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald ou a madrinha desta - por si apelidada - «geração perdida», Gertrud Stein. Situada entre a crónica e o romance, Paris é uma Festa é a memória destes anos e a obra mais pessoal e reveladora de Hemingway. Deixada inacabada pelo autor, seria publicada postumamente, em 1964.

Opinião: Esta é a quarta obra que leio de Ernest Hemingway, o controverso Nobel americano. Comecei por “Na Outra Margem, Entre as Árvores”, um livro dos anos 50 que considerei profundamente misógino. De seguida, li “O Velho e o Mar”, e não consegui deslindar-lhe a prometida profundidade. Foi em “O Adeus às Armas” que o autor me conquistou por fim, e agora com “Paris é uma Festa” a minha admiração pela obra de Hemingway consolida-se.

Parece-me transversal na obra de Hemingway que o autor fazia questão de escrever de um modo claro – sem demasiado palavreado e, segundo ele diz a determinada altura nesta obra, tem alguma aversão ao adjetivo – e também com muitos diálogos. Os temas são, quase sempre, relacionados com a experiência pessoal do autor. Sabemos que viveu em Cuba, e daí devolve-nos “O Velho e o Mar”. Combateu na Primeira Guerra Mundial e conta-nos a sua experiência em “O Adeus às Armas”. Viveu em Paris nos anos 20, onde se cruzou com inúmeras figuras de relevo no campo das artes, e este livro, meio crónica, meio romance, permite-nos acompanhá-lo na sua rotina de escritor pelas esplanadas de uma das cidades mais inspiradoras do mundo.

Nos anos 20, quando viveu em Paris com a primeira mulher e o filho, Hemingway era apenas um contista. Tinha abdicado do jornalismo para se dedicar apenas à escrita, e lutava por escrever um romance. Engraçado ver um futuro Nobel a debater-se com a escrita de um romance, mas é assim que o autor o descreve. Acompanhamo-lo sentado nos cafés e nas esplanadas da cidade, com o seu caderno e o lápis, a trabalhar no esboço de “O Sol Nasce Sempre”. Com ele cruzam-se James Joyce – a quem admira e vê como uma estrela -, Ezra Pound, T.S. Elliot, Scott Fitzgerald e tantos outros. A riqueza do livro – talvez sobretudo para uma escritora – seja esse vislumbre dos escritores sem fundos, a dormir em quartos alugados e a ansiar por um pagamento de um artigo que escreveram há imenso tempo, ou por um prémio literário que os salve da vida de artistas desgrenhados e desfavorecidos. Por ex., conta-nos que T.S. Elliot era um ótimo poeta que se refugiava sempre no mesmo banco, fizesse chuva ou sol, e que ele próprio e outros tantos uniram-se numa fundação chamada Bel Esprit para o resgatarem daquele banco com fundos comuns. Acontece que T.S. Elliot lá viu o seu trabalho reconhecido e foi premiado com uma boa soma de dinheiro, acabando por sair sozinho do banco.

Mas o livro é valioso por muito mais do que esta janela para a vida de escritores que se consagraram e venceram o teste do tempo (Joyce, que terá cegado no fim da vida, devido a sífilis, e Scott Fitzgerald, que bebia demasiado e era um tanto hipocondríaco e inseguro). “Paris é uma Festa” vale muito pelo retrato da Paris que se reconstrói após a Primeira Guerra Mundial, e que floresce por via de artistas como Picasso, Cézanne, Miró e tantos outros, que Hemingway conhece e admira. Nesta Paris do pós-guerra, vemos já as sementes que hão de arrastar a Europa para a Segunda Guerra. Fala-se em inflação, em estropiados, em militares esquecidos após terem perdido um ou mais membros pela pátria.

”Alguns usavam a fita da Croix de Guerre na lapela. Outros, ainda, ostentavam o amarelo e o verde da Médaille Militaire. Eu punha-me a observar a maneira como eles venciam a deficiência dos membros e atentava na qualidade dos seus olhos artificiais e na maior ou menor eficiência com que lhes haviam reconstruído os rostos. (…) Nesse tempo, não tínhamos confiança em ninguém que não estivesse estado na guerra; aliás, não confiávamos totalmente em ninguém, e achávamos que, na verdade, Cendrars poderia bem mostrar-se menos exibicionista quanto à falta do braço.”


Imaginar a Paris dos anos 20 com um cabreiro acompanhado de um cão pastor a tocar uma gaita de foles e a chamar os parisienses à porta de púcaro, caso quisessem leite de cabra, é precioso. A Paris onde se pescava ao longo do Sena também me parece fascinante. Em cem anos, como as coisas mudaram!

Um Hemingway em fim de vida, que não chegou a terminar esta obra nem a vê-la publicada, leva-nos de volta no tempo, e recorda-nos qual a ferramenta essencial para se criar em qualquer ramo artístico: viver.
 

 

Classificação: 4/5*****

#271 LAXNESS, Halldór, Gente Independente

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Opinião: “Gente Indepedente” é um romance épico da autoria do Nobel islandês Halldór Laxness, em que a saga de um homem pode tornar-se a saga de toda uma nação. Ignorava a sua existência até ter dado uma espreitadela à lista de 100 melhores livros de todos os tempos do The Guardian, e chamou-me à atenção entre Eneida e o Velho Testamento.

A Islândia de 1900 é um local inóspito, uma nação em equilíbrio sobre 1000 anos de provações: houve erupções, fomes e guerras, mas a ameaça constante continuam a ser as distâncias, o isolamento e a necessidade de importar do estrangeiro bens essenciais como centeio, trigo, ou mesmo o café que lhes aquece as jornadas de trabalho.

"O que é a alma? Se cortarmos a cabeça a um animal, a alma sai da espinha dorsal a voar e desaparece no céu como uma mosca? (...) Um homem quantas almas tem? Lázaro voltou a morrer numa outra altura? E porque razão as almas se comportam com cortesia perante os altos funcionários do Estado, enquanto molestam os pequenos agricultores dos vales?"


À luz dos grandes, o nosso homem independente, Bjartur de Casas de Verão, é apenas um agricultor, um pequeno camponês que vive das ovelhas e da sua obsessão por possuir um pedaço de terra e ser autossuficiente. Porém, na Islândia de 1900, o progresso que vem de além-mar debate-se com as rimas, as sagas e as superstições de um povo que luta diariamente pela sobrevivência, e Bjartur é demasiado obstinado para confiar na modernidade ou nos outros em geral.

"Fenómenos sobrenaturais são sumamente desagradáveis por uma razão: eles abalam o conhecimento do mundo que serve de alicerce à existência humana, e deixam a alma a flutuar no ar, onde ela não pertence."


Bjartur é controverso, por vezes cruel, indecifrável e intransigente. Obriga os filhos a trabalharem a terra desde tenra idade, 16 horas por dia atolados na lama das charnecas, e a destruírem as mãos nas ferramentas agrícolas, tudo em nome de uma independência que apregoa como o mais elevado dos valores: a autêntica dignidade do homem. E é neste contraste entre a dureza das circunstâncias, a aspereza de Bjartur e a miséria generalizada, que a beleza das flores, dos fiordes, dos sonhos, das rimas e das meninas de mãos delicadas e olhos estrábicos se tornam impossivelmente comovedoras. Ainda que a Islândia os massacre, eles lutam e sonham, e nunca se vergam. Limitam-se a aguentar, divididos entre a gula dos capitalistas, a perfídia dos bancos e as promessas dos socialistas. A narrativa avança demorada, Laxness oferece-nos a perspetiva de cada personagem de modo singular, coloca-nos no seu corpo e faz-nos caminhar nos seus sapatos por aquelas estradas que oferecem vislumbres distantes de mar, de montanhas azuis e de geiseres. Acabamos por conhecer o bater do coração e a torrente de pensamentos de cada islandês aqui retratado, sofremos com os seus dilemas e a sua teimosia, e regozijamo-nos com os seus triunfos. Por entre discursos políticos, a ambição dos merceeiros e a qualidade do café, somos brindados com relances do mais belo que existe na natureza humana e no modo como molda e é moldada pelo ambiente.

A Islândia de Bjartur é uma ilha gelada onde as ovelhas e os cães têm as barrigas cheias de lombrigas e ténias, e os dorsos mordidos por pulgas, mas ainda assim há tanta beleza no espírito indomável do homem que tudo suporta e tudo supera…

Podemos considerar que os tempos vergaram Bjartur das Casas de Verão? Podemos acreditar que os fantasmas dos fundadores da Islândia e das bruxas que a povoaram mastigaram o seu sonho de independência e derrubaram o seu casebre de turfa? Podemos considerar que o vale onde ergueu Casas de Verão não lhe era nada, mas um mero meio para atingir a autossuficiência, e que perante as exigências do corpo a paisagem é secundária e até olvidável?

"Ser pobre é exatamente aquele peculiar estado do homem de não poder desfrutar das condições excepcionais. Ser um agricultor pobre consiste em nunca poder tirar proveito das vantagens que os políticos oferecem ou prometem, e estar à mercê dos ideais que apenas fazem os ricos mais ricos e os pobres mais pobres."


Não sei se é o livro do século, mas sei que é um livro inesquecível, um livro que me trouxe novo conhecimento sobre aquilo de que a nossa espécie é capaz de suportar. Voltarei a ler Laxness, agora com a fé inabalável de estar perante um dos grandes pensadores e artistas do século XX.

Sinopse: Este romance de Laxness, Nobel da Literatura, tem lugar na Islândia, no início do século XX, numa sociedade de servidão e num país com uma natureza inclemente. É a saga de Bjartur, um homem obstinado, inquebrável e inesquecível.
Bjar­tur vive no limiar da auto-suficiência e conta apenas com a sua obstinação e força interior, rejeitando qualquer caridade. Vive num vale com reputação de assombrado, só confia no seu rebanho, no seu cão e no seu cavalo. Se alguém toca o seu coração é Asta, a sua filha, mas tudo muda quando ela o desilude e magoa os seus enraizados princípios de honra…
A determinação de Bjartur e a sua luta pela independência são genuinamente heróicas, assustadoras e chegam a ser cómicas.
Gente independente é uma história épica, ao mesmo tempo trágica e bela. É uma imensa viagem por um mundo onde as almas são levadas até ao precipício e só os mais duros resistem. Um romance imbuído de sentido de humor, de uma crueldade que roça o violento e de uma profunda humanidade. Um romance que continua a comover gerações de leitores.

 

Classificação: 5/5*****