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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Títulos Maravilhosos

Parte I

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Há livros com títulos que ficam para sempre, e que reconhecemos em qualquer lugar, e há gerações. Por exemplo E Tudo o Vento Levou, O Monte dos Vendavais ou Orgulho e Preconceito. Fora estes, há aqueles títulos sonantes, perfeitos, com significados que emocionam e ajudam o leitor a interiorizar a obra. Destaco alguns bem como os seus significados abaixo.

 

A Leste do Paraíso, John Steinbeck

Publicado em 1952, Steinbeck (Nobel) considerava este romance o seu Magnum opus. Podem consultar a minha opinião do livro aqui. O título é sonante, é lindíssimo tanto em português como no original (East of Eden), mesmo porque estes títulos com significados relacionados com a narrativa não podem ser manipulados pelas traduções. Na sua essência, este é um romance sobre irmãos e sobre pais e filhos. A família é o eixo central deste romance maravilhoso, e a relação entre irmãos é explorada em duas gerações distintas. Por esse motivo, e porque a trama central é focada num irmão “angelical” e noutro por vezes “diabólico”, a seguinte citação, a partir da qual o título foi escolhido, faz todo o sentido. A Leste do Paraíso é o lugar para onde vão os renegados.

"Então Caim deixou a presença do Senhor, e viveu na terra de Nod, a Leste do Paraíso." (Génesis 4:9)

 

O Som e a Fúria, William Faulkner

Além de ser um dos meus livros favoritos, é também um daqueles cujo título me intrigou desde o início. Não demorei muito para descobrir que estas palavras, no seu original, são extraídas de McBeth, do dramaturgo inglês W. Shakespeare. Diz o mestre que “a vida não passa de uma sombra que caminha (…) uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.” À luz da problemática família Compson, num sul ficcionado pelo autor à beira da Grande Depressão, a alienação dos tempos, a mudança de costumes, leva a que facilmente não se encontre significado, ou sentido, para a existência. O título acrescenta-lhe substância, aconchegou-me e fascinou-me, enquanto leitora. Deixo-vos a minha opinião aqui.

 

Não Matem a Cotovia (ou Mataram a Cotovia), Harper Lee

Mataram a Cotovia é um romance do Velho Sul publicado por Harper Lee em 1960, vencedor do Pulitzer Prize. A essência da trama foca-se no preconceito no seio de uma pequena localidade do Alabama, na segregação racial e social, e nos membros ostracizados pela sociedade. Enternece, na medida em que a narrativa nos chega através das experiências de Scout, uma menina aventureira e sagaz. A dada altura, ao adquirir uma fisga para os filhos – Scout e Jem -, o advogado Atticus Finch adverte-os para que não devem usá-la para ferir ou matar as cotovias. Explica-lhes que são aves que não prejudicam em nada as culturas e os jardins, e que se limitam a honrarem-nos com o seu canto. É, portanto, um crime matar uma (inocente) cotovia. Este título interliga-se ao longo da história com o tratamento que a sociedade aplica aos indesejáveis, ainda que indefesos. Podem ver a minha review aqui.

 

À Espera no Centeio, J. D. Salinger

Este romance de Salinger, publicado em 1951 nos Estados Unidos, conta alguns dias na vida do adolescente Holden Caulfield. Trata-se de um livro de culto, de uma obra que teve um grande impacto na juventude do pós-II Guerra Mundial, e plena de simbolismos que a identificam na cultura popular (como o boné de basebol vermelho em que a personagem se passeia por Nova Iorque a refletir nos seus dilemas). Mas e o título? Salinger explica-o do melhor modo. O nosso Holden está perdido no mundo. Não se acha muito bom, mas também não se acha tão mau quanto outros que vão cruzando o seu caminho com o seu. Ele diz que o que gostava de fazer era poder resgatar os inocentes que jogam tranquilos num campo de centeio. Gostava de se deixar ficar à espera no centeio, até que uma das crianças se aproximasse do abismo para ele a salvar. Sendo que, creio, esse abismo significa tudo o que há de mau, de perigoso, de castrador para a inocência desses jovens, no mundo. É ou não é lindo? Review aqui.

 

Húmus, Raul Brandão

Este é dos títulos de que gosto mais da literatura portuguesa. Li a sinopse pelo título, comprei o livro porque o título me levou à sinopse. Ainda não li porque acho que vou precisar de estar no momento ideal para absorver o que de melhor há nele. Mas sabemos que o húmus é a matéria que se compõe de vegetação morta e que cobre o chão. Há algo de sombrio, mas também de belo (e de orgânico) neste título. Além de que é um título curto, e eu adoro quando uma palavra capta, por si só, a essência de um livro.

 

As Intermitências da Morte, José Saramago

Este pequeno, mas complexo, livro de José Saramago (Nobel) publicado em 2005, começa com a seguinte afirmação: “No dia seguinte ninguém morreu.”. Pois é, a morte está de greve no território em que a história tem lugar (creio que o país em questão não é nomeado), e Saramago consegue o impensável: que a população deseje morrer. Nesta narrativa de pouco mais de 200 páginas, Saramago procura desmistificar o desejo de eternidade (ou pelo menos o de imortalidade), e aventura-se na compreensão da necessidade de finitude – não só para os doentes e moribundos, mas para a humanidade em geral. Apaixonante! Review aqui.

 

Capitães da Areia, Jorge Amado

Quem já leu ou ouviu falar dos capitães da areia, sabe que os mesmos são um bando de crianças desfavorecidas de Salvador da Bahia, que corriam livres pelas ruas e os areais da cidade nos anos 30. Espertos, inventivos, trapaceiros, tantas vezes enganam e manipulam para obter alimento e outros benefícios. Numa cidade profundamente pobre, com um fosso gigantesco entre ricos e pobres, estas crianças são obrigadas a sobreviver e a formarem uma irmandade que os proteja do risco de institucionalização (onde os horrores ultrapassavam os da fome e do teto de estrelas sob as suas cabeças). Fora tudo isso, são também protetores e enternecedores uns para com os outros, sobretudo quando surge uma menina no seio destes rapazes, e eles se veem perante o mundo desconhecido da feminilidade. A minha opinião aqui.