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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#245 FREUD, Sigmund, Cinco Conferências sobre Psicanálise

Opinião: 

 


Freud foi um revolucionário que se atreveu a estudar o comportamento humano, a traçar a história do indivíduo, a escutá-lo, a seguir as suas neuroses até à origem. Para isso, teve de se despir de muitos dos preconceitos e ideias pré-concebidas da época. Teve de sujar-se e de chocar. Por muito que os seus métodos pouco tivessem de científico, são a pedra base para o entendimento de traumas e neuroses, e como curá-las. Interessou-me sobretudo a sua asserção de como a sociedade, a civilidade, reprimem impulsos básicos do Homem enquanto animal, e de como isso conduz à doença de espírito e às chamadas "perversões".

“Antes ainda da puberdade, assiste-se ao recalcamento enérgico de certos instintos, e forças psíquicas como a vergonha, a repugância ou a moral estabelecem-se como guardiões destes recalcamentos. Com a puberdade, a maré cheia do apetite sexual será repreada pelas chamadas formações reativas ou de resistência, que canalização o seu curso para as vias ditas normais e que impedirão o reavivamento dos instintos recalcados. São sobretudo os impulsos coprófilos da infância, ou seja, o prazer associado aos excrementos, que estarão mais expostos ao recalcamento.”

De salientar que tinha um domínio admirável da palavra, e que foi-me possível seguir os seus raciocínios com facilidade.

Falamos de repressão (recalcamento) de ideias que as convenções nos obrigam a rejeitar - como a jovem que se alegra pela morte da irmã num primeiro momento, considerando que agora poderá casar-se com o cunhado - também se silenciam os impulsos sexuais das crianças (admitindo-se que o comportamento sexual se inicia muito cedo, com a exploração do próprio corpo e na relação com a mãe, o pai e o mundo ao redor. Freud aborda a interpretação dos sonhos como momentos em que o subconsciente se mostra vulnerável e projecta receios, traumas, para o universo consciente. Fala de hipnose e de como por vezes essa técnica de Breuer auxilia, e outras atrapalha, o tratamento. Lança luz a algumas questões fundamentais do comportamento - como os gestos falhados, os esquecimentos momentâneos, a relação entre pais e filhos.

Levou-me à conclusão de que o cérebro (para este neurologista) era algo que ele estudava com paixão e o qual encarava em toda a sua complexidade, tendo devotado a sua vida a procurar compreendê-lo. Volvidos 120 anos, ainda não sabemos tudo sobre narcisismo, psicopatia, depressão, ou mesmo sobre a pertinência ou possível utilidade dos sonhos para a consciência. Continua tudo envolto em mistérios que nem a ciência e a medicina conseguem explicar ou curar por completo. E a maravilha desses mistérios começou a ser desvendada por Freud.

Sinopse: A 27 de agosto de 1909, Freud desembarca nos Estados Unidos. É a primeira e última vez que pisa solo americano. Tem 53 anos e viaja a bordo do George Washington na companhia do seu estimado Ferenzci e de Jung, de quem se afastaria mais tarde. A Clark University, para onde se dirigiam e que celebrava o seu 20.º aniversário, situa-se na Nova Inglaterra, em Worcester.

As cinco conferências decorrem em setembro, em alemão e de improviso.

No auditório de médicos, psicólogos e professores, em geral céticos em relação à psicanálise, destacam-se o antropólogo Boas, Adolf Meyer, que se tornará um importante psiquiatra, o neurologista Putnam, o experimentalista Titchener e William James, que se encontrava doente, mas que queria «ver como era Freud».