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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#244 HAMSUN, Knut, Victoria

Sinopse: «Hamsun é o mais notável escritor norueguês desde Ibsen.» (Times Literary Supplement)


«Victoria», livro de rara beleza narrativa, é uma das obras mais representativas de Knut Hamsun. O enredo marca o regresso do autor de «Pan» – escrito quatro anos antes – ao tema do trágico desencontro amoroso, que tem na descrição da beleza taciturna e melancólica da natureza nórdica o seu espelho.
Johannes, filho de um modesto moleiro, que em jovem sonha trabalhar numa fábrica de fósforos para ter os dedos sempre sujos de enxofre e assim não ter de apertar a mão a ninguém, ama Victoria, jovem de família aristocrata mas com poucos meios financeiros. Contudo, o deles será um amor impossível, pois Victoria vê-se obrigada a casar com o rival Otto para salvar a família da bancarrota.
Em adulto, Johannes tornar-se-á num poeta, que se orgulha de conhecer os nomes das árvores e dos pássaros. Continuará a jurar amor eterno a Victoria, mas o sentimento que nutre por ela é fruto da obsessão, do orgulho e da distância, precipitando um trágico final quando chamado a cumprir-se. 


Opinião: 

"Alguém pergunta o que é o amor. Diremos: «O amor é um vento que murmura nas roseiras e depois abranda. Mas por vezes é também um selo inviolável, que dura toda a vida. Deus criou diversas espécies de amor: as que duram e as que perecem.»"

A vida de Knut Hamsun, que escreveu este Victoria em 1898, parece-me ter o cunho da existência dos grandes artistas. Uma solidão, um isolamento que começaram cedo e que nem a convivência com familiares ou casamentos (invariavelmente falhados) conseguem mitigar. Parece-me fascinante ler sobre este norueguês que passou por tantas paragens, que operou tantos ofícios, e que abominava o meio urbano. Também notável a seu respeito, é o facto de ter publicado um livro com 90 anos, com tal eloquência que deitou por terra o parecer psiquiátrico a que havia sido submetido, e que o declarava senil.


A proximidade à natureza - que nos concede recantos para reflexão, simplicidade e alimento, está muito patente nesta sua obra. Por toda a narrativa vêm denominadas flores, árvores, cursos de água, e são parte da história. Engraçado como a memória se imprime em locais específicos, ou em objectos. E como o amor surge destruidor, quando contrariado. Corrói o interior das personagens, afasta-as de si mesmas e dos seus valores iniciais, bem como da sua própria natureza.



Como a sinopse indica, trata-se de uma história de desencontro amoroso. O moleiro e Victoria, filha do castelão, impedidos de viver o seu amor juvenil um pelo outro, vão andar pela vida sob o peso dessa amargura. As suas vivências e escolhas acabam por ter sempre impacto no outro, pois que não conseguem existir dissociados. Talvez seja essa a faceta nefasta do amor: por muito que a pessoa deva viver a sua vida, e até se alegre que a outra também esteja a viver a sua, tantas vezes as alegrias de um são a morte de espírito do outro.



Achei uma obra de uma simplicidade desconcertante: Bela, angustiante, melancólica. Jamais associaria o seu autor a alguém que conduziu elétricos em Chicago ou que defendia o intelecto e os intentos de Hitler. Tempos complexos, essas décadas do século XX.

Classificação: 4****/*