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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#126 APOLLINAIRE, Guillaume, As Onze Mil Vergas


Opinião: Classificado de romance “erótico”pontuado de humor, obscenidade e até erudição, é referenciado como “umaobra-prima”, por Pablo Picasso. De referir que Apollinaire e Picasso deveriamser grandes amigos, posto que juntos levaram a cabo o roubo da Mona Lisa, em1911. Apollinaire foi preso pelo suposto roubo. Estes pormenores da vida doautor são interessantes, mas nada nos prepara para o livro que intitulou de “Asonze mil vergas”.
Pormuito dúbio que o título seja, diria com grande segurança que estas “vergas”não são as óbvias, mas sim as que aplicam “vergastadas”.
Olivro, de 1907, narra a história do príncipe romeno Mony Vibescu que, porquestões pessoais, deixa Bucareste e viaja para Paris. A carta de despedida quedirige ao vice-cônsul com quem se encontrava amiúde ajuda a explicar esseensejo por sair da Roménia:
Meucaro Bandi:
Estoufarto de ser enrabado por ti. Estou farto das mulheres de Bucareste (…)
Poresta altura estamos na página 13 do livro e já nos deparámos com duas orgias. Éassim que se desenrola o livro, todos os acontecimentos entre uma orgia e outrasão meros preparativos para a próxima. Sexo em grupo é o que mais vemos nolivro. As personagens só servem para se enrolar e trazer um amigo para opróximo encontro amoroso. Temos Cuculina e Alexina Come-Tudo, parisienses quese hão-de cruzar com as personagens noutras paragens. As duas amantes admitem opríncipe e o seu fiel escudeiro, Corno de Boi, na sua alcova. Há a prostitutajaponesa, a polaca esposa de um general, a pobre alemã que está a amamentar, ocossaco, e tantos outros personagens que surgem em rol para se envolveremsexualmente com Mony e Corno de Boi, alguns deles vendo-se assassinados nofinal do interlúdio amoroso.
Asinopse do livro avisa os mais púdicos e os de estômago sensível: há orgias,masoquismo, sadismo, escatofilia (fui ver ao google o que era) e necrofilia. Esqueceram-se de mencionarzoofilia e pedofilia, mas num livro destes, em que as chibatadas se seguem naalvura das nádegas das francesas, e em que se continua a investir sobre o corpoda mulher já expirada, não era necessário mencionar-se que todos os limitesseriam ultrapassados.
Duvidoque, em toda a minha vida, venha a ler algo mais nojento do que isto. Mas a verdadeé que, depois de tanta perversão e envolvimento doentio, por se tornarrepetitivo, o livro deixa de chocar. Nem quando um pai viola o filho, ou outropai viola a filha de quatro meses, nem quando a mãe amamenta o príncipe em vezda filha… Já tudo esperamos e já nada nos contorce o estômago, após asreviravoltas iniciais. Não fui ter com o livro, não é de todo o meu género. Caiu-me no colo e dei-lhe uma oportunidade, mesmo porque era pequeno e tão deslocado de tudo que tive de lê-lo.
Porvezes me perguntei se o livro era uma obra humorística, porque tanto absurdo sópoderia resvalar para uma de duas coisas: humor ou tremenda incapacidade deexpressão. Sucede que, nas últimas trinta páginas, o autor me surpreendeu umpouco. Não devido a mais cenas de promiscuidade, mas sim devido ao modo como ahistória (atenção: só é "história" no contexto deste livro, tão estéril) se alinha. As onze mil vergas abatem-se sobre o lombo do príncipe, quenão cumpriu a promessa de fornicar vinte vezes seguidas. Depois de tantacrueldade, é Vibescu a vítima do sadismo de outrem, e o exército Japonês, emplena guerra com os Russos, põe assim fim a um livro que, de tão nojento eagoniante, me soltou francas risadas.
Nãoé para qualquer um, e não é livro em que jamais volte a pegar. Porém, nunca meconseguirei esquecer deste pedaço de loucura literária.

Sinopse: Guillaume Apollinaire foi um dos maiores poetasmodernos de língua francesa, um homem erudito e culto, presente em todos osmovimentos de vanguarda até à morte, em Paris, no ano de 1918. O presente livrocirculou durante muitos anos em edições clandestinas, mas acabou por encontrarum lugar, de corpo inteiro, na obra de Apollinaire. Ninguém deixará dereconhecer o seu espírito num livro tão monstruoso como ternamente erótico.
As Onze Mil Vergas conta a história de um príncipe romeno, Mony Vibescu, noseu périplo de depravação em busca de excitação e aventura que o leva deBucareste a Paris, passando por vários países da Europa e culminando na China.As suas peregrinações são pontuadas por cenas notavelmente cruas, em queApollinaire explora, com um humor invulgar, as facetas mais obscenas dasexualidade, do sadismo ao masoquismo, do vampirismo ao safismo, dagerontofilia à pederastia, do onanismo à sexualidade em grupo. Leitor de Sade,Restif de la Bretonne e Andrea de Nerciat, Apollinaire constrói com as suasOnze Mil Vergas a resposta do modernismo aos velhos mestres do erotismo,expandindo e detonando os limites da obscenidade muito para além do imaginável.
Classificação: 1,8/5