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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#114 SHREVE, Anita, A Vida Secreta de Stella Bain

Sinopse: Neste envolvente drama, Anita Shreve tece umaapaixonante história acerca do amor e da memória, tendo como pano de fundo umaguerra que devastou milhões de civis e deixou sequelas em todos aqueles quetestemunharam os seus horrores. Um romance histórico inesquecível, sério esurpreendente. França, 1916. Uma mulher acorda na cama de um hospital decampanha em Marne, sem qualquer recordação do seu passado ou de como alichegara. Identificou-se como Stella, mas sente que esse não é o seu verdadeironome. De repente, uma palavra incita-a a agir e Stella parte para Londres, ondeespera encontrar algumas respostas e abrir as portas para o seu passado. «Aviagem interior de Stella permite-nos vislumbrar os horrores da Grande Guerra,o dealbar da psicoterapia e a primeira vaga do movimento feminista... Ahistória de uma mulher improvável e misteriosa.» Los Angeles Times «Contido eelegante, este romance de Anita Shreve revela um conhecimento profundo dasdificuldades que as mulheres sentem quando tentam viver a vida segundo os seuspróprios desejos.» People «Fascinante... Um romance afetuoso com um tema sérioe complexo.» Washington Post «Um livro terno e desapiedado.» Publishers Weekly«Comovente, enternecedor, por vezes tão intenso e vivo que quase conseguimossentir o medo.» Boston Globe «Um livro que vale mesmo a pena ler!» 

Opinião: Não há um livro da Anita Shreve que não mecative. Tudo porque a escritora tem um jeito despretensioso de apresentar assituações, e é exímia em descrever as cicatrizes que ficam na alma após umtrauma.
No início do livro estava intrigada quanto a Stella Bain, adesmemoriada. Mas a autora, que é do género que permite ao leitor formar a suaprópria ideia das personagens, não a descreveu fisicamente, nem sequer a pôs aponderar sobre a sua idade. Na verdade, a primeira parte do livro é um poucosuperficial e apressada, sobretudo tendo em conta que a segunda parte, a partirda “revelação”, é tão mais detalhada. Talvez esse vazio seja um relance dointerior da mente de Stella, desprovida de quaisquer recordações.
A autora, contudo, não quis focar-se demasiado na situação da enfermeirade guerra sem memória, que acaba por ser o chamariz para o livro se nosbasearmos apenas na sinopse. Neste âmbito é abordada a terapêutica de Freud, emvoga tanto em Inglaterra como na América, e a doente é temporariamente tratadapor psicoterapia. O Doutor August Bridge surge nesse contexto, como estudiosode Freud e interessado nos mistérios da Psiquiatria. O mundo ultrapassavahorrores jamais vistos e, regressados das trincheiras e da frente, as capitaiseuropeias estavam assoladas de soldados amputados, desfigurados, desmembrados.
Acabei por entender esta opção de criar uma primeira parte para o livromais leve, posto que esse estado é apenas um reflexo do papel de Stella nocenário de guerra que a Europa atravessa, e um eco da sua própria mente confusae amnésica. É um aparte entre o livro anterior, “Tudo o que Ele Sempre Quis”,que devo ter lido há mais de cinco anos, e o desenrolar da história de EtnaBliss. Só entendi a ligação entre os dois livros quando Stella recupera a memória.
A segunda parte do livro, que parece ter aborrecido outros leitores, é aque mais me prendeu. A ligação à sua vida passada, que eu conhecia doutrolivro, os seus antigos amores, erros por corrigir e culpas formadas… Há,contudo, fortes ligações a outros livros da autora. É normal, já li váriasobras suas e começo a detectar aquilo que a move e intriga. O mundo académico ea Medicina estão sempre muito presentes, bem como a forte amizade entremulheres e homens, mesmo em épocas em que isso não era bem visto. Por fim, assequências sobre um julgamento em tribunal pela guarda de um menor recordou-memuito o “A Praia do Destino”, que é o meu livro favorito dela.
Acho a Anita Shreve uma criativa de grande humanidade, sensível edetentora de uma classe que eu jamais terei. Em parte porque a admiro nela,é-lhe natural e intrínseca. Em parte porque a sua crueza elegante foge umbocadinho ao caos que eu gosto de explorar.
Ainda assim, cada nova obra sua é, para mim, um grande momento deleitura.

Classificação: 4****/*