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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

#15 Voando Sobre Um Ninho de Cucos


Título oficial: One Flew Over the Cuckoo's Nest @ 1975Realizador: Milos FormanActores principais: Jack Nickolson, Louise Fletcher, Danny de VitoClassificação IMDb: 8,8Minha classificação: 8,0
"Um Estranho no Ninho", como lhe chamam os brasileiros, é um filme de 1975 baseado noromance de Ken Kesey de 1962. Jack Nickolson apresenta-se como o irreverente"Mac" McMurphy que, acusado de violar uma rapariga de 15 anos, élevado a um hospital psiquiátrico para se avaliar se é doente mental ou umcriminoso comum. 
Apesar de ser um filme comovente, lindíssimo,com muitos assuntos prementes para reflectirmos, o mais importante éentender-se os deslocados. Os tímidos, os dementes, os iludidos, osdesajustados. Uma série de loucos senta-se a jogar às cartas diariamente naenfermaria de um hospital psiquiátrico gerido com punho de ferro pelaenfermeira Mildred Ratched. Uma mulher rígida que aplica técnicas violentas eopressoras para impor a rotina e impedir os doentes de saírem debaixo da suaasa. Mac assume-se de imediato como o chefe dos doentes, tornando-se umadversário à altura de Mildred. O que se segue é um combate entre as técnicasda enfermeira para vergar espíritos e o espírito aparentemente indomável deMac.
Para mim, portuguesa, a grande surpresa foidescobrir (que vergonha só o ter sabido agora) que a horrenda técnica depsiquiatria apelidada de “lobotomia”, que transformou tantos homens emvegetais, foi inventada pelo Português Egaz Moniz, o famoso das faculdades edas ruas, que ganhou o Prémio Nobel da Medicina em 1949 por essa barbaridade.
Tenciono ler mais sobre o assunto, quem sabe atédesbravar a complexidade da Psiquiatria num novo romance. Mas por enquantobasta-me ficar de queixo caído por saber que o pai de Rosemary Kennedy (e J. K.Kennedy) submeteu a filha rebelde, de 23 anos, a esta técnica, condenando-a auma incapacidade permanente para o resto da sua vida.

#115 ROSA, Carina, As Gotas de um Beijo



Sinopse: Desde que o seu casamento de vinte anos terminou, David é um homem solitário. É no stand de automóveis que dirige que afoga as memórias do passado e a solidão do presente. Afastado de casa e dos filhos, é obrigado a gerir sozinho as acções e as escolhas que fez ao longo da vida, nas quais Diana, uma amiga de infância que considera irmã, tem um papel fundamental. Diana é o seu porto de abrigo e o seu braço direito, mas foi mais do que isso durante o seu casamento agora destruído.
A afinidade entre David e Diana, também divorciada, é quebrada pela chegada de uma mulher ruiva que revela muito pouco de si própria. Laura é atraente e misteriosa, e a atracção entre si e David é mútua e intensa. Será ela a mulher doce e simples que aparenta ser? Entre a joalharia e o stand, passa a alternar-se a languidez dos dias com a turbulência das noites e David acaba por se embrenhar num mundo perigoso de segredos, mentiras e traições. Dividido entre duas mulheres, estará David a encaminhar-se para o fundo do abismo?

Opinião: Na realidade, 3,5. Já devo esta review à Carina háimenso tempo, e finalmente reencontrei o livro dela, peguei no touro peloscornos e acabei-o. É importante ter em conta o enorme potencial destaescritora, bem como a sensibilidade que imprime às suas personagens. O pontoforte da Carina são, sem sombra de dúvida, os diálogos. Coisas que escritorescomo a MRP constroem banais, o TR sem alma nem sal e o PCF cria sem qualquernexo, só pelo absurdo de cuspir palavras para o papel. A Carina dá muito ritmoao livro com os diálogos, são realistas e fluidos e por isso merece os meusparabéns. Não é fácil para um escritor expandir-se, dar vida aoutras almas. E a Carina cria personagens sólidas e credíveis, embora sempreatormentadas por dilemas interiores e demasiado rápidas a dar-se. Gostaria devê-las mais concisas, mais resistentes à mudança e não tão permeáveis aossentimentos. Quanto ao enredo, está bem conseguido, entendo odilema da personagem principal, o David, mas não gostei de duas coisas: 1) nãoconsegui simpatizar com ele de modo algum, nem jamais me apaixonaria por ele.2) a confusão de sentimentos que nutre quanto à Laura e à Diana é poucodignificante para elas e peca na construção dele como personagem, porque tantadivisão causa-lhe fraqueza de carácter. Achei que o timming do livro também émuito apressado, pelo que temos (leitor) pouco tempo para interiorizar asemoções das personagens. De resto, quanto à Carina, só vejo espaço paracrescer e, a seu devido tempo (e o próximo passo está dado) tem todas ascapacidades para se tornar a nova escritora favorita de muitos portugueses. Semfalar que é uma Nicholas Sparks de qualidade nacional!

Classificação: 3***

#114 SHREVE, Anita, A Vida Secreta de Stella Bain

Sinopse: Neste envolvente drama, Anita Shreve tece umaapaixonante história acerca do amor e da memória, tendo como pano de fundo umaguerra que devastou milhões de civis e deixou sequelas em todos aqueles quetestemunharam os seus horrores. Um romance histórico inesquecível, sério esurpreendente. França, 1916. Uma mulher acorda na cama de um hospital decampanha em Marne, sem qualquer recordação do seu passado ou de como alichegara. Identificou-se como Stella, mas sente que esse não é o seu verdadeironome. De repente, uma palavra incita-a a agir e Stella parte para Londres, ondeespera encontrar algumas respostas e abrir as portas para o seu passado. «Aviagem interior de Stella permite-nos vislumbrar os horrores da Grande Guerra,o dealbar da psicoterapia e a primeira vaga do movimento feminista... Ahistória de uma mulher improvável e misteriosa.» Los Angeles Times «Contido eelegante, este romance de Anita Shreve revela um conhecimento profundo dasdificuldades que as mulheres sentem quando tentam viver a vida segundo os seuspróprios desejos.» People «Fascinante... Um romance afetuoso com um tema sérioe complexo.» Washington Post «Um livro terno e desapiedado.» Publishers Weekly«Comovente, enternecedor, por vezes tão intenso e vivo que quase conseguimossentir o medo.» Boston Globe «Um livro que vale mesmo a pena ler!» 

Opinião: Não há um livro da Anita Shreve que não mecative. Tudo porque a escritora tem um jeito despretensioso de apresentar assituações, e é exímia em descrever as cicatrizes que ficam na alma após umtrauma.
No início do livro estava intrigada quanto a Stella Bain, adesmemoriada. Mas a autora, que é do género que permite ao leitor formar a suaprópria ideia das personagens, não a descreveu fisicamente, nem sequer a pôs aponderar sobre a sua idade. Na verdade, a primeira parte do livro é um poucosuperficial e apressada, sobretudo tendo em conta que a segunda parte, a partirda “revelação”, é tão mais detalhada. Talvez esse vazio seja um relance dointerior da mente de Stella, desprovida de quaisquer recordações.
A autora, contudo, não quis focar-se demasiado na situação da enfermeirade guerra sem memória, que acaba por ser o chamariz para o livro se nosbasearmos apenas na sinopse. Neste âmbito é abordada a terapêutica de Freud, emvoga tanto em Inglaterra como na América, e a doente é temporariamente tratadapor psicoterapia. O Doutor August Bridge surge nesse contexto, como estudiosode Freud e interessado nos mistérios da Psiquiatria. O mundo ultrapassavahorrores jamais vistos e, regressados das trincheiras e da frente, as capitaiseuropeias estavam assoladas de soldados amputados, desfigurados, desmembrados.
Acabei por entender esta opção de criar uma primeira parte para o livromais leve, posto que esse estado é apenas um reflexo do papel de Stella nocenário de guerra que a Europa atravessa, e um eco da sua própria mente confusae amnésica. É um aparte entre o livro anterior, “Tudo o que Ele Sempre Quis”,que devo ter lido há mais de cinco anos, e o desenrolar da história de EtnaBliss. Só entendi a ligação entre os dois livros quando Stella recupera a memória.
A segunda parte do livro, que parece ter aborrecido outros leitores, é aque mais me prendeu. A ligação à sua vida passada, que eu conhecia doutrolivro, os seus antigos amores, erros por corrigir e culpas formadas… Há,contudo, fortes ligações a outros livros da autora. É normal, já li váriasobras suas e começo a detectar aquilo que a move e intriga. O mundo académico ea Medicina estão sempre muito presentes, bem como a forte amizade entremulheres e homens, mesmo em épocas em que isso não era bem visto. Por fim, assequências sobre um julgamento em tribunal pela guarda de um menor recordou-memuito o “A Praia do Destino”, que é o meu livro favorito dela.
Acho a Anita Shreve uma criativa de grande humanidade, sensível edetentora de uma classe que eu jamais terei. Em parte porque a admiro nela,é-lhe natural e intrínseca. Em parte porque a sua crueza elegante foge umbocadinho ao caos que eu gosto de explorar.
Ainda assim, cada nova obra sua é, para mim, um grande momento deleitura.

Classificação: 4****/*

Filmes em Lista de Espera

Her (2013)
Comecei a vê-lo, acho que sou capaz de compreender essa concepção "abstracta" do amor. Impulsionado pelo fim do seu casamento e pela nova ligação possibilitade entre computador e utilizador, espero encontrar um Joaquin Phoenix introspectivo e comovente.

Sleepless in Seattle (1993)
 
Só porque celebra uma Meg Ryan pré-plásticas e promete ser uma das boas comédias românticas, de banda sonora inesquecível, dos noventas.

Nine 1/2 weeks (1986)
Porque amores perturbados e pessoas perturbadas acabam sempre por me interessar.

Labor Day (2013)
Tem a Kate Winslet e tem um amor improvável. 

Adore (2013)
Inspirado num romance da Nobel Doris Lessing, vejamos se o livro conseguiu mergulhar nas subcamadas do coração humano.

The Spectacular Now (2013)
Porque gosto da capa. E porque me pergunto o que tem esta rapariga de tão especial para andar na berra, porque ainda não a vi em acção...

The Shinning (1980)
Aclamado filme com o bom e velho Jack Nickolson. Só me assusta o facto de o realizador ser o Kubrick.

The Railway Man (2013)
Histórias de amor e guerra? Com o charmoso do Firth em grande plano? Mi piace.

Paris, Texas (1984)
Mulheres muito bonitas e muito perturbadas... e a inspiração para a Paris Texas dos Gotan Project...deal!

 Shame (2011)
Homens muito bonitos e muito perturbados também me interessam.

 Letters from Iwo Jima (2006)
Porque mesmo os americanos admitem que a versão da II Guerra Mundial na voz do Clint Eastwood comoveu mais do ponto de vista japonês.

One Flew Over The Cuckoo's Nest (1975)
A minha mãe diz que é um bom filme. And she knows movies...

#14 La Belle et la Bête

Título oficial: La Belle et la Bête @ 2014
Realizador: Chistophe Gans
Actores principais: Lea Seydoux, Vincent Cassel
Classificação IMDb: 6,4
Minha classificação: 7,8

O conto - ou fábula? - "A Bela e o Monstro" foi para mim, desde sempre, a mais querida das histórias de encantar. Uma mulher cuja bondade transparece nos traços, a imagem da delicadeza (de gestos e de sentimentos), submetida a um monstro e, contra todas as probabilidades, a amá-lo. A ser capaz de amá-lo, porque a capacidade de amar não é coisa que assista a todos.
Este filme, embora com as suas falhas - por exemplo, acho que a relação entre os protagonistas foi demasiado precipitada, e que se perdeu demasiado tempo na sequência do confronto final - é estéticamente lindo. Seja a protagonista, seja o castelo encantado, onde nos é quase possível cheirar as rosas e provar as pêras, sejam os seus vestidos, jóias e toda a magia envolvente.
Isto é uma pequena nota a respeito do filme mais belo - jogando com a palavra beleza visual que vi nos últimos tempos. Todo o filme é um lugar acolhedor para se estar.
Para amantes de grandes amores, do conto intemporal imortalizado por Jeanne Marie Leprince de Beaumont
A França encantada da minha infância...


#113 McCullough, Colleen, Pássaros Feridos

Fora-me dito que “Pássaros Feridos” era um livro sobre oamor proibido entre uma nova zelandesa e um padre. Colocá-lo assim é simplistademais. É um livro que põe em perspectiva as vidas, os papéis, as obrigações,as dores de alma e os desafios que cada um está fadado a enfrentar.
A história começa com uma família deimigrantes irlandeses com várias crianças a passar dificuldades na NovaZelândia, no início do séc. XX. É no seio dessa família que a única menina,Maggie, começa a procurar o seu lugar no mundo. Nesta etapa da história surgemos primeiros pontos fortes da mesma; a relação entre Fee e Patsy, os pais deMaggie, e a doçura premente entre Maggie e o irmão mais velho, Frank.
Julguei que tudo se passaria aí,nessa pequena cabana na Nova Zelândia, onde Maggie ajudaria sempre a mãe com asmil e uma tarefas do lar e os seus muitos irmãos cresceriam para se tornartosquiadores como o pai. Mas então os ventos chamam-nos para a Austrália e,desembarcados em Sydney, seguem para Drogheda, uma próspera fazenda de criaçãode carneiros australiana. Como herdeiros dessa fazenda, os Cleary começam assima adaptação a uma vida com menos desafios, mas numa terra de grande beleza e degrandes durezas também. Ora enfrentam dilúvios, ora sobrevivem a dez anos deseca. Ora a vida animal tenta atacá-los – e inclusive arrebata-lhes vidas – ou desabamtempestades com cargas eléctricas tão fortes que pegam fogo a hectares deterra.
É neste cenário de adaptação que oPadre Ralph de Bricassart conhece Maggie e a sua família, e se propõe a ajudá-loscom a adaptação e a proteger Maggie, posto que a mãe parece vê-la como algo deincómodo e os irmãos se vão tornando demasiado duros para olharem pelas suasnecessidades. Ralph antevê na pequena Maggie o universo de brandura egenerosidade em que ela mais tarde se tornará e assim, nas circunstâncias mais improváveis, nasce um amor condenado àgrandiosidade da tragédia.
O livro atravessa quase todo oséculo XX. Do que a II Guerra Mundial significou para a Austrália, comopossessão britânica, às muitas revoluções que tomaram a Europa e a mudaram,tornando-a naquilo que é hoje. Os tempos também mudam; da avó Fee que hesita emabandonar os corpetes e em envergar um vestido leve para os quarenta e cincograus à sombra da Austrália, à neta Justine que é actriz em Londres e adopta airreverência da recente “mini-saia”. Mas não é somente este o ponto forte dolivro – o retrato político-social do mundo ao longo de todo um século. O maissignificativo do livro são, sem dúvida, as relações interpessoais.
Cada uma das personagens principais,de personalidades marcantes – Maggie,Fee, Ralph, a tia Mary, Frank, Luke, Justine, Dane, Rainer, etc., etc., etc., temalgo de tão rico em si que nos rouba o pio. Todos eles passam por verdadeirosmomentos de assombro em que se dão conta de quem são realmente, do quepretendem, dos erros que cometeram, do que mais valorizam e que estão em viasde perder. É um grande livro sobre perseguir-se os objectivos pessoais edeixarmo-nos cegar por eles. É um livro sobre cometer-se erros, assumir-secompromissos, choques de interesses, abdicação. O destino, ali tão marcante,tudo o que vai a voltar, a vida a exigir pagamento para as benesses.
Já praticamente no final, o novoritmo protagonizado por três gerações de mulheres Cleary comoveu-me bastante.Fee, Maggie e Justine são muito diferentes entre si. A primeira abraçou o seudestino sem estrebuchar, a segunda lutou pelo que queria, mas a força doscostumes subjugou-a, e a terceira vive a vida ao sabor das suas vontades.
Confesso que a Justine, embora tenhaaparecido para aí a 75% do livro, se tornou facilmente na minha personagemfavorita. Possuia a firmeza de carácter que faltava à Maggie, embora a própria Maggie não seja nenhum capacho, é um bocadinho mais conformada. Não me admira que causasse estranheza, posto que diz o que lhe passapela cabeça, choca quem a rodeia e não procura agradar ninguém. Comoveu-me asua força – em parte apenas fachada -, o amor incondicional que dedicava aoirmão e, mais tarde, as dificuldades que encontrou para dar-se ao homem da suavida. Por medo de perder, de ser magoada, de querer e não poder ter. O amor éfraqueza, e Justine sabe-o como ninguém.
Todas as personagens sofrem grandesdesenvolvimentos, grandes mudanças proporcionadas pelos tempos, as interacçõese a idade. Foi agradável ver esses envelhecimentos, o tempo parece ser, elemesmo, uma das personagens habilmente arquitectadas pela autora.
Como ponto fraco, que me impede de dar um cinco sólido, aponto duas mortes de personagens importantíssimas para a trama, que se sucedem de um modo pouco convincente e que se dão, também, sem motivo aparente. São um pouco rebuscadas, desenquadradas e inesperadas, embora tenham, claro, uma importância maior para o desenrolar do enredo.
É uma saga maravilhosa sobre umafamília de trabalhadores, de mulheres de época sem a presunção de serem mais doque é esperado delas, mas também sobre o quebrar dos grilhões face aospreconceitos do passado. Um retrato de vidas, melancólico e, por vezes,doloroso. O livro lembra-me muito a filosofia budista, que defende que viver é sofrer. A obra compara os actoshumanos aos do pássaro que pressiona o próprio peito contra um espinho e que,enquanto sofre, solta um trinado de beleza incomparável. Apenas que, no casodos humanos, sabemos o que sucede ao procurarmos o espinho, e ainda assimfazemo-lo. "Pássaros Feridos" traz o conforto da inevitabilidade dos erros.
Vai directamente para a minha gavetados favoritos.
Classificação: 5*****

#13 The Normal Heart

 Título oficial: The Normal Heart @ 2014
Realizador: RyanMurphy
Actores principais: Mark Ruffalo, Taylor Kitsch, Matt Bomer, Julia Roberts
Classificação IMDb: 8,3
Minhaclassificação: 9,0

Apesarde não ter andado com grande apetite para filmes, vi uma frase deste filme queme deu vontade de ir descobrir o trailer. “Man do not naturally not love. Theylearn not to”. Depois do Dallas Buyers Club, que adorei, surge um filme emtorno do mesmo tema. Porém, aqui temos a perspectiva da comunidade nova-iorquinogay. Pessoas com acesso a altoscargos, papéis na imprensa e na saúde, que a partir de 1981 parecem começar a morrerde uma epidemia desconhecida. Um novo tipo de cancro, suspeita-se. Um cancroque apenas ataca os homossexuais. Os pacientes são submetidos a quimioterapia etratamentos experimentais mal financiados, apenas para morrerem desse maldesconhecido. Suspeitam de uma conspiração do governo para acabar com oshomossexuais. O histerismo social eleva-se; é punição pelo pecado dapromiscuidade.

Nestecontexto, temos o jornalista/escritor Ned Weeks (Mark Ruffalo), judeu, aconhecer o amor pela primeira vez. Foi um homossexual reprimido e, apesar daboa relação com o irmão, nem este parece considera-lo um igual. Como inconformistaque é, Ned alia-se a uma médica igualmente inconformada (Julia Roberts) queestá desesperada por financiamento para pesquisas e que vê os seus pacientes amorrerem sistematicamente sem que o governo atribua a devida importância aoassunto.
Demencionar que apenas em 1986 o Presidente Reagan finalmente menciona a doença peranteo país, permitindo que saia do estigma das minorias sociais.
Ofilme demonstra, sobretudo, o esforço levado a cabo e a união da comunidade gay, que se vê vítima de ainda maisdiscriminação perante o desconhecido.
Ofilme tem uma realização e um argumento muito realistas, muito terra-a-terra.Nada de dramatismo exagerado, por vezes o conformismo com que se aceita oinevitável é mais tocante que uma cena de lágrimas e gritos. É uma obra degrande sensibilidade, que mostra o amor homossexual com mestria, de um modo quetoca o coração e que não ridiculariza as diferenças nem cai em estereótipos. Ofilme está tão bem conseguido que, não fossem as repetidas menções aos direitosdas minorias, ao facto de os gaysserem igualmente cidadãos americanos, não teria atribuído qualquer importância àorientação sexual do casal principal. Ruffalo e Bomer trabalhavam comeficiência nas suas personagens – a actuação do primeiro é assombrosa, e osegundo completa-o. A química entre os dois é de louvar.
Maso que fica no final do filme é o sabor a amargo na boca. A dúvida se uns sãomais cidadãos do que outros, se há, ainda agora, um modo correcto e um modoerrado de viver, se merecemos todos o mesmo tipo de respeito e protecção porparte do Estado. Se o Estado, basicamente, nos leva a todos a sério.
NedWeeks compara a situação que atravessam ao passado recente do seu povo; todo omundo suspeitava do que estava a suceder aos judeus e, ainda assim, ninguém feznada. Todos lavaram daí as mãos até que o assunto “Hitler” lhes tocou também.Acrescenta que um dos grandes responsáveis pelo final da II Guerra Mundial (GreenBeret) foi um homossexual que acabou por se suicidar mais tarde devido à suaorientação sexual.
Éum filme sobre aceitar-se a si próprio, aceitar os outros como iguais, lutarpelos nossos direitos e abraçar causas, ainda que pareçam não nos tocardirectamente. É também um trabalho sobre frustração e esforço caído no vazio,porque nem sempre as coisas recebem a importância que merecem nem na altura devida.
Atéao final de 1986 houve 24 559 mortes relatadas” devido ao HIV. Só aí RonaldReagan finalmente se pronunciou acerca dessa epidemia. Desde aquilo que sepensa ter sido o surgimento da doença, em 1981, morreram, até hoje e emestimativa, cerca de 36 milhões de pessoas com SIDA. Isto equivale a cerca deseis vezes o holocausto.
Alertatambém para que não devemos eludir-nos: o vírus não está extinto, a cura nãofoi encontrada, e lá porque há controlo e mesmo um certo abafo da circunstância,ninguém está livre de vê-lo bater-lhe à porta.

Comovi-mee chorei com o filme. Compadeci-me da causa. Aprendi dados que consideroimportantes para melhor compreender a sociedade actual e o mundo em geral. Étudo o que peço da sétima arte.

«It’s because you are too good to be true, because I’ve been waiting for a lover like you for my whole life and you haven’t showed up until now, and I am scared as shit that I might do something to fuck it up. Am I crazy?»