#112 ZUSAK, Markus, A Rapariga que Roubava Livros
Sinopse: Molching, um pequeno subúrbio de Munique, durante a Segunda Guerra Mundial. Na Rua Himmel as pessoas vivem sob o peso da suástica e dos bombardeamentos cada vez mais frequentes, mas não deixaram de sonhar. A Morte é a narradora omnipresente e omnisciente e através do seu olhar intemporal, é-nos contada a história da pequena Liesel e dos seus pais adoptivos, Hans, o pintor acordeonista, e Rosa, a mulher com cara de cartão amarrotado, do pequeno Rudy, assim como de outros moradores da Rua Himmel, e também a história da existência ainda mais precária de Max, o pugilista judeu, que um dia veio esconder-se na cave da família Hubermann. Um livro sobre uma época em que as palavras eram desmedidamente importantes no seu poder de destruir ou de salvar. Um livro luminoso e leve como um poema, que se lê com deslumbramento e emoção.
Opinião: A Rapariga que Roubava Livros é umahistória inesquecível. Cada personagem é mais memorável do que a outra, mas oponto mais precioso de todos, onde o autor prima, é nas relações interpessoais.
A Morte é a narradora, o que causaarrepios ocasionais ao leitor, mas também nos transmite uma sensação depequenez que vem a calhar em certas épocas da história. Quando nos consideramosmaiores e super-poderosos, vem a morte dizer que nos observa de cima. Que nosacolhe no último momento, sem se impressionar com os homens e com as suasvilezas.
A Morte, que em 1943 diz ter estadoem toda a parte, graças ao Fürer,narra-nos aqui a história de Liesel Meminger e das vezes em que as duas secruzaram. A pequena órfã da rua Himmel (Céu), nos subúrbios de Munique, foraacolhida pelo acordeonista Hans Hubberman e a sua mulher com a estrutura de umroupeiro, Rosa Hubberman.
Tantas vezes lemos sobre a II GuerraMundial, sempre da perspectiva dos aliados, das vítimas arrastadas para umconflito acicatado pela ambição doentia de Hitler, ou da perspectiva dos judeusestilhaçados pela sua loucura. Aqui temos um romance que nos mostra os alemãesperante o Fürer, pálidos, trémulos,receosos, de boca amordaçada e membros agrilhoados. Nada de se rebelarem, nadade terem pena, nada de se permitirem ser humanos, nada de desobedecer. Lieselnão entende bem o que se passa, só sabe que há fogueiras de livros proibidos,fome, pessoas a serem arrebatadas aos seus lares e aprisionadas na farda daAlemanha nazi. Fanáticos – também os há -, que só atendem os clientes se esteserguerem a mão e bramirem Heil Hitler.
Esta é uma história de coraçõeshumanos que são obrigados a silenciarem-se pela loucura geral.É uma visão única da guerra, pela perspectiva alemã, que nos mostra relances decaridade e gentileza. Cada interveniente na vida de Liesel é enternecedor,pessoas vibrantes e cheias de personalidade; o papá, de cigarro ao canto doslábios e olhos cor de prata, a mamã a chamar nomes a toda a gente – especialmente aos que ama – o seu amigoRudy, de cabelos cor de limão, a pedir-lhe um beijo. Max e os seus desenhos, asua saudade e a sua angústia face à família judaica que lhe foi arrebatada. Asnoites no abrigo antiaéreo e uma menção ao dia de Julho em que a OperaçãoGomorrah arrasou 45 mil vidas em Hamburgo, onde eu própria estive. Tanta dor, tanta perda... e tão real. Eu diria até, tão recente. E a Morte, como testemunha-mor, aexpor os eventos de forma inesquecível, arrebatadora, única. Um livro sem igual, que quebrou omeu jejum literário de 2014. Vejam também o filme, o casting é perfeito.
Classificação: 5*****