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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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Em torno das minhas leituras!

#110 KLEYPAS, Lisa, Paixão Ardente

Opinião: [Ai, os nomes destes livros, Cristo!] Já tinha lido olivro em inglês e tinha a ideia de que era um pouco “sem sal”, sobretudo norescaldo do “Devil in Winter” (recuso-me a chamar-lhe a mixórdia que lhechamaram em português), que é o meu favorito da série.
Este livro encerra a série “Wallflowers”, dando protagonismo à última dasencalhadas, Daisy Bowman.
Debruçando-me sobre um quarto livro, seria de esperar que fosse o menosimaginativo, mas é o mais romântico de todos, também porque a Daisy éa mais sensível e sonhadora, e por isso marca pontos para quem está nesseestado de espírito.
A Daisy é uma criaturinha diferente, pouco dada a questões práticas, enisso identifico-me com ela. Só um homem com uma certa sensibilidade poderiaentendê-la, e por isso Matthew Swift é o homem perfeito para ela. Com umpassado um tanto obscuro, sempre lhe teve uma afeição bem disfarçada que sóagora conhece a luz. É um livro sobre duas pessoas destinadas a estarem juntas,e gostei do conflito inicial gerado pela insistência do pai de Daisy em casá-lacom Matthew, e também da forma como a protagonista é fiel ao seu coração e nãotenta contrariar os seus sentimentos. No caso de Matthew, embora receie que opassado regresse para o assombrar, decide arriscar e tentar ser feliz. Umlutador e uma jovem de alma pura, a encerrarem com chave de ouro esta série.
Romântico, bem-disposto, foi uma leitura que conseguiu arrancar-me emoções,área em que a Kleypas nunca falha. 

Sinopse: Depois de trêstemporadas em Londres em busca de pretendente, o pai de Daisy Bowman informa-ade que deverá arranjar marido. E depressa. E se Daisy não conseguir desencantarum candidato adequado, terá de se casar com um homem da escolha do pai: o cruele emproado Matthew Swift. Daisy está aterrorizada, mas uma Bowman jamais admitea derrota. E, por isso, a jovem decide fazer os possíveis para arranjar outropretendente que não Matthew. Mas Daisy não contava com o charme inesperado deSwift… nem com a sensualidade escaldante que depressa brota entre ambos,acabando por descobrir que, apesar de segredos e intrigas que o destino teimaem impor, o homem que sempre odiou poderá ser aquele com que sempre sonhou.

Classificação: 4****/*

#12 La Grande Bellezza | A Grande Decadência

 Título oficial: La Grande Bellezza @ 2013
Realizador: Paolo Sorrentino
Actores principais: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli
Classificação IMDb: 7,8
Minha classificação: 9,0
Prémiações: Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro


A Grande Beleza é um filmearrojado, desconcertante, que nos obriga a olhar para nós próprios e para anossa posição face à sociedade. É também uma análise dura a essa mesmasociedade, num tom ora indulgente ora acusatório. Sendo Gep Gambardella (ToniServillo) o espectador, somos simultaneamente a sua consciência e o seu juiz.Isto porque Gep tem visão, tem consciência, tem uma voz que vai narrando a suapercepção do que o rodeia ao longo do filme.
Se mesmo Flaubert falhou aoescrever um livro sobre o nada…” Sendo esta, sem dúvida, a frase maissignificativa do filme. Gep está rodeado de um nada absoluto – um nada deespírito e de beleza que o impede de criar um novo livro.
Gep, jornalista, escreveu umlivro “O Aparelho Humano” há quarenta anos, o que lhe valeu um lugar na sociedade entre umaclasse alta em decadência e uma nobreza falida. Desde então é um frequentadorde festas, um amante de álcool, um praticante de sexo casual. As pessoascirculam pela sua vida sem deixar marca, tudo numa superficialidade que, porvezes, roça a hostilidade. Ninguém está limpo e todos conhecem os podres unsdos outros. Pessoas que teriam tudo para ser felizes – dinheiro, estatuto -,mas a quem falta nobreza de alma e força de espírito. Ainda assim, os diálogossão ilustrativos da falência dos valores e, em geral, cativantes eespirituosos. Cada linha do guião é algo de maior, susceptível a interpretação.


Gep está perdido, tem estadoperdido há quarenta anos. Um assumido misantropo que pertence à classe que tanto o repugna. Não há nada de sagrado na sua vida excepto, talvez, ogrande amor que perdeu na juventude. Ele próprio tem noção da mediocridade dasua “obra”, da nulidade da sua pessoa como escritor e jornalista. Nunca se sabeporque Elisa o deixou; a vida é mesmo assim, um grande e incómodo ponto deinterrogação. Mas consta que o amou a vida inteira, e essa descoberta causaincredibilidade e lança-o numa reflexão pessoal. Caminha então, só enostálgico, pelas ruas da Cidade Eterna. Terá Elisa amado o homem que se deitaquando os outros se levantam? Ou terá amado a camada interior dele, a queencarcerou ao lançar-se numa vida de excessos na capital?


Roma surge fotogénica, melancólica,também ela as ruínas graciosas de um Império caído. No interior dos seuspalácios arruinados consomem-se drogas, engatam-se pessoas cujos sonhos foramdestruídos ou se projectam prenhes de frivolidade, dão-se festas, convive-se comanões, esquizofrénicos, adúlteros, viciados na noite, toxicodependentes, strippers,noviças, até surge uma “Santa” mais para o final da trama. Um apontamentocomovente, por entre tanta loucura, o momento de nos reencontrarmos com afirmeza das crenças e da vontade de se fazer a diferença e de se honrar a obraque é o mundo. É a peça-chave do filme; alguém que vive de convicções por entrepessoas que são nada e que se arrastam vazias, sobre os tacões, de divertimentoem divertimento.
Um filme de grande beleza quelida com o feio, com o absurdo. Uma voz que tem consciência do ar que respira eque, ainda assim, escolhe cirandar por esse meio, julgando-se, quem sabe,superior. Um homem que não tem nada; nem filhos, nem um grande amor, nem amigossinceros, nem inspiração para retomar o sucesso literário, nem tempo. Dando-seconta do que perdeu, do que lhe escorreu por entre os dedos, Gep continua asorrir, continua a ser quem sabe ser; dança e bebe no seu palazzo com vista para o Coliseu.
O absurdo da sociedade moderna,assim exposto, causa um certo incómodo. Um homem que vê, que sente – ele própriogarante ter escolhido o caminho da sensibilidade – e que nunca praticou a suaprópria escolha, é decerto um homem desencontrado do seu destino.


Pássaros Feridos I

Eu já esperava bastante deste livro, mastem sido uma surpresa avassaladora. A Colleen McCullough entrou para o meu mapade estrelas literárias e já tenho as ideias fixas em O Toque de Midas.Vejamos se consigo chegar-lhe.
Pássaros Feridos tem mais de 600 páginas eé contemplado com um título que lhe assenta como uma luva. Todas as personagenstem a graciosidade de um tentilhão e carrega um peso bem maior. Alguns segredosjá foram sendo revelados, e outros estão ainda por vir.
Não querendo fazer um resumo do livro,porque isto de partilhar opiniões não é um encarnar de “Os Apontamentos doSenhor Américo”, vou destacar algumas das maravilhas contidas no livro.
A Austrália, como personagem maior. Porfim entendo o que significa a expressão “os australianos estão demasiadoocupados em evitar que a natureza os mate para…”. Um calor abrasador (queascende a 48º no inverno - sim, é hemisfério sul) e uma época de secas em que ofrio é tão intenso que custa lavarem-se, despirem-se, deitarem-se numa cama delençóis perceptivelmente molhados. As cobras, as aranhas, os javalis, as emas,tantas outras exoticidades que transformam a paisagem australiana, descrita nolivro, num paraíso de actividade. As cheias, as secas, a difícil adaptação aoclima e às distâncias impossivelmente longas.
As personagens são outro tesouro do livro.A Maggie é fácil de ler, embora também tenha um carácter vincado, mas sãosobretudo o seu irmão Frank, a tia Mary Carson e o Ralph (o padre por quem éapaixonada) que me cativam a cada virar de página.
Um livro que espelha bemo peso das obrigações, da vergonha, das escolhas. Rebate as invejas, asvaidades, a fé e a descrença com uma mão tão hábil que é certo que esta seráuma daquelas obras que perdurarão comigo para sempre.