Actores principais: Jamie Foxx, ChristophWaltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington
Classificação IMDb: 8,6
Minha classificação: 9,5
*O melhor filme que vi nos últimos tempos*
Nunca fui grande fã de Tarantino... isto é,nunca senti apelo algum aos filmes dele. Resumia-os a isto: sangue, violênciagratuita, bad guys looking cool. O primeiro filme dele que vi foi o InglouriousBasterds, e o segundo é agora o Django. Gostei do Inglourious Basterds e pu-lona linha do Snatch - Porcos e Diamantes (@2000 Guy Ritchie), onde é tudomaluco, tudo aos tiros, mas com humor e alguma mestria.
Não fiquei com grande vontade de voltar aver o Inglourious Basterds, mas fiquei com vontade de voltar a ver o trabalhodo Tarantino. Assim sendo sentei-me no cinema nesta quarta-feira passada comexpectativas elevadas quanto ao filme. Já esperava o sangue e algum humor e,ainda assim, excedeu todas as minhas expectativas. A direcção - planos, cortes,ângulos, abordagens - é perfeita. A ironia é perfeita. Ri-me várias vezes, tiveo coração nas mãos outras tantas.
A história é original e interessante,abordando a escravatura sem apelar a lágrimas humanitárias, mas recordando-nosda sua selvageria. Pretos a discriminarem pretos, pretos a mandarem “discretamente”nos seus amos brancos, pretos a matarem brancos e a receber por isso. Tarantinofoi audaz, poderia ter causado uma onda de controvérsias - e o filme écontroverso. Mas considerei-o sublime.
A banda sonora dirigida por Ennio Morricone(Cinema Paraíso, A Missão) e com participações de Rick Ross de Anthony Hamiltone Elayna Boynton dirige as emoções e ajuda a descodificar os momentos em tela. Algumascitações são inesquecívels:
“Gentleman, you had my curiosity but nowyou have my attention!” Ficará para a posterioridade.
Ri-me, chorei, caiu-me o queixo, estremeci,tive o coração nas mãos e exultei com a "awesomeness” do filme. Com odevido sobreaviso quanto à violência e aos momentos em que o Tarantino deixa oespectador frustrado e desconcertado, aconselho todos a verem esta películaque, no fim, se revela bastante gratificante.
Deixo-vos com esta magnífica “Freedom”, quepersonifica tão bem toda a acção e a essência do filme.
Curiosidade: O Leonardo DiCaprio cortourealmente a mão numa das cenas, continuando a representar sem exigir um cortena cena. O sangue foi-lhe escorrendo pela mão e criou um efeito perturbador quecai maravilhosamente à personagem. A dado momento esfrega a mão na cara deKerry Washington, espalhando o sangue no seu rosto para dar ênfase às suasameaças. Pareceu-me um momento de excelência na representação, em que ambosderam o melhor de si de improviso e conquistaram mais uns pontinhos para aobra-prima que é o filme.
Actores principais: Daniel Day-Lewis, SallyField, Joseph Gordon-Levitt, Tommy Lee Jones Classificação IMDb: 7,9 Minha classificação: 6
Sinopse: Conforme a Guerra de Secessão decorre, o Presidente da Américaluta continuamente, inclusive contra os homens da sua própria facção, arespeito da 13ª Emenda que conferiria a liberdade aos escravos.
Opinião: Meus queridos eu sou absolutamente doida pela Guerra da Secessão.Na minha opinião é o período mais importante da História Americana e carregamuitas repercussões consigo. Para quem não sabe, trata-se de um conflito decariz civil decorrido entre 1861 e 1865 entre os Estados da América mais aNorte, a "União", e os Estados Confederados a Sul, a"Confederação". A guerra despoletou porque o Sul, ruralizado, cujosistema económico assentava totalmente na produção de algodão suportada pelotrabalho escravo, pretendia desligar-se do Norte industrializado, baseado noproteccionismo económico e anti esclavagista (este ponto é controverso).Criando uma Confederação independente dos Estados a Norte, causou uma fricçãoque, já com Abraham Lincoln no poder, se estendeu em combates sangrentos durantequatro longos anos.
O meu filme favorito de sempre é o E Tudo o Vento Levou. Para quem pensaque é a história de amor de uma rapariga bonita e de mau feitio e um cretinoarrogante, fique a saber que é a História do Sul, onde os valores aristocratase o liberalismo económico imperava. A arrogância do Sul elevada a um poema,apesar de todos os erros humanitários... A Margaret Mitchell, com o seumaravilhoso romance, criticou e exaltou uma "nação" à parte darestante América. Os negros são bem tratados, mas não são livres. A economia doSul, embora liberalista, irá colapsar porque está dependente do preço doalgodão. O que se vê no maravilhoso filme do David O. Selznick e do Victor Flemingde 1939 é a queda de um modo de vida,impulsionada pela guerra. O Norte pretende absorvê-los, por muito que não oscompreenda nem os valorize, e o Sul, orgulhoso, rebela-se. Durante a guerraambas as facções sobrem atrozmente as baixas e os horrores do conflito. Muitosangue é derramado e, na perspectiva do Sul, a estratégia do Norte paraangariar mais braços para a sua causa e sufocar de vez a sua economia é libertaros escravos. Deste modo perderiam os braços dos negros que combatiam(obrigados) pelo Sul e, quando a guerra terminasse, não teriam mão de obra paralevar a produção algodoeira a bom porto.De facto, há uma reflexão sobre o facto de os negros não estarem, sequer,preparados para a alforria. Não têm outra estrutura social que não pertencer auma casa, trabalhar a sua terra, dormir nas camas providenciadas pelos amos ecuidar dos seus filhos. Livres tornam-se velhacos, vingativos (como écompreensível), causam mortes, abusam de mulheres, estabelecem-se emacampamentos e embebedam-se nos botequins. Eu faria o mesmo depois de trêsséculos de escravatura, mas torna-se também compreensível a perspectiva do Sul,que não conhece outro modo de sustentabilidade.
Vendo o filme do Spielberg, aliás nomeado para os Óscares, adormeci naprimeira parte. I did, pela primeiravez no cinema. O filme começa com diálogos (francamente forçados) que expõem - tell - as estratégias da União e osreceios dos civis, das esposas, dos filhos. Lincoln surge com um sorrisobenevolente e postura exausta. Penso que o Daniel Day-Lewis conseguiu recriar aaura em torno deste Presidente, até porque é bem mais jovem do que Lincoln eramas, por vezes, a caracterização pareceu-me um pouco caricata. A moda não era muitoamiga da estética à época e surgem um pouco exageradas aquelas patilhas,difícil é fazer a personagem parecer credível. Creio que a representação doDay-Lewis é irrepreensível, mas o envolvimento tornou o filme, para mim, umbocado teatral. Bom bocado dessa primeira parte (antes de adormecer) foramsequências de homens a disparar leis e a discutir o papel estratégico da 13ªEmenda (a que libertaria os escravos) para o fim da guerra, que é tudo o que seambiciona.
Pareceu-me, a dado momento, que a 13ª Emenda era algo de abstracto, umaferramenta mais política do que humanitária. Aliás, isto resume o livro. É bemmais político do que humanitário, e era o lado humanitário que eu procurava nofilme - se tivesse alguma expectativano filme, que aliás não tinha.
Todo o filme é muito sóbrio, muito formal, tirando uma piadinha ou outra,bem como a personagem do Tommy Lee Jones, que quando actua rouba a cena, teriadormido ao longo de toda a segunda parte também.
Os cortes de cenas causam quase anticlímaxes, eu procurava, sendo oSpielberg, alguma arte intrínseca, maspareceu tudo muito técnico, muito sóbrio, muito frio.
A banda sonora, que poderia ter ajudado a salvar o filme - John Williams!Por amor de Deus (Memoirs of a Geisha)- é monótona, ajudou a embalar-me. Não há um clímax, uma composição que fiquena memória... e logo eu, sempre tão atenta à soundtrack.
Enfim... 6*/10* e só porque é a Guerra de Secessão.
Quase oiço a ScarlettO'Hara a dizer "Tonight I wouldn't mind dancing with Abe Lincolnhimself!".