Sinopse:Em meados do século XVI o rei D. João III oferece a seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante indiano que há dois anos se encontra em Belém, vindo da Índia. Do facto histórico que foi essa oferta não abundam os testemunhos. Mas há alguns. Com base nesses escassos elementos, e sobretudo com uma poderosa imaginação de ficcionista que já nos deu obras-primas como Memorial do Convento ou O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago coloca agora nas mãos dos leitores esta obra excepcional que é A Viagem do Elefante. Neste livro, escrito em condições de saúde muito precárias não sabemos o que mais admirar - o estilo pessoal do autor exercido ao nível das suas melhores obras; uma combinação de personagens reais e inventadas que nos faz viver simultaneamente na realidade e na ficção; um olhar sobre a humanidade em que a ironia e o sarcasmo, marcas da lucidez implacável do autor, se combinam com a compaixão solidária com que o autor observa as fraquezas humanas. Escrita dez anos após a atribuição do Prémio Nobel, A Viagem do Elefante mostra-nos um Saramago em todo o seu esplendor literário.
Opinião: O que esperar de uma obra de um escritor premiado com um Nobel? Já tive algumas experiências com vencedores/indiciados para Pulitzers, Nobels, Booker Prizes, e nem sempre foram agradáveis. Abomino o surrealismo de Murakami. Derrapei no caos de Gabriel García Marquez e ganhei asco à “A Valsa Esquecida” da Anne Enright - uma vez mais, porquê “A Valsa Esquecida” e não, como dizem os franceses do Jeunet, “Yupi-tralala”? Mas o Saramago é diferente, não por ser português, não por ser um velhinho de aspecto afectuoso, mas porque o considero um génio. Um génio com uma escrita tão complicada que eu, que gosto de pensar em mim como dispondo de alguma inteligência, dificilmente acompanho. Já analisaram o surrealismo das suas reflexões? Cegueira branca. A Península Ibérica à deriva da Europa. A Morte de férias. E depois temos esta Viagem do Elefante.
Do Saramago li as entrelinhas da Jangada de Pedra, desistindo a meio e admirando o génio que arquitectou as ideias. Li pouco mais de um terço do Ensaio Sobre a Cegueira e desisti, porque tanta excelência e tanto conteúdo cansam. Fiquei a 30 páginas do final do Memorial do Convento, porque foi como correr a meia-maratona chegar ali. E decidi pegar n’A Viagem do Elefante e fazer dele a primeira obra que leio, de fio a pavio, do Nobel português.
É preciso explicar que esta minha predilecção por esta obra, entre tantas que prometem qualidade, se deve ao delicioso documentário - José y Pilar. No documentário, Saramago corre o mundo a promover os seus livros, com a maravilhosa - e arguta - Pilar del Rio ao lado. E está a escrever A Viagem do Elefante. Sofre um enfarte (?) e é internado. Lamenta, receia, não ser capaz de terminar a Viagem do Elefante. Mas, como ele próprio escolheu para citação de partida, Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam. E o elefante Salomão ou, a dado momento, Solimão, lá vai atravessando a Europa com as suas quatro toneladas. O segundo motivo que me sintonizou para este livro foi a citação: o elefante caga, pois caga. E gravou-se-me de tal modo que a oiço sempre na voz hesitante de Saramago.
A leitura é difícil. É-me sempre difícil ler Saramago, como se o autor atirasse pedras para o caminho do leitor, a fim de aferir quanto queremos lê-lo, quanto estamos dispostos a dar de nós para fazer essa viagem que há, regra geral, num livro qualquer. Mas eu consegui ler os Maias à segunda investida, e o Saramago, desta, não me venceria.
Como ponto alto elejo a amizade cornaca-elefante. O elefante parece compreendê-lo conforme lhe sussurra ao ouvido por muito que Saramago nos recorde, aqui e ali, que o mesmo não passa de um animal. É ternurenta esta relação assim como a de simpatias e antipatias que o elefante vai revelando. Surgem padres e diálogo religioso, como já é habitual, e surge também a história de um Portugal grandioso, ainda a colher os frutos da Expansão Marítima. Estamos regidos por D. João III, veio a inquisição e na Europa prepara-se a contra-reforma em Trento. Tudo isto é mencionado pela voz de um padre Genovês que roga um milagre ao cornaca Subhro, apelando ao muito que a Igreja Católica beneficiaria dum. Por entre interesseiros, milagres de encomenda, insensibilidades para com o elefante e o tratador, discriminação para com um indiano que acredita em deuses-elefante, um jogo hierárquico complexo e uma fogueira de vaidades, Salomão agita as estradas passo a passo, ao caminhar, gravando a ferros a sua passagem pela literatura portuguesa. Inesquecível, daqui por diante, a existência de um elefante de nome Salomão.
A frase "O elefante caga, pois caga", nunca surge no livro.
Houve partes que me pareceram por demais familiares, como se esta obra de Saramago existisse em todas as coisas.
Sinopse:Hannah, Sarah e Camilla partilharam uma infância mágica e feliz no Quénia. Anos depois, as três jovens mulheres regressam às terras altas da África Oriental e àquele que é agora um país independente. Hannah luta para preservar a sua memória na fazenda Langani, alvo de uma série de ataques violentos que ameaçam a sua segurança e casamento. Sarah está a estudar o comportamento dos elefantes numa zona perigosa devido à acção de caçadores furtivos, refugiando-se no trabalho para superar a morte do seu amor de infância. Camilla, um ícone mundial da moda, abandona a sua carreira em Londres e regressa ao Quénia por amor a um carismático caçador e guia de safáris. Mas um segredo paira sobre elas. Com a ajuda de um ambicioso jornalista indiano, elas vão desvendar a verdade por detrás da morte do noivo de Sarah e dos constantes ataques à fazenda e às suas vidas. As paixões e provações por que passam estas inesquecíveis heroínas, unidas uma vez mais pela amizade e pelo amor ao país das suas infâncias, fazem de Um Fogo Eterno um romance épico e magnífico.
Opinião:Opinião: Conheci a Camilla, aSarah e a Hannah em Irmãs de Sangue,um livro que adquiri em 2010 (se a memória não me falha), porque a sinopsecontinha uma promessa de África e porque era apaixonada por livros grandes.Digo “era” porque o tempo para livros grandes, ultimamente, não tem abundado. Aprova disso é a hora em que escrevo esta crítica – ou, aliás, partilha deopinião. Na altura, deixei o livro a sessenta páginas do fim. Aconteceu algoque me magoou de tal modo que tive de pôr o livro de lado. Não conseguiadigerir a intensidade dos acontecimentos. Neste ano, ou seja, dois anos depois,lancei-me a essas últimas sessenta páginas quando me dei conta de que setratava de uma trilogia. Mesmo sem me recordar dos nomes das personagens àprimeira e de todos os acontecimentos, chorei baba e ranho. Dois anos depois econtactando apenas com sessenta páginas.
Bom, o Um Fogo Eterno arrancou-me o mesmo. Tive de disfarçar as lágrimas.Só agora me dei conta de que chove, porque eu cheguei agora mesmo de Naibori.África está resplandecente mas, infelizmente, quente demais. Confusa demais. Violentademais. A acção tem lugar entre 1966, momento pouco depois do término do volumeI, e 1970. Até, sensivelmente, à página 250 não senti grande entusiasmo pelaobra, fora África, claro. Fora os elefantes, as hienas e os crocodilos. Além domais havia muitas desgraças a suceder desde o primeiro livro e, até aqui,injustificadas. Muita violência gratuita que, a partir da página 300 começa aresolver-se de um modo arrebatador. Lia 100, 160 páginas por dia, tão absortaque estava nesta obra sem igual. Todas as personagens são multifacetadas. AHannah está impossível neste volume, a tentar manter a família à tona enquantoo logde e Langani são constantementeatacados. O Lars é o marido ideal, firme e brusco quando é necessário. ACamilla continua demasiado silenciosa e independente, pouco dada a explicações.A história dela com o Anthony, o guia de safaris, arrasta-se interminavelmenteporque o tipo é um mulherengo de primeira, por muito que a ame. Simultaneamentea relação está bem retratada porque existem, de facto, muitas ligações dessanatureza a suceder na vida real. Quanto à Sarah continua a minha favorita. Noprimeiro volume viveu um grande amor com o Piet, irmão da Sarah e sofreu um choquetremendo e uma perda arrasadora. Neste segundo volume surge outro homeminteligente e determinado. Vamos lá ver o que o jornalista indiano conseguedela… Devo confessar que o Rabindrah é das minhas personagens favoritas.
Lamento a lentidão das últimascem páginas, poderia estar tudo resumido a menos. Houve uma cena marcante naprisão que me pôs a pingar lágrimas. O conflito interior foi tão intenso que eusenti-me lá, a tomar decisões pelas personagens. Em geral o livro está muitobem encaixilhado – pena o ritmo por vezes lento – e as personagens são muitohumanas e volúveis. Aprendem-se boas lições, até porque são todos tão francosque as censuras voam.
Não sei bem o que esperar doterceiro, mas também tinha julgado que tudo se tinha encerrado no primeiro eparece-me que gostei ainda mais deste volume.
Li algures que só aqueles quetêm ligação a África sentem realmente interesse por este livro. Não sei se é domeu avô angolano cor de carvão mas… eu senti o chamamento de África, tão fortee oportuno como sempre.
Quis muito uma edição clássica d'O Conde de Monte Cristo, mas eram absurdamente caras. E então esbarrei, na Feira do Livro 2012, com várias caras da literatura minhas conhecidas. Entre elas estava esta a um preço hiper acessível. Acho que é muito século XX e que o Sr. Dumas não está nada favorecido no "desenho". Mas ainda assim não lhe topei uma gralha nas páginas que li (291/880), as folhas são de qualidade (não vão começar a desfazer-se) e quis muito, muito, este clássico. Fica comigo para sempre... ou até que saia uma edição com cara de séc. XIX.
Comprei esta obra do José Luís Peixoto, autor tão familiar dos portugueses, ainda antes de lhe conhecer a amplitude da fama... E não gostei. Ou melhor, descobri em Maio de 2012 na Feira do Livro de Lisboa, quando tive oportunidade de me sentar ao lado do autor, não o entendi. Prometi-lhe uma releitura esclarecedora, um reencontro com a poesia das suas palavras a ver se é desta que lhes gabo o sentido. Entretanto a dedicatória é linda e é um dos orgulhos pessoais da minha "biblioteca".
Esta magnifica arrumação da História do nosso Portugal pelo punho de Rui Ramos tem dois méritos. Primeiro é o crème de la crème dos meus interesses pessoais. Toda a gente sabe que quando começo a falar de História ninguém me cala... e tem dado imenso jeito em pesquisas para romances. Em segundo foi-me oferecido pelos meus amigos, em peso, posto que não é exactamente baratinho. Foi um aniversário feliz em que abracei, fui abraçada e presenteada com o que de melhor combinaria comigo, por aqueles que mais amava...
Custou-me a conseguir reunir os fundos necessários para adquirir esta obra de 832 páginas, mas a Fnac! deu um empurrãozinho: 50% de desconto em clássicos! Graças a isso jamais falarei alguma vez mal da Fnac! É uma edição lindíssima da Relógio d'Água, uma obra de excelência tanto a edição quanto o romance, e prefácio do Nabokov! Promete. Ainda não o li, por isso não sei ao certo o que dizer dele. Mas a cada vez que o relanceio na prateleira suspiro de contentamento...
De longe o meu livro favorito de todos os tempos, soube desde que comecei a persegui-lo a fim de o comprar... mais do que um livro qualquer na prateleira, é meu: onde está dobrado assinala as passagens que me falaram, foi transcrito e citado diversas vezes. Deu corpo ao meu filme favorito e narra a maior e mais complexa história de amor e guerra que li até ao presente. Duvido, seriamente, que algum livro o destrone.
Porquê? Não se deve certamente à qualidade inegável do livro, mesmo porque se coloca no mesmo patamar de tantos outros mas... eu tinha treze ou catorze anos quando o li pela primeira vez. Pareceu-me tudo sofisticado e soberbamente interessante. A avó a ouvir recitais de piano e a declarar que ia fumar até morrer, por muito que isso lhe acelerasse a morte, as cadeiras Chippendale, um professor com uma tartaruga, o universo e a História italianos, nomes quase exóticos - Andrea, Penelope - uma mulher bonita, com a aura das italianas, desrespeitada por um marido infantil e atraente... Mulheres fortes, sedutoras e seguras de si e, ainda assim, sofredoras. A Itália das villas e dos verões, a itália da indústria e da moda... e eu a lê-lo outra vez, e outra, e outra... só pelo prazer de absorver de novo a aura a frescura e doçura da baunilha e do chocolate.
Nº 4 - Chocolate
Li o livro muito antes de ver o filme e - embora com desfechos e enredos ligeiramente diferentes - sou apaixonada por ambos. A Joanne Harris estava num transe inspirador quando o escreveu, certamente. O aroma do chocolate quente, o balcão para onde os aldeões de Lansquenet-sûr-Tannes (numa França até então desconhecida para mim) são misticamente atraídos para os chocolates e os pratinhos e apetrechos Maias da Vianne. E há a sua pequena filha, Anouk, e o seu canguru imaginário. Há os sapatos vermelhos da Vianne no empedrado da aldeia, o desafio que lança a todos ao abrir a La Céleste Praliné - a chocolataria mais badalada de todos os tempos - em plena Quaresma e sob as barbas do Padre Reynaud que, além de velar pelas almas, vela também pelos caminhos e condutas pessoais de cada membro desta pequena comunidade...
Nº 3 - O Monte dos Vendavais
Li-o pela primeira vez este ano e foi um choque literário e emocional. Foi a primeira vez que vi o amor - um amor mútuo e correspondido - ser explorado nesta perspectiva. Por muito que esta obra-prima da Emily Brontë tenha sido publicada em 1847, esta leitora só pousou nele os olhos em 2012. E foi assim que fui absorvida a duzentos por cento pelo amor conturbado - quase doentio, enlouquecedor - da Cathy e do Heathcliff. Tocam-se almas, ultrapassa-se a vida e a morte neste romance arrebatador. O contraste entre o negrume destes actos e a luz dos seus sentimentos, guardados como relíquias e tantas vez silenciado, os diálogos são desconcertantes: Que direito tem uma pessoa que ama outra de a privar do seu amor? De os privar a ambos da luz desse amor? Foi esta a reflexão mais profunda a que este livro me conduziu. Não é a história de um pai enraivecido que separa dois apaixonados: é a história de uma apaixonada demasiado ambiciosa, arrogante e estranha a si mesma para compreender que dele depende toda a sua felicidade, e assim os condena a ambos a penar pelo outro numa separação imposta por si mesma.
Nº 2 - A Praia do Destino
Tinha dezasseis anos quando o comprei. Como nunca nadei em dinheiro, foi a primeira vez que me permiti a extravagância de comprar um livro de um autor que me era estranho. Que é como quem diz: poderia vir a odiar o livro, mas a sinopse venceu-me. Era sobre uma menina de quinze anos envolvida num caso amoroso com um médico casado de quarenta e um. Somem a isto o facto de estarmos em 1889 e compreenderão a amplitude do escândalo. Os cenários criados pela Shreve são únicos: a Olympia é quase palpável, o Haskell é-nos um homem de carne e osso - com cheiro, sólido, real. A praia de Fortune's Rocks estende-se aos nossos pés. O fulgurante círculo de intelectuais que rodeia o pai da Olympia - e do qual John Haskell faz parte - cativa-nos e entretém-nos em igual medida. A tuberculose ataca as fiações desta pequena povoação. Boston é rígida no julgamento. A Olympia ainda está sentada no alpendre de casa e ainda há um convidado que adquiriu a recente modernice que é a máquina fotográfica. A mulher do Haskell ainda tem hálito a hortelã e ele e a Olympia continuam ambos continuam estáticos, congelados e presos na eterna vergonha do momento que dita a dimensão da sua futura desgraça...
Nº 1 - E Tudo o Vento Levou
Creio que a Scarlett O'Hara é, literariamentefalando, tida como uma "anti-heroína". Na compreensão que tenho dessetermo concluo que tal se deve aos muitos erros de carácter que a compõem.Aliás, à falta de carácter que tantas vezes a assiste. Na realidade, sãoprecisamente esses erros que fazem dela a minhaheroína favorita daliteratura, ou não fosse ela uma mulher de armas como não há outra!Casa-se com homens que despreza primeiro para curar um amor não-correspondido edepois para salvar a família da miséria. Tem uma mente lógica e matemática, évulnerável nos momentos menos prováveis e surpreendentemente forte quando todosse deixam ir abaixo. É tão teimosa que passa metade da vida iludida a respeitode um homem que, vai na volta, seria sempre indigno da sua força. E acordatarde demais - como tantos acordamos - para o que parecia estar-lhedestinado... Diálogos inteligentes, uma complexidade temporal, caracterizadorae descritiva (sobretudo das emoções e do coração humano) sem igual e umasensibilidade e crueza raras em autoras femininas. Uma mulher que escreveusobre guerra e amor na mesma medida, e que os elevou a ambos à excelência. Aser relido centenas de vezes... sem dúvida o livro da minha vida!
Sinopse: Quando D. Estefânia saiu da igreja de São Domingos, pela mão do seu marido D. Pedro V, rei de Portugal, as vozes dos portugueses ditaram-lhe o destino: a rainha vai morta! Vai de capela! Três gotas de sangue haviam-lhe manchado o vestido branco imaculado. A jovem princesa alemã não teve forças para aguentar o peso do magnífico diadema que D. Pedro lhe oferecera como prova do seu amor. Um amor cúmplice, puro e apaixonado, entre duas almas gémeas unidas em propósito, durante 14 meses. Apenas 14 meses…. Escrito na primeira pessoa, num tom confessional e recheado de emoção, a autora Sara Rodi revela-nos a apaixonante história de D. Estefânia Hohenzollern-Sigmaringen. Uma rainha que muitos portugueses viram como um anjo que lhes trouxe a esperança que tanto lhes faltava, sempre disposta a ajudar os mais pobres e desfavorecidos. Não fez mais porque morreu jovem aos 22 anos. Sem ter deixado um herdeiro para o trono de Portugal. Mas deixando um último pedido: a construção de um novo e moderno hospital que prestasse assistências às crianças pobres e desvalidas. O Hospital D. Estefânia. D. Pedro cumpriu o último desejo da sua mulher, mas o reiMuito Amado de Portugal não resistiu à morte de Estefânia e dois anos depois partiu para junto dela.
Opinião:Há algo que sucederecorrentemente quando tento ler um livro português, e que é a incapacidade de desassociaro autor ao livro. No caso da Sara Rodi, o nome deixou-me na dúvida. Seriaportuguesa? Ou seria um livro traduzido a respeito de uma rainha de Portugal?Não investiguei até terminar a leitura, mas pareceu-me bastante óbvio que aautora era lusa. De facto é-o e começou a sua carreira com as Letras cedo,tendo também trabalhado como guionista nalgumas novelas da TVI.
Em relação ao livro,agradeço-lhe o primeiro verdadeiro contacto que me permitiu com a Rainha D.Estefânia. Embora o Palácio da Ajuda raramente – ou nunca – tenha sidomencionado no livro, é ao visitá-lo que me sinto mais próxima dela e do rei D.Pedro V que, depois desta obra, não voltarei a confundir com o seu irmão D. Luís.Também não sabia que a D. Estefânia tinha tido um reinado tão curto – 14 meses –nem tampouco que tinha falecido aos 22 anos que são, por acaso, a minha idade nestemomento. Por aí senti-me bastante próxima do relato… mas houve outras coisas a interporem-seno caminho. Começo por elogiar a pesquisa e o modo inteligente como asinformações foram sendo passadas no diálogo – ao contrário do No Coração doImpério, que foi um atropelo de factos. Elogio também o momento escolhido paraa narração desses catorze meses: o leito de morte da rainha. Sem dúvida queisso confere uma perspectiva única dos factos, elogiando ainda o seu tamanhodiminuto (a narração cessa às 185 páginas)… Ainda assim, achei o romancedemasiado fatalista, dramático, quase a resvalar o misticismo. Adivinhação dofuturo e indícios de desgraças, contraposto à “angelicalidade” da rainha,aborreceram-me seriamente.
O meu interesse pelasmonarquias, impérios, etc., prende-se com as pessoas que estiveram à sua frente. Neste romance, narrado naprimeira pessoa por D. Estefânia, a mesma autoproclama-se um anjo. Uma Santa.Ocasionalmente surge a insinuação de que tem algumas semelhanças a Maria, vistonunca se ter consumado a união. Esta Estefânia de 22 anos retratada por SaraRodi não tem problemas de auto-estima. Diz que é inegável que é bonita (quando,na minha opinião, existe um quê de grosseiro no semblante desta rainha que nemos vestidos e as jóias conseguem disfarçar), que toda a vida teve uma missão, que vive para ajudar os outros, que é o anjo de D. Pedro, que sabe que ele a ama como ninguém – a sério? Um homemque se recusa a consumar uma união na flor da idade? – e que tece outros tantoselogios a si própria (é diferente de todas, diferente de todos, diz) e chega aser vaidosa e nada humilde. É esta criatura aqui descrita que depois, no final,é descrita numa carta verdadeira de D. Pedro como bondosa sem igual. Só meresta considerar que os elogios caem melhor quando não saem da nossa própriaboca, pelo que esta abordagem da Sara não me parece muito inteligente, sepretendia santificar a rainha. A nível de escrita não me queixo muito – tem algumadesenvoltura e o livro é francamente melhor do que outros do género que tenholido. Mas ainda assim encontrei algo como “desassossego impossível de sossegar”e “estranheza por demais estranha”. Não estou a ser literal, mas erabasicamente isto. A palavra “esperança” surge de um modo que me irritou… possoestar a ser picuinhas mas “levar uma esperança” às crianças ou “trouxeste-lhesuma esperança” não me soa muito bem.
Se a autora voltar apublicar algo histórico acompanharei. A escrita é razoável, o tamanho idem e asinformações são para mim, apaixonada por História, preciosas.
Sinopse:Em apreciação crítica àobra de Tolkien cuja edição portuguesa apresentamos, o Sunday Times escreviaque o mundo da língua inglesa se encontra dividido em duas partes: a daquelesque já leramO Senhor dosAnéis e a daqueles que o vão ler. Não se enganava ocrítico ao indicar assim que estamos perante uma obra de leitura obrigatória,que, sem qualquer sombra de exagero, se insere entre as mais notáveis criaçõesliterárias do nosso século. Situando-se na linha da criação fantástica em que aliteratura inglesa é fértil (lembremos Lewis carrol com a suaAlice no Paísdas Maravilhas), Tolkienoferece-nos uma obra verdadeiramente monumental, onde todo o mundo é criado deraíz, uma nova cosmogonia arquitectada por inteiro, uma irrupção de maravilhosoque é admirável jogo de criação pura. O sopro genial que perpassa na elaboraçãodeste maravilhoso, traduzido sobretudo no realismo da narração, deixa no leitoro desejo irresistível de conhecer «esse» mundo que, como crianças, chegamos aacreditar que existe. A Irmandade do Anelé o primeiro volume da trilogiaO Senhor dosAnéis, em que seintegram tambémAs Duas Torres eO Regresso dorei.
Opinião: Isto é um fenómeno que acontece com os grandes escritores. Quandomenciono o que ando a ler, não digo que estou a ler O Senhor dos Anéis.Digo que estou a ler Tolkien e vejo-o suceder com quem acompanha esta saga emsimultâneo. E justifica-se: trata-se de um mundo à parte, criado totalmente deraiz pelo escritor britânico. À excepção da Lua e do Sol, nada parece estar nomesmo sítio. Há criaturas místicas, cenários inventados, lendas imaginadas,cantigas sobre heróis projectados pelo autor. Vão ouvir falar de um mundo de uma complexidade admirável que tem inspirado tantos autores desde então: elfos, orcs, anões, hobbits, feiticeiros, homens e espíritos. Tudo de modo tão credível que as sombras que os ameaçam e os movem pairam também sobre nós. Há uma viagem interminável nesteprimeiro livro, tão realista quanto as descrições do autor a tornam. Há ummapa deste mundo que foi, por inteiro, imaginado pelo Tolkien. Cinco minutos denarração deste épico à minha irmãzinha de seis anos foi suficiente para amanter entretida durante uma trilogia de quase quatro horas cada filme, antesde se deitar, a vivenciar realmente os receios, as fugas, as urgências daspersonagens. E talvez ainda tomada pela emoção do culminar de mais de novehoras de filme e de uma banda sonora brilhante, em tudo adequada a estaepopeia, proponho-me a terminar a review do livro.
Quase todo o livro é uma viagem, uma campanha perigosa e fatal para alguns em direcção a Mordor, onde o malfadado anel deve ser destruído. Da minha parte, cheguei a ¾ do livro convencida que lhe atribuiria um 4. À semelhança dos filmes, em que achei o segundo e o terceiro muito mais emocionantes... Acontece que a excelência da Irmandade do Anel é indiscutível, pelo que não me é justo penalizar o autor se os seus três livros são nota 5, visto pessoalmente goste mais duns do que de outros... Muitos alicerces são estabelecidos neste livro em relação à solidez do rumo da trilogia. As personagens são apresentadas: e arrisco dizer que nenhuma se modifica muito ao longo dos três livros. Sam, talvez - e como minha personagem favorita - passa de jardineiro tímido a melhor amigo empenhado, apostado em impedir Frodo de fraquejar. Os hobbits são um pouco caricatos, mas a seu tempo, e já neste volume, vão dando mostras de grande fibra e coragem. Aragorn desdenha um pouco do poder, parece-me, mas não consegue desassociar-se do bem-estar do mundo dos homens, aonde poderia figurar como rei se o reclamasse. Gosto bastante do facto de o Gandalf evoluir em termos de poder, não começa como um feiticeiro poderosíssimo nem é invencível. Nem costuma recorrer, tão pouco, a grandes truques para se livrar de problemas. É interessante o facto de ser um feiticeiro resmungão e não o típico velho sabichão que tudo safa. O Gandalf tem dúvidas, fraquezas – de feiticeiro e de humano – e tantas vezes questiona e duvida do seu próprio juízo. Pede conselho e tem pouco da arrogância e inacessibilidade de outras personagens semelhantes no universo literário e cinematográfico.
Lamento que o Tolkien não tenha feito maispelo Sam, creio que tem um papel muito mais importante do que o Frodo natrilogia. O Frodo segue o caminho que lhe apontam e que é obrigado a abraçar.Tirando no final deste primeiro livro, creio que não voltará a agir comsabedoria perante uma encruzilhada. Quanto ao Sam, este escolhe estar com o Frodo até ao fim; não tanto porque seidentifique com a missão que foi atribuída ao amigo (e que lhe destruiriaigualmente o Shire que tanto amam e partilham) mas porque toma aos ombros ofardo que é totalmente do patrão. Amizades destas, num livro - e sobretudo navida real – são raras. Por isso reconheço-a e valorizo-a tanto como eixo chavesem o qual nem este primeiro volume nem os restantes enveredariam pelos trilhosem que caminham.
Sinopse:A sensata Kate Sheffield está decidida a encontrar para a sua meia-irmã Edwinaum marido de reputação impecável. Mal ela sabe que o visconde AnthonyBridgerton já traçou um plano... que inclui a belíssima jovem! E ele não estáhabituado a ser contrariado... Embora Anthony seja o solteirão mais cobiçado datemporada, a sua reputação de mulherengo perturba Kate. Ela terá de agirrapidamente, pois Edwina vê com muito bons olhos os avanços do visconde. MasEdwina fez uma promessa que não está disposta a quebrar: nunca casará sem abênção de Kate. Cabe, pois, a Anthony convencer aquela que (espera) será a suafutura cunhada. Ele é um homem determinado e seguro de si... e não contavaencontrar uma adversária à sua altura. Frente a frente, Kate e Anthony apercebem-sede que têm mais em comum do que imaginaram. Mas o que os une ameaça separá-lospara sempre…
Opinião:A Julia Quinn já tinha conquistado um lugar no meu coração com o Crónica de Paixões e Caprichos. Acontece que, em certa medida, o ritmo é o mesmo. Aspersonagens são adoráveis – a seu modo únicas –, mas o enredo pareceu-me um poucosemelhante ao anterior. E com isto digo um homem atormentado por motivosligados ao pai a deixar que isso se interponha, à semelhança do romanceanterior da série, entre si e a felicidade ao lado da mulher que ama.
AKate é, de facto, sensata, mas a relação dela e da Edwina peca um pouco –talvez por ser tão apregoada na sinopse. Há raros momentos entre as duas e nãochega a existir de facto um conflito relacionado com o Anthony. A modos que oamor dos dois não tem grandes obstáculos se não eles mesmos, porque as mães e asociedade em geral estão de acordo. A própria Edwina acaba por serconvenientemente emparelhada com outro senhor… Enfim, estou a falar demais?
Nãoatribuo 5 porque esse lugar, nos romances históricos, continua a estarreservado para as minhas meninas do costume – Sherry Thomas, Laura Lee Guhrke eLisa Kleypas com as Wallflowers (apropósito, o segundo livro sai agora em Outubro! Título vergonhosamentelamentável, assim como o primeiro, porque a série tem tão mais classe do que osmesmos sugerem!). Atribuo 4 porque, a partir do meio, a leitura tornou-secompulsiva, fácil de absorver, nada aborrecida. Ri-me muitas vezes, gosteibastante do Anthony e acho-o, assim como à Kate, muito humanos. E os irmãosBridgerton são uma risada que só…! Continuo ansiosamente à espera do enlace doColin e da Penelope no quarto volume…
Sinopse:Como nunca houvera uma mulher que não conseguisse encantar, Edward tinha acerteza de que iria conquistá-la. Mas Pegeen MacDougal não era nem velha, nemcriança - era muito mulher, com uma língua aguçada, uns olhos verdes de levarao inferno e uma sensualidade que o deixava doente. Infelizmente, eladesprezava-o, assim como à ostentação da sua classe social e à falta deconsideração que mostravam pelos menos afortunados. Mas, pelo bem do seusobrinho Jeremy, Pegeen concordou que ambos se mudariam para a propriedade deEdward. O risco tornou-se rapidamente aparente. Pois ela sabia que podiaresistir ao dinheiro de Edward, ao seu poder, à sua posição... a todo o seumundo. No entanto, era o seu beijo que prometia ser a sua destruição.
Opinião:Este foi o primeiro romance que li deste género. Ou seja, o primeiro livro emque factos históricos, romance tradicional (a importância do casamento, dosbons costumes, da virgindade e essas coisas todas) e uma panóplia de outrosingredientes que, tendo lido entretanto mais 100 ou 200 livros do género,parecem estar sempre presentes em todos. Na altura tudo me pareceu estupidamente romântico... com a rapariguinha que poderia ser facilmente interpretada por uma Adriana Esteves tapeadora e o rapazinho como um autêntico Apolo...
Agora,lendo-o alguns anos depois e em Português correcto, sou obrigada a baixarconsideravelmente o meu apreço por ele. Atribuo-lhe 3/5* apenas devido àpersonagem masculina: o Edward Rawlings está soberbamente criado. Mas a Pegeen?Por ela daria 1/5* ao romance. Ela é vazia, demasiado ruidosa e irritantementedita “rebelde”. Que é como quem diz que, nas primeiras 50 páginas do livro elaé cheia de ideais; condena o casamento, condena a aristocracia, condena aquelesque não ajudam os pobres e vivem do ócio. Ao fim disso é levada para uma mansãosenhorial na qualidade de tia do futuro duque e, rapidamente, abraça tudo istoe não volta a fazer discursos a esse respeito. Isto seria perdoável se ela nãofosse tão efusiva a esse respeito no início. Aliás, chega a desprezar aquiloque foi com os inúmeros suspiros em relação ao facto de nunca mais vir a ter dese preocupar com nada. Mas não é só nisto que a personagem falha. Também emrelação ao Edward… ora está a esbofeteá-lo ora está enrolada na cama com ele.Quem é como quem diz que vai de um extremo ao outro, o que até teria uma certapiada se o livro não carregasse uma certa carga dramática que não condiz comisto. Se houvesse as piadas da Julia Quinn a pautá-lo… Além do mais pareceestar constantemente nua. Camisola de noite transparente, um puxão e o decotedo vestido cede, está no quarto de robe revelador, etc… senti-me meioestupidificada pelo facto de a autora não ter dado grande credibilidade àrelação deles. Não se entende o que é que ele vê nela... aliás, parece-me que é a cintura que, de tão fina, vem inumeras vezes mencionada... ou, talvez, os olhos verdes da moça.
Dehistórico não tem nada: se ela não usasse vestidos compridos (muito decotados)eu nem me lembraria que é um romance de época.
Enfim,valham-me a Sherry Thomas que tanto adoro, a Lisa Kleypas e as suas Wallflowers, a Laura Lee Guhrke e osseus enredos bem estruturados e a Julia Quinn e o bom humor das personagens…!Por esta Cabot e pela Madeline Hunter já me tinha reformado deste género.