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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Carta ao Escritor, ao Leitor; o Funeral; os Escritos e o "Crítico"




Caros leitores e caros colegas escritores - caro crítico,

É maisescritor aquele que escreve do que aquele que publica? Não estou certa disso.Sempre me senti um pouco escritora. Cá na rua cantei bastante em criança, e daíme chamavam “a cantora”. Depois a minha avó denunciou os meus hábitos nocturnosde escrita, e vai daí chamavam-me “a escritora”. Fiquei-me por aqui, creio.
Hoje termineia revisão de 430 páginas d’O Funeral da Nossa Mãe. É um trabalho que nãovoltarei a ter na vida respeitante a esta obra e, em respeito à Célia de 2022,mais do que um suspiro pelo trabalho exaustivo terminado, ergo um copo a estemomento. Se é algo em grande? Nem por isso. Nem tão pouco em casa ocomunicarei, até porque ninguém compreenderia e ninguém daria valor. É simples;escrever é-me tão natural que há pouco de extraordinário nisso. É mais comumque eu escreva do que veja novelas, ou que escreva do que vá à praia. É, até,um hábito aborrecido e por vezes inconveniente, porque se mete no caminhoquando os outros reclamam a minha atenção ou, somente, a minha presença naTerra.
Em relação aesta revisão, confesso que não tive metade do ânimo que dispensei ao“Demência”. Não porque ame menos este meu fruto – e quem os tem sabe que, pormais orgulho que se tenha neste ou naquele, um rebento é um rebento e é sempreamado por isso. Talvez eu até ame este livro mais do que o anterior, porque étodo um processo de aperfeiçoamento e uma segunda chance de me superar que oprimeiro proporcionou. Mas eu já sabia no que me estava a meter. São horas ehoras a tentar focar a vista em letrinhas pequeninas que escrevemos há meses eque, de tão bem as conhecermos, se misturam e soam todas à nossa mesma voz. Seforem como eu, isto é, loucamente embevecidos pelo que de nós sai em partonatural, perdemo-nos até no prazer que a escrita nos proporciona, e que sedanem as gralhas, gafes e erros de gramática, que eu de gramática também nadasei.
Falaram-me emestruturas de romance; lamento, não sei o que isso é. Não estudei jamaisLiteratura, não tenciono faze-lo. Quero que, o que quer que destaideia saia, pertença primeiro a mim e, só depois, ao mundo. E não ao mundo – àsciências humanísticas e literárias – antes de a mim. Espero que,com isto que crio, consiga tocar as profundezas da compreensão e da comoção(quem sabe) de quem me lê. Tal como o “Demência”, este livro é uma reflexãosobre culpas e consequências. Não sei fazer livros muito felizes – mas não negoalgum humor, alguma ironia, a quem se atrever a ler-me.
Poderá atévir a encontrar neste livro amores maiores; daqueles que murcham quem deles padece,e amores menores – aqueles que vivem do benefício do momento, da circunstância.Sim, neste Funeral há mais amor do que no “Demência” e há maisreflexões em torno desse amor do que no “Demência”.

Também hojesucedeu outra situação curiosa. Descobri que uma opinião que dei a respeito deuma crítica – na minha opinião despropositadamente maldosa – é ainda recordadameses depois. E só nós, escritores, sabemos o peso que as palavras têm quandorepercutidas no tempo. Não sei se me envaideça por ter causado tal eco, não seise estremeça de decepção pela pobreza de espírito das pessoas. As pessoas que,dando saltos como os de Descartes, esquecem que há vida para além de tudo istoe dedicam tempo ao que as aborrece. A mim nada me aborrece, pelo que qualquer reflexãoé, infrutuosamente, uma tentativa de trazer paz também aos outros. É aminha veia budista que fala a respeito das coisas de importância maior. E assimme explico, numa tentativa vã de fazer-me compreender; não em meu benefício,que da fadiga de me tentar fazer compreender não o obtenho, mas em benefício dequem se sente lesado, ofendido, conspurcado pela minha vilania.
Pus-me areflectir se não teria sido exagerada a minha defesa da obra em questão - nãotanto da obra, sobre a qual apenas posso expressar a minha opinião, e essa valeo mesmo que a de todos numa democracia -, mas do trabalho da autora, e destafeita concluo que fui até suave demais. Isto porque há escritores de grandenome, grande fama, e pouco talento. Sim, há-os aos pontapés, há-os cada vezmais, a receberem honras e a poderem passar aquilo que quiserem – mensagens depaz ou de ódio, lições de amor ou de guerra – (que é o que de facto lhesinvejo) aos seus leitores, e a optarem por criar algo que renda, sem puxarmuito pela cabeça. O desperdício de ser ouvido sem que de algo importante sequeira falar! A deitarem para fora alimento de fogueira atrás de alimento defogueira. E aí andam, louvados pelo leitor fácil, pelo leitor de ouvido e decara, que ouviu falar dele aqui, o viu ali.Alimentados ainda pelas editoras, que da literatura não exigem mais do que olucro garantido. E isto entristece-me. Entristece-me sempre que os pódios sejamroubados a quem, talvez, os merecesse, em prol de quem fez mais vista. Istoporque – e possivelmente excluindo-me disso, que a qualidade dum escritor é oleitor que avalia e não o próprio criador – certamente que os há (escritores)melhores do que estes que nos atiram para os tops de vendas.Certamente que os tem de haver – se não, invista-se na educação, pois que nãohaverá ninguém com nada pertinente a dizer? Não haverá ninguém a saber dizê-lo?
E depoishavemos nós. E por nós entendamos eu, Andreia, outros tantos. Nós que lutamosafincadamente por trazer a nossa obra aos leitores e, enquanto houver um leitorque retire prazer do nosso trabalho, continuaremos a escrever. Eu sim, pelomenos - e com isto saliento que não falo em meu nome e da Andreia ( que dela, aesta hora, nada sei. Jantará, talvez?). Nós que mergulhámos nisto de cabeça coma força de quem dá os primeiros passos numa indústria destas, que investimostanto – de  nós, do que é nosso – não para termos a cara nasrevistas de Sábado, nas crónicas dos magazines lidos pelos portugueses, maspara nos termos na vossa mão, mão de quem nos lê…
E então hápessoas que, estando estiraçadas confortavelmente a ler, acham por bem usar dedeboche para nos esmiuçar. Chico Buarque diz "devia ser proibido debocharde quem se aventura em língua estrangeira". Eu digo, com o mesmo tomcorriqueiro: devia ser proibido debochar de quem trabalha e se empenha,e "deboche" é, aqui, a palavra de ordem. Não se critica o criticar,não se opina sobre o opinar, critica-se e opina-se sobre o"debochar". E eu aceito – ninguém respeita liberdades deexpressão como eu, visto que rasgaria a pele a quem tentasse roubar-me a minha,e se me mandassem fechar a boca, estando eu em silêncio, o certo seria morrerpelo grito – que não se aprecie uma obra. Ah pois, eu não aprecio muitasobras. Posso até ser menos diplomática com autores que, da minha opinião, fazempapel higiénico, continuando a receber os respectivos cheques chorudos (se éque alguém recebe bem por escrever neste país) e continuando a parir obras queum terço do país – do país que  -, certamente, sorverá. Masseria incapaz de, tendo experimentado o alívio que é terminar um trabalho tãomoroso, deitar abaixo um autor que tenha subido, a pezinhos e lã e a sua contae risco, até ao pequeno patamar que agora ocupamos. Dar-lhe-ia água fresca e umpano para secar a testa. "Não gostei do teu livro, mas não consigo debochar dequem subiu até aqui para mo passar". Falo de nós, malconhecidos, primeiros passos na indústria e sema cara no jornal e o livro na homepage daFnac Online.
E é a esses,que se divertem a destruir com os pés os castelos de areia dos sonhadores, doslutadores, dos corajosos… - requer coragem expormo-nos a este nível,sendo o livro um espelho fiel do autor; da sua inteligência ou falta dela, dasua perspicácia, da sua concepção do mundo e dos outros, do seu nível deobservação ou de distracção para com tudo o resto, da sua vaidade até, porvezes - que me dirijo. Não é preciso alguém, nos bastidores, aesfregar as mãos e a citar partes íntimas da nossa história e a compará-la ajogos de Lego. Não é preciso alguém que se gabe e se orgulhe de ser“honesto”, porque a honestidade é um estado absoluto de opinião, diverge depessoa para pessoa, mas poderia ao menos ter em conta estas considerações quelhe faço? Aliás, que lhe fiz e que pareceram tão desaforadas?
Tenho sidofrequentemente abordada por muito boa gente – muito inteligente e capaz, queinclusive me apresentam textos com evidentes rasgos de brilhantismo – e que medizem que não conseguem dar continuidade a uma ideia. Que não têm imaginação.Ou que não sabem sobre o que escrever. E com isto entendi, finalmente, queescrever não é natural. Que ter-se ideias – ser-se, até, perseguido por ideias– não é natural, que ser-se capaz de terminar um livro não é natural, emboraseja cada vez mais banal, mas não é natural. Ser-se arquitecto no espaço ejogar-se apenas com a assimetria e a dissonância das palavras não é natural.Erguer castelos de letras de alicerces sólidos não é natural... Concluir umaobra de 300 ou 400 páginas com pés e cabeça ainda é algo digno decongratulações. Ainda é algo que nem toda a gente consegue.
E é por issoque não me arrependo de ter defendido uma pessoa que vi investir tanto de sinuma obra que custou a nascer e que, em geral, foi bastante apreciada. A artetem esse efeito – afastar-nos da vida, geralmente tão dura, tão impiedosa, tãopouco importada com o fazer sentido. A arte eleva-nos; perdoem-me, fãs do FiftyShades of Grey, se continuar a disparatar a seu respeito. Pensem “a Céliaacha um disparate e uma perda de tempo, mas a Célia sabe que uma pessoa devefazer o que for preciso para ser feliz e ela às vezes até lê a TV 7 Dias”. Sejaler o Fifty Shades, seja gastar o ordenado de meio mês em livros. Ea liberdade é uma coisa doce. Por isso, digam o que quiserem. Eu digo o quequero e calo o que, por respeito, considero melhor ficar silenciado. E que oentendimento de cada um sobre respeito, esforço e dedicação seja só do seuforo, e assim permaneça.

Quanto a mim,estou em júbilo.
O Funeral daNossa Mãe tem 430 páginas, começa com um poema a respeito do indigno que édesejar-se algo pelo qual não se luta, e termina com um gosto a vida. Um travode possibilidades.

#51 VIDAL, Alexandra - No Coração do Império

Sinopse: O Terramoto de Lisboa de1531 foi um duro golpe no coração do Império português. E decidiu a história deMaria da Esperança e Rodrigo Montalvão, um amor intenso que desafiou as regrasda corte de D. João III. Numa manhã fria no início do século XVI, chega aPortugal um carregamento de escravos vindos do Congo. Os melhores negros sãoencaminhados para a corte de D. João III, para servir a rainha D. Catarina deÁustria. Entre eles segue Imani, baptizada como Maria da Esperança pelos fradesportugueses. Pela sua inteligência e natural elegância, destaca-se entre osescravos – é ensinada a ler e a aprender a religião católica. O seu mestre é ogramático Rodrigo Montalvão, um nobre de alta condição, que por ela seapaixona. Nasce, entre ambos, um amor intenso e proibido, que é posto à provano dia 26 de Janeiro, quando se dá o grande terramoto de 1531 que causou amorte de mais de 30 mil pessoas e a fuga de milhares de lisboetas, tornandoirreconhecível aquela que era a grande capital do Império, no auge dos Descobrimentos.

É a história de uma paixão controversa,vivida numa corte de riqueza e intriga, em que uma mulher e um homem testam ovalor do amor e da liberdade.


Opinião: Não sei bem o que diga a respeito desta primeira obra da AlexandraVidal. Aliás, tenho até demais a dizer. Por uma vez decidi ignorar os meusinstintos a respeito das obras portuguesas que retratam eventos históricos elê-lo sem ideias pré-concebidas. Começou bem, até, lá nas paisagens do Congo.Mas isso durou três ou quatro páginas.
O livro prometia um amor daqueles entre uma escrava e umnobre da corte, e ainda uma catástrofe natural a interpor-se entre eles. Quemfor lê-lo pelo terramoto – como esta tonta, desengane-se. Se procurarem umdocumentário com alguns pós de ficção – ao nível de uma novela da TVI em que amá desaparece da acção convenientemente no final por ter enlouquecido depois demuito atentar contra a felicidade os principais, e em que estes doisprincipais nunca têm uma conversa de jeito nem nunca chegam a explicar coisaalguma ao outro – então este é o livro indicado para vocês.
O livro também prometia uma grande história de amor. Não sei a que sereferia, já que não é apresentado motivo algum para o amor entre a escrava e ogramático excepto, talvez, que ele gosta delas morenas (embora não o saiba deinício – e por início entenda-se a discussão épica em que ele se recusa aensiná-la, para daí a três páginas já estar orgulhoso dos progressos dela) eque ela se embeiça por ele porque é o único branco próximo e livre a dedicar-lheduas palavras. Algo como “podes pousar ali o livro e sai”.
O livro prometia ainda o inédito de uma escrava a aprender a ler – mas talnão sucede devido à inteligência dela. Aliás, esta personagem principalfunde-se nas pedras das paredes, de tão insípida. Nem isso é apresentado compaixão alguma…
O terramoto apresenta-se assim:
«- Não quero esta coifa de pano de linho, quero a outra de seda (…) Derepente, as portadas de madeira que protegiam as enormes janelas do aposento daguarda-roupa começaram a bater, quebrando os ferrolhos e partindo os vidros dasjanelas»
E então segue-se uma listagem bem tirada de um livro de História sobre oque caiu e o que ficou de pé na cidade. Não há um diálogo com naturalidade: ouestão a passar “sabedoria” e “filosofias” ou estão a debitar factos históricos. Derepente o tempo voa. Os filhos de D. Catarina (rainha) são criançasacabadas de nascer e, meia dúzia de páginas depois (quando começa tudo a voarpara o fim) já têm filhos – já o D. Sebastião está apostado em ir para Áfricaguerrear com os infiéis. A ideia que me deu é que a escritora quis fazertudo em grande e pensou: que se lixe, já agora faço disto um romance épico. Emdez páginas pulo trinta anos e faço disto aqueles amores que nunca chegam bem aconcretizar-se. Já agora meto cá o D. Sebastião, que até foiimportante. Espanta-me que não tenha falado do D. João IV, afinal o homemrecupera o país… era só pular mais oitenta ou noventa aninhos. E da Catarinacasada com o Carlos II, sempre foi rainha de Inglaterra, não? Calma, daqui anada estamos no Sócrates a mudar-se para Paris. A mal ou a bem também teve asua importância na História. Bom, estou a exagerar, como é evidente.
O terramoto ocupa, no máximo, vinte páginas do romance em que a informaçãoé toda debitada. De repente temos mil olhos – já somos o guarda dos escravos, onobre a quem os escravos fogem, somos os escravos, somos as vozes da corte e onão sei quantos que toma conta dos gatos da rainha. Somos tudo e, no instante aseguir ao terramoto já temos o relato completo dos danos e do número de mortos.A propósito… a sério que foram 30 000 pessoas enterradas com orações?! Nãoadmira que, em 1755, o Marquês de Pombal tenha apressado os enterros!
Em termos históricos não encontrei grande coisa a apontar – excepto,talvez, a utilização do termo “gótico” relativamente à escrita por parte dogramático. A minha ideia é que o termo “gótico” só tem realmente adesão noséculo XIX, com os revivalismos, e que antes disso surgiu no século XVI mascomo algo pejorativo. Isto é, à luz do renascimento qualquer arte anteriorseria vista como arcaica - excepto a clássica em que se inspirou - não? A minha questão é: falava-se em caracteresgóticos tal como agora se fala associados sobretudo à Idade Média?
O rei nem chega a ser apresentado ao leitor, parece-me que só surge uma veza dar as mãos à rainha numa sucessão de situações sem grande importânciaaparente. Sucedem-se listas intermináveis de tipos de tecidos e diálogos meioafectados, muito pouco naturais.
As personagens são unidimensionais, até a escrava principal lamenta duasvezes “nunca ter explicado os seus motivos” para uma dada fuga que enceta. Masque motivos? Na altura ela simplesmente se junta a quem foge, sabemos lá nós aocerto o que vai na cabeça dela! E que motivo maior precisa um escravo parafugir? Parece que um longo diálogo sobre o valor da liberdade tinha de ser alipespegado para que o idiota do seu grande amado – que conhece-a tão bem como oleitor, ou seja: nada – a compreendesse.
Não percebi nada do que a autora quis passar com o romance, excepto que aescravatura é feia – asserção defendida sem grandes acrescentos àquilo que é dosaber comum- , e que o terramoto – que se perde ali no meio – foi uma desgraça.Ah, e que o amor vence (?) preconceitos. Bom este não venceu coisa alguma.
Para mim valeu pena lição de História. Como romance...
Classificação: 2,5**/*

História e romancistas de Portugal


A História de Portugal tem acontecimentos tão ricos e tão interessantes que não é preciso inventar cenários épicos nem apocalípticos para contar um romance a respeito do país. No entanto, os escritores portugueses não chegam lá. Agora risquem-me do panorama de escritora, por favor. Ainda não me aventurei assim tanto... 

Faço parte do Clube de Leitura do Segredo dos Livros e, este mês, inscrevi-me neste "No Coração do Império". Nunca tinha ouvido falar da escritora e a sinopse prometia!

Ao final das primeiras 70 páginas já tenho uma boa contagem de coisas que me desagradam e que lamento em relação ao livro. Mas não o porei de lado por um motivo muito simples: é História. Ainda que não esteja a ler um romance, está-me a ser desfiada a História do país em 1520 e tais/30s. Para mim valerá a pena. E, não há dúvida, a Alexandra Vidal fá-lo bem - é Licenciada em História. Também tem algo evidentemente ligado a Documentação/Arquivo. Quanto a ser escritora já não sei, ainda não apanhei nenhuma deixa bem inspirada.

Ainda não terminei o livro mas já sinto urgência de falar dele...
Reparem no conteúdo de uma página comum desta obra:

"A pedraria pouco valor tinha sem a perícia das suas mãos para a envolver no mais fino ouro. Umas peças eram esmaltadas, com diversas cores, repletas de pérolas e aljôfar para coifas celestiais. Rubis e turquesas para pingentes, jóias de prata esmaltada, muitas esmeraldas e muita prata dourada, que a rainha ostentava (...) Tinha clara preferência por gibões de brocado de prata, corpetes de veludo escuro com mangas tufadas e estreitas nos pulsos, deixando sobressair colares cravejados de esmeraldas que lhe conferiam um ar divino".

Algumas páginas adiante:

"Começou por apontar todas as coisas dispersas pelo chão (...) Vinte e um milheiros de alfinetes para o guarda-roupa, duas ceiras, um castiçal de alabastro, dois côvados de veludo verde, mais dois de tafetá branco, seis tinteiros e duas tesouras, duas terças de cetim para bolsinhas, duas alcatifas e uma gaiola lavrada, toda de prata dourada."

Notam alguma coisa de especial? Ora eu noto: sim, ela pesquisou. Sim, ela tem algo que ver com documentação. Despejou nestas páginas tudo o que leu sobre jóias/vestuário feminino/ registos de mercadoria adquirida pelo palácio.

Se o livro tivesse 500 páginas, talvez se justificasse. Como só tem 240 e à 70 ainda não se conhece nada do que vai na cabeça dos protagonistas... bom, tenho um pressentimento de que a autora quer que nós, leitores, assumamos que a protagonista dela, a escrava letrada, é boa pessoa. Vai ser uma heroína, pronto. Vai salvar crianças dos escombros e vai lutar afincadamente pelo seu amor. Mas eu poderia ter-lhe dado algum crédito e esperar algum traço de personalidade incomum na rapariga, não? Perdoai-me Alexandra, se vos tive em melhor conta. Já rectifiquei a minha ideia.

Quanto a este amor assolapado, deixem-me resumir os três primeiros encontros (cada um narrado em meia página e sem uma troca de palavras memorável (algo mais que conversa de circunstância) entre os dois):

1 - Ele não quer ensiná-la, é uma preta e ele é superior a isso.
2 - Ela é esperta, ele esconde o orgulho que tem dela.
3 - Ela está a dormir e ele acorda-a e, 11 linhas depois, segue-se isto:

«- Tendes mesmo de ir embora?
- Sim... quando estivermos a sós passarei a tratar-te como uma donzela, pois assim o mereces. Maria, vós sois até mais do que uma donzela para mim. Deixemos as formas obrigatórias de tratamento para o mundo ver. Quando nos virmos a sós as regras serão outras.
Rodrigo não resistiu, esgotado pelas saudades. Há mais de uma semana que não via Maria. Abraçou-se a ela com ardor, tirou-lhe o toucado e percorreu docemente o seu longo cabelo [com a boca? mãos? nariz?]. Maria envolveu-o com os braços, sentiu o seu pescoço e o calor suave da sua pele apaixonada. Em segundos, Rodrigo saiu...»

E pronto, é este o amor assolapado. Não há indicação alguma do que eles pensam - e havia tanto pano para mangas, não? Este Rodrigo podia estar atormentado pelos seus sentimentos para com uma escrava, e esta igualmente. Os preconceitos dele poderiam ser mais difíceis de ultrapassar - seria interessante compreender que o racismo ainda hoje existe e ver um homem vencê-lo, há 500 anos atrás, por amor. Mas não, vamos pelo atalho. Gostam um do outro. Ela dele... porque...? Ele dela... porque...?

E assim ficamos. No vazio oco que são os romances portugueses.
Desculpem, pode ser de mim... mas eu preciso de explicações! Deixem lá as descrições intermináveis da pedraria e das noites que a escrava passa em redor dela e falem-me do que interessa! Este romance é só vazios... só insatisfações. Não está a suprimir a fome que tive inicialmente dele.

#51 BALOGH, Mary - Um Verão Inesquecível


Sinopse: Kit Butler é um dos mais afamados solteirões de Londres, casar é a última coisa que lhe passa pela cabeça. Mas a sua família tem outros planos. Para contrariar o casamento que o pai lhe arranjou, Kit precisa de encontrar uma noiva... e depressa. Entra em cena Miss Lauren Edgeworth. Lauren foi abandonada em pleno altar pelo seu noivo, Neville Wyatt. Destroçada, decide que não voltará a passar pelo mesmo: nunca casará. O encontro entre estas duas forças da natureza é tão intenso como uma tempestade de verão... e ambos engendram um plano secreto. Lauren concorda alinhar na farsa em troca de um verão recheado de paixão e aventura. No final, ela romperá o noivado - o que afastará possíveis pretendentes - deixando-os a ambos livres. Tudo corre na perfeição, até que Kit faz o impensável: apaixona-se por Lauren. E um verão já não é suficiente para ele. Mas o tempo não para e Kit sabe que terá de apelar a mais do que as suas vulgares armas de sedução para conseguir convencer Lauren a entregar-lhe o seu coração... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, para o resto das suas vidas.

Opinião:Éo segundo livro que leio da Mary Balogh e, apesar de ter gostado bastante deambos, sobretudo do facto de ambos os protagonistas do Uma Noite de Amor e oprotagonista masculino deste último terem lutado na Guerra Peninsular, aqui nonosso Portugal. Por um lado fiquei deleitada com essa menção, por outro tivepena de não haver qualquer referência a uma batalha histórica, a um General, aum local em específico. A autora não aprofundou muito isso, nem sequer paraintroduzir um bocadinho que fosse da história do meu país ao mundo, já que oescolheu por duas vezes como cenário de eventos importantes. Por outro gosto docuidado com o enredo que a autora demonstra, assim como a profundidadetridimensional das suas personagens. Também não recai em cliclés e estrutura muito bem os acontecimentos. Só lamentei ofacto de a linha condutora do Um Verão Inesquecível ser tão semelhante ao doprimeiro livro editado cá, que pertence à mesma série. Isto é, uma mulher édeixada por outra. Uma amizade de infância é ultrapassada por alguém que surgeagora, e essa outra é uma desgraçada infeliz. No final do primeiro livro, adesgraçada é a Lauren. Neste a Lauren é a sortuda e a Freyja a infeliz – sim,haverá no futuro um livro sobre a Freyja. Também o Kit, à semelhança doNeville, combateu os franceses em Portugal. Os cenários são, por vezes, osmesmos, com os dois casais tendo vivido situações semelhantes na mesma cabanano rio de Newsburry Abbey (será assim que se escreve?) a propriedade do NevilleKillbourne, o protagonista do primeiro livro.

No geral é romântico, bemestruturado, as personagens são inteligentes e voláteis – humanas – sólidas, bem-dispostas.As personagens secundárias são deliciosas! Vale a pena dedicar-lhe umashorinhas.
Classificação: 4****

#50 ENRIGHT, Anne - A Valsa Esquecida


Sinopse: Gina recorda a senda de desejo e de acaso que a levoua apaixonar-se por Seán, «o amor da sua vida». Enquanto a cidade lá fora ficaparalisada pela neve, Gina recorda os tempos que passaram em diversos quartosde hotel: longas tardes que a felicidade e a negação tornaram indistintas.Agora, enquanto as ruas silenciosas e a quietude e a vertigem da neve que caitornam o dia luminoso e pleno de possibilidades, Gina enfrenta a intempériepara se ir encontrar com uma rapariga a quem chama o «belo erro» de Seán: Evie,a sua frágil filha de doze anos. Neste romance extraordinário, uma espécie decaixa de segredos, deparamo-nos com o relato de acontecimentos súbitos edecisivos da vida quotidiana, com as relações voláteis entre as pessoas, com afrescura do olhar para cada estremecimento e gesto, com a captação irónica eexata das famílias, do casamento e da fragilidade da meia idade. São evidentestoda a verve, o humor e o extraordinário controlo característicos da autora,bem como a capacidade de fundir o banal e o miraculoso. Em ValsaEsquecida, toda a atenção é voltada para o amor e acompanhamos a viagemsentimental de uma heroína prevaricadora e inesquecível. Uma obra-prima deinteligência, paixão e originalidade.

Opinião: Sou umbocadinho snobe no que diz respeito a literatura. Bom, é verdade, admito. Euprópria me envergonho disso por dois motivos que considero válidos; primeiroporque a leitura é extraída da escrita, e a escrita, como arte que é, ésubjectiva. Toca uns e passa ao lado de outros. Que direito tenho de torcer onariz a quem lê livros que considero de qualidade inferior? Depende do quantodescermos... humpf. Depois, porque nem eu li jamais Tolstoi, ou Dostoievsky, oumesmo Shakespeare, e isso é que seria a boa literatura, não?

Mas este "A ValsaEsquecida" intrigou-me. Ganhou um Orange Prize, tem uma capa que apela àmelancolia, à reflexão e aos valores morais e enraizados... não? A mim foi essaideia que passou. Agora adivinhem? Eu não entendo porque é queo livro tem este título - nem valsas, nem convenções, nem um passado paraesquecer, nada que se lhe associe. E a capa? Bom a ideia que tenho daprotagonista é uma trintona de ganga e cabedal, cabelos curtos, álcool emaquilhagem a mais. Onde é que isto combina com a saia plissada e os sapatinhos clássicosda senhora na capa?

Ponto positivo: aescritora e o cenário são irlandeses e vou à Irlanda em Setembro, teve, paramim, um interesse particular
Ponto negativo: fiqueina mesma quanto à Irlanda, a escritora não aproveitou a visibilidade para falarde nada que não da crise e do sector imobiliário

Personagens: mas queazar é este que tenho com as personagens? Perguntei-me, ao terminar o livro, sesou eu que embirro. Senti-me ligeiramente decepcionada por ter a certeza deque ia gostar do 2º livro da Balogh publicado em Portugal. Perguntei-me seseria o género: será por amar tanto os romances históricos que me aborreci demorte com este da Enright? Mas tive a minha resposta: na segunda página do"Um Verão Inesquecível", já eu estava a rir. Já o personagemmasculino foi apresentado, com toda a margem que há-de haver para as suasinconstâncias e imprevisibilidades. Já os homens na multidão tinham mais alma,mais profundidade, mais dimensões, do que a cabecinha oca da Gina e o canalhado Seán d"A Valsa Esquecida".

A dado momento o romanceresvalou do foco do romance extraconjugal para a filha do adúltero, que temepilepsia. Ora bem... quando o casal morreu - alguma vez houve chama? Aí pelapágina 160 de 225 (aprox.) a autora lembrou-se de remexer na filha. De"inventar" uma relação entre a adúltera e a filha do adúltero.Relação cliché, mal explorada, vazia, até porque a Gina não tem nada de terno,vulnerável ou maternal. A cabeça do Seán? Nunca entendemos. O porquê daquelaatracção mútua? Idem.

O que salva [escapa n]o romance -muito repetitivo em cenários, muitos quartos de hotel, muitas festas com os mesmos convidados, álcool,pseudo-dramas e rotina doméstica aborrecida - são os trechos, as associaçõesespirituosas ocasionais que sugerem que a Anne, de facto, tem talento. Este sónão é um livro que eleve o seu potencial.
PS - Voei sobre asúltimas cinquenta páginas. Precious time, this one of mine...
Classificação: 2**

#49 MAUGHAM, Somerset - O Véu Pintado


Sinopse: «Kitty sente-se prisioneira de um casamentoinfeliz e de um estilo de vida que está longe de ser aquele que sonhou para si.Sem que tivesse obtido a notoriedade social que desejava e afastada do seu paíse da família devido à profissão do marido – bacteriologista destacado para HongKong –, a jovem acaba por encontrar algum consolo numa relação extra conjugal.Mas a traição acaba por ser descoberta pelo marido, que leva a cabo umaestranha e terrível vingança… Através do despertar espiritual daadorável e fútil Kitty, Somerset Maugham pinta um retrato vívido da presençabritânica na China e apresenta-nos uma galeria de personagens inesquecíveis.»

Opinião:"O Véu Pintado", adaptação com Edward Norton e Naomi Watts, é dosmeus filmes favoritos. A banda sonora é simplesmente sublime! Li trechos dolivro a ouvi-la, amplamente comovida pela beleza e a nostalgia que transmite.Já ouvi quem dissesse que estava muito aquém do livro, mas hoje, e terminada aleitura, considero até que o filme - tendo em conta a altura a que um filme sepode erguer perante um livro, é tão bom quanto o dito cujo, neste caso. Vouexplicar que matemáticas básicas me levam a este resultado: o filme romanceouum pouco a história, fazendo com que a Kitty se redimisse devido ao amor e àadmiração que acaba por nutrir pelo marido. Julguei que fosse um romance assim,sobre redenção. Sobre o facto de ela ser jovem e viver de centelhas de brilhopara, em seguida, se dar conta do verdadeiro valor intrínseco à naturezahumana. Em contrapartida o livro exibe o talento nato do autor para explorar ofuncionamento da mente e das emoções humanas.
O livro é sobreerros. Sobre arrependimento e sobre recaídas, sobre desprezo, compreensão eincompreensão, e sobre o quão inalcançáveis algumas pessoas nos parecem, talfechado é o seu modo de ser. Houve uma parte em que a Kitty teve um relance dacomplexidade do marido e descreve esse momento como olhar para uma florestafrondosa e escura à noite, vê-la alumiada momentaneamente por um relâmpago,julgar ter lá visto algo e, então, regressar às trevas. O Walter Fane é umpuzzle fascinante e comovente. É ternamente apaixonado pela Kitty (não digoloucamente porque é demasiado tímido e contido, mas a dimensão do seu afecto éobviamente desmesurada) e fica feito em cacos quando ela o trai. Provavelmentepara se perdoar a si próprio - por ter amado uma criatura como ela, umaadúltera mimada e caprichosa - e para atenuar a sensação de desprezo por simesmo (pelos mesmos motivos), obriga-se a fazer um sacrifício maior. Umsacrifício que porá em risco tanto a sua vida quanto a da sua esposa infiel:como bacteriologista, refugia-se em Mei-tan-fu, um recanto na China onde aspessoas perecem como moscas devido à Cólera.E é nesse cenárioexótico e de choque de culturas que a Kitty "cresce". Nos poucosmeses (dois ou três) que passa em contacto com a doença, com as freiras doorfanato, com o seu vizinho inglês que vive com uma mulher manchu, a sua menteexpande-se e ela começa a reflectir sobre a vida, o amor, a felicidade, siprópria, a religiosidade, e a tentar decifrar o modo como a sua traiçãomodificou o marido - outrora tão dedicado - e a condenou à infelicidade e acaminhar lado-a-lado com a morte. As suas prioridades rearranjam-se e elacomeça a vencer os próprios preconceitos e a desejar ser uma pessoa melhor.A Kitty Fanetornou-se, rapidamente, uma das minhas personagens favoritas da literatura. ANaomi Watts é bonita e tem aquele ar doce meio espevitado, mas a personagem emtrês dimensões do livro tem pensamentos preciosos que espelham a mesquinhez queocupa tão frequentemente a mente dos humanos. Ela enoja-se, de início, por terde conviver com crianças chinesas - amarelas e de nariz achatado e olhosinexpressivos, segundo ela própria. Ela sente repulsa de uma criança que temuma doença que implica um tamanho de cabeça desproporcional em relação ao corpoe que se baba, e que para mais a segue e está obcecada por conseguir o seuafecto. Ela pensa nela própria antes de pensar nos outros - e com o seudesenvolvimento ao longo do livro começa a importar-se cada vez menos consigo emais com o bem estar geral, de um modo sincero que acaba por espelhar umcrescimento gradual e maduro. Faz amizades genuídas que a ajudam a entreabriros véus que envolvem os grandes mistérios da personalidade e das razões humanas.O filme, tendoforjado uma reconciliação entre o Dr. Fane e ela, satisfez o meu sensoromântico, porque achei que havia ali muito pano por onde debater. O orgulhoferido dele e o amor que, vencendo o primeiro, prevalece. O vencer do asco queparece ter ao marido - por ele não ser bem-parecido nem popular e por ceder comfacilidade aos seus desígnios - por parte da Kitty. Mas *spoiler alert!* aKitty do livro acaba por admirar e respeitar o marido, mas a reconciliaçãonunca se dá. Inclusive, ao morrer, ela implora-lhe por perdão. E ele responde:o cão foi que morreu.Adorei a viagem aointerior da Kitty e à sua percepção de quem a rodeava. Adorei as paisagenschinesas e a sua cultura (é o segundo livro, no espaço de um mês, que leio eque revolve em torno da China). Adorei as reviravoltas da mente do autor, queme pôs a reflectir seriamente e, inclusive, me comoveu uma ou outra vez. Fiqueifascinada pelo Walter, que pertence exactamente ao tipo de homem que só se amaquando se tem um elevado grau de maturidade. E sobretudo adorei o absurdo davida: qual é o caminho a seguir? A Kitty não sabe. Algum dia virá a perdoar-sea si própria? A Kitty não sabe. O marido chegou a perdoá-la? A Kitty também nãosabe. É um romance desconcertante, lido num sopro que durou dois dias, que mecomoveu e me encheu de melancolia e de pequenas tristezas. As das despedidaspara sempre. As das grandes viagens para não mais regressar. As da tragédiahumana e social. Apesar demagistralmente bem escrito, arquitectado e conduzido, não consigo dar-lhecinco. Atribuo-lhe um quatro e setenta e cinco sólido. Apenas não posso darcinco porque o li à procura desse descer à terra da Kitty, mas os seus erros,de tão térreos, acabam por ser exasperantes. O autor foi tão realista que nãosobrou umas lascazinhas de romance para esta romântica se agarrar. A relação daKitty e do Walter tem tantas potencialidades a partir do momento em que ela seapercebe do valor dele! Como é que o autor não a desenvolveu? Oh Somerset, eusei que na vida real as pessoas têm tendência a prosseguir pela estrada maisfácil, pelo caminho dos erros aonde se insinua, lá ao fundo, a pirite, qualouro dos tolos... mas não poderias ter levado a Kitty a um porto seguro? Nãopodias tê-la conduzido até ao ouro genuíno? Não poderia ela ser daquelas raraspessoas que a literatura descreve como tendo-o achado, enquanto a pirite é paraos que se ficam pela vida real...? Até isso louvo na tua obra...! Que coragempara não dares aos leitores o que eles querem.Contudo, foi dasleituras mais prazerosas dos últimos tempos. Certamente que um dia voltarei alê-lo... quem saiba esteja eu própria mais consciente da falta de nexo daexistência.

«But soon a wonder came to light,
That showed therogues they lied;

The man recoveredof the bite,
The dog it was thatdied.»




Oliver Goldwin
Classificação: 4,75****/*



»O Véu Pintado

«- Nunca tive ilusões a seu respeito - disse. - Sabia que era pateta, frívola, uma cabecinha oca. Mas amava-a. Sabia que os seus objectivos e ideais eram triviais, lugares comuns. Mas amava-a. Sabia que não era lá grande coisa. Mas amava-a. É engraçado quando penso no esforço que fazia para achar graça às mesmas coisas e na ansiedade com que lhe escondia que não era ignorante, banal, maledicente e estúpido. Sabia como a inteligência lhe metia medo e fazia tudo o que podia para que pensasse que eu era tão idiota como o resto dos homens que conhecia. Sabia que só tinha casado comigo por conveniência. Mas amava-a tanto que não me importava.»

Walter Fane para Kitty Fane,
O Véu Pintado