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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

»Demência, Críticas e Entrevistas

Compilação:


Opiniões do “Demência”



1 - Isabel Almeida

Blogue: “Os Livros nossos”
Classificação: 5*****


2 - Andreia Ferreira (autora de “Soberba Escuridão”)
Blogue: “D311nh4”
Classificação: 5*****


3 - Clarinda Cortes
Blogue: “Ler é Viver”
Classificação: 5*****


4 - Cristina
Blogue: O tempo entre os meus livros
Classificação: 4****+


5 - Carla M. Soares (autora de “Alma Rebelde”),
Blogue: “Monster Blues”
Classificação: 4(,5)*****


Outras:

6 - Sofia Rodrigues

Podia ser um livro qualquer comotantos outros. Mas este é especial. Soube-o assim que passei os olhos pelasinopse: Alzheimer. Para muitos esta palavra será igual, banal como tantasoutras. Não para mim. Seria apenas o reflexo desfocado pelo tempo de umarealidade que me bateu à porta, mas em vez disso deixou marca profunda na minhamemória. Hoje adulta, outrora uma criança, que viu a adorada bisavó a ficarestranha, confusa. Ou como diria a Célia, demente. Por que no fundo é dissomesmo que se trata, uma demência que sem pena nem pudor vai roubando a memóriaaos pedaços, deita fora peças de uma vida, esfuma aquilo que nos faz sentido.Dos muitos episódios estranhos a que assisti, os quais não importa nomear,refiro um. Aquele que até hoje me enche de lágrimas os olhos. Os mesmos olhosque imploraram por reconhecimento. No dia em que tu “avó” (como sempre techamei) não me reconheceste. Querias ver a tua menina. Vieram todas as daaldeia… e não era nenhuma delas. Até que cheguei eu. Estava ali à tua frente eos teus olhos ignoraram-me com uma frieza atroz. Olhaste para um retrato meu(tirado três anos antes) e lá estava a tua menina. Não eu. Eu, e tantos outros,fomos apagados. Passei a ser uma intrusa. Mais uma estranha aos teus olhos.Doeu demais…

Mas enfim, esta opinião, críticaou aquilo que lhe queiram chamar não é sobre mim. Quis apenas justificar partedo meu interesse pela história. Isto de sair da história para entrar naspartidas que a memória nos prega enquanto lemos, tem muito que se lhe diga!

O Demência, livro da CéliaCorreia Loreiro, não é sobre Alzheimer. Também não é sobre violência doméstica.Ou sequer sobre a luta de uma mulher para sobreviver às marcas impressas pelopassado e que o presente insiste em lhe relembrar a cada passada que dá. É, naminha opinião, a simbiose perfeita de tudo isso indo mesmo, diria, um poucomais além. Numa amálgama de sentimentos, os olhos voam sobre as palavras daCélia. As páginas viram-se sozinhas e quando damos por isso já mergulhámos nahistória. Não queria desvendar demasiado o que se passa nestas 394 páginas, masgostaria imenso de que, com as minhas palavras, outras pessoas sentissemcuriosidade de as ler. É bom dar uma oportunidade a uma autora portuguesa queestá ainda a dar os primeiros passos no mundo dos livros enquanto objectoimpresso, mas que já é uma “veterana” neste jogo da palavra, na conjugaçãoperfeita daquilo que são personagens, histórias e destinos.
A certa altura, admito, senti quea Olímpia foi um pouco deixada no esquecimento da história. Perguntei-me o quelhe estaria a acontecer enquanto a Letícia lhe roubava o protagonismo. Não é umreparo ou crítica negativa, mas apenas uma constatação. Com o decorrer daleitura percebi apenas que era o meu lado sentimentalista que se perguntava porela.

Achei incríveis de tão realistasas descrições dos espaços, das mentalidades e costumes. Também eu cresci numaldeia como aquela que é palco deste livro. E é tal e qual. A integridade ehumildade de uns são rapidamente abafadas pela mente fechada, costumesdesgastados por um tempo injusto que já foi. Ou deveria ter ido e aindapermanece.

A Letícia é uma mulher fictíciacom uma imensa força. Há muitas Letícias por aí. Vítimas da velha (mas semprerecorrente) história do lobo que vestia pele de cordeiro e quase lhe destruiu avida. Quase. No fim de contas, isto é um romance!

Célia, confesso, que tenhoevitado ler os últimos excertos que tens publicado. Li os primeiros e fiqueicom uma terrível vontade de ler o teu próximo livro! Penso que já se percebeuque sou fã da forma como escreves. Expões a história ao sabor de um jogo depalavras, conceitos e sentimentos que simplesmente adoro.»
Obrigada também pela dedicatória.Palavras tão simples mas que marcam a diferença. Como vês, apaixonei-me pelahistória e mantenho contacto contigo!

Um grande beijinho;
Sofia»
  
7 - Ana Filipa Marques

«O rating que atribuí ao livronão teve nada a ver com o facto de conhecer a escritora.

A história, por sua vez, teve acapacidade de me transportar para todo aquele mundo imaginário/real com o qualnos vamos deparando ao longo da mesma. A maneira como o percurso das diferentespersonagens vai sendo traçado, o desespero destas, a angústia e o sofrimentocom o qual nos cruzamos também nos sufoca a nós leitores.

É demasiado fácil criar umarelação de amor/amizade com as personagens. Desde o mais novo ao mais velhinho,passando pelo bom e pelo vilão, todas elas demonstram a sua subtileza, a suacompaixão, o motivo pelo qual agem de certa maneira perante determinadoproblema.
É extremamente importante que oleitor, enquanto ser humano capaz de compreender todo o mundo e todas asalternativas que tem ao seu dispor ao longo da vida, compreenda o porquê deLetícia ter tomado alguma decisões no passado que irão de encontro à históriade vida de Olímpia, que sucumbirá num dos mais lamentáveis e incompreensíveisdesfechos.

O bom na história é que ao lê-laé possível que captemos os cheiros daquela explêndida aldeia. No final irão verque foi tão bom simpatizar com todas aquelas mulheres e aqueles homens. Foi tãobom compreender a Letícia e verter uma lágrima pela Olímpia. Melhor que tudoisto será descobrir, no final, que afinal valeu a pena...que tudo vale a pena.Que a vida é uma montanha russa na qual nos podemos perder e encontrar denovo.»


8 - Vanessa (de) Campos

Sou uma leitora de 22 anos, razãopela qual (penso eu) este género literário não é o que mais me estimula. Daí aminha pontuação ser de 4 estrelas.
Em relação ao livro em si,abstraindo-me dos meus gostos literários, penso que é um livro que realmentenos transporta à pequena aldeia beirã, e que nos faz sentir um pouco do que aspersonagens vão sentido ao longo do livro, tanto física como emocionalmente.Também gostei particularmente das conclusões que se vão tirando ao longo dolivro, e de como as personagens vão evoluindo neste campo, pois não mostram serpersonagens estáticas, o que na minha opinião é bastante importante tanto naliteratura como no cinema (a existência de um arco de personagem).
Sobre a autora do livro, com 22anos apenas, demonstra realmente alguma maturidade emocional poucocaracterística desta idade. A forma como descreve situações tão delicadas e nostransporta para lá, pondo-nos mesmo na situação/perspectiva das personagens semtomar um partido como único é espectacular e delicada, demonstrando um elevadograu de maturidade neste aspecto.

É um livro que aconselho a ler,especialmente a um público mais maduro que com certeza irá sentir o livro deforma mais intensa.

Vanessa de Campos.


Entrevistas

1- Isabel Almeida,
Blogue: “Os Livros nossos”

«Sempre fiquei meio assombradapor ver o modo como o ambiente condiciona crenças, modos de vida, costumes,superstições, o próprio certo e o errado. Sempre lhes invejei a liberdade,também. Aquelas pessoas estão cingidas a um pequeno espaço, que assume assim adimensão do mundo inteiro, e circulam nele como se circulava quase há séculosatrás.»

2 - Sofia Teixeira
Blogue “Morrighan”


«Quais as tuas influências?
Nenhumas. De todas as vezes quequis aplicar «influências» nos meus enredos, desisti e apaguei tudo. Não sou aIsabel Allende nem a Joanne Harris, por muito que as admire. A cada vez quequis pôr um espectro a atravessar uma sala dei-me conta disso.»

3 - Andreia Ferreira (autora de“Soberba Escuridão”),
Blogue: “D311nh4”


«De onde surgiu a ideia paraesta história?
Não partiu de nenhuma experiênciapessoal ou próxima de violência doméstica, mas talvez da minha veia feminista ede considerar um ultraje que os homens se prestem a esse papel de monstros.Creio que, embora actualmente também já existam homens vítimas do mesmo mal,sendo a mulher a vítima é pior ainda porque estamos perante uma situação em quea força dela é subjugada.»

4 - Cristina
Blogue: O tempo entre os meuslivros


«Fala-nos do teu livro:
Quis que ambas as personagensfossem protagonistas de uma história de sobrevivência, que as suas essências coincidissemnesse ponto e fossem motivo de incompreensão mútua. Quis valer-me da ironia davida, do destino, dos caminhos que parecem despregados e que se entrelaçam efazem sentido em situações impensadas. Quis incluir um pouco do improvávelneste enredo realista. Creio que os acontecimentos retratados são familiares amuitos portugueses.»

5- Sara Baptista
Blogue: Espectacular’te

Peço desculpa se me estou a esquecer de alguém, acuse-se!

#31 FERREIRA, Andreia - Soberba Escuridão

Sinopse: Quando o relógio pisca as doze horas intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada.A partir daí, todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender.Cega de paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir das profundezas do inferno.

Opinião: Tenho imensa coisa paradizer a respeito desta primeira obra da Andreia Ferreira. Antes de mais,permitam-me clarificar um ponto: eu e a autora partilhamos a mesma editora, masnão temos contrato algum de bajulação mútua. Que isso fique claro, até porqueela é uma mulher do norte sem papas-na-língua e eu também tenho costela doNorte. Enfrentámo-nos ao vivo e a cores na Feira do Livro de Lisboa, no passadodia 6 de Maio, e o compromisso foi de que lhe daria a minha opinião sincera.Ela estava com receio de que não fosse favorável – porque o sobrenatural não éo meu género, nem nunca li nada se não agora A Guerra dos Tronos – e eu estavaaterrorizada com a possibilidade de não gostar do livro e não saber comodizer-lho. “Er…, dou-lhe um três e depois digo que está muito bem escrito masnão gosto destas coisas”, era esse o meu plano b), se não tivesse gostado daobra. O que, como vêm pelas cinco estrelinhas a cintilar a vermelho, não foi ocaso.

Esta classificaçãoespelha a minha redenção face ao cepticismo e também a minha estupefacçãoquando fechei o livro, há minutos. É uma lição de humildade e de mente aberta.Quando, por volta de Junho do ano passado, tomei conhecimento da existênciadeste livro no catálogo de obras da Alfarroba pensei: que péssimo, a febre dosvampiros chegou a Portugal. E que sabia eu dos vampiros ou deste géneroliterário? Exactamente, nada. Fiz logo o quadro todo em mente: a autora deviaser uma adolescente que vivia na lua (e, se vive na lua agora sei que é no bomsentido!) e que era maluca pelo Crepúsculo e tinha copiado a história, maiscoisa menos coisa. Os preconceitos - pré-conceito - surgem em relação aos assuntos mais inesperados, e assim me apercebi de como estava a julgar erradamente alguém pelo seu gosto de leitura/escrita. Mas isso passou-se há um ano atrás, e entretanto a Andreia tem-me vindo a dobrar. Primeiro com a sua simpatia e prontidão, depois e definitivamente com a sua obra.

Qual foi o meu banho decair no real quando comecei a falar com a Andreia e descobri que é uma adulta responsável– jovial, divertida e tagarela – que, de facto, vive na lua e sorve daí a suainspiração e daí lhe advém o talento. Vou roubar as palavras da própria emrelação a mim: Quando há talento, há! E encontrei-o logo desde o princípio dolivro. Às primeiras palavras tornou-se óbvio que ela não tem necessidade de seesforçar – é-lhe inato, vêm-se trechos que só podem advir de uma espontaneidadefluída que é o que consolida os bons escritores, os escritores de gema. A primeiraparte do livro (aí até à página cem) é, de facto, um pouco difícil dedesbastar. Isto porque a narração é fluída, com laivos de bom humor, e espelhamuito bem – melhor do que bem, através de expressões idiomáticas – a essênciado povo português. Da família portuguesa – sobretudo da mãe portuguesa, quequase “aterroriza” esta adolescente, a Carla, como as nossas mães e avós nosaterrorizam a nós com a hora do deitar e a pressa do levantar e os “ó filhaisto” e “ó filha aquilo”. Foi muito português de Portugal, e adorei essa faceta da história. Li, nalguns comentários, que as referências daAndreia lhe eram demasiado familiares. Bom, para mim foi tudo um terreno novo.Exceptuando o Harry Potter, os meus livros favoritos retratam realidadesinvulgares e enriquecedoras – mas realidades. Ia convencida de que ia ler um “montede clichés” sobre vampiros, mas levei outra bofetada quando me dei conta de queo livro aborda toda esta temática de um modo muito mais original. Embora sesaiba que o livro é do género sobrenatural, houve ali algumas explicações, emcertas alturas, sobre a existência e realidades paralelas, que fizeram umsentido estrondoso. Não digo que rocem uma possibilidade real, mas sãoextensões complexas demasiado amplas, raciocínios bem estruturados. Não sei setoda aquela arrumação das criaturas e dos seus mundos/realidades, misticismos eetc., encontra par em outras obras do género, mas se for esse o caso foram bemaplicadas. Se não for, muitos parabéns, Andreia, por teres inventado um mundocom contornos palpáveis.
Apesar de já conhecer aautora, consegui desligar-me dela ao ler o livro, o que espelha o quão bom eleé, o quão bem ele flui nas minhas mãos. Quando conheço o autor e leio a suaobra é como se bebesse as palavras dos seus lábios, como se o visse sentado acriar a história. Mas a Andreia não – não estava em lado nenhum. A Carla é aCarla e o livro é o livro, e ela é somente a criadora. Conseguiu criar algo deque gosta tanto completamente desprendido de si. As palavras são acessíveis, hámomentos que me puseram de nervos em franja, outros que me enterneceram (oromance está super bem explorado embora a Carla o viva com alguma imaturidade,gostaria de tê-la visto resistir ao jeitosão com mais afinco, de início, talvezser um pouco mais desconfiada), e houve momentos em que me segurei para não mepôr às gargalhadas. A Ana é, sem dúvida, a minha favorita. Gostei muito dapanóplia geral de personagens e, sobretudo, da coesão que lhes deste.
Como digo, um livro éum exercício de arquitectura e a Andreia soltou pontas ali e uniu-as aqui e aindadeixou margem para muito andamento no “Soberba Tentação”, que sai para Julho.Vou ter que penar muito até ler o segundo e, mais ainda, até ler o terceiro!
Para terminar gostavade dizer algo que acho que também já li algures em relação a esta autora e àsua obra, e que não pensei vir a concordar mas que de facto concordo comsinceridade: se fosse no estrangeiro teria inúmeras portas abertas e seria umsucesso enorme instantâneo. Criar-se-iam clubes de fãs com números enormes e,quem sabe, far-se-iam filmes e franchisings. Além de um bom enredo tens boaspalavras, bem escolhidas, e às vezes isso é o mais difícil. Dar substância auma história sem se ser pretensioso, nem aborrecido, nem maçador.
Cá fico, entristecida,com dois meses pela frente à espera da continuação…!
Classificação: 5*****

#30 LOUREIRO, Célia Correia - Demência


Sinopse: No seio de uma aldeia beirã, Olímpia Vieira começa asofrer os sintomas de uma demência que ameaça levar-lhe a memória aos poucos. Aúnica pessoa que lhe ocorre chamar para assisti-la é a sua nora viúva, Letícia.Mas Letícia, que se faz acompanhar das duas filhas, tem um passado desobrevivência que a levou a cometer um crime do qual apenas a justiça aabsolveu. Perante a censura dos aldeões,outrora seus vizinhos e amigos, e a confusão mental da sogra, Letícia tentarefazer-se de tudo o que perdeu e dos erros que foi obrigada a cometer por amoràs filhas.O passado é evocado quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge paraampará-la e Gabriel, protagonista da vida paralela que Letícia gostaria de tervivido, dá um passo à frente e assume o seu papel de padrinho e protectordaquelas três figuras solitárias…

Opinião: Ontem terminei - atarde e más horas - a leitura do meu primeiro romance editado. Este Demênciafoi um trabalho descontínuo desde 2009, e foi culminar em cento e qualquercoisa páginas escritas de um sopro em Julho de 2011. Antes de o escrever, tinhauma ideia diferente para ele. Lembro-me de ir trabalhar para Lisboa, em 2007, aremoer a ideia de uma professora loira e baixa chamada Lavínia, que carregavauma filha pequenina no colo e que era ignorada pela pequena aldeia onde vivia -a aldeia da minha avó, que tão bem conheço - por ter sido obrigada a salvar-sedas maldades de um marido alcoólico e violento. Lembro-me também de carregar naideia uma idosa sem memória, muito à imagem da minha bisavó paterna, queperdesse capacidades a olhos vistos. E depois em 2009 surgiu a ideia de asjuntar a ambas, num enredo em que seria impossível entenderem-se mutuamente. Asogra detesta a nora - apenas está esquecida disso metade do tempo. E lembrei-mede polvilhar isto com duas crianças inocentes, mas espertas, um velhoteadorável (que é a minha personagem favorita, a par com um o Gabriel), e umprofessor céptico, inteligente e ligeiramente mal-humorado.

Agora que acabei de lero livro como leitora, fiquei fascinada. Apesar das gralhas ocasionais - lamentoa revisão do livro, deixou um pouco a desejar mas a verdade é que tanto eu comoa editora trabalhámos incansavelmente para alinhavar essas falhas. Falhas dequem escreveu metade em 2009, a um ritmo, e a segunda metade a um ritmo bemmais acelerado em 2011. Sou muito exigente com o que leio, tanto como com o queescrevo, e a história venceu-me outra vez, e vencer-me-ia sempre mesmo que nãofosse da minha autoria. Fui eu que a escrevi - mas mais do que um eu, Célia,fui eu, portuguesa. As palavras com que me expressei são aquelas, nãoforam traduzidas nem seleccionadas pela editora. São mesmo aquelas -desconcertantes, por vezes, duras, cruas, comoventes, descritivas, desoladoras.São aquelas e não outras.
 Apercebi-me de váriasnuances do enredo que nem eu própria tinha tido noção de ter criado. Estouapaixonada com a complexidade do romance, com o puzzle subtil que seforma e que faz sentido no final, estou orgulhosa do modo como tudo se entrelaçae não há pontas soltas.

É um enredo sobre fé -não me tinha apercebido disso - e sobre sacrifícios a todos os níveis. Sobre os motivos pelos quais as pessoas sãolevadas a acreditar numa asserção, ou escolhem acreditar nessa asserção. Os motivos podem ser condicionados,inconscientemente, pelo próprio empirismo, pela racionalidade, pelosestereótipos, pelos preconceitos, pelas ideias pré-concebidas, pelo nossopróprio conhecimento, tantas vezes ignorante ou insuficiente, dos outros e dosfactos. Neste livro há muita gente a formar ideias só porque parecem a maisplausível. O que não significa que esteja correcta. As circunstânciasobrigam a que se adopte determinada versão de um facto, de uma verdadeincontornável, e a humanidade de cada um cimenta-a e acarinha-a, de modo quaseirredutível. Deu-me um prazer enorme alterar estas certezas, assim como me deuagora desmantelá-las ao ler. Sou obrigada a concordar que criei personagenshumanas, quase palpáveis. A complexidade das histórias pessoais, tão ricas, ospassados arrastados ao longo de décadas, de metades de século. As expectativas devida - tantas vezes goradas - os afectos que se acalentam e que ou triunfam oudão em nada, um quê de romantismo nu, cru, presente apenas na medida em que seama com mãos e alma rudes. 

Não consigo ir para ogoodreads classificar o meu romance com cinco. Não posso dar-lhe cinco. Comomãe que o deu à luz, não me compete a mim clarividência para avaliar asqualidades do meu rebento. Mas, se me distanciar, posso dizer que lhe daria um4,5 sólido. Não lhe daria o cinco por um motivo plausível: tendo sido eu a mãocriadora, tenho consciência de tudo aquilo que gostaria de mudar. É deste 0,5 que não me consigo distanciar, como mãe. Mudar, mudar,apetece-me criar mais situações, voltar a pegar na Olímpia, na Letícia, nasmiúdas, no Sebastião, no Fernando, no Gabriel, na Pilar e no Pedro e criarnovos diálogos, novas interacções. Pôr os meus autómatos a caminhar em plenaaldeia, a ofenderem-se, a amarem-se, a apoiarem-se e a apedrejarem-se. Ontemtive até desejo de pegar num núcleo qualquer e criar uma segunda parte dahistória.

Quem sabe as memórias daOlímpia, escritas pelo Sebastião? Quem sabe pôr um obstáculo no casamentopontuado de fé da Pilar e do Pedro? Ou fazer crescer a Luz e conceder-lhe a suaprópria história?

Enfim, são tudo quimerasporque tenho outros projectos pela frente. Mas deu-me um prazer enormeescrevê-lo e é agradável saber que, quando estou com pouco apetite paraleituras, é o meu pequeno (não assim tanto) Demência que me pisca o olho daestante e é ele que me distrai. As páginas voam - como leitora, que bebe aspalavras que lê, e não como a escritora que lhes deu voz - nas minhas mãos.

Espero que quem quer queo leia retire este mesmo prazer dele. E que se recorde que o escrevi entre os19 e os 21 anos. Tenho toda uma vida pela frente para conquistar, para mimprópria, mais 0,5 pontos.

#29, BALOGH, Mary - Uma Noite de Amor

Sinopse: " Numa manhã perfeita de Maio… Neville Wyatt,conde de Kilbourne, aguarda a sua noiva no altar. Mas, para espanto geral, emvez da bela jovem que todos conhecem aparece uma mendiga andrajosa. Perante anata da aristocracia, o perplexo conde olha para ela e declara que é Lily, asua mulher! Ao olhar para aquela que em tempos desposou, que amou e perdeu nos camposde batalha de Portugal, ele compromete-se a honrar o seu compromisso… apesar doabismo que agora os separa. Até que Lily fala com franqueza… E afirma querercomeçar de novo… e que Neville a ame verdadeiramente. Para isso, sabe que teráde estar à altura das expectativas dele, o que a leva a aceitar ser dama decompanhia da sua tia e aprender as boas maneiras. A determinada Lilyrapidamente conquista a admiração da alta sociedade, demonstrando ser umacondessa à altura do seu conde. Por seu lado, Neville está disposto a tudo paraprovar à sua formidável mulher que o que sentiu por ela no campo de batalha foimuito mais que desejo, muito mais do que o arrebatamento de… Umanoite de amor."


Opinião: Lily Doyle foi criada pelo exército inglês que ajudou Portugal a ver-selivre dos franceses. A história captou o meu interesse porque sou portuguesa eporque, pela primeira vez, um dos romances que tanto adoro era passado em parteaqui. Neville, Conde de Kilbourne, escolheu ser um soldado a fim de contrariara vontade do pai. Mas não se enganem: nenhuma destas duas personagens se inserenum lugar-comum. São ambos bastante humanos e complexos. Conforme o pai de Lilymorre no campo de guerra, Neville jura casar-se com Lily e protegê-la, masfalha e ela é baleada. Conforme também ele é ferido e levado para Lisboa, élevado a querer que ela morreu. Mais de um ano depois ela surge em Inglaterra,no dia em que ele sobe ao altar com uma prima a fim de o lembrar do seu voto...

Não posso atribuir um 5 a este livro, somente porque na segunda parte asenhora Balogh lembrou-se de criar um segundo enredo, uma espécie de mistérioem torno da identidade da Lily. Até aí, a beleza do livro residia precisamenteno facto de que a Lily não pertencia ao mundo do Conde, mas ele tinha feito umapromessa de a amar abertamente, independentemente desse pormenor que os assombradesde o início. Entretive-me bastante a ler este livro, apaixonei-me pelaspersonalidades das personagens principais, mas a meio odiei o facto de eledeslizar para centenas de outros livros que já li, sobre alguém a seguir a donzelae a actuar de modo suspeito e a conspirar para matar as personagens principais.Espero que ela não faça o mesmo com o OneSummer to Remember, que é a continuação centrada noutros personagens e queespero que seja editado em Portugal também. Como comprei este livro emFevereiro, e a sua primeira edição foi lançada agora em Portugal e o li em doisdias, provavelmente terei de esperar bastante até que saia o segundo...

De qualquer forma, é melhor do que muitos livros do género, com a óbviaexcepção da Sherry Thomas, que é a rainha do género na minha opinião.
Classificação: 4****

#28 KEATING, Barbara e Stephanie - Irmãs de Sangue

Sinopse: Quénia, 1957. Durante a infância, três meninas demeios sociais muito diferentes tornam-se irmãs de sangue: a irlandesa SarahMackay, a africânder Hannah van der Beer e a britânica Camilla Broughton-Smithjuram que nada nem ninguém quebrará o laço que as une. Mas o que o futuro lhesreserva vai pôr à prova os seus sonhos e certezas. Separadas pela distância e pelasobrigações familiares, as três jovens são atiradas para um mundo de interessesem conflito. Camilla alcança o sucesso como modelo na animada Londres da décadade 1960; Sarah Mackay é enviada para a universidade na sua Irlanda natal, umaexperiência penosa que apenas fortalece a sua determinação de voltar paraÁfrica; e a família de Hannah Van der Beer esforça-se para manter a fazenda queos seus antepassados africânderes erigiram na viragem do século. Os seus laçosserão constantemente postos à prova e, a par do exotismo de África, a suaamizade será pano de fundo para interesses amorosos cruzados e promessasquebradas.

Opinião: Comecei a ler este livro há anos atrás. Senão me engano, comprei-o na feira do livro de 2010. Portanto comecei a lê-loaí, em Maio de 2010. Tem 670 páginas e devorei 600 delas num instante. Nãoposso dizer que me recordo de todos os pormenores da história, mas recordo-medos núcleos centrais, da Hannah, da Sarah e da Camilla. Das vidas e dasangústias de cada uma. Recordo-me de que a Sarah foi sempre apaixonada peloirmão da Hannah, o Piet, e que o Piet foi sempre um capacho da Camilla (atécerto ponto). Depois recordo-me de que a Camilla era apaixonada por um homem dasavana que combate caçadores ilegais, o Anthony, e que este Anthony é ummulherengo. E lembro-me das tradições africanas, deste Quénia dos anos 60,quando a Inglaterra finalmente recua e o país fica entregue a si próprio.Recordava-me das violências raciais e do medo e das atrocidades que forampautando as vidas daquelas três amigas.


Hoje, 01 de Maio de 2012, peguei nas últimas 70 páginas e li-as de enfiada. Recordei-me do sentimento geral do livro - tão humano. Da história de África, do seu perfume, tão bem transmitido nestas linhas... Não sei se é de África - que sempre me chamou através do meu avô materno - ou se é do talento inegável destas duas irmãs e autoras, mas o que é certo é que há meses que não chorava ao ler um livro, e quando dei por mim, estas 70 páginas renascidas de outras 600 lidas em 2010 levaram a lágrimas involuntárias. Levaram a um sentimento de saudade e melancolia e pertença. E fiquei ansiosa por ler os próximos desta trilogia, por muito maçudos que sejam!
Classificação: 5*****
II - Um Fogo Eterno

»Leituras para Maio/relatório Abril

Sendo que em Abril não comecei sequer o Monte dos Vendavais, nem acabei o meu Demência, nem acabei o A Rainha no Palácio das Correntes de Ar, vou ser menos ambiciosa este mês... vejamos.


1 - Acabar o Demência
2 - Acabar A Rainha no Palácio das Correntes de Ar
3 - Começar e acabar O Monte dos Vendavais (substitui A Guerra dos Tronos)
4 - Começar e acabar o Soberba Escuridão
5 - Começar e acabar o Promessas de Amor
6 - Começar e acabar o Ficarei à Tua Espera (substitui o Eu Sei que Voltarás)

Quanto ao mês passado:

Li 250/715 páginas d'A Rainha no Palácio das Correntes de Ar, Stieg Larsson
Li 191/334 páginas do Mil Noites de Paixão (e terminei-o: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/04/26-hunter-madeline-mil-noites-de-paixao.html), Madeline Hunter
Li 113/432 páginas do Nunca Me Esqueças (e terminei-o: http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/04/27-pease-lesley-nunca-me-esquecas.html), Leasley Pearse
Li 56/400 páginas do Demência, Célia Correia Loureiro
Li 50/379 da Guerra dos Tronos, George R. R. Martin
Li 288/288 do Alma Rebelde, Carla M. Soares (http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/04/23-soares-carla-m-alma-rebelde.html)
Li 212/212 d'Uma Promessa de Amor (http://castelos-de-letras.blogspot.pt/2012/04/25-rebelo-tiago-uma-promessa-de-amor.html), Tiago Rebelo

Total: 1160 páginas em Abril


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