(Faz sentido para a natureza destas personagens quando a Kate Bush diz: «let me have it, let me grab your soul», porque a Catherine parece, de facto, a dona da alma do Heathcliff, capaz de despedaçá-la e renascê-la quando lhe dá na gana...)
É a segunda vez que leio um livro em que detesto/desprezo/me irrito praticamente com todas as personagens. O outro foi o Madame Bovary, em que a dita cuja, Emma Bovary, era uma mártir queixosa, egoísta, mimada, caprichosa, carente que dava dó e cheia de mesquinhices. O marido era um panhonha e ela fazia gato-sapato dele e os seus amantes... afinal, o que é que viam numa mulher tão desprezível?
A Catherine Earnshaw... é uma vendida. Ama um homem cuja alma se funde, claramente, com a sua. E é também burra, porque não se dá conta de que não poderá prosseguir sem ele. Julga que a vida será mais fácil se desposar alguém rico, bonito e respeitado nas redondezas. Não é ninguém que a afasta de Heathcliff: não é preciso, ela desdenha dele. Na mesma conversa diz que o ama e que lhe seria degradante casar-se com ele. Depois decide que, ela não pode tê-lo, mais ninguém o terá. Que é como quem diz, faz os possíveis - é mesmo maldosa - para o afastar da sua pretendente. É intriguista, chorosa, uma vez mais mimada e caprichosa. Não chega a ser ternurenta, é uma peste. Só Heathcliff poderia, de facto, amá-la. E é por isso que são feitos um para o outro.
Heathcliff começa por ser maltratado n'O Monte dos Vendavais. É humilhado e leva uns quantos sopapos, e a única pessoa que costuma ficar do seu lado - até que surja alguém que lhe interesse mais - é a Cathy. Acontece que, um dia, ela deixa-se ter um «insignifcante» capricho pelo Linton - que é loiro, rico e bem aparentado na região. Este afastamento da sua única amiga torna-o frio e áspero e, ao contrário das suspeitas, largamente vingativo. Desaparece no mundo e enriquece e, quando regressa, vem disposto às piores vilanias. É cruel, bruto, não tem respeito nem admiração a ninguém excepto, talvez, à Nelly que é, juntamente com o Hareton, a minha personagem favorita.
A Catherine Linton, filha da Catherine, é outra menina mimada, desobediente, caprichosa e chorona. Tem subidas e descidas de humor, faz promessas que quebra, escapa-se de casa, apaixona-se por um imbecil e deixa-se enganar por todos. Além disso é preconceituosa e desdenha do primo Hareton, que é apaixonado por ela e o único disposto a protegê-la das iras e dos desmandos do Heathcliff n'O Monte dos Vendavais. A Nelly Dean é a governanta, creio. É metediça, mas é também a voz da razão. Acaba por estar em todo o lugar, saber de tudo e até, ocasionalmente, interfere na vida dos que a rodeiam. É atrevida de língua e dei umas boas risadas graças ao modo aberto como ela desafiava o Heathcliff, que ela praticamente cria, e de quem todos os outros têm medo.
O Hareton é o meu favorito. É a personagens que faz o caminho inverso das outras, que vão endurecendo devido às maldades, e que têm naturezas rancorosas e vingativas. O pai de Hareton Earnshaw, Hindley, estava louco e, como consequência, divertiu-se largamente a aterrorizar o filho quando este é pequeno. Heathcliff toma-o depois a seu cargo, fica-lhe com os bens, embrutece-o ainda mais e Hareton tem-lhe uma lealdade de cão. Ao contrário do próprio Heathcliff, cuja história é semelhante, não odeia o seu carcereiro, pelo contrário, ganha-lhe respeito e afecto, provavelmente porque as raízes humildes (para não dizer miseráveis) de Heathcliff permite a este último entender a degradação em que o próprio Hareton cresce. Mas, ainda que a prima, Catherine Linton, desdenhe do seu analfabetismo, ele ofende-se e fica magoado, mas não lhe ganha rancor. Também não é tão orgulhoso que despeite a amizade dela quando ela lha oferece com honestidade e, é certo, é no coração deste rapaz tão maltratado que surgem as sementes que vão proporcionar a paz e a harmonia a esta família, por fim reduzidas aos dois: Catherine Linton e Hareton Earnshaw, este sim, um amor muito mais bonito do que o da própria Catherine (mãe) com Heathcliff.
Tendo cumprido o meu desafio pessoal a dia 30.05.2012, defino o próximo:
1. Acabar o Sob o Céu de Paris 2. Acabar A Guerra dos Tronos (desisti) 3. Começar e acabar o Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher 4. Começar e acabar o Frankenstein (em vez do Drácula) 5. Começar e acabar O Teu Rosto Será o Último 6. Começar e acabar o Terra de Neve 7. Começar e acabar O Deus das Pequenas Coisas
Opcional 1: Um Crime no Expresso Oriente, Agatha Christie
Novas regras: (pelo menos) 1 autor luso por mês 1 clássico por mês
Submeti-a, então, ao seguinte catecismo, a que não faltava acerto, vindo de uma rapariga de vinte e dois anos:
- Porque é que o ama, Miss Cathy?
- Que disparate, amo-o: isso basta.
- De modo algum; deve dizer porquê.
- Bem, porque é bonito, e é agradável estar com ele.
- Mau - foi o meu comentário.
- E porque é jovem e alegre.
- Mantenho o mau.
- E porque ele me ama.
- Indiferente, nesse ponto.
- E será rico, e eu gostaria de ser a mulher mais importante das redondezas, e sentirei orgulho de ter tal marido.
- Pior que tudo! E agora, quer dizer-me como o ama?
- Como toda a gente ama. É tola, Nelly.
- Não, não sou. Responda.
- Amo o chão que ele pisa, o ar que respira, e tudo aquilo em que toca, e cada palavra que ele diz... Amo todas as suas feições, e todos os seus actos, e a ele todo e completamente. Pronto, aí tem!
- E porquê? (...) Longe de mim estar a troçar, Miss Catherine. A menina ama Mr. Edgar porque ele é bonito, e jovem, e alegre, e rico, e a ama. O último pormenor, no entanto, não vale nada: amá-lo-ia sem isso, provavelmente, e, com isso, poderia não o amar, a não ser que ele possuísse os primeiros quatro atractivos (...) Mas há no mundo vários outros jovens bonitos e ricos, possívelmente, até, mais bonitos e mais ricos do que ele é... O que a impediria de os amar? (...) E ele não será sempre jovem e bonito, e poderá não ser sempre rico.
- Agora é. E a mim só me interessa o presente (...)
- Bem, isso arruma a questão: se só lhe interessa o presente, case com Mr. Linton.»
Sobre o amor de Catherine a Heathcliff
«Agora desagradar-me-ia casar com Heathcliff; por isso, ele nunca saberá como o amo, e amo-o, não por ele ser bonito, Nelly, mas porque ele é mais eu própria do que eu sou. Seja do que for que as nossas almas são feitas, a dele e a minha são iguais, e a de Linton é tão diferente quanto um raio de luar é de um relâmpago, ou a geada do fogo (...) Não sei exprimi-lo, mas certamente vossemecê e toda a gente têm a noção de que existe, ou deveria existir, uma existência nossa para além de nós. Para que serviria a minha criação se eu estivesse inteiramente contida aqui? Os meus grandes tormentos neste mundo têm sido os tormentos de Heathcliff, e eu observei e senti cada um deles desde o princípio; o meu grande pensamento na vida é ele. Se tudo o mais desaparecesse, e ele permanecesse, eu continuaria a existir, e se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, o universo transformar-se-ia num imenso desconhecido. Eu não pareceria uma parte dele. O meu amor por Linton é como a folhagem das florestas. O tempo há-de mudá-lo, tenho perfeita consciência disso, como o Inverno muda as árvores. O meu amor por Heathcliff assemelha-se às rochas eternas que existem por baixo: uma fonte de pouco deleite visível, mas necessárias. Nelly, eu sou Heathcliff, ele está sempre na minha mente, não como um prazer, do mesmo modo que eu não sou sempre um prazer para mim mesma, mas como o meu próprio ser.»
Sinopse:OMonte dos Vendavais é uma dasgrandes obras-primas da literatura inglesa. Único romance escrito por EmilyBrontë, é a narrativa poderosa e tragicamente bela da paixão de Heathcliff eCatherine Earnshaw, de um amor tempestuoso e quase demoníaco que acabará porafectar as vidas de todos aqueles que os rodeiam como uma maldição. Adoptado emcriança pelo patriarca da família Earnshaw, o senhor do Monte dos Vendavais,Heathcliff é ostracizado por Hindley, o filho legítimo, e levado a acreditarque Catherine, a irmã dele, não corresponde à intensidade dos seus sentimentos.Abandona assim o Monte dos Vendavais para regressar anos mais tarde disposto alevar a cabo a mais tenebrosa vingança. Magistral na construção da tramanarrativa, na singularidade e força das personagens, na grandeza poética da suavisão, nodoso e agreste como a raiz da urze que cobre as charnecas deYorkshire, O Monte dos Vendavais reveste-seda intemporalidade inerente à grande literatura.
Opinião: O Monte dos Vendavais é umdaqueles títulos de livro que chegam a toda a gente, inclusive a quem nãocostuma ler. Eu não fazia ideia do que se tratava, mas o mais próximo quepensei estar da verdade foi ao compará-lo com o E Tudo o Vento Levou. Estavaenganada porque ambos os livros são sobre guerra – a obra prima da Mitchellfala sobre a Guerra de Secessão na América, enquanto o Monte dos Vendavais falasobre uma série de guerras interiores, praticamente tão extensos noacompanhamento de personagens um quanto o outro. Refiro ainda que ambas asmulheres, Mitchell e Brönte, publicaram apenas uma obra e que estas fazem partedos melhores círculos da literatura internacional.
Quanto ao Monte dos Vendavais,para quem nunca ouviu falar do livro – ou para quem, como eu, já tinha ouvidofalar mas sem encetar a viagem necessária pelas suas páginas – é a história deduas famílias, os Earnshaw e os Linton, conspurcada por um amor diabólico entreduas pessoas. Duas pessoas que foram incapazes de se abrir uma perante a outra.Talvez um título adequado para este romance fosse “Orgulho e Preconceito”,porque os há aqui mais do que na obra da Jane Austen assim baptizada. É ahistória de como os piores sentimentos germinam nos peitos rancorosos, incitadospor mesquinhezes e ódios, e estas pessoas se tornam sedentas de vingança. Ésobre vingança, sim. É sobre tirar o que se pôde a quem nos fez mal, sobretudoaquilo que lhe sabemos ser mais valioso. A Emily prestou-se a um mergulho afundo na natureza humana, e emergiu dela para este romance com o pior que lá encontrou.
Acho que a Emily fez umaaposta inteligente quando colocou a governanta do Monte dos Vendavais, NellyDean, a contar a história da família ao novo inquilino da Granja vizinha aoMonte, Mr. Lockwood. Depois é louvá-la, à Nelly pelas suas francas oscilaçõesde humor, tão facilmente compreensíveis por qualquer humano que nem requeremexplicação. E à Emily, por aceitar revelar o nível de introspecção que creioter sido necessário para a construção deste livro em particular.
Quanto às personagens, muitossão apenas capazes de se referir a elas com amor ou ódio… Eu sou incapaz, menosde uma hora depois de ter lido o livro, de reflectir sobe o seu carácter, osseus motivos e os seus comportamentos. Deste modo me comprometo, apósreflectir, a criar um tópico somente sobre Catherine Earnshaw e Heathcliff.
Diálogo entre Catherine Earnshaw e Nelly Dean, a ama, decorrido no mesmo momento:
Sobre o amor de Catherine a Edgar Linton
«- Antes de mais nada, ama Mr. Edgar?
- Quem pode deixar de o amar? Claro que amo.
Submeti-a, então, ao seguinte catecismo, a que não faltava acerto, vindo de uma rapariga de vinte e dois anos:
- Porque é que o ama, Miss Cathy?
- Que disparate, amo-o: isso basta.
- De modo algum; deve dizer porquê.
- Bem, porque é bonito, e é agradável estar com ele.
- Mau - foi o meu comentário.
- E porque é jovem e alegre.
- Mantenho o mau.
- E porque ele me ama.
- Indiferente, nesse ponto.
- E será rico, e eu gostaria de ser a mulher mais importante das redondezas, e sentirei orgulho de ter tal marido.
- Pior que tudo! E agora, quer dizer-me como o ama?
- Como toda a gente ama. É tola, Nelly.
- Não, não sou. Responda.
- Amo o chão que ele pisa, o ar que respira, e tudo aquilo em que toca, e cada palavra que ele diz... Amo todas as suas feições, e todos os seus actos, e a ele todo e completamente. Pronto, aí tem!
- E porquê? (...) Longe de mim estar a troçar, Miss Catherine. A menina ama Mr. Edgar porque ele é bonito, e jovem, e alegre, e rico, e a ama. O último pormenor, no entanto, não vale nada: amá-lo-ia sem isso, provavelmente, e, com isso, poderia não o amar, a não ser que ele possuísse os primeiros quatro atractivos (...) Mas há no mundo vários outros jovens bonitos e ricos, possívelmente, até, mais bonitos e mais ricos do que ele é... O que a impediria de os amar? (...) E ele não será sempre jovem e bonito, e poderá não ser sempre rico.
- Agora é. E a mim só me interessa o presente (...)
- Bem, isso arruma a questão: se só lhe interessa o presente, case com Mr. Linton.»
Sobre o amor de Catherine a Heathcliff
«Agora desagradar-me-ia casar com Heathcliff; por isso, ele nunca saberá como o amo, e amo-o, não por ele ser bonito, Nelly, mas porque ele é mais eu própria do que eu sou. Seja do que for que as nossas almas são feitas, a dele e a minha são iguais, e a de Linton é tão diferente quanto um raio de luar é de um relâmpago, ou a geada do fogo (...) Não sei exprimi-lo, mas certamente vossemecê e toda a gente têm a noção de que existe, ou deveria existir, uma existência nossa para além de nós. Para que serviria a minha criação se eu estivesse inteiramente contida aqui? Os meus grandes tormentos neste mundo têm sido os tormentos de Heathcliff, e eu observei e senti cada um deles desde o princípio; o meu grande pensamento na vida é ele. Se tudo o mais desaparecesse, e ele permanecesse, eu continuaria a existir, e se tudo o mais desaparecesse e ele permanecesse, eu continuaria a existir, e se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado, o universo transformar-se-ia num imenso desconhecido. Eu não pareceria uma parte dele. O meu amor por Linton é como a folhagem das florestas. O tempo há-de mudá-lo, tenho perfeita consciência disso, como o Inverno muda as árvores. O meu amor por Heathcliff assemelha-se às rochas eternas que existem por baixo: uma fonte de pouco deleite visível, mas necessárias. Nelly, eu sou Heathcliff, ele está sempre na minha mente, não como um prazer, do mesmo modo que eu não sou sempre um prazer para mim mesma, mas como o meu próprio ser.»
O Monte dos Vendavais, Emily Brontë
#2
Desabafo de Heathcliff para com Catherine:
«- Estás a mostrar-me agora como foste cruel, cruel e falsa. Porque me desprezaste? Porque traíste o teu próprio coração, Cathy? Não tenho uma palavra de conforto: tu mereces isto. Mataste-te a ti própria. Sim, podes beijar-me, e chorar, e arrancar-me beijos e lágrimas. Eles desgraçam-te, elas amaldiçoam-te. Amavas-me. Sendo assim, que direito tinhas de me abandonar? Que direito, responde-me!, tinhas de sentir o insignificante capricho que sentiste por Linton? Como nem a miséria, nem a degradação, nem a morte, nem nada que Deus ou Satanás pudessem inflingir nos teria conseguido separar, tu, por tua própria verdade, fizeste-o. Eu não despedacei o teu coração: tu é que despedaçaste o meu. Pior, muito pior para mim que sou forte. Quero viver? Que vida será a minha quando tu... Oh, Deus! Gostarias tu de viver com a tua alma na sepultura?»
#3
Heathcliff a propósito do filho do seu inimigo, a quem abriga por morte do segundo:
«- Ele causa-me prazer! - continuou a pensar alto. - Satisfez as minhas expectativas. Se fosse um idiota nato, não me agradaria tanto. Mas não é idiota nenhum, e eu posso compreender todos os seus sentimentos, porque os senti pessoalmente. Sei, por exemplo, o que está a sofrer agora, exactamente, e que não é mais do que o começo do que sofrerá. E ele nunca será capaz de emergir do seu absurdo de rudeza e ignorância. Tenho-o mais apertado do que o patife do pai me teve a mim, e mais rebaixado, pois ele orgulha-se da sua bruteza. Ensinei-o a desdenhar de tudo quanto não é animal como sendo estúpido e fraco (...) Se o maldito defunto pudesse levantar-se da cova para me insultar pelos danos causados ao seu rebento, eu teria o prazer de ver o dito rebento enxotá-lo de novo para lá, indignado por ele se atrever a injuriar o único amigo que tem no mundo! A ideia fez Heathcliff soltar uma gargalhada diabólica.»
Sinopse:Elissande Edgerton é uma mulher desesperada, uma prisioneira nacasa do tio tirano. Apenas através do casamento pode ela reivindicar aliberdade por que anseia. Mas como encontrar o homem perfeito? Lorde Vere estáhabituado a armadilhas irresistíveis. Como agente secreto do governo, localizoualguns dos criminosos mais tortuosos em Londres, enquanto mantém a sua fachadade solteirão idiota e inofensivo. Mas nada pode prepará-lo para o escândalo deser apanhado por Elissande. Forçados a um casamento de conveniência, Elissandee Vere estão prestes a descobrir que não são os únicos com planos secretos. Coma sedução como única arma - e um segredo obscuro do passado a pôr em risco asvidas de ambos – poderão eles aprender a confiar um no outro, mesmo enquanto seentregam a uma paixão que não pode ser negada?
Opinião: O primeiro livro que li da Sherry Thomasfoi o “Um Amor Quase Perfeito”. Visto que já li centenas de romances históricos – costumava ler um por noite, quebaixava da internet e devorava atéaltas horas da madrugada – é-me impossível catalogá-los todos e, mais ainda,é-me impossível distingui-los. Mas os da Sherry distinguem-se, sem dúvida. Nãosó as personagens são únicas, como são inteligentes, perspicazes, transcendem oslimites da ficção e parecem-nos quase pessoas comuns e excepcionais. O LordeVere, por exemplo, foi acusado por alguns críticos ao romance de ser estupidamente idiota. Ora bem; leram bemo livro? Qual é a parte que não entenderam sobre ele ter inúmeros motivos, entre os quais ser Agente da Coroa, para sefingir de tolo? Era importante que ninguém lhe desse credibilidade. Ri-mesobremaneira com as situações que proporcionou, e arrepiei-me literalmentequando emergia desse torpor de asno e assumia a inteligência que era, de facto,dele. Ele esteve sempre muito à frente de todos no livro, muito honesto e fiela si próprio nas suas desconfianças. Apercebi-me agora que costumo gostar muitomais dos personagens masculinos que a Thomas cria do que dos femininos. AVerity, d’O Fruto Proibido, passou-me quase ao lado. Foi ele, o Stuart, com asua franqueza imperturbável, que me ficou na memória. A Lady Tremaine chamava-secomo, mesmo? Estou a falar do meu romance “romance” favorito de todos os tempose não me recordo do nome dela. Ele? Lorde Tremaine? Chamava-se Camden e foi inesquecível, tortuoso, lógico e brilhante. Masgostei da Elissande, entendi os seus motivos e anseio igualmente pela liberdadeque ela ansiava. Não é uma tola em busca de amor – é uma prisioneira em buscade ar fresco. Poralgum motivo os RITA Awards elegeram o “Promessas de Amor” como o melhorromance histórico de 2011. A Thomas não se limita a criar enredo para cama eromance com “um bocadinho de estória” (odeio esta forma de escrever estória, mas quis que se entendesse doque falo). Não, não. Os livros dela têm História, intriga, inteligência,acção, romance, sensualidade, sofrimento, etc., quanto baste. Ainda não a vicair em clichés. Pelo menos, até aqui, nenhuma das suas personagens principais foiraptada. Não houve mal-entendidos ridículos entre o casal-maravilha. Há simmotivos plausíveis – e culpas mútuas – para que se mantenham afastados. E eladescreve a solidão, a distância, o afastamento… o anseio por quem se ama comoninguém. Pensar em “Um Amor Quase Perfeito” ainda me traz angústias…
Sinopse:Por vezes, o que nos ultrapassa é precisamente aquilo de quenecessitamos...
Gerry Rubato tinha tudo o que julgava precisarda vida. Continuava apaixonado pela namorada dos tempos da faculdade, com quemcasara há quase vinte anos; tinha uma filha inteligente e de espírito autónomoe a novidade de um novo filho a caminho. Foi então que tudo mudoudrasticamente. Sem grandes explicações, a filha fugiu com o namorado e um mêsapós o nascimento do filho, a mulher morreu de repente. Agora Gerry tem queenfrentar um novo desafio, pois precisa de ser tudo para o seu filhorecém-nascido e ter coragem para continuar a lutar e refazer a sua vida.Carregado de ternura, humor, sabedoria e personagens inesquecíveis,Ficarei à tua Espera é um romance que lhe vai arrebatar ocoração.
Opinião:A comparação que um dos críticos fez, entre o Michael Baron e o Nicholas Sparks, não é de todo despropositada. O livro tem, de facto, um enredo tipicamenteSparksiano. Felizmente, é um pouco mais profundo do que isso. Ainda não assim, não foi o suficiente para me cativar. Alémde uma obsessão óbvia pela palavra «fascínio», palavra que me irrita deverasquando constantemente utilizada a propósito de sopas, o autor meteu demasiado baseball no livro. Dá ideia que precisade encher chouriços. É interessante o desenvolvimento da relação do pai com ofilho bebé, assim como o desenvolvimento do pequenino. É até tocante a perda pela qual passa, e não quereria imaginar-me nessa situação. Mas é um livro muitoleve, muito corriqueiro, aborreceu-me deveras várias vezes. Se tivesse voltadoatrás, não teria apreendido esta pequena viagem. Faço uma ressalva ao bom humordo autor, que me pôs a rir com algumas deixas. Quanto à editora, houve umaaltura do livro em que o texto tem umas quantas gralhas – perguntei-me se arevisora estaria a ter um mau dia quando reviu este livro. É uma leitura leve,ideal para as férias de verão e para quem não quer aborrecer-se demais com aleitura. Houve um ou outro momento em que me comovi… o autor é bom a expressarsentimentos. É o enredo que não me prendeu.
Acabei de ler o livro e estou absolutamente encantada!
Nunca pensei dar a minha opinião sobre um livro publicamente. Não sou crítica literária, sou apenas uma leitora que gosta de bons livros. Por norma apenas partilho a minha opinião com as pessoas mais chegadas e a quem gosto de “tentar” com as minhas leituras, para depois partilharmos pensamentos, sensações e até talvez criticas, mas nunca me atrevi a fazê-lo publicamente.
Este caso foi diferente! As emoções ao ler o livro foram tão intensas que senti que tinha de dizer alguma coisa.
Gosto muito de autores portugueses! Gosto de “estórias” sobre este nosso cantinho e tenho sempre curiosidade em conhecer os nossos novos autores.
Ao ler a sinopse fiquei conquistada. Talvez pelo facto de referir uma aldeia beirã e as minhas raízes virem de uma! Ou pelo tema ou talvez apenas curiosidade por ser uma autora tão jovem e portuguesa. Não sei, conquistou-me e não descansei enquanto não consegui o livro, o que aconteceu exactamente através da autora, com quem troquei alguns e-mail e cuja personalidade naquelas poucas palavras me fascinou. E não me enganei! Ela é fascinante.
Assim que comecei a ler o livro, confirmou-se uma boa escolha! É um livro com bastante ritmo, que nos prende desde a primeira frase e que se torna difícil de pousar. Uma história arrebatadora!
Os temas que escolheu são ambiciosos por dolorosos e difíceis, infelizmente reais mas a autora não teve medo de lhes pegar e trabalhou-os com uma maturidade que nos espanta numa pessoa tão jovem. Mostrou um conhecimento profundo do Mal e da alma humana e do Mundo, que gente bastante mais velha não possui.
A escrita é acessível e fluída, arrebatadora mas também profunda e nota-se que foi crescendo ao longo do livro. Gostei e tive dificuldades em “livrar-me” dele depois de lido, é tão intenso que permanece em nós mesmo depois de terminado, e talvez por isso sentisse necessidade de falar sobre ele, tinha de o “expulsar”.
No final da leitura fica a sensação que somos amigos, vizinhos ou simples conhecidos das personagens e que gostaríamos de continuar com elas, é difícil despedirmo-nos…
São personagens fortes com uma grande carga psicológica intensa, que ao longo do livro nos emocionam, nos revoltam, que nos fazem ter vontade de interferir, que nos fazem “torcer” por elas. Os “recadinhos” de Olímpia a ela própria são enternecedores, e fazem-nos pensar como deve ser desesperante não conseguir lembrar. Luz e Maria são as filhas que todos gostaríamos de ter, embora ache que pelo menos a Luz podia ter tido um papel mais relevante. A força e a coragem de Letícia impõem-se no decurso da trama e emocionam-nos ainda que por vezes nos revolte a falta de reacção perante o que pensam dela e não reaja perante tanta injustiça, mas é um romance e não a vida real.
As personagens masculinas principais, Sebastião e Gabriel, embora de gerações diferentes, são movidas pelos mesmos sentimentos: amizade, amor, e acima de tudo a necessidade de proteger as mulheres que de uma forma ou outra fazem e fizeram sempre parte da sua vida, são personagens muito ricas. Acho que o Sebastião podia ter sido um pouco mais explorado e ter tido um papel mais activo.
Não vou obviamente contar a história. Essa terá de ser uma experiência pessoal, mas digo: vale a pena. É uma história sobre o nosso tempo, mas é também intemporal. É uma história sobre sentimentos, emoções, lutas interiores, mas é também uma história sobre o nosso Portugal interior com grande riqueza de pormenores, com cor, com cheiros…
A Célia tem talento, na minha humilde opinião muito talento! Tenho a certeza que virá a ser um grande nome no panorama literário português. Leiam este “Demência” e compreenderão o que digo. Eu já o fiz e já espero ansiosamente o próximo livro.
Obrigada Célia. Continue sempre e sempre igual a si própria.
Parabéns.
(quase chorei, Margarida, obrigada!!!)
16 de Maio 2012 - Susana Cardoso - 3,5 (em 5)
Este é um livro de leitura bastante acessível. Que retrata temas muito actuais e que deveriam ser discutidos com mais frequência. Um livro com personagens envolventes e um ritmo constante e agradável. A Célia é uma escritora promissora, e sendo este o seu início de carreira, estou certa de que, se ela realmente optar pela escrita ao longo da vida, terá sucesso junto do público, principalmente feminino. Toda a evolução temporal é bastante coerente. Não denotei nenhuma falha, e está em completa concordância com a realidade (21 de Dezembro de 1945 foi, de facto, uma Sexta-feira) Outro ponto bastante positivo, pelo menos na minha opinião, é que o livro não foi escrito obedecendo ao Acordo Ortográfico de 1990. Na minha opinião, as duas histórias principais deste livro competem uma com a outra pela intensidade e, julgando pelo título do livro, pensei que se centrasse mais sobre uma delas. Tenho pena que assim não tenha sido. A autora decidiu conferir maior intensidade ao romance do que própriamente à doença mental, o que tenho a certeza cativará mais público. Ao longo da leitura, apercebi-me de algumas falhas gramaticais, ou de escolhas de um ou outro vocábulo menos felizes, mas nada que o treino não resolva. No geral, é um bom trabalho, mas com possibilidade de melhorar a nível técnico (uso de mais figuras de estilo, vocabulário mais abrangente). Uma excelente escolha para uma leitura de férias.
(Obrigada Susana, especialmente pelo trabalho de análise profunda à obra que me enviou por e-mail!)
Certamente que não sofro sozinha deste mal: - Ter cerca de 27,5% dos livros de que disponho ainda por ler.
Decidi listá-los e lançar-me a uma leitura activa dos mesmos. Devo estar numa óptima fase porque decidi que não compro mais livros enquanto não ler pelo menos cinco dos que me proponho a ler.
Em baixo a lista dos livros (meus) que nunca li:
Ora cá estão esses 27,5% da minha biblioteca: A azul os primeiros cinco a que me lançarei...
O Priorado do Cifrão, João Aguiar
Retrato de Ricardina, Camilo Castelo Branco
Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett
És o Meu Segredo, Tiago Rebelo
O Teu Rosto Será o Último, João Ricardo Pedro
Uma Linha de Torres, Emílio Miranda
As Flores do Templo, Rani Manicka
A Leste do Sol, Julia Gregson
As Vinhas da Ira, John Steinback
A Pérola, John Steinback
Blonde, Joyce Carol Oates
O Monte dos Vendavais, Emily Brönte
Jane Eyre, Charlotte Brönte
Sense and Sensibility, Jane Austen (EN)
Mansfield Park (EN)
O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas
Vinte Quatro Horas na Vida de Uma Mulher, Stefan Zweig
1891 páginas depois, acabei de ler a Trilogia Milénio, dofalecido jornalista Stieg Larsson. Com esta “viagem” atribulada de quase cincomeses, tirei várias conclusões sobre mim como leitora, sobre o meu género delivro e, sobretudo, sobre o não me meter em Trilogias/Sagas porque é umdesgaste enorme de tempo e cabeça. Muitas vezes avançamos frustrados, na ânsiade resolver todas as pontas soltas de uma vez, de chegar à realização dosheróis e à punição dos bandidos. Esta Trilogia é, média de pontuações, 5*****.No entanto, devo dizer que o segundo livro é, de longe, o meu favorito. E oterceiro o mais “fraco” em termos de ritmo e entusiasmo.
Como leitora dei por mim a pensar, várias em vezes, emcomo o Larsson conseguiu hipnotizar-me. Quando algo me é difícil demais,desisto. No entanto sorvo 1891 páginas de uma cultura que desconheço - a sueca- de pessoas que me são estranhas e com as quais não é suposto ter ponto algumde concordância - o jornalista mulherengo Blomkvist e a excêntrica hackerda Salander, de um governo e um sistema judicial ao qual nunca tinha dedicadodois minutos, à própria Europa do Norte e às suas questões financeiras - indústria,investimentos, equipamentos, e social - imigração, comunicação social,problemas sociais. E política, claro. Primeiros-ministros, monarquia, etc.,etc., etc.. Fiquei orgulhosa de mim por ter mergulhado tão fundo em questõestão complexas. Os livros são o raio de uns tabuleiros de xadrez avançadíssimo.Por vezes dei por mim totalmente às aranhas e só esforçando-me à séria chegueilá... Mas são simultaneamente acessíveis, e por isso consegui!
Adorei o surrealismo das situações que o Larsson teceu emteia ao longo de três longos livros, adorei o modo quase científico comoalinhavou as explicações. Convenceu-me do princípio ao fim, pôs-me a rir - afranguela da Salander avia dois motoqueiros machões com um taser e umapistola que consegue remover das mãos dum deles - e fez-me amar de coração umaautêntica heroína massacrada dos tempos modernos, que não se fica e éfrancamente mais inteligente do que todos ao seu redor. Oh Lisbeth...vou ter saudades tuas!
Esta personagem [Lisbeth Salander] é épica, ao lado daScarlett O’Hara do “E Tudo o Vento Levou”, é a minha favorita de tudo o que liaté agora. Com a sua extrema magreza, olhos pintados de negro, tachas ecorrentes, saias curtas de couro, botas de biqueira de aço e cabelo tingido depreto e escortanhado, com piercings nos mamilos e tatuagens por todo o lado...Adorei o seu passado, admiro-a, admiro o seu instinto esmagador desobrevivência. Amo o facto de ter sido, ao longo dos três livros e sobdescrição do próprio Mickael Blomkvist “Uma rapariga cheia de recursos”. Acaboua trilogia com uma pistola de pregos eléctrica na mão, a lutar por se safar àsmanápulas implacáveis dum gigante sem sensibilidade à dor.
O Larsson habituou-me à sua escrita quase jornalística.Por vezes áspera, por vezes comparável à de uma menina inocente. “Fazer amor”,aplicado a um mulherengo. “F**er”, quando é a Lisbeth Salander a dizê-lo.
Sinopse: Lisbeth Salandersobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: oseu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas nohospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusaçõesque recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbethsente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada comoutro problema: o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se nomesmo hospital com ferimentos menos graves e intenções mais maquiavélicas…
Entretanto, mantêm-se asmovimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurançasueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra estádeterminada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho.
Mas nem tudo podia ser mau: Lisbethpode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre aconspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também nãoestá sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, AnikaGianini, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger?Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a serameaçada? E quem é Rosa Figuerola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?
Opinião: Sabe-se, praticamente desde o início, que aLisbeth Salander vai ser julgada. Acontece que ela foi quase mortalmente feridapelo Zalachenko, pelo que passa metade do livro a restabelecer-se no Hospital,sob vigia médica e policial. O julgamento só sucede praticamente nas últimasduzentas páginas de um livro de 731. É no mínimo frustrante. Todo o livro é umjogo de estratégia avançada. É por isso que fiquei estupefacta com a mentebrilhante do Larsson. Temos, em várias frentes e sob diversos propósitos, todosem conjunto para conduzirem a absolição/condenação/internamento da Lisbethconforme os favorece, a polícia sueca, a Säpo (polícia especial de segurança doestado), a Secção dentro da Säpo (um banco de rufiões a manipular os assuntosde estado), a revista Milénio (com Mickael Blomkvist na frente e os seuscolaboradores na sua peugada), a Milton Security, o psiquiatra de Lisbeth desdeos seus doze anos, Peter Teleborian, e o tutor de Lisbeth desde os dezasseis. Éum combate épico em que o estado se contorce para esconder espiões estrangeirosdo tempo da Guerra Fria, questões de violência doméstica abafadas,prostituição, escutas e atentados ilegais, pervertidos a perseguir o objectodas suas obsessões, imigrantes a tentar entrar no país em busca de uma vidamelhor e a serem inseridas violentamente em redes de prostituiçãointernacional, exploração infantil, desfalques, deturpação de provas, etc.,etc.. E a Salander no centro disto tudo, somente munida de um computador debolso (ela, uma hacker brilhante) estendida numa cama com um colarcervical e a cicatriz recente de uma bala que lhe foi extraída do cérebro...
Hoje estive na feira do livro com a minha editora, e a dado momentou falam-me da importância da primeira frase de um livro. Eu já tinha ouvido essa associação de ideias algures (inclusive fiz um post neste blogue), e decidi testar a qualidade das primeiras frases das minhas obras. Tudo porque a Dulce Maria Cardoso, com o seu "O Retorno", pareceu deixar todos KO com esta frase:
"Mas na metrópole há cerejas"
Decidi fazer um apanhado das primeiras frases dos meus projectos:
Demência
«Olímpia Vieira era, aos sessenta e três anos, um osso duro de roer.»
O Funeral da Nossa Mãe
«Decidiu que o faria ao nascer do dia.»
A Portuguesa
«Até aos trinta e dois anos nunca senti qualquer espécie de realizaçãopessoal.»
1809
«D. João de Albuquerque apoiou a mão da sua única filha conforme estasubia para a berlinda.»
1755
«O novo espaço era amplo, solarengo e impossível de cingir com oolhar.»
Os Pássaros
«A casa era um lugar seguro.»
Surpreende-me ver que traduzem uma importância significativa (se não crucial) em relação ao curso de todos eles.