Uma vez uma amiga disse-me que tem um conhecido que abre os livros na livraria, evitando fitar a capa durante mais tempo do que o necessário, para que a primeira impressão seja a da primeira frase do livro. Com base nisto, decidi listar aqui as primeiras frases de alguns livros que tenho aqui na prateleira...
1 - «Uma vez, quando eu tinha seis anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado «Histórias Vididas», Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
2 - «Sofia Amundsen regressava da escola.», Jorteein Gäarder, o Mundo de Sofia
3 - «Mary apertou com força o corrimão do banco dos réus quando o juiz entrou na sala do tribunal», Lesley Pearse, Nunca me esqueças
4 - «Quando eu sair daqui, vamo-nos casar na fazenda de minha feliz infância, lá na raíz da serra.», Chico Buarque, Leite Derramado
5 - «Olímpia Vieira era, aos sessenta e dois anos, um osso duro de roer.» Célia C. Loureiro, Demência
Um bocadinho de egocentrismo não me faz mal... eheh.
Sinopse: Um jornalista de televisão no topo da fama. Uma criativa de sucesso no mundo da publicidade. Uma repórter cubana que busca a liberdade. Três pessoas movidas pela força de vontade nas suas profissões que perseguem objectivos maiores para as suas vidas incompletas. A perigosa aventura de Luz María a caminho do exílio leva-a a cruzar-se com Lourenço e este não podia imaginar que uma decisão tomada numa ilha tropical iria afectar irremediavelmente a sua vida. Um encontro fortuito numa estação de comboios em Lisboa, um momento de pânico motivado pela perseguição política, atira Luz Maria para os braços de Lourenço quando este vai ao encontro de Isabel. Se num primeiro instante foi apenas por solidariedade que decidiu ajudar Luz María a começar uma nova vida em Portugal, em breve Lourenço vai ver-se envolvido num turbilhão de sentimentos que o irão obrigar a fazer uma escolha impossível entre a mulher dos seus sonhos e a mulher da sua vida. Autor de enormes sucessos literários, como O Tempo dos Amores Perfeitos, O Último ano em Luanda e o mais recente O Homem Que Sonhava Ser Hitler, Tiago Rebelo apresenta-nos aqui uma história intensa de paixão, amor e amizade, que prova como a felicidade nem sempre se encontra no caminho mais evidente.
Opinião: Tiago Rebelo, Tiago Rebelo…
Talvez deva gabar a perícia queeste senhor tem para reconhecer crianças nos homens. É o segundo livro dele queleio e, segundo sei, a fórmula é a mesma. Metem-se duas mulheres ao barulho,maduras e admiráveis, e um homem indeciso como uma criança numa loja de doces. Recorta-seuma cena em duas, mete-se metade no início e metade no fim e tem-se assim umafórmula “infalível”. Depois é preciso que as mulheres digam que estão fartas deser espezinhadas, e que o homem seja tão encantador – e encantador é a palavra favorita do autor – que lhe dê a volta nofinal sabe-se lá como (ele também não se dá ao trabalho de explicar). O quedizer deste romance em específico?
Temos uma mulher (Luz María) presaao regime cubano – encantadora – que temum caso quase fortuito com um homem-criança, idiota, atraente, metido por entretodas as saias que passam. Temos essa mulher a quase arriscar a vida paraconseguir fugir do país, com a mãe atrelada. Depois temos outra mulher (Isabel)com uma carreira de sucesso no ramo da publicidade, cuja vida já foi inúmerasvezes estraçalhada pelo mesmo homem que ela considera o amor da sua vida, e aquem este Lourenço, também homem-criança, considera o amor da sua. Posto isto,não entendo como é que a mestria deste senhor se mete a enrolar as cabeças daspessoas. A mim parece-me tudo muito simples – ele passou a vida a destruir afelicidade da mulher que diz amar (apetece-me rir pelo facto de ela,aparentemente, lhe ter dado essas oportunidades todas), e então vem a cubana. Acubana, uma mulher admirável, sem dúvida, embora nunca se entenda muito bem oque a move – sem ser o desejo por liberdade, que me parece comum a qualquerser-humano num regime opressivo – e por quem ele se encanta. E o encantamento é suficiente para, uma vez que não podetê-la, meter novamente “a mulher da sua vida” na gaveta. Foi o final que mechocou mais quando uma destas mulheres, descritas como fortes e dignas peloautor, decide aceitá-lo. E desvie agora os olhos quem tiver intenções deembarcar neste mar de frases feitas, informações dispensáveis e evidente faltade empenho do autor. Mas ela ACEITA-O.Para mim era evidente que o final do livro é cada uma delas a dispensar oidiota do homem, que viveu por entre pernas uma vida inteira, que se despiu daIsabel porque “não estava preparado”, que voltou para ela só para voltar adeixá-la uma e outra vez. Que final mais perfeito, mais adulto, seria este?Desdenhou tantas vezes do doce que devia era ficar sozinho na sua casa “enorme”no Parque das Nações, a beber o típico uísque e a olhar para as luzes da Vascoda Gama. Aí sim, talvez eu admirasse um pouco este livro. Agora um final felizpara um pulha? Uma mulher de personalidade forte a submeter-se outra vez?