Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

#20 | 50 Sombras de Grey

Títulooficial: Fifty Shades of Grey @ 2014
Realizador: Sam Taylor-Johnson
Actores principais: Dakota Johnson, JamieDorman
ClassificaçãoIMDb: 4,3
 Minhaclassificação: 2,5

Este é o espaço onde partilho opiniões sobre filmes que gostei/não gostei. Sóposto os que considero dignos de serem mencionados, para o bem e para o mal.Não faço disto um diário da minha vida filmográfica. Para poder falar por fimcom conhecimento de causa, submeti-me a duas horas de Fifty Shades ofGrey, apenas para concluir que o panorama geral é ainda pior do que euimaginava. Senti que, à parte da banda sonora, nada funcionou no filme.Partindo de um livro tão pobre, a Sam Taylor-Johnson não tinha muito por ondese virar. Mesmo porque é sabido que a própria E.L. James não deixou de darpalpites sobre o filme. Isso transparece: a pressão posta em cima do filme,para que funcionasse, e dos actores, para que tornassem credíveis diálogosembaraçosos, de tão absurdos, é evidente.Tive pena do Jamie Dornan, que éacusado de ser mau actor neste filme, por não saber pôr mais afinco naschicotadas que dá à princesinha Steele. Também, ao contrário do que já tenhoouvido dizer, tenho pena da Dakota Johnson. Parece-me uma menina doce e até umtanto tímida, o que a terá tornado a pessoa ideal para assumir o papel dacabeça-oca da Anastasia Steele. Porém, a estupidez é tamanha que acaba porprejudicá-la também. Como ser-se bom actor com uma pobreza de argumento destas?Eue a minha irmã assistimos à versão não-explícita do filme juntas. Agora virem acara porque vão chover spoilers:a) Foram inúmeros os silênciosincómodos que nos obrigaram a soltar risos;b) O filme começa muito mal mesmo,com as incongruências a atropelarem-se umas às outras. Desde os lugares semprelivres à porta do edifício do Grey, ao lugar livre à porta da loja onde elafunciona, à química inexistente entre os actores.c) As personagens sãouni-dimensionais, do género que povoavam os meus rascunhos de aspirante aescritora na tenra adolescência. Nessa altura a melhor amiga só serviapara ser inconveniente e nos lembrar que estávamos apaixonadas por fulano taloirmão do nosso namorado era o par perfeito para a melhor amiga/irmã solteiraamãe estava convenientemente afastada para dar uma mobilidade facilitada à jovemheroína, que com a mãe à perna não se poderia meter em aventuras. Orapaz principal era sempre muito novo, muito rico, muito perturbado com ainfância e havia sempre um traço físico que fazia com que isso viesse à baila:uma cicatriz no sobrolho, uma queimadura no braço. E poderia continuar para sempre.


b) Falastipo "I don't make love, I fuck hard", ou "I want to fuck you inthe middle of next week", ou "I don't do romance", ou "Likewhere you keep your Xbox?" ou "This is my red room of pain" orame punham a rir, ora me embaraçavam. Tive genuína pena dos actores e nãoentendo como se submeteram a tamanho flop nas suas carreiras.
c) Ele nãoé controlador, ele é doente. Há umadiferença. O Moisés, que assassinou a ex-mulher (Carla Santos) depois de anos asegui-la e a espiolhar-lhe a vida toda, não era controlador, era doente.Apanhou 20 anos de prisão.
E tudo deveter começado assim...
d) Da segundavez que o casal maravilha se vê (se não fosse a óbvia pressão para o JamieDornan olhar a moça e dizer "I am looking [at you] eu não adivinharia quevinha aí um relacionamento entre duas pessoas, e ficaria à espera da"faísca", que nunca vem) eu ainda não sentia qualquer conexão entreos dois protagonistas. Contudo, o Mr. Grey já tinha a mioleira a fervilhar, ejá lhe estava a perguntar quem era o fotógrafo e o patrão, e etc., etc. Eu e aminha irmã olhámos uma para a outra e gritámos: FOGE! 
e) Poucodepois, na embaraçosa cena em que ela lhe liga, bêbeda, já ele assumiu que épai dela (sem beijo, sem qualquer romance a insinuar-se). E não é um paiqualquer, é um pai com direito a palmadas, então adivinha onde ela está (ofilme não se importa de explicar, assume que todos os que foram assistir tirarama quarta classe para poder ler o livro), e vai atrás dela. Numa cena nadaencenada, onde prima a naturalidade com que os acontecimentos se intercalam,durante a película, o amigo dela (porque não um estranho???) está a tentarbeijá-la. Que conveniente para que ele venha salvá-la! Awwww!
f) O filme é umcliché pegado, polvilhado do mau gosto aterrador que creio que seja a essênciado livro. Para alguém que não saiba o que está por detrás de tudo isto, e queveja o filme como coisa independente e tente daí extrair algo, o que vê? Umarapariga desastrada, intimidada pelo homem muito rico (ah, ela é virgem!),que ao  longo do filme exibe a sua riqueza com uma garagem cheia decarros, uma enorme colecção de gravatas, um helicóptero privado, um apartamentogrande onde tudo reluz e não há qualquer marca de personalidade, um paraleloóbvio com o "vazio" da vida do Grey antes de conhecer a Steele, umpiano que ele toca (composição mais óbvia não há, reconheci-a de imediato),programas fora do comum. Em 1990 já havia um filme igual: chamava-sePretty Woman, mas de algum modo o Richard Gere tratou a prostituta melhordo que o Mr. Grey, e a Vivian (Julia Roberts) tem mais amor-próprio e dignidadeque a virgem deste filme.
g) A talideia da BDSM só é absurda (e nunca revolucionária, e muito menos o sexo érevolucionário neste filme, se quiserem dou-vos uma lista de bons filmes quemetem cenas de sexo, ou mesmo livros) na medida em que ela é uma ignorante quenão faz ideia de onde se está a meter. Não basta ele querer decidir tudo arespeito da sua vida, o que lhe anula o livre arbítrio e a torna uma sombradoutrem, ainda quer agredi-la e magoá-la fisicamente. Preferia nãoter sabido de nada disto. Só consigo imaginar as mamãs a mascararem-se e aporem-se a jeito para os maridos lhes darem umas palmadas nas nádegas. Queelas pediram (ok, ao menos isso, ao contrário do filme). Acho muitobem que as pessoas sejam abertas quanto à sua sexualidade, dialoguem e atélevem palmadas ou lhes façam chichi em cima, se é a cena delas. Mas de repentemeterem palas nos olhos por causa dum livro miseralmente escrito, equipararem asituação a uma revolução sexual e esgotarem as prateleiras de tampões anais dassex shops internacionais já me assusta um bocado... Então foi preciso queviesse esta cegueira para descobrirem que tinham rabo? Foi preciso o FiftyShades para que se dessem conta que há gente que gosta de pôr trela elevar açoites? E de repente já está tudo bem, porque é disso que fala o únicolivro que leram na vida? Absurdo. Hipocrisia total.
h) Naparte em que ela se inclina e ele lhe aplica seis valentes açoites com um cintode couro no rabo, experimentei uma estranha satisfação. Uma parte de mim dizia"Vêm? Vêm como a mulher fica numa posição que a rebaixa e, quer queiraquer não, há pouca igualdade nesta situação? Vêm que dói e que até a atrasadamental da Steele entendeu que ele é doente mental por procurar arrastar umapessoa como ela para um mundo que só ele domina (e é dominador, foi sem querer,este twist)?" E pensei: OK, ela aprendeu. Mas não, ela nãoaprendeu, porque vêm aí mais dois filmes. Suponho que, a dado momento, elavolte a agachar-se para ele a sovar.
i) Sabem em quepensei, enquanto o Jamie Dorman expelia o ar dos pulmões para transmitir asensação de alívio que esta personagem mal enjorcada da E.L. James conformedescia o cinto nas nádegas da pobre burrinha? Que há tanta beleza num homem quecuida, que se preocupa, que seria incapaz de nos magoar, fosse como fosse, eque se odiaria se nos causasse qualquer espécie de dissabor...

Este Grey éo oposto daquilo que um homem deve ser, na minha opinião de jovem de 25 anos,solteira, que se calhar vai passar a vida toda à espera que um grande amor mearrebate. E isto é o oposto da história da Cinderela. É-me chocante que sejam as mulheres as principais consumidorasdeste produto de caca. É-me chocante que uma mulher absolutamente medíocre comoa E.L.James tenha o nome sabido em todas as tascas por causa de um livro quecomeçou doutro tão mau ou pior, e que evoluiu para este histerismo colectivo einfundado. Uma britânica que escreve sobre americanos com expressõesbritânicas. Uma mulher que não sabe escrever, nem tem imaginação, nem sabe doque fala.

Enfim, é o mundo que temos.
E outras E.L. James virão, porque o povão está aí para papare adorar.

Que fique claro que não lhe dei 1€ seja com os livros, seja com ofilme.

2 comentários

Comentar post