#157 SMITH, Deborah, Milagre
Sinopse: Sebastien de Savin é um brilhante cirurgião cuja habilidade e arrogância representam uma mistura explosiva. No passado, um segredo obscuro foi o responsável pelo endurecer do seu coração, até que um milagre acontece. O milagre dá pelo nome de Amy Miracle, uma rapariga tímida com um emprego de verão nas vinhas da família de Savin e a última pessoa pela qual alguém como Sebastien esperaria apaixonar-se.
Um acaso junta-os: graças a Sebastien, Amy escapa de uma vida de pobreza e abusos psicológicos, adquire autoconfiança e progride numa carreira de sucesso. Graças a Amy, Sebastien reaprende a rir e desperta para o amor. No entanto, a vida real separa-os. Embora tendo passado pouco tempo juntos, a memória desses preciosos momentos assombra-os durante anos. Até ao dia em que os seus caminhos se cruzam novamente…
Opinião: “Milagre” é o terceiro livro que leio da Deborath Smith, a seguir ao best-seller “A Doçura da Chuva” e a “O Café do Amor”. Adorei tanto quanto o anterior, porém o mesmo problema perpetua-se: porquê escrever livros deste tamanho? Porque não 150 páginas a menos?
Houve momentos muito intensos, outros que teriam sido perfeitamente dispensáveis. A palavra de ordem é “drama”. Para não dizer “morte”, porque o livro é um desfile de mortes. Até conheço vidas assim, que em 10 anos a pessoa se vê num desfile de velórios de funerais, às tantas parece que já nem sente nada, embora por dentro o poço continue a aprofundar-se. Mas houve partes que considerei demais…Amy Miracle cresce com o pai, palhaço reformado devido a uma lesão na coluna, e a madrasta, a “doce e passiva Maisie”, como a própria a descreve. O pai é violento, alcoólico e, somando todas as suas atitudes, tem pancada, pronto. A Amy não tem quaisquer ambições na vida (o que me recordou a Lousia, de Viver depois de ti), e depois surge Sebastien de Savin (que me recordou o Will, de Viver depois de ti), e abre-lhe um leque de oportunidades. O principal, claro, é a motivação. O amor inabalável que a Amy acaba por sentir por esse homem, primeiro seu patrão e depois seu benfeitor, roça muitas vezes a idolatria. Está constantemente a dizer que precisa que ele se orgulhe dela e que não vai falhar por ele. Eventualmente acaba por maturar um bocadinho e começa a fazer pela vida tendo em conta o seu próprio interesses e bem-estar.
A jóia do livro é, a meu ver, a personalidade e a história do Sebastien de Sauvin. Para mim, amor à primeira vista, por muito que tivesse o nariz ligeiramente torto (eheh). O homem perdeu (e vai perdendo) a família toda ao longo do livro. As circunstâncias são trágicas e envolvem acidentes de carro, suicídios, abortos, quedas de aviões e simples “desabar” no chão. Às tantas já era demais… Mas isso torna-o no cirurgião cardíaco pragmático que é, ambicioso, metódico, dedicado e de um racionalismo estonteante. Às vezes, quando afastava alguém com a sua dureza, eu, como leitora, julgava finalmente compreender o tumulto por detrás dos olhos de outras pessoas que agem do mesmo modo.
Em termos de romance, é realista em quase tudo. Da intimidade às interacções. Porém, há outro momento crucial no livro em que as coisas começam a parecer frustradas. Digamos que ele e a Amy têm algo importante a resolver, e que deveriam fazê-lo juntos (isto é, lado a lado), e não com um em Paris e outro em São Francisco e a deixar as coisas andar…
Gostei do livro. Li rápido apesar da enorme extensão. As 4* dizem respeito à mestria com que a relação dos dois evolui. Não é fácil escrever-se sobre amores assim, e só por isso sei que da pena da Deborah virão sempre grandes histórias. This girl knows her love!
A que falta não é muito lisonjeira, porque realmente houve momentos de dramatismo forçado e desnecessário que me fizeram revirar os olhos.
O certo é que estarei cá sempre para lê-la.
Classificação: 4****/*