#143 CRUZ, Afonso, Flores
Sinopse: Um homem sofre desmesuradamente com asnotícias que lê nos jornais, com todas as tragédias humanas a que assiste. Umdia depara-se com o facto de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos debola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho,passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéupousado no lugar errado. Contudo, talvez por se lembrar bem da magia doprimeiro beijo – e constatar o quanto a sua vida se afastou dela – decideajudar o vizinho a recuperar todas as memórias perdidas. Uma históriainquietante sobre
a memória e o que resta de nós quando a perdemos. Um romancecomovente sobre o amor e o que este precisa de ser para merecer esse nome.
Opinião: Fiquei confusa. Não que a história não sejaclara, que a narração não seja coesa… Mas é o estilo, se é que lhe posso chamarassim. Um desfile tão incongruente de personagens estranhas que atira o livropara o limbo entre o misticismo de um autor sul-americano e a contemporaneidadede um José Luís Peixoto. A insistência do autor em que todos sejam esquisitos,em que abram a boca por três páginas de monólogo. Isto é: cada personagem quesurge, vem com o propósito de contar episódios mirabolantes da sua vida (pisarlagartixas, ter vocação para palhaço, prometer que só volta a chorar quandoConstantinopla voltar para mãos gregas, etc.). Resumindo, não encontrei grandeoriginalidade no quadro geral: casamento em ruínas, criança pequena e afectadapor essa mudança, velhote solitário e vítima da degeneração das suascapacidades mentais, neste caso a memória. E então a personagem principal, cujonome não julgo ter apanhado ao longo das 275 páginas, interessa-se pelo passadoque o seu vizinho, o senhor Ulme, esqueceu devido a um aneurisma. Compromete-sea recuperar-lho, e é assim que começa o desfile dos monólogos das inúmeraspersonagens, todas com alcunhas, passados esquisitos, cada uma com um ângulodiferente a respeito do senhor Ulme. Esta é a parte que apreciei: que uns opintem como tirano, outros como um deus benevolente. Lamento apenas o facto denão ter considerado o enredo muito original, li rápido porque os capítulos sãopequenos, a linguagem muito acessível (com aquela repetição em que todos osnossos “grandes” recaem, como se por repetir a mesma frase até à exaustão desseum selo de qualidade ao texto). Gosto do egoísmo, narcisismo e ego evidentes emcada personagem, é nesse sentido que é um livro humano. De resto, parece-me umlirismo um tanto forçado. Não desisto de Afonso Cruz à primeira, mas confessoque esperava bem melhor de um autor publicado na Bulgária.
Classificação: 3***/**
Classificação: 3***/**