#120 MAQUIAVEL, Nicolau, O Príncipe
Opinião: Maquiavel conquistou o seulugar como pensador graças a esta obra, que dedicou a Lorenzo di Médici, oreputado mecenas que instigou a carreira artística de Leonardo da Vinci. Apesarde impregnado do espírito da época – IdadeModerna, combates religiosos, à beira da Contra-Reforma, Itália dividida em váriosEstados (com destaque para a Nápoles de Ferrara, a Roma do papa Leão X, aFlorença dos Médici e a Milão de Sforza -, várias aliançaspolítico-militares, a obra mantém-se, em certa medida intemporal, pois queaborda condições intrínsecas à natureza humana. Falo da ganância, da ambição,do calculismo, da crueldade e dos jogos de poder. Maquiavel é aficionado dopessimismo antropomórfico, pelo que considera a natureza dos homens algo demau, a ser refreado e libertado conforme melhor cumprir os intentos de umEstado e do seu chefe.
Nesta obra, Nicolauprocura orientar Lorenzo para o sucesso, para bem dos florentinos. Pegando emexemplos que lhe são contemporâneos e, noutros dos grandes vultos do outroraImpério Romano e da Grécia Antiga, ilustra os erros e as virtudes pelas quais incorremos grandes chefes.
Não posso dizer que tireigrande prazer do livro, nem que partilho esta visão do autor, segundo a qual anatureza do Homem é ignóbil e falível, não creio que o seja sempre comtendência ao mal. Para mim o Homem, enquanto animal, vê a sua naturezamodificada pelas circunstâncias. Um gato selvagem tem de caçar para viver, criainimigos, mete-se em escaramuças. Um gato doméstico, por ter todos estesrecursos à disposição, é dócil e fiel. Não digo que o gato pode ser corrompidopor desejos de superioridade ou competitividade só por despeito, como os Homenssão frequentemente tomados, mas ainda assim há um termo de comparação.
Entendo que seja uma obrasingular nas Ciências Sociais e Políticas, mas não é Literatura, não é umromance, não me entreteve. Informou-me, sim, sobre temas que não me dizem muito, mas me enriquecem a nívelcultural.
Porém, reconheço aassertividade e a ousadia do autor, sem dizer que o seu espírito está bemimpresso nestas páginas.
“Os homens têm menos receio de ofender alguém que se faça amar do quealguém que se faça temer; porque o amor mantém-se por um laço de obrigação queos homens, por serem maus, rompem sempre que surge ocasião mais proveitosa”.
“Acimade tudo [o príncipe], deve abster-se de tocar nos bens alheios; porque oshomens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do património”.
Classificação: 3***/**