#117 MCNAUGHT, Judith, Para Sempre
Sinopse: VictoriaSeaton cruzou um oceano. Para trás, deixou tudo o que amava. A sua cidade, NovaIorque. Andrew, o homem dos seus sonhos. E a casa onde nasceu, agoratristemente vazia após a morte súbita dos pais. Desamparada, Victoria não temoutra solução que não rumar ao desconhecido. A Inglaterra, um país que quenunca visitou. Aos aristocráticos Fielding, uma família que nunca viu e à qualpertence apenas no papel. A uma herança que não sabia existir. O seu únicoconforto é a sua irmã Dorothy, a quem protege fingindo ser a mulher corajosaque, intimamente, teme não ser. A alta sociedade britânica rapidamente a põe àprova com as suas regras rígidas, tão diferentes dos modos calorosos e simplesdo seu país natal. Igualmente impenetráveis são as reacções da família. Quandoconhece a avó – a duquesa de Claremont - Victoria não percebe o porquê do seuolhar venenoso e a sua obstinação em acolher apenas Dorothy. As irmãs acabampor ser separadas e Victoria fica à mercê do jovem lorde Jason Fielding, seuprimo afastado. Jason é um homem frio, sensual e implacável. Nos salões damoda, é o alvo de todas as atenções, a chama que atrai homens e mulheres, o“felino selvagem entre gatinhos domésticos”. Ele permanece um mistério aosolhos de Victoria, que recusa submeter-se às suas ordens ríspidas. Por seulado, Jason não sabe como reagir ao temperamento explosivo da jovem americana.A relação de ambos é tão excitante quanto impossível. Sobre ela paira - negra eomnipresente - a sombra do passado com os seus mistérios, segredos e crimes…
Opinião: Ao final de se ler centenas de livros,atinge-se um estado interessante… O que deriva do facto de ter lido este livropela terceira vez como se fosse a primeira.
Da primeira para a segunda vez que o li, amemória obliterou todo o seu conteúdo. Li-o da segunda vez em inglês, nadiagonal, e fiquei com um grande fraquinho pelo personagem principal masculino,o Jason.
Depois, quando soube que ia sair emportuguês, pus-me na fila para o adquirir e devorei-o em todos os minutinhoslivres de que dispus.
Já li muitos livros do género, a fórmulanão varia demasiado: a autora atira dois protagonistas para um casamentoarranjado. Aqui variam os motivos A) havia sido acordado pelas famílias e ambosestão desgostosos. B) Ele cobiça-a e consegue-a. Apenas ela está desgostosa. C)Envolveram-se e ele acaba por a pedir em casamento para salvaguardar asaparências. Ambos se fingem de desgostosos. D) Ele pede-a emcasamento por uma questão de honra ou para salvá-la da pobreza. Não se entendemdurante trezentas páginas porque ela se martiriza por ser um fardo e ele achaque ela só precisa dele para comer.
Enfim, depois variam os desafios que aautora atira para cima do casalinho maravilha. Um deles foi pobre. Um deles foimaltratado pela família. Um deles gagueja. Um deles foge ao passado. Um deleshavia jurado nunca se casar. Um deles pensava que amava outra pessoa. Ele ésempre um libertino. Ela é sempre virgem.
Etc., etc., etc.
A Judith fez aqui algumas modificações nahistória. Primeiro, o Jason é realmente silencioso quanto ao seu passado. Nãoapenas silencioso quanto discreto. Não tem nada de pedante quanto a isso. Nãose gaba de ter saído do nada, não usa a sua influência para obter o que quer,está muito calmo na vida dele, viúvo, quando a Victoria entra pela vida deleadentro. A Victoria não é uma tontinha nem cai de amores por ele assim, sem mais nem menos. É bonito vê-los serem cativados um pelo outro.
A Victoria é americana, perdeu os pais edescobre que a única família que tem pertence à aristocracia inglesa. Ao pôr ospés em Inglaterra, é imediatamente despejada para um noivado de fachada com oviúvo Marquês de Wakefield.
A fórmula também não é assim tão diferentedas restantes; ele é sombrio, tem humor negro, é estupidamente atraente, toda agente foge a esconder-se quando ele dá ordens, raramente se ri. Ela é um soprode alegria na casa dela, ora infantil, ora uma coisinha sedutora.
Contudo, foi interessante ver um livro quejunta duas pessoas perfeitas uma para a outra, duas pessoas que precisamuma da outra, e uma pesquisa histórica tão bem feita. Ao contrário deoutros livros do género, em que apenas nos damos conta de estarmos no séculoXIX porque ela usa decotes imorais, muitas jóias, frequentam muitos bailes eandam muito a cavalo, este contém toda a espécie de detalhe que enternece quemse interessa por história. Além da comparação entre os hábitos sociais naAmérica e em Inglaterra, na época, ficamos a saber quanto tempo deveria umafilha guardar luto pelos pais, o que era esperado dela, em que pé está amedicina, como se passam os serões, que jogos se jogam, o que se bebe, o quebebem as mulheres, o que preferem os homens? O que fazem os homens ao serão? Oque fazem as mulheres? Como funciona uma casa? Como se enriquece no século XIX?Quanto tempo duram as cartas a circular pelo mundo? Como faziam os navios atravessia do Atlântico? Como vivem os casais na intimidade? O que é aceitávelsocialmente de um marido? O que é imperdoável numa mulher?
Gostei muito do livro. Houvemal-entendidos, como é evidente, mas não por falta de comunicação. Os protagonistasguardam os seus sentimentos por receio, mas depois recusam-se a acreditar que ooutro não os estime. Não são assim tão inseguros ou cegos. Têm dúvidas,sobretudo se estarão à altura do outro, se o merecem, se podem fazê-lo feliz.São muito humanos, divertidos, coesos.
A Victoria é corajosa, honesta. O Jasontem um orgulho do qual ele próprio, por vezes troça. Como quando uma bala quefez ricochete numa árvore o atinge, e ele fica sentado após o embate, chocado,e comenta que não acredita que foi a árvore, e não o seu oponente,a causar-lhe dano.
Foram um casal amoroso, muito bemconstruído. Mesmo os empregados têm personalidades marcantes, dando vontade deler-se também sobre eles, as suas opiniões e mexericos. A autora mostrou muitobem o que era esperado do mordomo, do cocheiro, do lacaio, do bláblá, e doNorthrup, abridor de portas e com orgulho!
Da parte da escritora, lamento que oassunto “Jamie” tenha sido enterrado ao fim do prólogo. Quem ler saberá do quefalo. Acho algo demasiado importante para ficar assim enterrado semrepercussões no futuro de alguém como o Jason. Da parte da editora, lamentoalgumas escolhas de palavreado por parte da tradutora. Enjoei da palavra“delicado/delicada” e “encantador/encantadora”. Gostaria de lhe falar da existênciade outros adjectivos.
Aconselho a todas as leitoras que gostamda Julia Quinn, da Sherry Thomas, da Lisa Kleypas. Foi um livro delicioso emque, mesmo nas partes mais íntimas, manteve uma grande elegância. Falta umbocadinho desse realismo a algumas das outras autoras. Não passem por cima daFísica e da Anatomia só para provar que estes homens são uns garanhões na cama!
Classificação: 4****/*