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Castelos de Letras

Em torno das minhas leituras!

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#116 SMITH, Deborah, O Café do Amor



Sinopse: Cathryn Deen vivia num mundo de sonho: atrizfamosa, idolatrada, era considerada a mulher mais bela do planeta. A fama eratudo na sua vida. Mas após sofrer um trágico acidente de automóvel, que a deixamarcada para sempre, decide ocultar-se de tudo e todos.
Escondida na casa da sua avó materna nas montanhas da Carolina do Norte,Cathryn tenta ultrapassar os seus traumas com a ajuda da sua grande primaDelta, uma mulher roliça e bem-disposta, dona do café local. Considerada portodos a alma daquele vale, Delta alimenta com os seus cozinhados e biscoitosdeliciosos o corpo e o espírito dos mais carentes.
Um dos seus protegidos é Thomas Mitternich, um famoso arquiteto, fugido de NovaIorque, após os atentados às Torres Gémeas lhe terem roubado o que de maisvalioso tinha na vida: a mulher e o filho. Atormentado pela culpa, Thomasacredita que nada nem ninguém lhe poderá devolver a razão de viver e, entregueao álcool e ao desespero, espera um dia ganhar coragem para se juntar àquelesque mais amava. O destino irá cruzar os caminhos de Cathryn e Thomas numahistória magnífica de superação, ensinando-os a transformar as adversidades emoportunidades e a valorizar a beleza que existe em tudo o que os rodeia.
Opinião:Tendo lido “A Doçura da Chuva” e recordando-me do quanto essa obra meenterneceu, lancei-me n’O Café do Amor com grandes expectativas. Apesar disso,o livro excedeu-as (detesto a expressão “encheu-me as medidas”).
Háuma doçura e uma crueza intrínsecas nas histórias de Deborah Smith. Nada demilagres. Aqui fala-se de superação. No caso deste livro, como a própriasinopse anuncia, lidamos com duas pessoas marcadas por tragédias pessoais.
Cathryn Deen é uma espécie de Julia Roberts inventada pela autora.Uma mulher bela (“a mais bela do mundo” segundo uma série de revistasenumeradas), casada com um oportunista e autora de uma linha de cosméticoschamada “Flawless”, que significa, mais ou menos “Perfeita” – ou, literalmente,“sem defeitos”. Por ironia do destino sofre um acidente de carro, parte docorpo é consumido pelas chamas e assim perece também a beleza que lhe abriutantas portas, a auto confiança e aquilo que definia a sua identidade. Perdida,acaba por aceitar refugiar-se nas Apalaches do Sul, na Carolina do Norte,desesperada por encontrar um novo sentido para a sua vida e por esconder o seurosto desfigurado dos media.
Thomas Mitternich é um homem perturbado. A catástrofe do 11 deSetembro levou-lhe a mulher e o filho e ele refugiou-se no mesmo local ondeCathryn vem esconder-se. A dona do café de Crossroads, Delta, vai tentandoafastá-lo da depressão e das tendências suicidas com biscoitos e tarefas quelhe vai impondo. Apaixonei-me pelo Thomas ao primeiro telefonema que ele fezà Cathy. Não se conheciam e ele foi instigado pela Delta, prima afastada deCathryn, a consola-la enquanto ela se encontra na Unidade de Queimados, isoladado mundo, confusa e assustada.
Comomencionei, é um livro sobre superação. Sobre ultrapassar-se cicatrizes tão grandesque ameaçam o rumo das nossas vidas. Sobre fechar-se a porta sobre os receios eos pesadelos. Sobre reaprender-se a viver, passo a passo, reaprender-se adar-se valor e a ser-se útil para alguém. Reviver, depois de se ter perdidotudo e de termos deixado de ser quem éramos – pai, marido, actriz famosa,admirada, bajulada. Reaprender a ser.
Apesarde ter lido comentários onde se diz que o livro é um tanto previsível, nãoconsidero a imprevisibilidade um factor determinante para a qualidade de umlivro. É bom que existam livros que nos levam a desconfiar que vai acabar tudobem. Que um dia o Thomas vai deixar a bebida e a Cathy vai deixar de esconder orosto com lenços. É bom acreditar que vão superar, que é possível salvar onosso espírito após um rombo tão grande no barco. Que a alma é costurável,recuperável, reciclável. Que só é precisa a pessoa certa com a cola certa. Queuma chávena rachada pode ser restaurada, embora a fenda seja sempre visível numestudo mais cauteloso.
Pormuito bonito – e muito actual, e muito socialmente aceitável e até desejável –que as pessoas se desembaracem sozinhas, a verdade é que uns sem os outrossomos nada. E este livro ilustra a ausência de vergonha em precisar-se de ajudae em depender-se doutrem para se sair de um buraco pessoal e se voltar a amar ea ser feliz.

Classificação: 5*****