#108 TIAVÉA, Tuiavii, O Papalagui
Sinopse: Obra incluída no Plano Nacional de Leitura (LER+)
"Papalagui é um humilde contributo a respeito da natureza humana e da busca da felicidade que continua a tocar milhões de pessoas em todo o mundo.
Este livro resulta de uma coletânea de textos escritos por Tuiavii, chefe da tribo samoana de Tiavéa, e dados a conhecer ao ocidente em 1920 por Erich Scheurmann, que com ele conviveu naquela ilha do Pacífico Sul.
Escrito de uma forma simples e honesta – fruto de uma capacidade de observação sem igual–, oferece‐nos um relato impressionante e sincero a respeito da civilização ocidental.
Depois de uma visita à Europa, Tuiavii regressa à sua ilha natal e escreve vários discursos com a finalidade de dar a conhecer ao seu povo os usos e costumes da sociedade ocidental.
Pleno de verdade e com salpicos de humor, Tuiavii descreve ao seu povo a vida dos Papalagui (os ocidentais), narrando os seus hábitos, sensibilidades e maneiras de pensar, obstinados com a necessidade de possuir riqueza e bens materiais, cheios de ilusões e arrogância perante a natureza, mas carentes de afectos, sabedoria e verdadeira felicidade.
Oferece-nos uma visão cheia de amor e sabedoria que nos mostra como o dinheiro, o egoísmo, a produção e o consumo maciços de bens de que não necessitamos nos levaram ao individualismo, à falta de tempo e ao esgotamento dos recursos da Terra."
Opinião: Quem primeiramente me falou deste livro foi a minha professora de Psicologia do secundário. Considerei a temática interessante e fiz uma nota mental para um dia ler. O "dia" foram as horas perdidas no aeroporto no voo Lisboa-Madrid e vice-versa, quase oito anos depois. Como a sinopse indica, o conteúdo da obra são os relatos do chefe da tribo samoana de Tiavéa a respeito do que observou na Europa. Pelos seus escritos, que datam de 1914-15, subentendemos que missionários cristãos chegaram à ilha e introduziram a tribo aos hábitos europeus. Um dos pontos chave era a religião, e tentaram afastar os tribais do culto à natureza e ao Grande Espírito, empurrando-os para o "nosso" Deus de amor e penitência. A evidente inteligência e sentido crítico do chefe levam-no a compreender que o Papalagui/homem branco não segue os ensinamentos que prega, e por esse motivo começa a questionar o seu modo de vida. Tira algumas conclusões que servem para analisarmos o nosso estilo de vida e a vivência em sociedade, mas sobretudo que me puseram a pensar sobre o afastamento da natureza e sobre a montanha de apetrechos com que nos cobrimos. O chefe lamenta que nos fechemos em caixas de cimento mal arejadas, que o verdadeiro deus que louvamos seja o dinheiro e que tenhamos a "doença do pensamento". Que não baste admirar a montanha mas tenhamos que querer ver além da mesma. Que percamos tempo a medir o tempo. Que usemos caixas para guardar caixas e bolsas e bolsinhas. Que inventemos coisas de que, na realidade, pouca precisão temos.
Gostei sobretudo da conclusão, em que o chefe pede aos da sua tribo que virem as costas à escuridão, à insatisfação e às mentiras do homem branco, que prega amor, irmandade, cooperação. Informa-os de que, na realidade, o depôr das armas a que convenceu este povo é uma mera manobra de se aproximar e de os influenciar porque, na realidade, o Papalagui está armado até aos dentes a destruir o seu irmão Europa fora (I Guerra Mundial).
É o testemunho e um apelo de um líder que identifica as ameaças da sociedade ocidental, os seus vícios e fraquezas, e que suplica ao seu povo para que este dê valor à simplicidade com que vive; sem sobressaltos de maior, em plena harmonia e cumplicidade.
«O Papalagui quer sempre chegar depressa ao destino das suas viagens. A maioria das suas máquinas tem o único propósito de transportar pessoas rapidamente; mas logo que chega ao fim do caminho quer de imediato enveredar por outro. E assim o Papalagui apressa-se pela vida sem descanso, perdendo cada vez mais a capacidade de caminhar ou correr, e sempre sem alcançar o seu destino; o destino que vem ter connosco sem que o procuremos».
Classificação: 4****